Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

ANAHI

- Voltou cedo.

- Não enche, Estevan. - Gritei, me jogando no sofá. - Você devia estar no seu quarto, não?

Ele assentiu se aproximando, risonho.

- Alguém tem que cuidar dos negócios, achei que aqui daria um bom escritório.

- Mude de quarto então. - Sugeri, sentando. - Me esqueça por hoje.

- Não dá, temos coisas para resolver. – Aproximou-se, sentando ao meu lado. - Não conseguiu fazer nada, não é mesmo?

Deslizei a mão pelo bolso, retirando um cigarro, acendendo-o em seguida.

- Eu sabia, isso é bom. Quer dizer que está mudando.

- Vá à merda. - Rosnei, soltando a fumaça.

- Posso ir, depois que assinar os papéis. - Murmurou, retirando de uma pasta uma espécie de contrato.

- O que é isso?

- É uma liminar, você tem direito de expulsar Lana de casa agora E processá-la por seus crimes.

Levantei, pegando os papéis. Estevan me observava, contente pelo seu suposto progresso.

- Não preciso disso. - Grunhi, rasgando os papéis. Gesto esse que o assustou.

- Anahi, o que está fazendo? Você não pode...

- Escuta. - Exclamei, encarando seus olhos. - Lana despedaçou a minha vida e agora, eu vou despedaçar a dela. Só que, dessa vez, em mais pedaços do que esses malditos papéis.

- O que você...

- Não se preocupe, posso tratar disso sozinha.

Ele assentiu, assustado com as minhas palavras. Repus a droga nos lábios e me dirigi as garrafas de uísque, esquecidas na mesa. Estevan levantou, seguindo até o telefone que havia acabado de tocar.

- Anahi... – Chamou, voltando-se a mim. - É da portaria eles... disseram que Christian está ai.

- Eu sabia que viria. – Disse, vendo Christian atravessar a porta, sem cerimonias.

Ele me olhou por alguns segundos, em silêncio. Deixando que os olhos transparecessem a mágoa acumulada por tantos anos. Não havia razões para feri-lo, mas havia a precisão, os olhos cegos pela dor. E agora, um punhal em seu peito, um punhal que, só agora percebi que eu mesmo havia cravado.

- Eu quero que vá embora. Suma dessa cidade...

- Christian.. - Murmurei, tragando a droga entre os dedos. - Sabe que não pode me pedir isso.

Chris suspirou, abrindo e fechando os olhos num ritual de calma que não funcionou. Seus passos apressaram-se até mim, me acuando contra a parede, me prendendo entre as lembranças.

Suas mãos arrancaram o cigarro dos meus lábios e o lançaram para longe, queimando minha boca de uma maneira menos dolorosa que a ferida que ele abria.

- Você foi embora, sumiu, machucou pessoas. Não tem o direito de escolher nada. Não tem o direito de querer voltar. - Gritava, furioso.

- Não sabe da verdade, está me julgando.

- Verdade? A única droga de verdade que eu sei, é que agiu feito um monstro, que é uma louca fingida, que nunca se preocupou com ninguém.

- Christian, cala essa boca. - Ordenei, me desviando do seu corpo. - Eu não posso ir embora antes de esclarecer tudo, não insista droga.

- Não há nada para esclarecer. - Rosnou, cerrando os punhos. - Pegue as suas malas e volte para o maldito lugar de onde veio.

- Não antes de encontrar Dulce...

- Preste atenção. - Gritou, segurando meus braços, com força. - Se você sequer pronunciar o nome dela outra vez, eu acabo com a sua vida, da mesma forma que acabou com a dela.

Hesitei, deixando que a montanha de gelo desmoronasse dentro de mim. As peças se encaixaram, se fundiram. Pela primeira vez então, eu sentia a dor, a fúria que havia deixado nele.

- Está me ameaçando? - Indaguei, trêmula. - Não é mais o Christian que conheço.

Ele riu, uma espécie de gargalhada assombrosa, negra. Depois lançou os olhos sobre mim, tornando a apertar meu braço.

- Gostaria de dizer o mesmo, mas eu nunca te conheci, Anahi. – Zombou entre dentes. - Vai precisar passar por mim pra chegar nela, e te garanto que isso não será muito fácil.

- Está me machucando. - Murmurei, com a voz embargada. - Pare com isso.

- Me diga que entendeu, vamos, me diga que vai embora...

- Christian, eu...

- Algum problema por aqui? - A voz de Estevan soou de forma calma em meio a conversa aflitiva. 

Chris me soltou, passando as mãos no rosto freneticamente. Senti vontade de correr e me abrigar nos braços de Estevan, assim como na última vez em que vi meu pai. Mas não era mais a garotinha Anahi. Não havia mais resquícios dela em mim.

Permaneci ali, parada frente ao monstro que eu mesma havia criado. Passando a mão sobre o vermelhidão que ele havia provocado em meu braço. Como um coelho assustado demais para correr do perigo.

- Está avisada. – Disse passando por Estevan antes de sair do quarto. - Espero que faça sua amiguinha entender que não é bem vinda por aqui.

Deslizei as costas na parede, encontrando o chão. Estevan correu ao meu encontro, se ajoelhando na minha frente, preocupado.

- Você está bem? Ele te machucou?

- Não Estevan, eu o machuquei.- Murmurei, com os olhos embargados.

- Anda, levanta dai. Vamos fazer as malas. - Levantou, decidido.

- Não mecha em nada. - Ordenei, abraçando meus ombros.

- Anahi, sinto muito, mas não vou deixar você correr tantos riscos a toa. Veja ele...

- Você está certo, estou correndo riscos. - Ri, saboreando o som cruel daquelas palavras. - Mas eu nunca esperei que fosse fácil.

Ele suspirou, andando em círculos pela sala. Tentando assimilar a ideia de que, não importa o que fizesse, nunca conseguiria me fazer desistir.

- Está bem. - Parou, apreensivo. - Pretende fazer o que então?

- Adiar os planos. - Levantei, enxugando os olhos com o dorso do braço. - Não posso mais esperar, não tenho mais escolhas.

Andei até mesa, virando o copo de uísque que havia ficado esquecido. Estevan se aproximou, deixando que a tensão transparecesse em seu rosto.

- Posso fazer algum coisa além de pedir para tomar cuidado?

- Pode. - Assenti, acendendo outro cigarro. - Comece a preparar os papéis da minha liberdade, posso ser presa hoje.