Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

- Bom dia, preguiçosa!

Remexi-me, reagindo ao peso sobre minhas costas. Christian havia pulado sobre mim, na "inocente" tentativa de me acordar. Conseguiu. Afastei-me resmungando alguns palavrões que o fizeram rir, enquanto levantava, vestindo a camisa.

- Não gosto de ficar acordado sozinho, tem uma jararaca maligna solta por ai. - Brincou, fazendo cara de medo.

Levantei e segui até o banheiro. Mirei meu rosto por alguns segundos no espelho e confirmei o que já sabia. Eu estava horrível. Era incrível o que alguns remédios podiam fazer, porém, o mais incrível ainda, é a capacidade destrutiva que uma mulher tem. Lavei meu rosto e, quando voltei, Chris já havia se arrumado.

- Você pensa mesmo que vai me abandonar?!

Ele me olhou enquanto terminava de calçar os sapatos, com um ar de incrédulo.

- Eu tenho a minha vida, sabia?! O combinado era só uma semana...

Rosnei alguma coisa e voltei a cair na cama, o prazo da sua companhia havia acabado. Ele voltaria a viver e eu morreria lentamente, remoendo as lembranças de uma ilusão.

- Ah, gata! Você tem que esquecer essa caipira. Se o irmão dela falou aquilo, é porque é verdade, se desprende desse encosto vai.

Eu havia voltado outras vezes ao sítio, todas as manhãs durante uma semana, eu estive lá, quando Poncho me afirmou, que Dulce não queria mais me ver. Que se empenhara no trabalho e que ficara feliz por eu estar bem. Mas eu não estava bem. Estava morrendo. Estava doendo... doendo muito.

- E se for mentira Christian?! - Levantei, sentando ao seu lado. - Se Poncho, por algum motivo, estiver mentindo?

- Tanto faz, essa triste coincidência, pode ter sido bacana, mas acabou. Aquele lugar não é pro seu bico.

- Ela me amava, eu sei disso. Não pode tá me repudiando assim. Eu sinto que não. Tem algo errado, Chris...

Ele suspirou e segurou meu rosto entre suas mãos, assumindo o tom tranquilo de quem dá conselho.

- Você está assim, porque é você quem está levando o fora, Anahi. Você não ama ninguém. Tem que esquecer isso e viver sua vida. Esquecer que um dia pisou em Halggart. Esquecer que conheceu uma caipira boa de cama, têm outras melhores por aí.

Fechei os olhos e precisei respirar fundo pra não revidar suas palavras, havia contado tudo, e agora ele usava isso contra mim, meu próprio amigo.

Naquele momento, eu entendi que estava sozinha, mesmo que Christian fosse como parte de mim, ele estava acoplado no universo individualista de Lexgton, nunca entenderia o que é viver de verdade.

- Você não passou o que eu passei... - Abri os olhos, a ponto de encontrar sua careta enojada.

- Graças a Deus! - Levantou, seguindo até a porta. – Assunto encerrado, vem me deixar até a saída?!

Assenti contrariada e o segui até a porta de saída. Descemos as escadas em silêncio, eu imersa em meus pensamentos, ele, esperando por um bote a qualquer momento.

- Ufa, ela não tá aqui! - Exclamou, se referindo à Lana.

- Tem certeza de que não pode ficar nem mais um dia?!

Ele tomou minhas mãos e as beijou, me olhando com os olhos cheios de piedade.

- Não posso ficar morando aqui loira, e além do mais, aposto que a endiabrada tá subindo pelas paredes. Não quero atrapalhar a noite de vocês.

Me encolhi, apesar de não muito importante, aquele era outro motivo pelo qual eu havia confinado Christian sobre o mesmo teto. Lana na certa me procuraria quando eu estivesse só e, se não houvesse uma desculpa muito bem elaborada, ela desconfiaria. Não fazia parte dos meus planos ver a matriarca furiosa.

- Relaxa, ela não pode abusar de você! - Brincou, me guiando até a porta. - Se abusar, liga pro IBAMA, mas quem vai ser presa é você, fique sabendo!

Ele riu e me abraçou por alguns demorados segundos. Despediu-se, prometendo que ligaria e sumiu, tomando o rumo da sua vida.

Andei feito uma múmia até o sofá e cai sobre ele. Desejei ter forças pra chorar, mas não consegui. As lágrimas já haviam sido todas jogadas ao vento, como o amor que eu ainda sentia arder em minha pele.

- Porque você fez isso comigo, Dulce... – Sussurrei triste.

Alguns minutos depois, a campainha soou e eu tive certeza de que era Christian, assenti pra empregada que se aproximava e eu mesmo fui abrir a porta, com esperança de que ele houvesse mudado de ideia.

- Sabia que você não ia aguentar a...

Minhas palavras se perderem em algum vão obscuro da minha garganta. Não era bem Christian que estava na porta. Na verdade, era um homem alto, de cabelos enrolados e olhar descadaramente raivoso. Um misto de raiva que mudou todas as suas feições, tornando o Poncho tranquilo e paciente do sítio, em um completo estranho, cheio de raiva e rancor. Meu coração apertou e por algum motivo, me senti encurralada diante dele.

- Onde está minha irmã?!

Dei um passo para trás, involuntariamente. Poncho mantinha o olhar fixo no meu, me intimidando de uma forma que eu nunca esperaria. Senti medo, recusa, apreensão. Pensei em chamar os seguranças, mas antes, precisava entender o motivo do seu transtorno, e parecia que algo tinha haver com Dulce..

- O que aconteceu com ela?!

- Não se faça de desentendida. - Gritou, apontando o dedo na minha cara. - Eu sei que ela está aqui, que você deu um jeito de convencê-la! 

Recuei, vendo que ele agora se aproximava furiosamente.

- Posso saber do que está falando?! - Perguntei, conseguindo milagrosamente manter a compostura. - E não grite comigo dessa forma, não sou surda.

- Você pensa que eu não percebi, Anahi?! Aquela noite que passaram fora, as escapadinhas na madrugada, o modo como se tratavam. Eu não sou idiota!

Encolhi-me diante do espasmo que suas palavras causaram em mim. Tudo era óbvio demais para que eu nunca houvesse percebido. Era tão claro, que eu me perguntei em que momento, deixei passar o olhar malicioso de Poncho sobre nós. Talvez eu estivesse mesmo cega.

- Eu aceitei que ficasse sob nossos cuidados, porque queria que Dulce ganhasse responsabilidade e, até pensei que tivesse dando certo quando... - Hesitou, ganhando repulsa na voz. - Você resolveu aproveitar e dar encima dela, quis que a minha irmã virasse uma...

- Homossexual?! - Disparei surpresa demais pra ficar calada. - Que tipo de idiota preconceituoso você é? Eu e sua irmã nos apaixonamos, não cometemos nenhum crime!

- Dulce não é como você, ela pode ter se iludido, mas acabou. - Se aproximou e dessa vez, não recuei. - Sua história de boa moça, já era!.

Agora ele havia ido longe demais. Quer dizer que o fato de ser gay me transformava numa pessoa ruim e maldosa? Que diabos aquele homem pensava pra invadir minha casa e me ofender daquele jeito?

- A única mascara que caiu aqui, foi a do homem gentil e sensato que você vestia! - Gritava, sem conseguir conter minha raiva. - Não pense que eu vou desistir da Dulce porque ela tem um irmão hipócrita e mentiroso como você. Ofenda-me o quanto quiser, mas não vai conseguir me afastar dela, está entendendo?!

Ele balançou a cabeça e riu, como se não houvesse dado importância ao tom de ameaça em minha voz.

- Quem não tá entendo é você, minha irmã não quer mais saber de nada contigo, está ouvindo?!

- Se isso é verdade, porque veio até aqui procurá-la? - Provoquei. - Se eu não me engano, achou que ela estivesse aqui.

- Sim, porque eu não sei do que você é capaz, mas não se preocupe. Ela deve ter dormido em melhor companhia.

- Idiota, sai da minha casa! - Me inclinei cega de raiva, concentrada no objeto de vidro na mesa enfrente.

- Da pra segurar seu instinto animal por alguns segundos?! - A voz de Lana era passiva, quando ela segurou meu braço, evitando assim que eu arremessasse o objeto em Alfonso. - Isso custou caro para que você quebre em um zé ninguém qualquer.

Me afastei, repelindo minha raiva em um grunhido desesperado. Se Lana não houvesse aparecido, eu teria cometido um erro.

- O trato foi buscá-la e livrá-la de vocês, estou enganada?! - Lana agora se dirigia a Poncho, sem parecer ligar pra minha presença.

- Não! - Respondeu, aparentemente mais calmo. - Só me garanta que vai segurar sua namoradinha e eu nunca mais apareço.

- Não nos misturamos com sua gente, a porta, por favor...

Ele não disse mais nada, me fuzilou com os olhos pela última vez, e saiu a passadas pesadas, porta a fora. Lana reclamou de algo e se dirigiu até a adega, tomando sua rotineira dose de uísque.

Ela não havia percebido o espasmo em meu rosto, nem a tentativa frustrada de questioná-la sobre aquela conversa. Eu havia finalmente entendido, a passividade de Lana... a gentileza de Poncho. Era apenas uma troca de favores. Eu havia me enganado, mas não com Dulce. Não com ela.

- Uma garota. Você ainda se mete em roubadas por isso. - Comentou, parecendo se divertir. -Ao menos ela vale a pena, te dou alguns meses se quiser, mas cuidado. Ela pode se apaixonar por você.

Subi as escadas em uma quase corrida, enquanto Lana gargalhava atravessando a porta de seu escritório. Entrei no meu quarto e disquei desesperadamente o número de Christian.

Estava desligado. Joguei o celular longe e desabei em lágrimas, que eu julgava não existirem mais. Estava claro pra mim agora, Poncho esteve o tempo inteiro contra nós. O tempo inteiro ele agia em silêncio, esperando a oportunidade de nos separar.

Não, eu ia provar pra mim mesma que ele estava mentindo. Dulce me queria tanto quanto eu e... não importam quantas pessoas fossem contra, nós iríamos ficar juntas.

 E então, o que acharam dessa nova cara do Poncho? Será que ele vai aprontar alguma pra separar elas?? Haha.