Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Foi difícil chegar até ali. Passar pelo portão de embarque, me despedir de Christian. Certa de que seria a última vez. Certa de que aquela ferida demoraria a sarar tempo suficiente para que nem cedo, estivesse de volta.

Aquele amor pesava em meu peito, um peso que me torturava todos os dias quando eu acordava e recordava que não estava mais com ela. Era uma sensação sem fim. Um sentimento que eu precisava esquecer de qualquer forma.

- Vida nova Anahi. Vida nova. - Suspirei, tentando convencer a mim mesma de que seria verdade.

Última chamada de embarque. Levantei com as malas e segui até o saguão, quando o som de um carro desenfreado chegou aos meus ouvidos.

Foi tudo muito rápido. Algumas pessoas correram, outras gritaram imóveis. O carro azul apareceu cantando pneu e no instante seguinte estava freando na minha Frente. Derrubei todas as malas no chão, enquanto meu coração acelerava descompassado em minha boca. Era Dulce quem estava dirigindo. A minha Dulce... era ela.

- Acho que isso te pertence. - Estendeu um objeto, foi difícil perceber que era minha máscara. -Vai ter que entrar no carro se quiser tê-la de volta.

Ela olhou pelo retrovisor e tornou a me olhar, parecendo angustiada.

- Então, eu vou precisar ser presa pra falar com você?

Olhei na direção contrária e percebi que alguns policias se aproximavam. O que se seguiu, foi mais uma cena relapsa. Joguei minhas malas no banco traseiro e entrei no carro recebendo um sorriso satisfeito de Dulce.

Ela Deu a ré e saiu disparada pelo aeroporto. Em contrapartida ao som confuso e estarrecido do meu pobre coração.

Se houvesse como definir aquele momento, talvez em uma frase, eu diria ser a fuga repentina de um destino traiçoeiro. Em uma palavra, surpresa. Há algumas horas, eu poderia me encontrar em inércia, com a certeza de que tudo permaneceria apenas guardado, no vão esquecido de uma memória. E agora, surpreendentemente, percebo que estava enganada.

Dulce estava ali, manobrando aquele carro, como se estivesse fugindo de algum perigo, mal sabia que pra mim, o perigo era ela. Eu sabia que estava em meio a uma mudança de lados, cujo preço, ainda não havia sido definido. E cada vez que olhava pro lado e via a imagem fugaz do seu rosto, tinha certeza de que estava disposta a pagar, seja ele qual fosse.

Eu ainda tentava assimilar os fatos com aquela corrida perigosa, quando a mesma teve um fim. Num movimento brusco, o carro freou sem aviso. O som do motor zunindo, o barulho das buzinas, o som dos pneus... Tudo desapareceu.

Agora eram apenas respirações ofegantes, olhares dispersos pela estrada e o som quase audível de um coração palpitando. Eu quis contestar, mas desisti quando nossos olhos se encontraram de um modo meio desajeitado, tímido. Como quando a gente olha alguém pela primeira vez. Um olhar enigmático o suficiente, para nos prender ali, com todas as perguntas fluindo em evidência por nossos olhos, com toda a vontade reprimida no arfar lento de nossas respirações.

Eu queria um abraço, um beijo, um toque. Tudo do qual eu sentia falta. Tudo do qual eu necessitava ter, porém, antes mesmo que eu perdesse a cabeça, Dulce pareceu se concentrar naquela tarefa, iniciando a conversa que o tempo havia adiado.

- Me Desculpa. - Hesitou, mordendo os lábios. - Te assustei?

Balancei a cabeça numa resposta negativa. Ambas sabíamos que era mentira.

- Seu amigo falou algo sobre... um terrível engano. - Desviou os olhos, tornando a olhar para a estrada. - Gostaria de saber exatamente, do que se trata.

Lógico. Christian havia dado a pista para que ela me encontrasse. Por mais estranho que parecesse, ao menos algo já estava se encaixando.

- Ele... foi à sua procura? - Perguntei, com a voz embargada.

- Não, o encontrei na sua casa. - Tornou a me olhar. - Ele está certo? Isso tudo foi...um engano?

Ela havia estado em minha casa. Me procurado depois de tudo. Não sabia ao certo a que Christian se referia, mas tinha a leve impressão de que ele estava certo. Não respondi, observei os olhos castanhos de Dulce avaliarem inquietos, o passaporte em minha mão e em seguida se voltarem para o meu rosto. Incisivos.

- Era uma viagem importante? Espero que não...

- Não. - Murmurei. - Se você entende... eu não esperava por isso.

Ela assentiu deixando que um sorriso tímido brincasse em sua boca. Deus, como eu queria beijá-la.

- Quando eu percebi que a mascarada era você... - Ergueu a máscara, na altura dos meus olhos. - Achei que pudesse ter uma pista do seu paradeiro.

Mordi os lábios, apreensiva. Eu podia jurar que ela não se lembraria de nada, que eu seria deletada da sua memória assim que amanhecesse. Porém, mais uma vez, eu me enganei.

- Desculpa, eu não sabia que você estaria lá. Simplesmente não...

- Resistiu. - Completou certa de que era verdade. - Eu sempre soube que era você.

- Impossível. – Retruquei. Era difícil acreditar em tantos enganos. - Você estava completamente bêbada... ninguém no seu estado lembraria.

- E ninguém daquela festa me arrastaria pro quarto e deixaria as marcas que você deixou em mim. - Me olhou. Seus olhos de repente ficando claros. - Any, queria muito saber o porque fez isso. De verdade, não acredito que tenha sido por momento.

Era impossível responder, ela havia me pegado totalmente desprevenida.

- Bom, prefiro acreditar que estou certa. - Olhou ao redor, abrindo a porta em seguida. - Vamos descer.

Sem que eu pudesse argumentar, Dulce desceu do carro. Demorou alguns segundos para que eu pudesse fazer o mesmo. Era informação demais para minha cabeça. Muita coisa a ser processada em tão pouco tempo. Tudo que eu sabia, era que ainda estava em pé, e isso bastava.

- Demos sorte, não tem ninguém. - A ruiva exclamou, depois de uma rápida avaliada no lugar.

Estávamos numa espécie de parque a céu aberto. A grama verde se estendia ao redor das árvores, nos dando uma sensação bem parecida com a de Halgarrt. De repente, eu havia entendido porque ela me trouxera ali, era seu campo, estava neutra.

Dei a volta e a encontrei encostada, numa árvore ali perto. Era a primeira vez que a observava e, me arrependi sombriamente de tê-lo feito. Dulce vestia uma calça clara justa, usava botas de couro e uma blusa preta sem mangas. Era a minha caipira que estava ali, perfeitamente alinhada no corpo da mulher que havia me enfeitiçado.