Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

DULCE

A tarde estava fria. No céu, os raios de sol pareciam aos poucos dar lugar aos primeiros resquícios de chuva, interrompendo as nuvens, deixando-as escuras e espessas.

Do lado de fora, algumas pessoas já se apressavam em ir embora, numa tentativa de evitar o previsível. Outras simplesmente conversavam animadas, adiando a saída. Porém, ninguém naquele local parecia tão despreocupado quanto isso como Anahi.

Na mesma mesa e na cadeira ao lado da minha, a loira se divertia em saborear um prato típico da região, nem mesmo o frio repentino foi capaz de abalar o tom brincalhão em seus olhos e, eu sabia, que nada seria capaz de fazê-lo.

Por alguns segundos me desliguei dos traços perfeitos do seu rosto e me perdi em meus próprios pensamentos. Lembrei-me de quando não nos conhecíamos e, de como minha vida era vazia sem ela.

- Nossa, nem sei como fiquei tanto tempo sem provar isso. - Comentou, me trazendo de volta. - É simplesmente fantástico.

Sorri sem conseguir estragar seu ânimo. No fundo, estava me sentindo uma completa idiota diante da sua reação. Tudo devia ser surreal ao seu mundo, no entanto, ela se divertida como se nunca tivesse feito parte dele. De um jeito talvez, que eu fui incapaz de fazer.

- Vai acabar falindo o restaurante desse jeito. - Brinquei, inclinando o corpo em sua direção. - O estoque deve tá destruído.

Anahi riu e levou, gentilmente, um guardanapo à boca, demostrando que havia finalmente acabado. Ela tentava retrucar, quando um baque de vento frio passou por minhas costas atingindo em cheio seu rosto, levando seus cabelos loiros a voarem espetacularmente pelo mesmo. Seus olhos azuis protestaram, me olhando aptos a fazerem uma grande descoberta.

- Vai chover feio aqui! - Franziu o cenho, apreensiva. - Não vou conseguir voltar pra casa desse jeito.

- Você não precisa voltar, temos quartos suficientes lá em casa.

- Que hilário Dulce!

- Desculpa.

Um segundo baque de vento fez Anahi tremer de frio. Abracei seu ombro e puxei seu corpo, fazendo com que sua cabeça repousasse em meu peito. Envolvi sua cintura e afaguei seu rosto, deslizando os dedos pelos fios escorridos do seu cabelo.

- Quer ir embora?

- Não... - Murmurou, alisando o dorso do meu braço. - Já estou devidamente aquecida.

Ri, beijando delicadamente sua testa. Ela suspirou e inclinou o rosto, me pegando desprevenida com o azul chamuscado em seus olhos. Meu coração vacilou uma batida.

Fechei os olhos e senti seu hálito doce invadir minha boca, sem permissão. Moldei nossos lábios lentamente, explorando a maciez da sua boca enquanto ela parecia dançar sobre a minha, num ritmo de passos curtos. Mas suficientes para fazer esquecer-me de como respirar.

- Melhor pararmos... - Sussurrou, beijando meu rosto antes de repousar novamente a cabeça em meu peito.

Precisei de alguns minutos pra recobrar a consciência. Eu não conseguia ver seu rosto, mas tive certeza de que ela estava rindo.

- Como vão as coisas na sua casa?! - Perguntou, num tom de repente mais sério.

- Hum, razoavelmente bem. Tenho evitado esbarrar com Poncho quando ele está em casa. Acho que tem dado certo..

- É melhor assim. Você não pode perder o controle..

- Sim, eu sei. E na sua casa, tudo bem?

- Na minha casa? - Repetiu, surpresa. - Han... tá.

Hesitei, sentindo seus ombros se retesarem, tensos. Afastei seu corpo e a encarei, seus olhos denunciavam algum segredo, uma coisa que até então eu não havia percebido que existia.

- Nós nunca falamos sobre sua vida, apenas me falou sobre aquela mulher e, eu não acredito que seja tudo...

- É o bastante Dulce, Lana é a secretaria do meu pai e apenas isso. - Mordeu os lábios, apreensiva. - Não existe mais nada.

- Ela não parecia ser apenas a secretária quando esteve lá em casa, você falou algo sobre um lance e... - Hesitei, combatendo os ciúmes que me corroía. - Pode haver algo...

Ela revirou os olhos impaciente e suspirou, tomando minhas mãos entre as suas, delicadamente.

- Você sabe perfeitamente que não! Lana apenas cuida de todos os negócios do meu pai nesse país. Eu não tenho capacidade de fazer isso ainda.

- Não estou falando de você, Any. Não consigo acreditar que ela não tente algo, vocês moram juntas.

- Eu não devia ter te contado isso. - Reclamou. - Olha, nós mal nos cruzamos mais. Não tem fundamento esse seu ciúme. Esqueça essa paranoia, está bem?

- Quero que me prometa uma coisa antes. - Segurei seu rosto, forçando seus olhos a me encontrarem. - Vai me contar se alguma coisa acontecer. Promete?

- Nada vai acontecer Dulce. - Murmurou, me roubando um rápido beijo. - Não precisa ficar preocupada, meu coração é seu.

Sorri, ligeiramente aliviada com suas palavras.

- Eu quase perdi a cabeça quando você foi embora, imaginava você com aquela mulher. Não vou correr o risco de te perder de novo. Perdoe-me se realmente não teve sentido.

Ela suspirou e eu quase pude ver a dor se formar em seus olhos escuros, quando um sorriso se abriu em seu rosto. Levando embora a má intuição.

- Será que posso passar a noite com a minha namorada hoje?

- É um convite irresistível. - Brinquei, beijando suas mãos. - É claro que sim. Alguma ideia?

- Imaginei que você tivesse... .- Sorriu, me provocando.

Hesitei por alguns segundos antes de lembrar-me de um lugar, era o meu lugar. Agora seria o nosso.

- Tem algo que ainda precisa conhecer. - Levantei, olhando para o cavalo amarrado ao longe. - Vai precisar subir nele.

Ela fez um careta de reprovação e eu não pude reprimir minha risada. Jack e Any não eram o que podemos chamar de amigos de longa data.

- Um minuto. - Me afastei até o balcão pagando a conta e, quando voltei, encontrei os olhos curiosos de Anahi observando a crina do animal. Como se tivesse tentando convencê-lo de não matá-la. - Você não precisa ter medo.

- Não estou. - Mentiu, evitando me olhar. - Mas acho que não é um boa ideia...

- Ah vamos, você não tem mais idade pra isso. É apenas um cavalo.

Ela suspirou e assentiu, dando razão ao meu discurso. Desamarrei o animal e montei com um movimento preciso, esticando a mão para que ela subisse. Any hesitou por alguns segundos e cedeu, subindo de uma forma desajeitada no cavalo que não reagiu ao seu peso.

Suas mãos apertaram minha cintura com a mesma força em que ela devia estar fechando os olhos, eu poderia rir se não estivesse devidamente sufocada.

- Você vai... me matar.

- Ah, me desculpa... - Murmurou, afastando levemente suas mãos. - Ainda estou tentando me sentir segura.

- Assim você põe em risco a minha segurança. - Brinquei, dando a partida para que o cavalo andasse lentamente. - Está vendo, não é tão ruim assim.

Ela assentiu e aos poucos, foi deslizando as mãos ao meu redor, tranquila. Dei sinal com o calcanhar pra que Jack desse inicio a brincadeira e ele prontamente obedeceu, logo estávamos correndo pela estrada.

Com o vento frio batendo em nossos rostos, a chuva deslizando em nossos cabelos e, Anahi gritando alguns palavrões em meu ouvido. Enquanto suas mãos tentavam me sufocar outra vez.

- Você nunca vai parar de me surpreender? - A voz de Anahi era calma, ainda que oscilasse entre a raiva e o espanto. - Isso é lindo..

Assenti, retirando o chapéu com um sorriso satisfeito nos lábios. A loira observava a pequena cabana como uma criança descobrindo um tesouro. Seus olhos brilhavam ansiosos enquanto navegavam na simplicidade daquele local, que por tantas vezes me acolheu. E que agora era testemunha de um reencontro. O meu com o da menina Anahi.

- Se for preciso fazer isso para te ver assim, não. - Me aproximei pondo o chapéu na sua cabeça, ela girou e sorriu com a sua nova imagem, ajeitando a aba enquanto eu a puxava para o meu corpo. - Assim está perfeito, você está linda.

- Não tanto quanto uma caipira autêntica. - Brincou, puxando os lábios em seguida num bico zangado. - Não pense que vai me comprar com esses elogios, não esqueci da sua brincadeira idiota.

Revirei os olhos em protesto e me afastei, rindo em seguida da sua farsa. Por mais que quisesse, Anahi não conseguiria ficar zangada por muito tempo, o seu recorde de raiva era limitado demais para ser quebrado.

- Aposto que não foi a sua primeira corrida a cavalo, não faça drama!

- Ah, com uma amazonas louca a bordo sim, pode apostar que foi. - Retrucou, provocando minha risada. - Tenho que lembrar-me de nunca mais fazer isso.

- Não seja tola, Jack vai ficar desapontado.

Ela olhou para o animal deitado sobre um monte de palhas e bufou, impaciente demais para dar atenção a isso. Seus olhos se voltaram à cabana novamente e dessa vez eu os acompanhei.

O lugar parecia acabado, mas ainda assim, conservava o charme de décadas atrás, quando ainda era uma estribaria e estava seguro longe dos olhos curiosos de uma garotinha ruiva.

- Tenho a leve sensação de que não gostava da sua casa. - Comentou, pousando os olhos em mim. - Quantos refúgios você tem?

- Digamos que o suficiente. - Brinquei, dando asas a sua insinuação. - Eu fui criada no campo, conheço esse mato como a palma da minha mão.

- E acho que isso tem suas vantagens. - Sorriu, se inclinando para me dar um rápido beijo. -Confesso que estou louca para rever seu desempenho, caipira.

Olhei pra ela na intenção de retrucar sua malícia, mas seu rosto estava perto demais para que eu lembrasse das palavras.

Os olhos azuis eram ardentes, a poucos centímetros de distância. E seu hálito era frio em meus lábios entreabertos. A chuva desabou lá fora no mesmo ritmo descompassado em que nossas bocas se uniram. Acendendo uma fogueira em meu peito, dispersando qualquer probabilidade de sentir frio.