Fanfic: Trezentos e Sessenta e Cinco Dias (FINALIZADA) | Tema: Vondy

Não. Comigo não. - Ela disse rápido. - Foi com uma amiga.

Mas ela está bem?

Não a vejo faz muito tempo.

Ela sumiu?

Ela foi embora, sem se despedir. Não tenho notícia dela faz mais de um ano.

Era sua melhor amiga?

Sim. Acho que dá pra perceber porque ele fala meu nome apenas na chamada e nunca chama minha atenção ou algo do tipo.

Pensei que fosse a queridinha dele. - Fiz uma careta e ela também.

Ele sabe que eu sei o que aconteceu, e que está nas minhas mãos. Então fique longe dele, por favor.

Tudo bem, eu ficarei. - Sorri. - Só acho que você deveria contar pra alguém.

E o que eu direi? Mina amiga nem está mais aqui pra poder afirmar alguma coisa. Ele é um nojento, pedófilo, desgraçado e mesmo assim ninguém vai acreditar em mim.

Eu acredito Annie.

Obrigada. - Ela sorriu. - É melhor a gente ir pra aula agora.

É sim. - Suspirei.

A aula seguiu completamente chata e entediante. Passei o resto do dia no que Anahí havia me dito sobre o professor Guilhermo e sobre a possibilidade de ficar com um outro alguém para ter certeza de meus sentimentos por Christopher.

Meu pai foi me buscar aquele dia. Passamos no supermercado para comprar algumas coisas.

Papai, posso ir à livraria? - Perguntei entediada.

Pode. Não demore. - Ele respondeu sem se quer me olhar.

Ok.

Saí do supermercado e fui até a livraria que ficava a uma quadra do supermercado. Escolhi uns quatro livros durante alguns minutos, passei no cacha para pagá-los e depois voltei para o supermercado, esperando meu pai no estacionamento.

Dulce? - Uma voz conhecida me chamou, olhei em volta.

Olá Rodrigo.

O que faz por aqui sozinha?

Estou esperando meu pai. - Desci do capô do carro em que eu estava sentada. - Tudo bem?

Sim, mas parece que você está um pouco machucada. O que houve?

Ah, não foi nada. Só uma pessoa que resolveu testar a roda do carro em mim. - Brinquei e ele sorriu.

Entendi. Como está indo a escola?

Bem. Um pouco entediante mas bem. E você, o que anda fazendo?

Só trabalhando mesmo. Agora me dei um pouco de férias, porque sabe como é né. Ninguém é de ferro.

Nem me fale. Eu já quero minhas férias logo para me livrar dessa escola.

Mas é preciso estudar. Quem me dera poder voltar aos meus tempos de estudante. Eram os melhores.

Eram?

Sim. Depois se quiser posso lhe contar as coisas que eu aprontava, mas pra isso teria que aceitar meu convite de sair pra almoçar ou jantar.

Quando?

Não sei. Quando estará disponível?

Bom, acho que fora amanhã a noite, não tenho compromisso algum.

Domingo podemos almoçar juntos? Ou ir jantar.

Acho melhor o almoço, porque na segunda tenho aula pela manhã.

Por mim está ótimo. - Ele me estendeu a mão. - Passo na sua casa às onze, pode ser?

Pode sim. - Dei meio sorriso enquanto apertava amão dele. - Mas vou querer saber tudo o que você aprontava.

Combinado. Agora preciso ir. Mande um abraço para o seu pai. - Ele beijou minha bochecha. - Até domingo Dulce.

Até. - O olhei sair em direção ao seu carro.

Esperei meu pai chegar e depois voltamos para a casa. A primeira pessoa que vi, foi Christopher chegando com seu cavalo. Provavelmente estaria no pomar da fazenda. Saí do carro fingindo não tê-lo visto, peguei minhas coisas e entrei em casa.

Tomei um banho demorado para tirar todo o cheiro da escola de meu corpo. Vesti uma roupa leve e desci para jantar. O cheirinho estava ótimo. Ou era a comida da tia Ale, ou a de Christopher. Bom, pelo menos eu nunca tinha visto meu pai cozinhar e o Poncho, trabalhando fora estava fora de cogitação.

Cheguei na cozinha e lá estava ele usando um avental. Seguei o riso e fui até a geladeira pegar água. Tomei um copo d`agua enquanto o olhava concentrado no fogão. Talvêz nem tivesse notedo minha presença ali. Ou talvez sim. Suspirei e fui até a sala onde meu pai estava. Me joguei no sofá abraçando a almofada.

Está tudo bem?

Sim. - O olhei.

Sabe. Você e sua mãe são bem parecidas.

Você já disse isso.

Bom, eu disse sobre o físico. Mas é que são péssimas em esconder as coisas.

Como assim?

Deixam estampado na cara que está acontecendo alguma coisa.

Bom, já que você diz isso, deve saber dizer o que estou escondendo.

Não sei. Talvêz esteja decepcionada com algum garoto.

Talvêz.

Seria o seu namorado lá de Nova York? - Ele deixou o jornal que tinha em mãos na mesa de apoio.

O Pablo? - Dei uma gargalhada forçada. - Eu e ele não tinhamos nada sério.

Não é o que parecia quando estavam se despedindo. Parecia que o mundo ia acabar.

Ele é meu amigo papai.

Então tem um outro alguém?

Talvêz. Mas acho que isso não é algo que eu queira compartilhar com você.

E por que não?

Por que você é homem? - Ergui uma sobrancelha.

Sua mãe está te fazendo falta né?

Muita. - Suspirei.

Só espero que algum dia você possa se abrir comigo como se abriria pra ela. Eu sou homem sim, mas sou capaz de entender a minha filha. Eu posso não usar maquiagem, ou amamentar, mas eu saberia muito bem ser sua amiga nessas horas.

Papai. - O repreendi e ele riu.

O que foi? Será que se eu colocar uma peruca, me maquiar e subir em um salto você se abriria pra mim? E eu teria que andar igual vocês mulheres.

E como nós andamos?

Assim. - Ele se levantou e começou a desfilar com o nariz empinado. - Nariz empinado, e com o quadril mechendo pra lá e para cá.

Papai. - O olhei incrédula depois comecei a rir. - Eu não ando assim.

Experimenta no espelho se caminha assim quando estiver com aqueles saltos maiores que o mundo.

Não mesmo. Você é doido. - Neguei me sentando no sofá mordendo o lábio inferior.

Isso quando não jogam o cabelo pra trás e ficam mordendo o lábio inferior. Isso seduz muitos homens. E aliás, você faz muito isso. Sua mãe também fazia e me deixava maluco.

Fale mais sobre ela. - Cruzei as pernas em forma de pernas de índio e coloquei a almofada sobre elas.

O que mais você quer saber? 

Não sei. A cor e a comida preferida. Um lugar que ela sonhava em conhecer. O que ela sempre quis ser.

Bom. Eu sei que ela amava azul. Ela dizia que azul era a cor do amor. Quase todas suas roupas eram azuis e lhe caíam muito bem.

Também gosto de azul. - Sorri.

Ela ficava horas adimirando o céu. E eu a observava tentando saber o que ela estava pensando.

O azul é uma cor que acalma. - Disse. - Qual era a comida preferida dela?

Ela gostava de comida mexicana. Digamos que ela um tanto quanto apimentada.

Bom, acho que não puxei esse lado dela. - Mordi o lábio inferior.

Qual a sua comida preferida?

Tudo que tem massa. Espaguete, pizza, salgados, bolo.

Já foi na Italia?

Não. Queria ir lá. O país das massas. Acho que voltaria com dez quilos a mais. - Ri. Não consigo me ver gorda. Baixinha como sou, iria parecer um botijão de gás.

Quem sabe você não vá quando completar dezoito anos. - Ele voltou a se sentar.

Sabe jogar xadrêz? - Assenti olhando um tabuleiro de vidro sob a mesa de centro.

Se você ganhar de mim, te pago uma viagem para lá quando completar dezoito anos.

Agora?

Sim.

Faz muito tempo que não jogo isso.

Não jogo isso desde que você nasceu, então está na vantagem.

Ok, me convenceu. - Me sentei no chão. - As brancas são minhas.

Como quiser. - Ele se sentou do outro lado.

Saí com minha primeira peça. Um cavalo, como haviam me ensinado. O cavalo sempre anda em “L”, e é a única peça que você pode mexer no início sem abrir espaço para que derrubem suas outras peças valiosas.

Quase vinte minutos de jogo e por fim, quando restavam apenas quatro peças minhas sobre o tabuleiro eu dei cheque mate.

Ganhei. - Gritei - Eu ganhei, eu ganhei.

Eu deixei. - Ele indagou enquanto eu me levatava dando pulos no sofá.

Não importa, eu ganhei, e consequentemente ganhei uma viagem pra Italia. - Subi no sofá e comecei a pular.

Fernando, o jantar está pronto. - Christopher disse da porta enquanto me olhava com cara de “o que é que deu nessa louca” me deixando completamente sem graça. Me joguei no sofá sentindo minhas bochechas corarem.