Fanfic: Trezentos e Sessenta e Cinco Dias (FINALIZADA) | Tema: Vondy

Recebi alta no dia seguinte por volta de duas horas da tarde e só então pude ver minha filha. Levei um tremendo chque ao chegar na UTINeonatal e ver Christopher, porém não só. Ele estava acompanhado da segunda pessoa que eu menos desejava ver naquele instante: Maitê.

Senti minhas mãos e meu rosto arderem como se estivessem em chamas. - O que essa garota está fazendo aqui? - Gritei e tanto ela quanto Christopher me encararam de longe. Era inevitável não gritar

Silêncio. - Uma enfermeira pediu. - Está em um hospital, não no meio da rua.

Eu quero uma resposta. Ela não tem autorização para isso.

Bom senhora, o pai da criança autorizou.

Eu sou a mãe, eu decido quem visita ou não minha filha.

Dulce, sem barraco. - Christopher veio até mim com as mãos nos bolsos.

Tira essa garota daqui. - Falei entredentes. - Eu quero ela longe da minha filha Christopher, isso é só um aviso.

Senão o quê? Luna é minha filha e Mai é minha amiga, se eu quiser ela pode sim ver a menina.

Ah, não pode não. Antes de ir embora eu darei ordem de que essa garota não chegue nem perto daqui. - Cerrei os punhos. - E não responderei por mim se ela não sair daqui agora.

Christopher. - Meu pai que até então estava me acompanhando resolveu se pronunciar. - É melhor fazer o que ela está pedindo, não vai querer que ela dê um ataque de nervos aqui agora, não é?

Olha, eu só vou sair porque isso não é hora nem lugar pra isso. - Ele falou. - Vamos Mai. - Ela me encarou com cara de quem chupou limão e não gostou e depois os dois saíram.

Filha, vê se você se acalma tá? Vai lá ver a sua filha.

Você não vem?

Estou bem atrás de você. - Caminhei até a incubadora que Christopher e Maite estavam segundos atrás e então eu a vi. Comecei a chorar instantâneamente ao vê-la tão pequena e tão frágil com todos aqueles fios e agulhas grudados naquele corpinho tão mínimo apenas com uma fralda que estava enorme nela e uma touquinha cor de rosa. Notei que ela não estava com a tal venda que Alfonso me falara no dia anterior. Ela era linda, parecia uma boneca de porcelana.

Ah meu Deus. - Entrei em desespero repentinamente. - Por quê? Por quê ela? Eu...

Filha, está tudo bem, ela vai ficar bem logo.

Eu quero pegar nela.

Acho que não pode.

É minha filha. - Gritei e vi que ela se assustou. - Ah me amor, me perdoa, eu não queria te assustar. Só não chora.

Ela não chorou até agora, não acho que vá chorar. Tem sido bem tranquila até agora.

Eu preciso pegá-la papai.

Tudo bem. - Disse uma enfermeira atrás de mim. - É a única que tem autorização para pegá-la no colo, mas só por uns minutos.

É sério? - Enxuguei a lágrima.

Sim, eu vou pegá-la pra você, sente-se aí. - Ela apontou a cadeira e eu me sentei ansiosa. A enfermeira pegou uma camisola daquelas para visitantes e me ajudou a vestir, depois me fez passar um pouco de alcool gel nas mãos. - É pra previnir bactérias.

Tudo bem. - Respondi enquanto ela se virou para a entubadora, a abriu e pegou Luna em suas mãos. Ela ficou parecendo ainda menor. Senti meu corpo tremer por completo quando ela me entregou minha filha arrumando aquele monte de fios que ainda estavam grudados na minha pevuena luna. Eu a trouxe contra meu corpo e a acolhi em meus braços. Pude sentir seu cheirinho. Era tão bom.

Oi meu amor, é a mamãe. - Sussurrei. Meu pai me olhava em silêncio. - Olha, eu sei que é chato ficar aqui, mas sei que todos vão cuidar bem de você, tá bom? Logo, logo eu vou vir te buscar e nós duas vamos pra casa. Você só precisa ser forte. - Com uma de minhas mãos eu peguei uma das mãozinhas dela. Era tão pequenininha. Ela segurou um de meus dedos com força, mas aqho que era apenas um reflexo natural dos bebês. Meus olhos voltaram a lacrimejar. - Saiba que eu te amo muito. Muito mesmo, mais que tudo. - Meu coração se acelerou quando ela resmungou. Notei que ela fazia um biquinho mínimo e então abriu os olhos. Os mínimos olhos eram acinzentados puxados para o azul. Minha filha tinha olhos azuis. Quase não se dava para perceber, mas eu percebi. Ela fez uma careta e então voltou a resmungar, resmungar e então magicamente ela começou a chorar. Um choro fraco, mas o suficiente pra fazer todos que estavam olhando se emocionar. - É meu amor, é a mamãe que está aqui. Eu não vou te abandonar, eu prometo. - A enfermeira trouxe uma manta para eu colocar sob ela e me ajudou a colocar. - Ela voltou a se calar. Fora um choro bem curto.

Ela perde calor muito rápido. - Explicou. - Acho que ela gosta da sua voz.

Quando eu vou poder amamentá-la?

Por enquanto só por sonda, mas proximamente iremos ensiná-la a puxar.

Uma enfermeira me ensinou como estimular o meu leite. Será o suficiente pra ela?

Acredito que sim. - Eu sorri. Queria apertá-la em meus braços, poder senti-la em meus braços e transmitir todo o amor que sentia por ela, mas não podia.

Ela não se parece comigo. - Fiz bico. - E nem com ninguém que eu conheça.

Ah filha, com o tempo ela vai se parecer com alguém. Ainda é muito cedo.

Eu sei. - Suspirei.

Precisamos voltar com ela pra incubadora agora.

Mas já?

Sim, ela não pode ficar muito tempo fora, é arriscado.

Tudo bem. - Soltei um longo suspiro e dei um beijo na cabeça dea sob a toca. - Mamãe te ama meu amor. Volto amanhã pra te ver, eu prometo. - Voltei a entregá-la à enfermeira. - Porque é que não colocam a roupa nela? Se ela perde tanto calor assim, isso não ajudaria?

Por enquanto a manteremos sob calor da incubadora.

Tá. Só cuidem bem dela, por favor. - Me levantei. - Ela é tudo pra mim.

Cuidaremos mamãe. - Ela sorriu e voltei a olhar Luna que estava prestes a chorar novamente. - Ela não quer que eu vá, tem certeza que eu não posso ficar com ela?

Não começa filha. É melhor a gente ir.

Vovô chato. - Me abaixei à altura da incubadora. - Tchau meu amor, amanhã eu volto pra te ver mais um pouquinho. - Ela se calou ao ouvir minha voz. - Seja uma boa menina ok? Te amo muito.