Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

Suspirava inquieta, enquanto esperava na imensa fila por minha vez. A boate de Christian parecia famosa naquele local, pelo menos todas as pessoas da região pareciam se concentrar ali.

Um tumulto impiedoso, diante da impaciência que se concentrava em minhas pernas. Esperar era a única maneira, a única chance de entrar sem ser observada. De chegar até Christian, sem ser vista como um fantasma.

- Senhora seja bem vinda. - Um homem de aparência velha fez as honras, abrindo caminho. Depois dos longos minutos de espera.

Assenti, entrando no ambiente sem receios. O barulho me atingiu numa onda estranha de ruídos, desafiando minhas lembranças. Segui até o bar e me servi de algumas doses de tequila, Christian não estava ali, em lugar nenhum. Mas em algum momento ele apareceria, em algum momento, nós esclareceríamos tudo.

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Abri os olhos devagar, analisando com lentidão o lugar em que estava. A memória desgastada, aos poucos, foi voltando, se arrastando, enquanto os olhos buscavam algum ponto de apoio. Eu havia bebido demais, esperado demais, mas afinal, meio que sem querer havia dado certo. Christian estava ali, encostado na parede do que parecia ser seu quarto.

- Chris... – Chamei sentando na cama com esforço.

- Põe sua roupa e vai embora. - Ordenou ríspido, se afastando.

Analisei meu corpo com espanto, estava descoberto, protegido apenas por um lençol.

- Minhas roupas...

- Você vomitou a noite inteira nelas. - Abriu a porta, me olhando antes de ir. - No armário há algumas, não demore.

Hesitei, tentando assimilar alguma coisa enquanto ele desaparecia porta a fora. Levantei apreensiva, buscando as roupas que por algum motivo, ainda estavam ali, sobrevivendo a longos dez anos. Vesti-me apressada, fugindo do cheiro barato da nostalgia. Christian estava na sala quando sai, me esperando com ares sombrios.

-Ainda tem minhas roupas... – Comentei testando sua fragilidade.

- Vá embora e nunca mais frequente a minha boate. – Sibilou enraivecido.

Aproximei-me, contornando o sofá onde ele estava sentado. Seus olhos se assustaram ao pousarem em meu semblante. Estavam tristes, vermelhos. O que me fez pensar que, em algum momento, ele havia chorado.

- Sei que não foi o momento certo, mas você precisava saber que eu estou de volta.

- Eu não te reconheço, não sei quem você é. - Levantou, abrindo a porta. - A rua é o seu lugar, permaneça nela.

Fechei os olhos, suspirando. Quando tornei a abrir, fui pega de surpresa pela presença repentina de um homem, parado na porta com uma criança loira nos braços. Ao me ver, quase derrubou o garoto que, imediatamente, foi pego por Christian.

- Meu Deus... - Murmurou, assustado.

Analisei seu rosto enquanto Chris falava algo com a criança. Ele não me era estranho, eu sabia que devia o conhecer.

- Ela era a garota da boate... - Afirmou, ainda espantado. - Christian, porque você não...

- Isso não importa Pablo, ela já está de saída. - Interrompeu, observando o garoto correr para o quarto antes de voltar os olhos pra mim. - Acho que você já entendeu.

Assenti, sendo pega de surpresa pelas lembranças. Pablo era o médico que havia atendido Dulce, e aquela criança... meu Deus, Christian havia construído uma família.

- Chris... você é pai. - Exclamei, atordoada. - Você é pai...

Ele me analisou por alguns segundos, inerte. Sumindo em seguida, quase como em fuga, para dentro do quarto. Tentei o seguir, mas Pablo me impediu, segurando meus braços, apressado.

- Ele sofreu muito por você Anahi, não force.

Suspirei, retraindo os passos. Derrotada novamente.

- Vamos, eu preciso falar com você.

- Você é a única pessoa que não me vê como um fantasma nessa cidade.

Pablo franziu o cenho, me observando virar o copo de uísque. A verdade é que seu rosto estava impregnado nas piores lembranças que havia em mim, e eu me negara recordar de imediato, como uma espécie de armadura mental.

- Isso porque você não é. – Falou apoiando os braços na mesa. - Anahi, não pode achar natural regressar dessa forma, são dez anos.

- Dez anos... – Repeti em sussurro. - É muito tempo pra ficar parada, não acha?

- Está bem, temos coisas mais importantes para discutir. - Exclamou, afastando a garrafa de uísque do meu lado. - Preciso de você sóbria pra isso.

Revirei os olhos, analisando em seguida seu rosto. Pablo tinha as mesmas feições do médico que acompanhou meu sofrimento, mas ainda assim, existia nele outra face. A face do homem que Christian havia escolhido. A barba rala, os olhos claros, cabelos curtos castanhos. Braços largos e definidos. Exatamente da forma que me escapou, há alguns anos.

- Sabe, eu estou com a sensação de que vai me dar uma má noticia. - Brinquei, sem humor.

- Porque você foi embora? Porque saiu daquele jeito, deixou Dulce... assim?

Retrai os ombros, pega de surpresa pelo nome dela. Talvez, essa seria a hora de esclarecer as coisas ou, ainda estava cedo demais.

- Me desculpe, mas acho que não nos conhecemos o suficiente. Devo satisfações a Christian...

- Infelizmente, creio que ele não vai querer te ouvir.

- Não tenho tanta certeza, ele me pôs em casa, afinal. Isso deve significar algo.

- Claro que ele tem um bom coração. - Cruzou os braços, sério. - Não brinque com isso, Christian deve estar sofrendo agora, por sua causa, de novo.

- O que você é dele? Digo, aquela criança...

- Não desvie o assunto Anahi. - Exclamou, erguendo os olhos. - Eu posso intermediar as coisas, desde que me conte a verdade.

Suspirei, levantando. Ele me observou, erguendo o braço para alcançar o papel que lhe entregava.

- Me dá um tempo e, depois disso, me procure.

- Achei que não quisesse perder tempo...

Dei as costas, parando sobre o efeito de uma frase que havia me escapado.

- Você perguntou, porque deixei Dulce...assim? O que aconteceu...

- Ela morreu por sua causa, morreu por dentro... todos os dias que esteve longe.

Fechei os olhos, cerrando os punhos. Desejei morrer no mesmo segundo, porém recordei que já havia o feito, há dez anos.