Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

As folhas balançavam com vigor, seguindo a direção oposta ao meu corpo, se deixando levar pelo vento. Já era a terceira vez que olhava a copa daquela seringueira. Era a terceira vez que tentava fugir daquela presença misteriosa, rezando para que Poncho chegasse logo.

Ao meu lado, Anahi apenas olhava tudo em silêncio, parecendo deslumbrada com a natureza que a cercava. Brincando com os limites da minha paciência.

-Como você pretende descansar aqui? - Perguntei quebrando o silêncio. -Não acha melhor...

-Espero que não me mande dormir de novo. - Sorriu e me olhou, cortando minhas palavras. -Caso o contrario vou achar que quer se livrar de mim.

Será que você ainda não entendeu isso? Pensei.

-Sabe, não é muito normal uma garota achar uma estranha na estrada e a levar pra casa... como também não é normal...

-Acordar sem memoria na casa de desconhecidos. - Franziu o cenho, certa de que havia completado bem minhas palavras.

-Não pode estar mais perdida que a gente. - Olhei para a copa e em seguida para o chão. -Mal sabemos que tipo de pessoa temos em casa...

Emudeci, esperando em silêncio que a suicida protestasse, se defendendo, mas ela apenas sorriu com aqueles olhos azuis... sorriu com aquela boca pequena... sorriu e nada mais.

-Não entendi o porque do riso, você não devia achar isso engraçado!

-Você é marrenta. - Virou seu corpo na direção do meu, sem tirar o sorriso do rosto. - Achei que caipiras assim não existissem mais!

Ótimo, ela estava rindo de mim!

-Você mal sabe quem é, não pode falar nada sobre mim! - Levantei a fuzilando com os olhos. - Vamos! Pra mim já chega.

Dei as costas e logo fui surpreendida por duas mãos ágeis que me fizeram sentar novamente no chão. Anahi me olhava séria, e foi incrível como aquele olhar me acalmou.

-Me desculpa, foi uma brincadeira.

-Achei que você não estivesse em condições pra isso. - Resmunguei ainda a encarando.

-Está certo, só queria me distrair um pouco, estou muita assustada com tudo isso. - Baixou os olhos e suspirou, seu rosto com um ar triste, alguma coisa dentro de mim bateu mais forte.

Eu estava sentindo... pena ?

-Não precisa fazer essa cara, não acha que isso tudo já é estranho o bastante?

A suicida respondeu com um leve balançar de cabeça e um sorriso nos lábios, que mais uma vez concordaram com o sorriso dos seus olhos, em seguida fez-se um silêncio, que durou até ela voltar-se pra mim, disposta a falar algo.

-Foi você que me encontrou, não é mesmo? Como eu... estava?

Desviei de seus olhos e mais uma vez encontrei o chão, foi inevitável não lembrar da noite passada. Lembrar daquela loira sobre o viaduto... encharcada pela chuva, e depois salva em meus braços, e agora ela estava ali, ao meu lado, pedindo explicações.

-Você estava sob o viaduto, preste a tirar sua vida... não há mais nada!

-Sim, já entendi essa parte. Mas porque... - hesitou, esperando por minha atenção, virei meu corpo e a olhei curiosa, ela então prosseguiu. -Você me salvou? Quero dizer... porque não me deixou pular?

Seu rosto se fechou, como quem espera por uma resposta desejada, não podia ver o meu, mas certamente estava vermelho.

Não tinha me preparado para aquela pergunta.

-Ah... porque...  - gaguejei, seus olhos azuis me encarando, constrangimento, típico sentimento que me embaraça toda. -Ora bolas, agi por impulso, satisfeita?

-Esse não era um momento adequado pra agir assim, mas... espera! - Hesitou novamente, parecendo lembrar-se de algo.

-Você disse que eu estava sob o viaduto e, no entanto, não me recordo... me diga, notou algo em mim... algo que eu pudesse ter ingerido?

Tá brincando?! Você estava entupida até a tampa.

Quase falei, mas engoli a seco. Eu havia escondido esse fato de Poncho apenas pra não aumentar minha carga de responsabilidade, mas ela deveria saber, e pelo menos, ia dar essa resposta sem ficar vermelha.

-Você estava... drogada!

-Drogada... -repetiu a palavra em mais um sussurro, seus olhos vagos em alguma direção. -Por isso que eu perdi a memoria, será?

-Não sei, mas pra isso... você deve ter tomado um senhor coquetel! - Supus com um ar irônico, ela pareceu não notar.

-Sei que está ainda mais assustada agora, mas... tente não contar isso à Poncho, entenda, não quero deixá-lo ainda mais nervoso.

Anahi suspirou apoiando as mãos na terra. Era como se minhas palavras fossem tomando efeito dentro de si, e eu sabia, que não devia estar sendo fácil pra ela.

-Eu não entendo... como eu não posso passar disso? Uma drogada que tentou se matar..

Também queria entender!

-Não precisa se martirizar, pelo menos temos uma pista a seu respeito. - Inclinei a cabeça na direção dos seus olhos. -Provavelmente é mais uma patricinha de Lexgton... uma patricinha que veio parar num sítio. Isso soa irônico, não acha?

A suicida fechou os olhos e após um longo segundo, os abriu novamente, agora aqueles azuis transpareciam tristeza, e mais uma vez algo dentro de mim pulsou mais firme.

-Você sabe mesmo como confortar alguém. - Sorriu num simples puxar de lábios. Era incrível como sorria com facilidade.

-Mas eu não posso duvidar disso... afinal sou mesmo um mistério não sou?

-Sim, você é. - Confirmei, já desarmada pelo seu sorriso.

-Mas eu espero que a verdade não seja tão ruim assim... sabe, que haja um motivo maior por trás de tudo isso!

Encostei a cabeça na árvore enquanto a escutava, lembrei-me da noite passada, do medo que tinha me consumido. Pela primeira vez então, percebi que ele havia evaporado, ela tinha conseguido inverter o jogo ganhando minha confiança, e havia algo de errado naquilo, sim... seu sorriso fácil, sua voz doce... não passavam de armas que incrivelmente me venceram.

-Não acredito em uma verdade boa, não depois de tê-la visto daquele jeito! - Declarei rispidamente, vendo seu sorriso desaparecer com a minha mudança repentina.

-Que tipo de pessoa você acha que eu sou? Além de uma patricinha viciada, é claro..

-Não sei, mas espero que lembre logo pra que tudo isso acabe! - Levantei girando nos calcanhares até sua direção.

-Seu tempo acabou! Vamos voltar!

-Você é sempre tão dura assim ou foi algo que eu falei? - Perguntou ainda sentada, seus olhos me pedindo resposta.

-Não tem sentido ficarmos conversando, já lhe disse tudo o que precisava saber!

-Está bem! - Concordou levantando, sua expressão séria. -Quando isso tudo acabar, vou lhe provar que não sou uma má pessoa.

E eu vou provar que é!

-Só quero que lembre logo, venha!

Dei as costas e segui a passos rápidos na direção da casa, a suicida me seguia em outro ritmo, como se estivesse evitando andar ao meu lado.

Que se foda!!!