Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Os dias foram se arrastando, cumprindo inegavelmente seu papel torturador de vilão. Minha vida voltava aos eixos e eu me sentia mais forte para me adaptar com as mudanças. Era apenas uma questão de sobrevivência. Quanto mais o tempo passava, mais eu me sentia vulnerável ao abismo a minha frente. Eu sabia que pular significava desistir e assim, sabia que não desistiria tão fácil. Havia outros motivos pra continuar, eu estava aprendendo a me manter em pé e seguir como a Dulce fria e errônea de antigamente. Sem ligar para o passado e muito menos, pra suas consequências.

- Me diz que esse cheiro de queimado não tem nada haver com a comida, por favor.

Christopher se aproximou com o sorriso traquino nos lábios e apoiou o cotovelo sobre o balcão, me observando tirar a grande massa cinza do fogo. Pus a tigela fumegante entre a gente e depois de uma longa analisada o fitei, divertida.

- É uma antiga receita de família, torta torrada. Aposto que nunca comeu nada igual.

Ele gargalhou e se aproximou do armário, voltando com um garfo pontudo. Não demorou muito para que o objeto se recusasse a entrar na massa.

- Você é parente direta do homem da pedra, por acaso?!

- Reze pra também ser, porque se continuar de gracinha, isso vai digerir no seu estomâgo a marra.

Rimos. Ambos pela cara de medo que ele fez.

- Bom, vou ligar para um restaurante! Vê se não queima mais nada enquanto eu faço isso, tá?!

Afastei a tigela e sem muito esforço, me desfiz da massa preta que ainda fumegava em minhas mãos, quando terminei de limpar o balcão, Christopher já estava de volta.

- Serviço rápido. - Tornou a se apoiar sobre o cotovelo, me fitando. – E bom!

- Prometo que na próxima eu acerto. - Pisquei, me esticando para beijar seu rosto. - Mas agora não posso mais ficar, prometi chegar cedo hoje.

- Nada disso! - Ele protestou, contornando o balcão para me enlaçar nos seus braços. - Eu já pedi comida pra dois e, além do mais, tenho uma programação especial pra hoje...

- Espero que não tenha nada haver com fogão!

Ele riu e se afastou, sumindo ao entrar no quarto, alguns segundos depois, estava de volta com dois bilhetes na mão, balançando no ar como se fossem premiados.

-Uau, ganhou na megasena, bonitão?! - Brinquei, estendendo a mão para alcançar o que ele me entregava.

O sorriso em meu rosto desapareceu. Não se tratava de uma premiação. Estava longe disso...

- Descolei com alguns amigos da faculdade. Uma festa de máscaras na boate mais badalada de Lexgton, o que você acha disso?!

Não respondi, larguei o bilhete sobre o balcão e balancei negativamente a cabeça. Demorou alguns segundos pra que Ucker entendesse minha resposta negativa.

- Não posso acreditar, Dulce. Lexgton e enorme. Achei que já tivesse superado isso...

- Também achava isso, mas... - Mordi os lábios, apreensiva. - Só de olhar pra esse nome...

- Hey! - Se aproximou, erguendo meu queixo de uma forma que nossos olhos se encontrassem. - Eu não vou permitir que perca essa chance, vamos estar juntos. E você vai se divertir como nunca, está ouvindo?!

Assenti, numa tentativa desesperada de mostrar força, quando eu sabia que já havia desmoronado.

O lugar era uma espécie de excentricidade, um ambiente luxuoso, regado a gente, luzes e bebida. Meus olhos vagavam com dificuldade em meios aos rostos mascarados, desvendados apenas por uma fração de segundos.

Meu coração parecia bater no ritmo frenético e veloz do som, despertando o nervosismo e a ansiedade que pulsavam em minhas veias. Eu travava uma luta interna, usando armas dispersas para combater o efeito alucinógeno daquele feitiço sobre mim.

Era como desejar estar longe e, ao mesmo tempo, querer encontrá-la. Mesmo contra minha vontade, buscava seus olhos insistentemente.

- Nós já chegamos, quando vai resolver se divertir?! - Christopher gritava, competindo com o barulho da musica alta.

Tentei arriscar uma desculpa, mas não fui forte o suficiente para que ele me escutasse. Não demorou muito e suas mãos me puxavam para um lugar mais reservado, onde alguns casais trocavam carícias e se embebedavam no bar improvisado ao centro. Foi lá onde nos sentamos. 

- Acho que não foi uma boa ideia ter vindo! – Gritei. A música era amena, mas ainda assim estava alta. - Não me sinto bem aqui.

Ele esboçou uma careta por trás da máscara e girou o corpo, pedindo algo para o barman, que eu não pude ouvir. Logo ele estava se servindo de uma dose de uísque, seguida repetidas vezes.

- Fico com você até se sentir melhor. - Arquejou, com o último gole. - Não vou permitir que abandone essa festa..

Assenti, me culpando mentalmente pelo meu estado de inércia. Tudo que eu devia fazer, era me divertir e ainda assim, falhava. Era só uma festa, mas podia ser também, a oportunidade de exterminar meus fantasmas.

Encarei a garrafa de uísque sobre o balcão, e em apenas alguns segundos, mandei pros ares todos os anos de bebidas saudáveis e leves. O álcool ardeu em minha garganta, um ardor de culpa. Virei a garrafa por mais alguns segundos e, quando larguei, encontrei um Christopher assustado e por trás da máscara, alegre.

- Isso é um bom sinal, mas podia ter pedido um copo. - Gritou, apontando pro barman ao fundo.

- Vai se divertir! - Ordenei, tomando o copo das suas mãos. - Eu já melhorei.

Ele riu e beijou o topo da minha testa, se afastando em seguida pra se juntar a multidão de mascarados que dançavam no centro da pista. Levei meus dedos ao rosto e toquei levemente em minha máscara. De certa forma, eu me sentia bem assim, era a forma com a qual eu havia me acostumado a sentir. Mascarando meus sentimentos, escondendo meus temores, negando a mim mesma e aos outros. Por um momento então, eu fingi estar feliz.