Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Abri os olhos lentamente, em um instintivo bater de cílios que aos poucos, me fazia perceber que estava acordando. Inclinei o rosto pro lado em um gesto atordoado e o voltei em seguida pra cima, uma vez que, tudo que conseguia enxergar era o teto azulado sobre minha cabeça, ao meu redor havia apenas vultos, fruto de uma vista embaçada.

-Ai... -gemi sentindo uma fina pontada atingir minha cabeça.

Suspirei e inclinei novamente o rosto para o lado, com a visão já se recuperando pude ver uma cama, os centímetros de distância que a tornavam maior que a mim, me fizeram perceber que eu havia dormido no chão, e o ressonar que vinha dela me fazia ter a certeza de que não estava sozinha.

Impulsionei a mão sobre o colchão que havia me recolhido e levantei com algum esforço. Meu corpo estava enfraquecido, mas ainda assim pude ficar em pé, e uma vez assim, analisei mutuamente o lugar em que estava.

Era um quarto simples, com um velho guarda roupa cinza ganhando destaque, uma cômoda com algumas roupas espalhadas sobre ela e por fim, uma cama com uma... menina?!

Aproximei-me a fim de ver melhor a garota, seu ressonar era evasivo e assim como seu semblante demonstrava um sono pesado. No primeiro instante, seu perfil não foi capaz de fisgar nenhuma lembrança em minha memória, mas ainda assim, continuei a olhando como se fosse capaz de lembrar-me dela.

Sabia que devia fazer isso passo a passo então, primeiro focalizei seu rosto, havia um contraste de sua pele branca com os fios avermelhados de seu cabelo que, em ondas, caiam desgrenhados sobre seu rostinho de menina.

Depois, observei seu corpo, vestido com uma fina camisola que o contornava perfeitamente, ele ganhava ares opostos a seus traços infantis, não passava de um truque de beleza, ela era uma mulher... e que mulher meu Deus... será que era possível eu tê-la ganhado ontem a noite?

Impossível, eu mal me recordava da noite passada... apenas sabia que me chamava Anahi e... droga, e mais nada!

O desespero veio quase tão repentinamente quanto a imagem daquela porta no fundo, sem pensar duas vezes, me dirigi até ela. Precisava de respostas.

Aquela escada de mármore em que desci, não me parecia em nada familiar, assim como a sala onde ela havia me deixado, era um lugar amplo, porém, muito mais hábil a ser aconchegante, do que luxuoso.

Velhos quadros estampavam as paredes, e os móveis se resumiam em apenas um sofá alaranjado, uma estante cinza, e uma televisão de algumas poucas polegadas. Não conseguia lembrar-me de nada, mas ainda assim, soube naquele momento que não estava em casa, soube por que me senti estranhamente fora do meu mundo.

-Bom dia heroína, ganhou recompensa pelo seu grande ato?!

Virei-me instintivamente na direção daquela voz masculina, havia outro cômodo atrás de mim, uma cozinha, e essa praticamente junta com o primeiro, talvez por isso fosse tão ampla.

Na mesa alguém lia um jornal, mas esse cobria seu rosto de modo que eu não fui capaz de ver de quem se tratava, provavelmente eu não reconheceria, havia algo de errado com minha memória.

Fez-se um silêncio em torno de nós, até que o jornal foi vagarosamente baixado, seguindo a expectativa de quem estava por trás dele, dois olhos castanhos foram expostos, e logo em seguida arregalados.

-Ai meu Deus... -exclamou com um tom de surpresa, a voz que vinha do outro lado.

Mais alguns segundos de silêncio, o moreno parecia não saber o que dizer, e eu estava suficientemente perdida para iniciar alguma conversa. Havia um vácuo enorme na minha cabeça, e uma dor toda vez que tentava forçar minhas lembranças, constrangida desviei meu olhar daqueles olhos exaltados e busquei por algum outro ponto naquela cozinha, precisava lembrar antes que aquela sensação me corroesse a ponto de me fazer disparar pela porta afora, mas não havia lembranças, apenas um espelho inclinado sobre a parede, um espelho que me fez ver meu rosto.

Sim era eu, mas aquela roupa... eu estava com uma camisola praticamente nua. Abracei meu corpo instintivamente enquanto o moreno se levantava em um quase sobressalto da cadeira. Aquela situação estava ficando cada vez pior.

-Ah sim, tome, tome!  -sugeriu agitado enquanto me esticava um casaco que ele próprio havia retirado de seus ombros, aceitei sem recusas me vestindo em seguida.

- Meu Deus... acho mesmo que ela te confundiu com uma boneca.

-Ham... ela... quem? -balbuciei disposta a desvendar aquilo.

-Me desculpe, venha sente-se! - convidou puxando uma cadeira a sua frente. Sentei enquanto ele me fitava sem jeito, havia algo em comum nos nossos pensamentos.

-Você... lembra de alguma coisa sobre ontem a noite?

Hesitei em responder, mas eu precisava perguntar..

-Não... porque... eu não lembro de nada?!

O moreno foi tomado novamente por uma onda de espasmos. Era óbvio que não era essa a resposta que ele esperava de mim, mas era a que eu precisava ouvir, talvez eu lembrasse algo.

Ele abriu a boca e pareceu disposto a falar, mas antes que isso acontecesse, foi momentaneamente interrompido pelo som de passos ligeiros numa corrida pela escada. O moreno saiu pela cozinha apressado enquanto dali, eu conseguia enxergar a causadora daquilo.

Era a ruiva da cama.

Ela corria pela escada quase se atropelando com seus próprios passos. Tinha um ar afoito e o rosto ligeiramente assustado, parou no ultimo degrau quando viu o moreno na sua frente, retomou o ar e exclamou no quase grito.

-Ferrou! A suicida fugiu!