Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Eu havia planejado aquela noite em silêncio, encaixado todas as imagens nos detalhes em segredo. Mesmo quando estava sozinha, com todas as perguntas sobre minha vida pairando em minha própria cabeça, eu havia sonhado com aquele dia.

O dia em que nós estaríamos juntas como qualquer outro casal comum. O dia em que nos olharíamos e nos reconheceríamos, sem segredos nem mistérios. Um encontro da verdadeira Anahi com a Dulce de sempre. Um momento que selaria o começo daquela historia, com tantos pontos de interrogações e mistérios.

- Você está pensativa, algum problema? - Dul sussurrou, quebrando meus pensamentos.

Era divertido observar a maneira como a ruiva se portava naquele ambiente, totalmente contrário aos que ela certamente, costumava frequentar. Dulce tinha uma personalidade forte, um jeito marrento de mulher do campo, mas estava conseguindo se sair bem, sem deixar que os outros percebessem seu desconforto.

A única coisa que poderia denunciá-la era o modo como estava vestida. Sua calça jeans escura, suas velhas botas de couro marrom, sua camiseta verde colada e o suéter de algodão, que cobria delicadamente seus ombros, chegavam a chamar a atenção de alguns curiosos. A ruiva dava um toque rústico naquele lugar tão mórbido. Estava sendo delicioso olhá-la sabendo que tudo aquilo, era apenas para me agradar.

- Nenhum. Você não precisa sussurrar, não estamos em nenhuma biblioteca.

Ela revirou os olhos e grunhiu. Tornando a ficar esparramada pela cadeira, com os braços cruzados ante os seios e os olhos perdidos pelas pessoas em nossa volta. Certamente, queria deixar claro o quanto estava entediada com aquilo.

Eu queria testá-la. Saber até que ponto ela se sacrificaria por mim, mas era praticamente impossível resistir a sua carinha de brava. Com um entorno desdenhoso levei a taça de vinho na mesa aos lábios. Ela percebeu o meu reflexo, mas resistiu, mantendo o olhar solto pelas mesas ao redor.

Sorri com sua tentativa frustrada, ela não resistiria ao próximo passo. Cruzei as pernas e com apenas um movimento, deixei que meu pé escorresse por suas pernas. Dulce prensou os lábios e fechou os olhos, deixando-se ser acariciada por alguns instantes, até que nossos olhos finalmente se encontrassem, por cima da taça que eu ainda deslizava sobre minha boca. Eu podia sentir o olhar de Dulce arder sobre minha pele. Finalmente, eu havia despertado a fera.

- Vamos sair daqui. - Ordenou. Virando, de um modo ríspido, a sua taça de vinho branco.

- Não podemos. – Protestei, me controlando para não rir da sua cara de desespero. - Estamos no meio do jantar Dulce.

- E eu sinceramente não sei como consegui chegar a isso, vamos, chame o garçom.

- Você nem comeu, está apenas no vinho e nos acompanhamentos.

- É a única coisa da qual eu não preciso vender minha mãe para pagar, isso é uma roubalheira.

Me afundei na cadeira e olhei discretamente para os lados. Ninguém estava nos escutando por sorte, porém, para o meu azar, Dulce puxou o menu e continuou a faladeira.

- Devia ser crime cobrar desse jeito. Vendem a comida viva por acaso?

- Dulce, por favor pare...

- E ainda tenho que suportar essas madames idiotas sussurrando o tempo inteiro, agindo como se fossem importantes. - Levantou, percebendo que as pessoas já estavam comentando em nossa volta. - Porque não cuidam da droga da vida vazia de vocês e me deixam em paz?

Com uma virada fatídica, Dulce retirou o dinheiro do bolso, jogou na mesa e saiu, sem olhar pra trás, como se realmente não estivesse me deixando sozinha ali, com todos os olhares postos em minha direção. Acenei um pedido de desculpas e me retirei, com um sorriso satisfeito nos lábios.

Dei algumas voltas pelo estacionamento, apreensiva. O carro de Dulce não estava mais na vaga, não havia mais nenhum sinal dela.

Dirigi-me até a estrada e observei a única rota de saída, nada. Nenhuma pista. Grunhi alguma coisa e chutei para longe uma latinha de cerveja. Era pra ser a nossa noite, porém, tudo havia dado errado.

Já me preparava pra ir embora, quando fui surpreendentemente parada por dois braços que envolveram minha cintura, puxando meu corpo para outro mais alto, um encaixe que eu conhecia perfeitamente bem.

- Me desculpa. - Dulce sussurrou, deslizando os lábios pelo meu pescoço. - Você me provocou, não aguentei.

Estremeci. Um contato mais íntimo com Dulce sempre me causava calafrios. 

- Você... foi muito grossa. - Murmurei, deixando que seus lábios continuassem o percurso.

- Eu sei, perdão.

- Mal educada, sem modos...

- Eu já sei disso tudo, Anahi.

- Arrogante, estúpida.

- Ah, mais que droga. – Afastou-se, virando meu corpo em sua direção. - É só isso que acha?

- Você sabe que não.

Ela revirou os olhos e passou as mãos no rosto impacientemente. Tornando a me olhar com uma tranquilidade fingida.

- Mais alguma coisa?

- Sim. – Aproximei-me, deslizando o dedo menor na curva macia dos seus lábios. - Você é perfeita.

Dulce estreitou os olhos confusa, observando o movimento provocativo que eu fazia em sua boca.

- Eu odeio essa gente chata, acho ridículo essas madames...

- Está falando sério?

- Sim. - Puxei seu rosto, encaixando levemente nossos lábios. - Você fez o que eu sempre tive vontade de fazer.

Ela riu e me beijou. Um beijo cheio de ansiedade e pressa.

- Porque me trouxe aqui, então? - Sussurrou, com a testa ainda colada na minha.

- Não sei, mas da próxima vez vou optar por um motel chulo de beira de estrada.

Rimos. A ruiva segurou minha mão e me arrastou discretamente para o seu carro, parecendo ter pressa.

- Vai me levar pra casa? 

- Nem brincando. - Abriu a porta do carona, afastando-se para que eu passasse. – Vou fazer você me recompensar por esse jantar chato.

- E se eu não quiser ir?

- Eu te sequestro. - Piscou, cheia de malícia.

- Por algum razão, acredito em você.

Ela riu e deu a volta no carro, sentando, em seguida, do meu lado. Fechei a porta e esperei que ela desse a partida. Dulce tinha o rosto tenso, como se ansiasse em ir embora dali o mais rápido possível. Definitivamente, mesmo com tantas diferenças, eu estava ao lado da pessoa certa.