Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

A viagem até Halgartt pareceu longa o suficiente pra que eu me desmanchasse em ansiedade pelo caminho. Ao meu lado, Christian cantarolava uma musiquinha irritante, parecendo tranquilo, mesmo depois de ter escutado detalhes da visita surpresa de Poncho.

Já havíamos chegado na cidade e ainda era como estar voltando pra casa, estava tão certa como confiante, de que aquele lugar ainda tinha um pedacinho, marcas das minha pegadas e pedaços da curta historia em que vivi .

Mais do que isso... eu tinha certeza de que Dulce também sabia disso. De que ela ainda me esperava todas as noites, assim como eu a aguardava em minha cama, pronta pra reviver o desejo que eu só havia encontrado em sua pele.

- Você vai ficar me devendo por duas reencarnações! - Christian reclamou, enquanto passávamos por uma estrada deserta. Eu conhecia bem aquele caminho. - Só não me diga que a única alternativa é rezar, porque eu já larguei a vida de coroinha a muito tempo.

- Não é hora de reviver seus traumas. - Apontei a estrada, logo em seguida, sem receio de estar enganada. - O sítio fica por ali..

Ele grunhiu alguma coisa e aumentou a velocidade, perdendo a cautela que havia exercido durante todo o caminho. Esperei ele avançar e me certifiquei de que era o lugar certo quando o fiz parar, a poucos quilômetros da cerca.

- Espero que tenha um bom motivo pra me fazer parar aqui.

- É por esse caminho que ela vai passar quando chegar, e aqui que vou vê-la...

- Claro, vão se encontrar no mato por causa do brutamontes do irmão dela. Você não podia se apaixonar por alguém menos... primitivo?!

Ignorei suas queixas e abri a porta, sentindo a brisa fresca se abater contra meu rosto. Eu ansiava freneticamente por ela, sentia tanto sua falta que, me conformaria em apenas vê-la de longe, apreciar por apenas alguns segundos, cada parte do seu corpo, cada traço do seu sorriso, a malícia nos seus olhos, o modo como mexia no cabelo. Eu estava apaixonada por cada pedaço seu. Cada jeito, forma e gesto, havia me embriagado.

- Acho melhor você respirar duas vezes antes de olhar pra isso!

Seu conselho foi em vão. No breve momento em que a luz de um carro pairou sobre a mata, senti o ar fugir dos meus pulmões. Era apenas uma possibilidade, mas ainda assim, ela me roubava o fôlego. Com um força que eu desconhecia, pedi que Christian esperasse e segui até a cerca. A caminhonete estava parada ali, e assim como eu, aguardava o momento certo em que ela descesse.

Seus cabelos ruivos se destacaram sobre a noite negra. Linda, estonteantemente linda. Ela caminhou até a cerca com o gingado natural do seu corpo. Sem olhar pra trás. Sem sentir a minha presença.

Eu queria correr e agarrá-la, tomá-la nos meus braços e esquecer o resto do mundo. Estava a apenas alguns passos de fazer isso, quando alguém se apressou em fazer primeiro.

Era um homem alto e aparentemente novo. Ele a abraçou por trás após ter saído de um segundo carro, que havia estacionado a poucos centímetros dali, quando eu ainda estava distraída, a admirando.

Os dois riam e, pela primeira vez, o som da sua risada não soou como uma música doce e suave. Foi algo como uma lâmina, perfurando cada parte do meu corpo, cada pedaço da ilusão que eu mantinha. Senti o chão desabando e, não teria me movido, se não fossem os dois braços que cautelosamente me trouxeram novamente para o carro.

- Sinto muito... - Christian balbuciou, realmente comovido com o meu estado de choque. - Mas acho que agora sabemos com quem ela passou a noite.

Fechei os olhos e escorei a cabeça no banco do carona. Tudo que ouvi em seguida, foi o som do carro se afastando, o farfalhar da mata sendo cortada, e algumas palavras que mais pareciam sussurros, vindos de Christian.

Senti sua mão tocar meu rosto e só então, percebi que estava chorando. Era tão duro, que parecia surreal, por mais longe que eu fosse, eu sentia que uma parte de mim havia ficado ali.