Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Dez anos Depois


Sentir frio num país caribenho era uma das poucas surpresas que me agradavam. Embora houvesse me acostumado com o calor, trabalhar em dias de chuva me poupava da nostalgia e, consequentemente, do mau humor.

Era como sair por alguns instantes de uma vida rotineira, embora isso não ocorresse de verdade. Ao menos agora, me afundar numa pilha de papéis não me parecia ao todo irritante, desde que ao invés dos raios de sol na janela, houvesse pingos de agua.

- Bonjour. - A voz de Louise irrompeu pela porta, anunciando a presença da mesma. - Vim salvar sua manhã.

- Me desculpe senhora, ela entrou sem a minha permissão.

Ergui os olhos das pilhas de papéis e analisei o semblante apreensivo de Saéz, minha secretária. Apreensão era o tipo da reação que eu costumava exercer nos funcionários. Um modo de conduta que eu havia adotado desde que abrira aquela pequena empresa, no centro de Caracas.

- Na próxima vez descontarei no seu salário, suma daqui. - Grunhi, vendo a pobre mulher fugir apavorada pela porta. - Insolente.

- Se eu soubesse que iria ser tão grosseira com Saéz, não teria vindo. - Louise falou, apoiando as mãos na mesa.

- Não fiz questão da sua presença, aliás. Sabe que estou no horário de trabalho. - Puxei as pilhas de papel, reavaliando as mesmas. - Vai pra casa, preciso trabalhar.

- Só achei que quisesse almoçar comigo. - Prosseguiu paciente. - O restaurante da esquina e novo, aguçou minha curiosidade gastronômica.

- Pois mate a curiosidade sozinha, estou sem fome. - Murmurei impaciente.

Ela suspirou e sorriu, girando até a porta numa espécie de dança que chamou minha atenção. Não que eu não a tenho visto assim outras milhares de vezes, mas justamente por isso, me surpreendia o fato dela não se abalar com a forma fria com a qual eu a tratava. Estava sempre sorrindo no meio daquelas roupas largadas e boinas esquisitas, fazendo piadas com seu sotaque francês ou engajada em projetos artísticos. Um tipo de pessoa que todos amariam facilmente, todos menos eu.

- Mudou de ideia?! - Perguntou, me analisando com seus olhos azuis.

- Não, e nunca mais invada minha sala. Está bem?!

Louise assentiu, abandonando o lugar sem insistir. Suspirei, analisando as gotas de água na janela antes de voltar a atenção às pilhas de papéis na minha frente. O telefone tocou, dispersando a atenção que eu já havia perdido. Atendi em meio a palavrões venezuelanos. Odiava distração.

- Sr. Anahi? É Estevan, preciso que me escute...

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- Chegou atrasada. - Louise sorriu, apontando a cadeira na sua frente.

Puxei um cigarro, me jogando na cadeira, dispersa. Seus olhos azuis me buscaram curiosos.

- Não parece estar bem, problemas?!

- Como você pode ter tanta certeza que eu viria?! - Indaguei, fitando seu rosto.

- Não sei, na verdade. Só achei que sua fome falaria mais alto. - Brincou, mexendo nos cabelos. - Ainda não respondeu minha pergunta.

- Talvez. - Suspirei, aspirando a fumaça no ar. - Mas nada muito importante.

Ela me analisou por alguns segundos e balançou a cabeça, reprovando. Não se dava para esconder um segredo de uma francesa curiosa.

- Posso ver nos seus olhos que está mentindo. - Acusou, mordendo os lábios. - São problemas de escritório?!

Revirei os olhos, tragando com intensidade a droga em meus lábios.

- Tem sorte de me encontrar com bom humor. – Disse analisando a chuva que voltara a cair lá fora. - Não vai parar tão cedo.

- Sabe, acho que já se sei por que gosta tanto de chuva. - Exclamou, chamando minha atenção. - No fundo, ela se iguala a sua alma. A alma de uma empresária fria.

Levantei, repondo as mãos no casaco. De repente, havia perdido a fome.

- Quer saber? Não tenho porque ficar escutando isso de uma francesa metida a artista.

- Não se zangue, ma chère.

- A gente se vê, se eu ainda tiver paciência pra aturar sua petulância.

Dei as costas, sumindo daquele lugar. Fugindo da verdade que me perseguia, feito uma sombra.