Fanfic: ▬ A Z U L ▬
— Fernanda —
Morei em São Paulo até seus 15 anos, daí fui enviada para um interno graças ao meu "comportamento difícil", segundo minha mãe. Durou apenas um ano até ela colocar a culpa em SP e virar a cabeça do meu pai para nos mudarmos para o Rio de Janeiro. Aos 16 anos eu troquei o tempo frio, meu preferido, por um clima quente e suor...
As coisas sempre tem a tendência a piorar e foi ai que aconteceu: fui obrigada a trocar meus amigos, minhas madrugadas na Augusta e todo a vida á noite que SP me dava por uma praia, suor, calor e pessoas com "x" nas palavras.
Me chamo Fernanda — cabelo longo, liso e loiro, 1.57 de altura, magra/corpo violão, olhos azuis. Desde pequena chamei atenção por isso, beleza pode não colocar comida na mesa mas com certeza abre muitas portas.
— Fernanda! —, gritava minha mãe do primeiro andar, aumentei o volume do celular e tampei meu rosto com o travesseiro.
Carla, minha mãe, chamou por exatos 15 segundos até que o meu celular e o travesseiro voar longe. Ser filha de juíza não é fácil.
— Fernanda, eu estou te gritando a meia hora! Você está atrasada!
A raiva da minha mãe não era a toa. Eu tinha faltado duas semanas seguidas o colégio e só fui descoberta graças a uma vizinha fofoqueira do condomínio que me via chegando meia hora depois do meu pai ir trabalhar.
Trinta minutos depois eu estava com uma calça jeans surrada, minha blusa/pijama e um casaco vermelho em frente a minha nova escola. Abri a porta do carro e minha não nem esperou eu sair direito e já arrancou com o carro. Respirei fundo e olhei para os lados. Apesar de está 15 minutos atrasada para a primeira aula tinha alunos demais nas ruas. Eu era a única sem o uniforme azul e branco. Me sentei na calçada e fiquei mexendo no cabelo até que uma moça mais baixa que eu e gordinha, vestida toda de azul, apareceu na minha frente.
— Você deve ser a Senhorita Fernanda, sua mãe nos falou muito de você. Espero que ela tenha exagerado.
— Na verdade ela ocultou as melhores partes —, falei em um tom de deboche e cruzei os braços.
— Nós do colégio São Pedro temos competência, Senhorita Fernanda, muitas pedras entraram aqui e saíram diamantes. Você não vai ser a exceção —, ela deu um sorrisinho nada simpático e colocou a mão no meu braço, levantei da calçada e ela me guiou até uma salinha minúscula (toda de azul, moveis, parede, notebook).
Ela abriu uma gaveta e tirou uma sacola.
— Sua mãe comentou comigo que você teve alguns problemas com o uniforme. Esse era o único que sobrou, vai chegar outros números na semana que vem.
— Eu não vou vestir isso, é mil vezes o meu tamanho! É assim que um aluno novo é tratado nesse colégio!?
— Todos foram muito bem recebidos á duas semanas atrás, é uma pena que você tenha perdido as festas.
A diretora me guiou até uma sala onde se ouvia vários gritos e risadas, deu uma batidinha de leve na porta e logo abriu. O barulho cessou e ela entrou na sala me puxando com ela. No quadro branco uma mulher de cabelos ruivos cacheados e óculos grosso estava escrevendo sociologia no quadro. Ela sorriu ao ver a diretora e mais ainda ao me ver. Só então pude notar no seu rosto magro e sobrancelhas finas, quase sem, uma saia longa e verde berrante.
— Professora, eu trouxe a fugitiva.
A turma deu um risinho e a diretora pareceu não se importar, a professora apenas afirmou com a cabeça e falou com uma voz calma:
— Querida, sua chegada era muito aguardada!
A diretora deu dois tapinhas na minhas costas e saiu, me deixando ali na frente com a professora. Me movimentei para me sentar mas a professora tossiu e eu, boba, olhei.
— Eduardo, você perdeu, ela não é feia! Deve cinco reais para a Luiza.
Uma menina do outro lado da sala soltou um gritinho animado e um garoto do fundão bufou. A professora me estendeu a mão e eu apertei, soltando logo em seguida.
— Eu sou Clara, sua professora de sociologia, sua chegada era muito aguardada, Fernanda. Fique a vontade para tirar dúvidas comigo quando quiser.
Eu apenas confirmei e quando ia me sentar ela voltou a falar com aquela voz bem mansinha que levava mil anos para terminar um "oi":
— Eu gosto que meus alunos novos se apresentem, é uma forma até legal para conhecer pessoas com coisas em comum com você, fazer amigos mais fácil, se sentir em casa.
Não sou uma pessoa tímida, sou até pavio curto mas o problema é que eu estava com uma blusa tamanho GGGG, cabelo bagunçado, sem um batom, eu estava a titica do cavalo. As garotas na sala estavam todas arrumadinhas, os garotos — até mesmo os desleixados estavam melhor do que eu.
Uma garota riu e outra também, alguns comentários bobos surgiram perguntando se eu tinha perdido minha língua, outros perguntaram se eu era muda. Eu tentei falar meu nome e gaguejei o que gerou mais gracinhas. A professora notando que eu estava desconfortável pediu silêncio e todos se calaram, respirei fundo e comecei a falar:
— Fernanda Mosby, 16 anos, acabei de me mudar pro Rio. Sou paulista..
A professora olhou pra mim e sorriu. Algumas pessoas começaram com gracinhas imitando o meu sotaque e quando eu já estava abrindo a boca para falar do sotaque deles um garoto abriu a porta com tudo e eu pulei.
Ele estava com a roupa da escola, só que todo suado. Ele é tão branco que as bochechas estavam tão vermelhas, talvez por causa da corrida?
Ele me olhou e eu pude notar os olhos bem azuis, eu mordi a boca na mesma hora e ele sorriu, não qualquer sorriso mas aquele "opa, carne fresca"; sem demora ele logo se sentou lá fundo da sala, sem falar nada. A professora ficou quieta e logo a turma voltou a fazer barulho sobre outra coisa, fui esquecida lá na frente e resolvi me sentar. Peguei minha mochila e joguei na segunda cadeira e me sentei.
Uma menina que estava perto olhou pra mim com uma cara de nojo e virou a cara pro outro lado, as garotas de trás já tinham um grupo formado e a da frente estava tão centrada estudando que nem ousei falar "oi", pela primeira vez me senti invisível na vida.
— Alex —
A entrada no colégio era ás 7 em ponto, eu sabia disso, e sabia o quanto era difícil chegar no horário. A garota ao meu lado sorriu e colocou uma mão em volta do meu pescoço.
— Vontade de ficar aqui pra sempre —, falou e colocou a mão esquerda debaixo da minha camisa. Dei um sorriso e lhe beijei.
A verdade é que eu nem mesmo lembro o seu nome, só lembro que tinha uma festa ontem na casa do meu primo e ele me apresentou essa garota, eu bebi tanto mas ela bebeu o triplo, no final acabei virando uma babá porque ela caiu no sono e eu sabia o que acontecia com as garotas que apagavam e graças a isso ela deve está pensando que eu realmente gostei dela quando na verdade foi só pena mesmo.
Ela parou o beijo e tentou me levantar minha blusa no exato momento que meu despertador tocou, estava atrasado para a aula — ela deu um pulinho para trás e olhou de rabo de olho.
— Você tem namorada!? —, perguntou quase gritando ás sete da manhã, a garota estava no pique.
Eu não respondi, só me sentei na cama e coloquei meu tênis, ela ficou perguntando e perguntando até eu terminar de amarrar meus tênis e olhar em sua direção. Dei um sorrisinho e levantei da cama. Ela já estava vermelha e pronta para fazer barraco. Antes de sair correndo pela porta virei em sua direção e falei:
— Encare isso como um sim.
A casa do meu primo estava toda bagunçada, tinha bebidas em todos os lugares, gente dormindo no chão, sofá e até mesmo na mesa. Meus tios tinham viajado durante uma semana, voltavam amanhã do Recife e eu que não ficaria aqui para ajudar deixar a casa brilhando.
Destranquei a dispensa com a chave reserva que fica em cima da geladeira e peguei minhas mochila com as minhas roupas dentro e logo sai correndo dali enquanto ouvia os gritos da garota lá de cima me xingando.
Antes de chegar a escola comprei uma maçã numa feira e fui correndo comendo. Quando cheguei naquele incrível ponto azul no meio da cidade, já sabia que o portão estaria fechado e que se eu esperasse o próximo tempo meu nome seria anotado. Por isso fiz o que eu faço de melhor: fui para a rua de trás do colégio e pulei o muro. Corri até chegar na minha sala que ficava lá onde a mula tinha perdido a cabeça e quando finalmente abri a porta, agradeci aos céus por ser a aula de sociologia pois ela nunca reclama ou briga, dificilmente.
Antes de ir para o meu lugar vi uma garota na frente da sala inteira, todos estavam quietos e prestando atenção em tudo que ela falava. Era uma menina loira, cabelão, baixinha e toda nariz em pé. Mas bastante bonita. Dei um sorrisinho, ah como eu gosto de fazer isso.
E fui para o fundo na sala onde já tinha uma cadeira me esperando. Alguns amigos me cumprimentaram e eu joguei a mochila perto da minha cadeira e me sentei. A loira lá na frente percebeu que mais ninguém estava prestando atenção nela e jogou o cabelo e se sentou lá na frente mesmo, atrás da Clara — uma garota viciada em estudos.
Christian, um garoto de pele morena e olhos claros, que se senta lá na frente se virou e piscou. Sabia o que isso significada, a última larva tinha chego na escola.
Durante as aulas ela ficou quieta, a garota nova, ninguém mexeu.. bom, só o Otávio, um cara que se acha o pegador. Mas ele saiu de perto dela não muito feliz e se sentou perto de mim e do Christian.
— Essa garota nova é bem marrentinha, ein —, falou Otávio: — Mal chegou e já está se achando a peça mais cara da loja.
— Me amarro em garotas marrentas, elas gostam de algo mais ousado. Deixa comigo, Otávio —, riu Christian enquanto se levantava da cadeira e ia em direção a loira.
Observei de longe junto com o Otávio enquanto Christian puxava uma cadeira e se sentava bem perto da loira, ele cochichou alguma coisa no ouvido dela e mexeu no seu cabelo, a loira deu um sorrisinho e virou na direção dele e falou algo ainda sorrindo mas logo o Christian fechou a cara e se levantou e venho em direção ao fundo reclamando.
— Essa garota vai acabar ficando pra titia!
— Venci —, falei sério.
Os dois me olharam e riram:
— Valeu, Alex.
— Você já tem a Luiza na mão e ainda quer uma loira? Não sei se você aguenta, não..
Eu apenas sorri e dei de ombros.
— Vocês vão ver, vou deixar essa ai caidinha por mim. Estou falando.
— Fernanda —
Na hora do intervalo foi a hora que eu fiquei mais deslocada possível, eu não conhecia aquele colégio enorme, eu não conhecia ninguém. A cantina estava lotada de gente, os bancos todos ocupados.
De tanto explorar esse imenso mundo azul eu acabei encontrando um local silencioso e longe dos olhares do povo curioso que me olhava e logo ria quando reparava nas minhas roupas. Me sentei no chão frio e encostei a testa nos joelhos.
Como eu queria minha cama agora.
Eu devo ter cochilado por uns cinco minutos porque quando acordei o tal garoto que entrou na primeira aula atrasado estava de braços cruzados e encostado na parede me observando, ele estava fumando um cigarro. Quando ele percebeu que eu estava acordada, ele deu um sorriso e tirou o cigarro da boca, logo jogou no chão e pisou em cima.
— Acho que vou ter que encontrar outro esconderijo para fumar.
— Ótimo.
Fechei a cara e passei a mão no cabelo. Não que eu quisesse me ajeitar para ele, mas eu estava na pior.. na pior mesmo e, bem, tem sempre como piorar. Eu me levantei e ele deu um passo na minha direção, parei.
— Então, você também é de São Paulo?
— Sou.
— Eu nasci no Lagosta —, ele riu.
— Olha, eu não estou interessada na sua história, não mesmo. Mas você é um péssimo mentiroso —, falei com uma voz séria ou quase.
Ele se aproximou de mim, me fazendo fica encostada na parede, e apoiou as mãos na parede me deixando encurralada. Ele olhou dos meus pés á cabeça e mordeu o lábio. Eu devia está furiosa ou já ter tentado empurrá-los, mas gostei do modo que ele me olhou e mordeu o lábio.
Finalmente eu me encarou, olho no olho, e eu fiquei paralisada. O olhar dele parecia de um leopardo prestes a atacar, gritava perigo. Eu estremeci conforme ele ia diminuindo o espaço entre minha boca e a dele. Ele logo começou a falar bem devagarzinho e sério:
— Já que eu sou um mentiroso, eu adoraria ser bem sincero com você em um local mais apropriado.
Quando faltas um centímetro para acabar com a distância entre a gente ele se afastou e começou a caminhar em direção ao pátio da escola, eu fiquei olhando pensando que ele olharia para trás mas esperei a toa.
Fui tirada do mundo da lua quando do nada uma mochila caiu na minha frente e logo depois uma garota de cabelos rosa, com a calça toda rasgada e a blusa do colégio. Eu fiquei encarando-a e ela sorriu.
— Prazer, Cecília.
Autor(a): patchc
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