Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Eu a fitei por um longo minuto. Sem fala. Não conseguia pensar em nada que não fosse o misto de emoções que transbordavam em seus olhos, centrados na água do lago, igualmente escura. Suas palavras vagueavam na minha cabeça e eu pude entender que, nós estávamos dividindo muito mais do que momentos. Éramos duas vidas completamente contrárias, mas que de alguma forma ,se completavam, feito dois lados de uma mesma moeda.

- Você gosta desse lugar... – Observei, tentando me livrar da obstrução em minha voz. – Não é mesmo?

- Me lembra bons momentos! – Respondeu, sorridente. – Vem, vamos descansar!

Franzi o cenho enquanto suas mãos me puxavam pra fora da água. Por alguns segundos me perguntei que tipo de lembranças poderia ter alguém que passou a vida sobre os cuidados do irmão mais velho, e o carinho dos poucos amigos que ela se permitiu ter. Talvez houvesse mesmo alguma coisa de felicidade simples naquilo, mas ficava difícil captar quando, as vezes, ela parecia esquecer.

Dulce não sabia, mas Alfonso havia me contado mais sobre sua vida do que ela suspeitava.

- Isso sim é um bom descanso! – Exclamou, me surpreendendo, ao deitar na grama com as mãos cruzadas atrás da cabeça e um sorrisinho malandro pairando em seus lábios. – Não vem?!

Ri e me sentei ao seu lado, apreciando seu corpo estendido sobre a sombra das folhas. De repente, ela parecia irresistível.

- Espero que descanse rápido, porque eu estou pensando em não lhe dar folga.

Dulce estreitou as sobrancelhas como se estivesse sentindo pena, em seguida sorriu, carregada de malícia. Suas mãos alcançaram meus braços e, no segundo seguinte, eu já estava deitada sobre seu corpo, entregue aos lábios pequenos e habilidosos que deslizavam e se encaixavam nos meus em movimentos rápidos e deliciosos. Nos beijamos por alguns minutos, até que a ruiva lembrasse de respirar e me largasse, ofegante. Deslizei meu corpo pro seu lado e, não me incomodei, quando a grama fina espetou minha roupa, e a terra entrou em atrito com meu cabelo.

- Eca! – Franziu o nariz com um sorriso zombeteiro nos lábios. – Você está fedendo a porco!

Rosnei alguma coisa e tentei me levantar, mas ela foi mais rápida e me puxou de volta para a  grama, me calando com um beijo seguido de um riso gutural.

- Você é irritante! – Grunhi, falhando ao tentar demonstrar raiva.

Seus braços se enlaçaram ao redor da minha cintura e me puxaram até que nossos corpos grudassem. Seus olhos eram claros e não demostravam confusão quando ela, sem querer, tocou na ferida.

- Bom, preciso me trocar! - Afirmei, andando a passos trôpegos ate o quarto.

Alfonso ficou me observando enquanto Dulce fingia indiferença. Fechei a porta do quarto e esperei alguns segundos até que suas vozes surgissem novamente.

- Quando foi que vocês viraram amigas?!

Empurrei lentamente a porta até que conseguisse uma brecha, grande suficiente para enxergá-los.

- Ela me ajudou... - A ruiva hesitou, cautelosa. - Não quer dizer que estejamos bem.

Ele sacudiu o cabelo com uma das mãos e suspirou quando voltou a encará-la.

- Dulce... você está me escondendo alguma coisa?!

Gelei, talvez Dulce tivesse mesmo um motivo para ficar nervosa. Me afastei da porta e deixei que minha mente vagasse por todas as respostas possíveis que poderiam ser dadas por ela. Não quis ouvir, esperei por algum tempo, longo demais talvez. até me aproximar novamente e escutá-la.

- Você querendo ou não ela fica! Anahi é minha responsabilidade e a partir de agora eu cuido dela.

Precisei segurar na maçaneta para não cair de susto. Não sei se foi o tom imperioso da sua voz ou a cara de bobo de Alfonso que me fez imaginar o pior. ela havia aberto o jogo??

Naquela noite, antes do sono me encontrar e das visões me perseguirem, ela chegou. Agindo sorrateira e cautelosa, até eu perceber que estava ali. Primeiro, suas mãos afagaram meus pés numa espécie de convite a uma terceira visita ao porão, depois, quando inclinei o rosto e a busquei no escuro, seus olhos quentes e escuros denunciaram suas verdadeiras intenções. Foi o bastante.

Não houve perguntas, nem tão pouco respostas... apenas o medo exalando entre as paredes daquele minúsculo quarto, feito uma terceira presença. Mais uma vez aquilo funcionou como um impulso. Dulce soltou um último suspiro, girou sobre os calcanhares e caiu sobre meu corpo. Seus lábios não demoraram a se juntar aos meus e, uma vez assim, nos beijamos com urgência.

Naquela noite, a mulher com a qual eu fiz amor não era a mesma que eu havia transformado, mudado. Aquela mulher era a face do medo, movida pelo desejo que transbordava em nossos poros.

Sobre a cama, havia a dúvida de uma imagem, a incerteza de um sentimento e a sensação de que em breve... tudo se resolveria.

Era questão de tempo...