Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

O sol jazia impiedosamente naquela manhã de terça, e mesmo que eu estivesse terminando minha última tarefa, por mais prazerosa que fosse, aquele fato me incomodava, pus Jack novamente no celeiro e o olhei.

Naquele dia não haveria voltas longas, e ele parecia estar ciente do por que. Deslizei minha mão sobre sua cabeça e acariciei sua pelagem, ele inclinou a cabeça como sempre fazia, quando estava gostando.

-Você é um cavalo inteligente, Jack, já deve ter sacado o rolo em que me meti. -ele se afastou dando um pequeno salto.

- Eu sei, eu sei! Você também quer que eu seja responsável, não é? Também acha que eu devo resolver sozinha, não é mesmo? Homens ou bichos, vocês são todos iguais.

Passei a tranca na porta da cela e me afastei, ignorando o rinchar de Jack, apanhei o balde das refeições e me virei a ponto de me retirar, mas a imagem que alcançou meus olhos foi forte o suficiente pra que eu parasse.

Anahi vinha caminhando apenas a alguns metros dali, em minha direção. Seus cabelos loiros balançavam sobre o vento e o sol que ainda a pouco me castigava. Parecia agraciá-la com seu brilho, não era difícil reconhecer a camiseta preta que usava e a calça jeans desfiada, mas aquilo a acentuava tão bem, que de alguma maneira aquela era uma imagem, sem dúvidas, desconcertante.

-Está vendo amigão? -me dirigi a Jack sem tirar os olhos dela.

-Suicida ou não... não é todo dia que se encontra uma mulher dessas na estrada!

-Não... conseguiu dormir? -perguntei assim que Anahí se aproximou.

Ela me lançou um sorriso e olhou pro cavalo preso no celeiro, parecia admirada com o que via.

-Estou em um sítio... -comentou sem tirar os olhos de Jack. -Isso explica tudo!

-Tudo o que? -perguntei, ela me olhou já sem o sorriso.

-O fato de eu não me sentir em casa! Quero dizer... não estar em um ambiente conhecido.

-Então você lembrou alguma coisa? -perguntei largando o balde no chão, minha voz com uma ponta de esperança.

-Não... apenas senti. -Seus olhos se desviaram dos meus e passaram a analisar algum ponto distante. - Isso é tão estranho...

-É...deve ser –concordei sem paciência, erguendo o balde novamente. –Mas não ajuda, acho melhor continuar descansando.

-Não consigo... e se você.. -sussurrou mais uma vez, voltando num giro seus olhos pros meus. –Me levasse pra conhecer o resto do sítio?

 .......................................................................................................................

Pronto, fim da caminhada! -Declarei escorando meu corpo na árvore, a pequena seringueira sombreava pouco, apenas o suficiente pra se esconder do sol.

-Eu só não entendo como isso pode lhe ajudar a recobrar a memória!

-Não ajuda! –Aproximou-se e encostou-se do outro lado, sua voz soando irônica.

-Mas serviu pra alguma coisa... a dor de cabeça passou!

-Achei que fosse o efeito do remédio. - Me afastei, ficando na sua frente. -Vamos, Alfonso vai chegar a qualquer hora e você precisa estar descansando.

A suicida me olhou, muda, e em seguida deixou que seu corpo escorregasse até estar sentada no chão.

-Vou ficar um pouco aqui. - Seus olhos pairaram sobre os meus, risonhos. -Ainda há algo pra fazer hoje?

“Há! Colocar você para dormir" – Pensei.

Suspirei e passei a mão pela testa, mesmo com tanto calor, ela queria ficar ali. Mesmo com todo aquele sol, ela sorria sentada em baixo da seringueira. Fitei seu rosto, olhar pra ele era simplesmente... estar de frente à um mistério.

-Você já conheceu o sítio, achei que minha missão de guia já tivesse terminado.

-Terminou - ela sorriu e me encarou. -Só quero descansar um pouco aqui...

Desviei dos seus olhos e olhei pra longe. Para o celeiro onde estava Jack, podia ouvir seu rinchado, talvez ele estivesse com medo da suicida e mesmo que isso me divertisse, não ia deixá-la só.

-Está bem. - Sentei ao seu lado, ela ainda me olhava. -Você tem alguns minutos apenas!

Nossos olhos se encontraram novamente, seus lábios devolveram as minhas palavras com um sorriso. Agora já não me sentia incomodada com o calor, porque mesmo que a sombra da árvore fosse pequena, cabia perfeitamente nós duas.