Fanfic: Trezentos e Sessenta e Cinco Dias (FINALIZADA) | Tema: Vondy

 Eu não consigo. – Falei baixo só para ele ouvir.

Quer voltar pra casa? – Ele me virou de frente pra ele e eu neguei.

Eu preciso me despedir dela Pablo. – O olhei com os olhos novamente marejados. – Vem comigo?

Claro. – Ele deu meio sorriso e me abraçou de lado. Seguimos até onde estava o caixão de minha avó, enquanto muitos olhares ali se voltavam para mim. Estranhei chegar ao local e ver que estava fechado. Olhei para uns Agentes Funerários que estavam presentes, e um deles caminhou até mim.

Parente da senhora Espinosa? – Assenti sem graça.

Recebemos ordens para não abrirmos o caixão, pois o corpo dela está completamente inchado e irreconhecível. – Olhei Pablo que ficou sem saber o que dizer.

Tudo bem. – Falei com a voz baixa e ele se retirou.

Pablo ficou ali comigo em silêncio por alguns minutos, depois ele me levou para sentar em um banco ali perto. Eu já não conseguia mais chorar. Fiquei observando algumas pessoas se aproximarem do caixão se despedindo dela e dando uma ultima olhada na foto exposta ao lado. Deitei minha cabeça no peitoral de Pablo apenas esperando o tempo passar.

Meus amigos chegaram ao local, em seguida Fernando com os pais de Pablo. Meus amigos chegaram até mim, e cada um me deu um beijo na testa sentando próximos a nós dois. Ninguém nada falava, era um silêncio completamente constrangedor. Mas o que dizer? Nada traria minha avó de volta.

Não demorou muito para que um Agente Funerário viesse até eu avisar-me que teriam de fazer o enterro logo, já que uma tempestade de neve se aproximava e isso iria impossibilitar de enterrarem-na depois. Um pouco receosa dei a autorização, e depois de uma pequena cerimônia, levaram-na para o cemitério. Eu fui atrás, junto com meus amigos e as outras pessoas presentes. Tudo ocorria como uma cerimônia normal, até que começaram a fechar o túmulo. Algo mais forte que eu, me fez entrar em desespero. Sem exagero, se não fora Pablo me segurar com muita força, acredito que teria pulado lá dentro. Comecei a chorar desesperadamente, soluços de desesperam saíam de mim. Tentei impedir que os coveiros fechassem o túmulo, mas sem êxito algum.

Vovó não se vá. – Implorei pela terceira vez. – Você não pode ir, não faz isso comigo. – Todos me olhavam preocupados e assustados com minha reação espontânea. – Por favor, volta pra mim. – Gritei com o rosto completamente encharcado tentando avançar para o túmulo, mas Pablo usava toda sua força em mim. – Você não pode ir quem vai cuidar de mim agora?

Dulce. – Ouvi um sussurro, mas não me importava de quem vinha. Apenas queria minha avó ali comigo. – Dulce. – Sussurrou de novo, porém agora eu reconhecia a voz. – Tentei ver quem era, mas a única coisa que vi foi tudo ao meu redor escurecer.

Despertei com um clarão enorme batendo em meu rosto. Dei algumas piscadas para tentar me acostumar com a claridade. A primeira coisa que vi fora gotas de soro que caiam. Eu as segui com os olhos e vi que seguiam para meu braço. Olhei em volta e não vi nada além de uma cortina rosa bebê, uma poltrona vazia e duas portas, bom, além da maca onde eu estava deitada. Sentei-me na maca sem dificuldade alguma enquanto tentava lembrar-me do que havia acontecido. Lembrei-me das ultimas cenas vivenciadas e suspirei. Minha vida acabara de perder todo o sentido.

Depois de terminar aquele soro, fui levada para minha casa. Fiquei dois dias somente no meu quarto. Pablo passara o tempo comigo. Cuidava de mim. Fernando estava lá também, mas se quer teve a audácia de ir saber como eu estava.