Fanfic: C'est' finale (AyD) | Tema: Portiñon, AyD, Dulce & Anahi

De longe, a casa ainda parecia ser a mesma, assim como tudo naquela maldita cidade. Mas, como a mesma, bastou que me aproximasse para perceber que algumas coisas haviam mudado, dessa vez da forma da qual desejei, porém, não esperava.

Andei sem pressa pela grama seca, mal cuidada, e me aproximei da porta, desgastada pelo tempo. Toquei a campainha com um sorriso nos lábios. Um sorriso de triunfo afinal, eu já havia ganhado a batalha antes mesmo de declarar a guerra.

- Meu Deus.. - Uma mulher murmurou, arregalando os olhos assim que abriu a porta.

-Bom dia, sentiu minha falta, Lana?

Lana me olhava incrédula, numa tentativa assombrada de assimilar minha presença repentina depois de longos dez anos. O tempo havia mudado seu rosto, dado rugas e uma expressão amarga de velhice em sua face.

Seus cabelos, tão negros em outra época, agora caiam em ondas acinzentadas pelo rosto, numa quase expressão de morte que surpreendeu minhas Lembranças. Era como se fosse possível tirá-la da vida, ainda que vivesse. Talvez aquela fosse mesmo a sua morte, a morte precoce da sua alma.

- Anahi... - Sussurrou, com a voz rouca se arrastando aos meus ouvidos.

Assenti, entrando sem ser impedida. A casa não estava mais no mesmo estado de antes, como tudo que eu havia deixado naquela cidade. Mas ainda assim, foi capaz de despontar a antiga nostalgia que me prendia ali, o sentimento de perda, e mais do que tudo, de culpa.

- Achei que fosse cuidar melhor dela, está acabada. - Exclamei, encarando seus olhos acinzentados. - Aliás, você também está.

Ela me analisou por alguns segundos, mórbida. Ainda sem acreditar que eu estava ali.

- Você voltou... Eu não acredito. - Sussurrou, fechando a porta.

Hesitei, observando seus passos se aproximarem de mim. Sua reação estava a beira de confundir meus planos, porém, o sorriso em seu rosto me recordou com quem eu estava lidando.

- Foi capaz de voltar, perdeu o medo da morte querida? - Riu, sentando no sofá em seguida, friamente.

Respirei, tentando controlar a vontade de matá-la. O único modo de vingança não era derreter seu gelo, mais sim, se igualar a ele.

- Pelo contrário, estou apenas a negócios por aqui. - Menti, sentando do seu lado.

- Não, você veio tentar recuperar o que perdeu, porque depois de dez anos, as coisas normalmente ficariam mais fáceis. – Riu, me olhando. - Eu esperei por isso, só achei que sua pressa fosse adiantar as coisas.

Levantei, escondendo as mãos em punhos no bolso. A verdade é que Lana era esperta o suficiente para alimentar a hipótese de um erro nos meus planos, mas ainda assim, eu contava com o tempo para destruí-la.

- Isso nunca foi meu, nem mesmo meu pai foi. Por mim, não importa mais, não seja ridícula.

- Bom saber que aprendeu a mentir tão bem quanto eu. - Riu, levantando-se. - Seja mais convincente, querida.

Ri, aproximando-me do seu corpo. Os velhos arrepios de outrora ficaram perdidos no tempo, mas a raiva fulminante que roubava minhas noites, essa sim, apareceu.

- Aproveitei a passada para atestar o que eu já sabia, é bom ver como as coisas mudaram, não é?

- Parece ter esquecido de tudo, das ameaças... saiba que elas ainda existem. Não havia prazos no nosso acordo.

- Está sendo ridícula de novo. - Toquei seu rosto, deixando-me afundar na amargura do mesmo. - Essa é só uma visita. A visita de uma mulher que você ajudou a construir.

- Não parece ter mudado tanto assim. - Sussurrou, sem perder a postura fria.

- Talvez não tanto, se você não conhecer de perto...

- Está quase me convencendo.

Ri, me afastando. Aquela era a frase sinal para que me desse por vencida. A velhice nos torna frágil e, ela expunha facilmente sua fraqueza.

- Vou embora daqui alguns dias, achei que fosse gostar de me ver, já que não vai mais ter outra oportunidade dessas, creio que não tão cedo.

- Conseguiu mesmo sobreviver sozinha? - Questionou, deixando-se entrar no meu jogo.

- É, parece que sim. - Assenti, me aproximando da porta. - Foi um prazer revê-la, e a casa também.

Dei as costas, girando a maçaneta. Alguns segundos apenas e ela chamou por meu nome, provocando meu riso discreto, antes de virar e encará-la com o semblante vazio.

- Não pode sair desse jeito, quero... saber desse seu negócio. Se isso for uma armadilha...

- Relaxa querida, ligo antes de partir. - Pisquei, sumindo em seguida, satisfeita e completamente enfurecida.

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- Que bom que está viva. - Estevan suspirou, sentando na cama, aliviado.

- Devia trazer suas malas pra cá de uma vez. - Sugeri, retirando o casaco de malha fina.

- Claro, mas antes, me avise se vamos precisar fugir do país. Não sei se simples papéis vão poder te ajudar.

Suspirei, retirando o celular do bolso. O sorriso em meu rosto despertou a atenção de Estevan, eu havia recebido a mensagem que esperava.

- Por alguma razão, estou arrepiado. – Brincou enquanto levantava.

- Deve ser o calor tropical. Você se acostuma.

- Está bolando outros planos nas minhas costas, não é mesmo?

- Você só precisa saber que está dando certo. Ela caiu como um pato. - Ri, jogando o aparelho na mesa. - Como é fácil comprar pessoas neste país.

- Quem...? – Questionou preocupado.

 -Um advogado. - Dei de ombros, indiferente.

- Nossa... estou honrado.

- Devia saber mais sobre a profissão que escolheu. - Zombei, entrando no banheiro.

- Talvez eu não queira saber. Aliás, agora vou precisar beber pra esquecer o que me disse. -Gritou, saindo do quarto.

Ri, deixando que a água lavasse a sujeira no meu corpo. A sujeira que aquela pele amargurada deixou em meus dedos. A sujeira que a tristeza naqueles olhos cravaram em minhas lembranças. A sujeira que eu queria eliminar, de uma vez por todas, da minha vida.