Fanfic: Novo Mundo-Puros | Tema: Ação, Suspense, Ficção Científica, Romance.

Eu não faço ideia de quanto tempo faz. Ou que dia é o hoje, só sei que faz muito tempo que mamãe foi levada. Dias antes dela ser levada, eu surtei e não parava de chorar. Lembro que ela me ofereceu um abraço de urso e eu aceitei. E então, ela começou a cantar:

Do not be afraid to be who you are,
But does not show who you are.
Make your choices,
But show that you do not have them.
Do not be afraid of the dark,
Because that`s where we live.

Show no fear,
They sniff it.
Be strong,
But show your weakness.
It`s how we survive,
That`s how we survive.

A storm is falling now,
But do not forget that then comes the rainbow.
Do not be ashamed of who you are,
Be Pure and Perfect, and Imperfect as unclean.

Me peguei cantando a música, e me lembrei dela. Sinto falta dela, muita falta dela. Sempre me perguntei, porque?Porque eu e a mamãe?Com o tempo, parei de fazer essas perguntas pois, ouvi dizer, que os mortos não questionam, apenas aceitam. Poucas coisas agora fazem com que eu não enlouqueça. Após a queda da Velha Ordem, a Nova Ordem criou 101 regras para o Novo Mundo. Uma delas era que os Perfeitos deveriam viver no Novo Mundo e os Imperfeitos deveriam viver exilados num abrigo na Terra. O preconceito é muito forte no Novo Mundo, por causa da Velha Ordem, Caleb decidiu que não existiria igualdade. A população seria dividida em duas comunidades, a comunidade dos Perfeitos, onde apenas os puros, saudáveis, bonitos e ricos vivem e, a comunidade dos Imperfeitos, onde os impuros, doentes, feios e pobres vivem no exílio da Terra. Puros são pessoas de uma raça só, não existe mistura entre elas. Para Caleb, matar é humano, o novo humano. Por isso, ele decretou que precisamos matar para viver, belo líder. No começo, éramos mais de 2 milhões de pessoas, agora, somos menos de 800.000 mil. 

Eu vivo isolada, num cubículo almofadado como aqueles em que os considerados loucos viviam nos sanatórios. Esse cubículo é chamado de Câmara do Pensamento. Agora entendo porque chamam assim, depois de um tempo de solidão, você começa a viver dentro da mente, relembrando e construindo memórias, construindo um mundo melhor, onde não existe Caleb, nem Ordem nem mesmo o Novo Mundo. Um lugar com paz, parecido com a Terra antigamente. Existe uma porta de vidro e uma janela no cubículo, tanto a porta quanto a janela ocupam as paredes inteiras. De um lado, a porta, do outro, a janela. Sentada perto da janela, observo as rachaduras visíveis em alguns pontos da porta. Aqui, somos tratados como loucos, por isso, nossas camas são presas ao chão. Esse é o único móvel que temos em nossas câmaras. Mas não foi só por causa disso que eu não tentei quebrar a porta, ainda consigo ver o sangue manchando a porta e, as cicatrizes tomando conta das minhas mãos. Me levanto e ando devagar até a porta, pouso a testa e as minhas mãos no vidro frio e rio. Apenas aquilo, apenas aquela porta de vidro me isola do mundo lá de fora. Olho para baixo e fito as três fileiras horizontais de pequenos furos de ar que vão de uma ponta até a outra da porta. No começo, eu pensei que eram apenas furos, mas depois descobri para o que servem. Bati com força na porta e logo alguns homens armados aparecem no corredor branco que posso ver daqui. Eles seguram as armas confiantes, atirariam sem hesitar. Sempre que alguém surta, eles são chamados para nos dar `calmantes`, os calmantes deles? As balas que penetram nos nossos corpos e não saem mais. Algumas vezes, infecciona e alguns até morrem. Olho novamente para os buracos, eles estão ensanguentados. Provavelmente, eu não fui a única moradora da Câmara 2-34. Me afasto da porta, assim como os chamados Guardiões se afastam. Me volto para a janela. Me ajoelho e pressiono as palmas da mão. Há alguns arranhões no vidro, que eu mesma fiz. Era aquilo, aquilo era uma das coisas que me impediam de enlouquecer, o universo. Todas as câmaras tinham vista para o grande e vasto universo. Posso ver a minha velha casa daqui, o velho mundo. A alguns anos luz daqui está um globo amarelo areia que um dia já foi azul e verde. A Terra, agora está seca, sem vida. Outra coisa que não me faz enlouquecer, é a esperança. Talvez ainda tenhamos uma chance, talvez, há uma segunda chance e nós que não percebemos isso. Talvez, esse não seja mesmo o fim, talvez, seja um recomeço.