Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

- Anahi, acorde. - Christian sussurrou, sacudindo meus ombros com cuidado. - Vamos, já amanheceu.

Abri os olhos lentamente, observando os vultos brancos tomarem formas. Os velhos vultos brancos que já me eram tão familiares.

- Você não pode mais dormir num banco duro de hospital, tem que ir pra casa.

Ergui o rosto, analisando seus olhos verdes tomados de pena. Eles me confortavam, de alguma maneira absurda.

Levantei-me sem pressa e dei espaço para que ele sentasse ao meu lado, compartilhando a "cama" que me acolhia.

- Olha seu estado, andou chorando a noite inteira. - Suspirou, deslizando os dedos pelo meu rosto inchado. - É só isso que você faz. Não pode continuar assim.

- Eu estou bem. - Murmurei, escorando as costas na parede. - Só preciso de um café.

- Não, você precisa é de uma cama de verdade. - Levantou, segurando minha mão. -Vamos, vou te levar pra casa.

- Chris, eu não posso ir pra casa. - Grunhi, me soltando. - Eu não posso voltar.

Ele suspirou e passou as mãos no cabelo, impaciente. A verdade é que eu não aguentaria rever o rosto da pessoa que atentou contra um pedaço da minha vida.

- Está bem, olha. - Se ajoelhou, apoiando as mãos no meu colo. - Você não pode esperar que ela acorde dessa forma, tem que estar bem.

- Já se passaram dias.

- Mas ela ainda respira, seu coração ainda bate..

Assenti sem esperança, enquanto seu coração batesse o meu sobreviveria.

- Me acompanha no café, por favor.

Chris suspirou e se ergueu, me oferecendo o braço como apoio. Descemos até o refeitório em silêncio, sorvendo o cheiro triste que já havia impregnado em nossas roupas.

- Me espera aqui, vou ver se consigo mais umas doses de açúcar. - Brincou, sem humor nenhum.

Observei ele se afastar sem pressa, andando no ritmo lento que a vida havia imposto. Christian não tinha nada a ver com aquela historia e ainda assim, estava ali, pronto para acolher minha queda.

Suspirei e girei os olhos pelo ambiente, analisando o tom fúnebre pintado nos rostos das pessoas. Talvez elas também esperassem por uma resposta ou, apenas o momento certo para fazer uma pergunta. Encolhi-me, pousando meus olhos num rosto amargo, familiar.

Poncho sorvia uma bebida, escorado na parede. Seus olhos eram tristes e vagavam sobre os meus, mudos. Havia dias que não nos falávamos, na verdade, sempre quisemos dizer alguma coisa, mas sofríamos da mesma dor, estupidamente grande e funda. Ele perdia parte do seu sangue e eu, da minha vida. Mesmo em silêncio, não havia voz que calasse o grito em nossos peitos.

- Mais rápido do que você imaginou. - Chris se aproximou, erguendo um copo escuro na minha frente. - Mandei caprichar, acho que funcionou.

- Obrigada. - Agradeci, tomando o copo das suas mãos. - Espero que sim.

Ele sorriu e sentou ao meu lado, bebendo seu líquido com um entusiasmo disfarçado, era a única coisa que eu bebia além de água. Provei do café, deixando que o líquido quente queimasse o gelo dentro de mim. Meus olhos voltaram a cruzar com os de Poncho, tristes. Compartilhando o mesmo sofrimento.

- Esse cara também não dorme há dias, mas ao menos vai pra casa tentar. - Chris observou, seguindo atento os meus olhos.

- Você acha que ele sabe que iríamos fugir?! - Perguntei, em um murmuro.

- Provavelmente, mas se não tentou te expulsar do hospital quer dizer que caiu em si.

- Ou...que se sente culpado. - Completei, mordendo os lábios. - Até quando vamos carregar esse peso...

- Até quando quiserem. - Chris puxou meu rosto, encarando meus olhos. - Precisa se distrair, chega desse sofrimento.

Suspirei, descansando a cabeça em seu ombro.

- Mesmo que eu não queira, nem consiga esquecer, vou tentar.

- Ótimo. - Assentiu, abraçando meus ombros. - Vamos conversar sobre outros assuntos.

- Me diga você então... estou por fora do mundo.

Ele sorriu e suspirou, girando os olhos pelas mesas vazias. Mais algumas doses de sanidade e eu entenderia.

- Bom, acho que conheci a pessoa certa... - Ergui o rosto. - Eu teria que achar algum dia... não teria?!

- Claro, fico feliz por você. - Sorri, sem ânimo. - Mas na balada não pode ser tão seguro assim.

- Ei, acha mesmo que eu ia pra uma festa enquanto você estava sofrendo aqui?! -Perguntou, incrédulo. - Lógico que não, eu não sai do seu lado.

- Então... - Sussurrei, acompanhando seus olhos claros ficarem escuros de repente. - Você...

Christian olhava atento o médico que se aproximava de Alfonso. Era o doutor de branco, seu possível affair, afinal. Por alguns segundos deixei me levar por um golpe de surpresa, porém, ele logo foi esquecido quando notei que a conversa era sobre Dulce.