Fanfic: Quentes Como o Desejo (DyC) | Tema: Vondy

Os flashs iluminavam o local.
Os garçons, uniformizados passavam de um lado para o outro, servindo aperitivos e champanhe. As telas, nas paredes estilizadas recebiam uma iluminação que as deixavam com as cores ainda mais vivas e comunicativas.
Homens e mulheres vagavam pela galeria com suas taças nas mãos.
Os homens elegantemente vestidos de terno, nada tão sofisticado como o Smoking, estavam arrumados. Uns mais simples, outros com o corte detalhado de um Armani. As mulheres também elegantemente vestidas para o frio que estranhamente se fazia, não vestiam longos com tanto brilho. Optavam para um visual mais discreto e elegante.
A música era ambiente, nada que atrapalhasse a rigorosa avaliação que cada par de olhos fazia nas telas expostas na parede. Telas que eram belíssimas por sinal.

Christopher passou as mãos trêmulas e nervosas pela calça de linho preta que vestia. Vestia um terno escuro, mas não levava gravata, elegantemente sua camisa estava aberta formando um simples V, algo que por ser simples não deixava de ser sensual. Os sapatos estavam ilustres, o rosto livre da barba pela primeira vem em 1 ano, os cabelos com as pontas aparadas, mas não menor, aliás, naquele exato momento uma mexa sensualmente lhe caia pelos olhos que observavam apreensivos cada gesto e expressão de importantes empresários que olhavam suas telas.
Avistou Christian e Bruno logo à frente, conversando animadamente com um casal de amigos que haviam conhecido na semana de arte em Paris.
Uma jornalista aproximou-se, filmando as obras e então filmando Christopher para dar inicio a uma rápida entrevista. Rostos de viraram para perto da grande porta de vidro onde Christopher estava parado. Alguns sorriam, outros esperavam ansiosos para ouvir o que o novo artista moderno iria dizer.

Como se sente sendo tão jovem, tendo sua primeira exposição?

Christopher olhou a jornalista lhe pedindo que aliviasse ao máximo as perguntas. Então logo depois a mirou de novo, lhe dizendo com o olhar que se ela tentasse invadir sua privacidade, ele simplesmente não responderia!
Viu a cara de deboche de Bruno que esperava assim como todos que ele abrisse a boca e se pronunciasse.
Chris: Bem é um honra...- Por fim começou a falar – Ser tão jovem e já ter minha primeira exposição sem dúvidas será um grande aprendizado e abrirá muitas portas na minha vida, espero que todos apreciem... – A jornalista sorriu, satisfeita para então fazer a próxima pergunta.

- Seus quadros possuem cores fortes, abusam do vermelho, de formas humanas, de olhos.. De onde vem essa inspiração?

Christopher calou-se por alguns segundos, respirando fundo, notando suas mãos levemente manchadas pela tinta que agora borrava todo seu ateliê. Mirou Christian que havia se tornado mais sério.

Chris: Acho que todo artista, sendo jovem ou não, se inspira em seus próprios sentimentos, afinal somos dramáticos e reclusos por natureza! – A ponta de humor agradou a jornalista e aos convidados, pois todos riram levemente, inclusive Christopher.

- Vemos vários quadros que agradaram a critica, mais há um quadro em especial ali no centro da galeria, ele ainda está coberto, é uma surpresa?

Christopher franziu a testa.
Quadro coberto?
Rapidamente seus olhos procuraram pelos olhos de Christian e Bruno, que atrás de alguns convidados rapidamente tentavam se esconder...
Será que eles haviam feito alguma obra e decidiram colocar na exposição de Christopher? Sorriu com a idéia, seria legal que seus amigos fossem também reconhecidos.

Chris: Creio que seja uma surpresa, porque não vamos desvenda-la?

A jornalista gostou, e os convidados também gostaram. Christian e Bruno caminharam ainda meio “fugitivos procurados pela polícia” até a parte central da Galeria. Christopher sentiu vontade de os agradecer, assim fugiria das conseqüentes perguntas relacionadas a sua vida pessoal que viriam logo a seguir. Os convidados aproximaram-se da obra ainda coberta e Christopher notou algo de familiar no tamanho da tela, e na moldura.
Franziu a testa...
Somente havia pintado um único quadro com aquele tamanho.
Seu coração bateu acelerado quando voltou a mirar Christian e havia visto o que ele tinha feito. O amigo fez uma careta quando Christopher lhe fuzilou com os olhos...

- Bem, nos dá a honra de tirar o pano Christopher?

Christopher engoliu a saliva, mirando aqueles milhares de olhos que na expectativa aguardavam para duramente avaliarem mais uma peça do jovem pintor Christopher Danyclifes.
Naquele momento Christopher viu Daves.
Levava um elegante terno, mais naquele rosto não lhe era nada familiar.
A expressão arrogante havia dado lugar a expressão de um homem cansado e maltratado pela vida, envelhecido, com olhos opacos, pequenos.
A troca de olhares durou vários segundos...
Segundos onde Christopher se perguntava se Daves realmente estava ali, tão quieto, esperando para ver que surpresa seu “filho” havia preparado.
Céus, fazia quase dois anos que ele não o via.
A jornalista lhe lançou um olhar que lhe dizia que estavam filmando.
Christopher voltou a fuzilar Christian e Bruno com o olhar, dizendo que ambos pagariam por aquela brincadeira de um gosto tremendamente horrível.
Christopher baixou a cabeça e puxou o pano que cobria a obra, com exclamações e gemidos de surpresa saindo por todos lábios ao se depararem com a pintura daquele quadro.
A luz parecia deixar os sentimentos da tela ainda mais evidentes.
Observando os olhos dos principais críticos, Christopher franziu a testa...eles possuíam a cara de quem admirava o que via.
Christopher não precisou ver o quadro para confirmar seus temores.

Os olhos lacrimejantes de Daves lhe diziam tudo.

Engoliu a saliva.
- Meu Deus...Este quadro está à venda?

Christopher demorou a responder, ciente de que mais uma vez vários olhos esperavam sua resposta.
Então finalmente mirou o quadro por tanto tempo lacrado e jamais esquecido.
Emoldurado em uma cor escura, tocante, profunda.
O quadro consistia em um quarto, um quarto velho, com cores apagadas, tons de marrom entre escuro e claro, uma cama grande com os lençóis bagunçados em um tecido de seda na cor branca, o mais profundo branco.
No fundo do quarto havia uma janela, uma janela mediana, onde as cortinas voavam em um tecido que parecia ser extremamente leve na cor também branca, lá fora se fazia uma paisagem simplesmente magnífica, em tons do azul forte do céu, a cor clara da areia, o verde salpicado do azul do mar levemente borrado e embaçado como se pudesse ser visto a longa distância.
E por cima da cama havia uma mulher de costas.
Virada para a janela...
Sentada, com as pernas juntas tombadas de lado...
Belas pernas da cor de pele clara, com o aspecto de bem cuidada, macia...
Com uma mão que levava uma grossa aliança ela segurava o lençol contra a parte da frente do corpo, que não aparecia na tela.
Seus cabelos vermelhos profundos lhe caiam bagunçados, também borrados porém em vermelho vivíssimo até o meio das costas.
A outra mão ela apoiava contra a cama, onde detalhadamente o colchão cedia lhe afundando levemente os dedos.

E estranhamente à frente dela, ao pé da cama, havia um grande espelho.

Um espelho que naturalmente lhe refletiria a parte da frente do corpo coberto pelo fino lençol. Corpo firmemente delineado e detalhado aos mínimos detalhes, curvas, sinais, marcas...Um espelho que naturalmente daria identidade daquela bela mulher pintada tão detalhadamente naquele belo e expressivo quadro.

Só que o espelho não a refletia.

Só refletia o quarto...a cama, os lençóis abarrotados, os armários velhos e o lençol que ela segurava de encontro ao corpo, que agora jazia refletido meio esparramado pela cama, meio caindo...

Christopher voltou a baixar a cabeça em quanto em um gesto quase imperceptível negava com a cabeça. Seus olhos voltaram a subir, encontrando-se novamente com os olhos atormentados pelo remorso de Daves.
Mirou a jornalista e respondeu...

Chris: Não...Esse quadro não está à venda.

Olhos aproximavam-se analisando a pintura, quase estendendo a mão para correr os dedos pelos traços às vezes perfeitos e ás vezes ligeiramente e propositalmente embaçados ou borrados.

- Esse quadro já foi vendido, Christopher?
- Esse quadro é seu? Pintou para si mesmo?
- Porque o trouxe para exposição se não o iria vender, isso é um pecado!

Christopher e os convidados sorriram da última pergunta.
Cerrando os punhos, Christopher prestou a atenção no que a jornalista lhe perguntava sobre o quadro. Com o coração a lhe bater com tanta força que causava danos em seu peito. Tentou a responder as perguntas de forma calma. Informando que o quadro era somente uma demonstração, que era dele, e que havia sido colocado em exposição como uma surpresa para ele e para os convidados presentes...
Então a pergunta chegou mais direta e mais rápida do que Christopher havia imaginado.
- Quem é a mulher do quadro?