Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

Dulce dirigia em silêncio enquanto a velha caminhonete atravessava os campos tranquilos de Halgartt. Parecendo absorver toda a passividade do caminho. Estávamos a apenas alguns minutos na estrada e eu já me perguntava, qual seria o destino final daquilo.

O olhar febril da ruiva sempre que me olhava denunciava uma noite de entregas, porém, parecia que algo em seu semblante não condizia com o mesmo. Eu sentia falta do seu corpo esguio, tinha espasmos só em lembrar-me de quando a possuía e, desejava ardentemente que aquelas noites se repetissem, mesmo sabendo que as coisas haviam mudado. O desejo que emanava em nossos corpos era evidente, assim como a saudade que parecia esmagar meu peito.

- Chegamos. - Anunciou, descendo do carro com uma certa expressão de alívio.

Repeti o gesto e me surpreendi, ao ver que estávamos em meio ao mato. Procurei por algum lugar, qualquer que fosse, mas não havia nada, a não ser o verde da grama e o barulho de alguns insetos que sobrevoavam por ali. Dulce só podia estar de brincadeira.

- Ok. Essa vingancinha besta não teve graça, Dulce. - Reclamei. Sem conseguir sua atenção.

A ruiva mirou o horizonte por alguns segundos e em seguida caminhou até a frente do carro. Segui seus passos parando ao ver que se tratava da beira de um penhasco, minha cara de susto foi o suficiente para que o silêncio se quebrasse e ela abrisse um sorriso, me puxando para seus braços.

- Não seja tonta, não se trata de vingança. - Suspirou, tornando a olhar para o horizonte.

- Então porque me trouxe aqui? - Argumentei, observando sua expressão de fascínio.

Dulce mais uma vez suspirou e apertou os braços em minha volta. Era difícil se sobressair diante da sua força, ela só percebeu que eu tentava afastar seus braços quando grunhi, enraivecida com seu silêncio.

- Desculpa. - Pediu, me largando. - Achei que fosse gostar de vir aqui.

Olhei mais uma vez para o vazio ao redor e a observei, incrédula. A ruiva riu e tentou se explicar, passando a mão de uma forma desajeitada em seus cabelos.

- Quero dizer... é um lugar importante pra mim. Você sabe, eu fui criada aqui.

Dei de ombros, ainda sem entender aonde ela queria chegar. Dul suspirou e entrelaçou nossas mãos, voltando sua atenção para a constelação que havia sobre nossas cabeças, repeti o gesto em silêncio, esperando que ela continuasse.

- Quando eu era pequena, achava que esse era um lugar romântico. - Hesitou, virando o rosto para me olhar. - Deve estar me achando louca, não é mesmo?

Por alguns segundos, enquanto Dulce me olhava. Fui capaz de ver o brilho das estrelas ofuscar em seus olhos acinzentados. Havia algo forte emanando deles, uma emoção tão grandiosa que me fez esquecer o lugar em que estávamos. De repente, a beira de um penhasco rodeado de matos e mosquitos, virou o começo do infinito, banhado pelo brilho gracioso das estrelas.

- Bom, qualquer pessoa me acharia. - Concluiu, sorrindo. - Eu tenho uma historia nesse lugar, você não seria capaz de entender...

- Eu...posso tentar. - Argumentei, curiosa.

Ela me olhou surpresa e me puxou novamente para os seus braços, me abraçando por trás de um modo que mais parecia, emocionado.

- Sempre que acontecia algo importante, eu vinha aqui. Era estranho, mas eu gostava da sensação de estar perto da morte.

Estremeci. Dulce percebeu e me apertou mais em seus braços, beijando delicadamente meu rosto enquanto afagava minhas mãos.

- Você pode achar que não há nenhuma ligação entre as duas coisas, mas há sim. Quando meus pais morreram... - Hesitou, prosseguindo com a voz embargada. - Eu quis me jogar desse penhasco, quis ir junto com eles.

Mordi os lábios e apertei seus braços contra meu corpo, era a primeira vez que Dulce se abria comigo e, eu não podia perder aquele momento. Por mais que parecesse doloroso pra ela.

- Mas aí eu olhei para as estrelas e vi que havia algum sentido em continuar. - Prosseguiu, com a voz ficando mais leve. - Eu era só uma criança, mas eu entendi, Any. Entendi que a minha vida não havia acabado. Entendi que eu voltaria a encontrar sentido nela, algum dia... eu voltaria a acreditar que ela era justa.