Fanfic: Belo Desastre || Vondy (Concluída) | Tema: Vondy

Subi dois degraus por vez e passei voando pela porta. Pude ver a cabeça de Anahi e de Alfonso acima do topo do sofá. A televisão estava ligada, mas no mudo. Graças a Deus. Ela ainda estava dormindo. As sacolas do mercado caíram meio ruidosamente na bancada da cozinha, e tentei não fazer muito barulho enquanto guardava as compras.

— Quando a Dulce acordar, vocês me avisam, tá? — pedi em voz baixa. — Eu trouxe espaguete, panquecas e morangos, além daquele treco de aveia com chocolate. E ela gosta do cereal Fruity Pebbles, não é, Annie? — perguntei, me virando.

Dulce estava acordada, me encarando da cadeira. Seu rímel estava borrado sob os olhos. A aparência dela refletia quão mal eu me sentia.

— Oi, Beija-Flor.

Ela ficou me olhando por alguns segundos com uma expressão vazia. Dei alguns passos e entrei na sala de estar, mais nervoso do que na noite da minha primeira luta.

— Está com fome, Dul? Vou preparar umas panquecas. Ou tem... hum... aveia. Também trouxe pra você aquela espuma cor-de-rosa que você usa pra se depilar, além de um secador de cabelos, e um... um... só um segundo. — Apanhei uma das sacolas e levei até o quarto, jogando o conteúdo na cama.

Enquanto procurava a esponja de banho rosa que achei que ela ia gostar, notei as malas dela, feitas e esperando perto da porta. Meu estômago se revirou, e o gosto de cabo de guarda-chuva voltou. Atravessei o corredor tentando manter a compostura.

— Suas malas estão feitas.

— Eu sei — ela disse.

Uma dor física ardia em meu peito.

— Você está indo embora.

Dulce olhou para Anahi, que me encarava como se quisesse me ver morto.

— Você esperava mesmo que ela fosse ficar aqui?

— Baby — Alfonso sussurrou.

— Nem começa, Poncho. Nem se atreva a defender esse cara na minha frente. — Anahi borbulhava de raiva.

Engoli em seco.

— Desculpa, Dul. Não sei nem o que dizer.

— Vamos, Dulce — disse Anahi. Ela se levantou e puxou a amiga pelo braço, mas Dulce continuou sentada.

Dei um passo à frente, mas Anahi apontou o dedo para mim.

— Que Deus me ajude, Christopher! Se você tentar impedir a Dulce de ir embora, vou encher você de gasolina e botar fogo enquanto você estiver dormindo!

— Anahi — Alfonso implorou.

Aquilo estava ficando ruim para todos os lados, e rápido.

— Estou bem — disse Dulce com irritação.

— O que você quer dizer com “estou bem”? — Alfonso perguntou.

Ela revirou os olhos e fez um gesto na minha direção.

— O Christopher trouxe umas mulheres pra casa ontem à noite, e daí?

Cerrei os olhos, tentando me livrar da dor. Por mais que eu não quisesse que ela fosse embora, nunca me ocorreu que ela estaria pouco se foden/do para aquilo tudo.

Anahi franziu a testa.

— Tudo bem, Dulce. Você está me dizendo que está de boa com o que aconteceu?

Dulce olhou de relance em torno da sala.

— O Christopher pode trazer pra casa quem ele quiser. O apartamento é dele.

Engoli o nó que se avolumava na minha garganta.

— Você não fez suas malas?

Ela balançou a cabeça e olhou para o relógio.

— Não, e agora vou ter que tirar tudo delas. Ainda tenho que comer, tomar banho, me vestir... — disse, caminhando para o banheiro.

Anahi desferiu um olhar letal na minha direção, mas a ignorei e fui até a porta do banheiro, batendo de leve.

— Dul?

— O quê? — ela respondeu com a voz fraca.

— Você vai ficar? — Fechei os olhos, esperando por minha punição.

— Eu posso ir embora se você quiser, mas aposta é aposta.

Encostei a cabeça na porta.

— Não quero que você vá embora, mas não te culparia se você fosse.

— Você está me dizendo que estou liberada da aposta?

A resposta era fácil, mas eu não queria obrigá-la a ficar se ela não quisesse. Ao mesmo tempo, morria de medo de deixá-la partir.

— Se eu disser que sim, você vai embora?

— Bem, vou. Eu não moro aqui, seu bobo. — Uma risadinha flutuou através do vão da porta.

Eu não sabia dizer se ela estava chateada ou apenas cansada de ter passado a noite na cadeira reclinável, mas, se fosse a primeira opção, de jeito nenhum eu a deixaria ir embora. Eu nunca mais a veria de novo.

— Então não, a aposta ainda está valendo.

— Posso tomar um banho agora? — ela perguntou com uma vozinha fraca.

— Pode...

Anahi entrou no corredor batendo os pés e parou bem na minha cara.

— Você é um canalha egoísta! — ela grunhiu, batendo a porta do quarto do Alfonso depois de entrar.

Fui para o quarto, peguei o roupão da Dulce e um par de chinelos, depois voltei até a porta do banheiro. Aparentemente ela ia ficar, mas puxar o saco nunca era má ideia.

— Dul? Trouxe algumas coisas suas.

— É só colocar aí na pia que eu pego.