Fanfic: The Deal - 001 | Tema: Original
Suspirei prolongadamente e observei a salinha pequena. Havia um sofá de um dos lados e duas poltronas do outro. A recepcionista, senhora de cabelos castanhos e corpo pequeno, parecia bastante entretida em sua tarefa de organizar documentos que, ao meu ver, não passavam de uma burocracia insuportável e desnecessária. Essa não era exatamente o tipo de função que eu gostaria de exercer. Cruzei minhas pernas e remexi-as, chutando com o calcanhar o estofamento inferior do sofá. Inspirei profundamente, levantando-me em seguida e dirigindo-me ao banheiro. Mais uma tentativa frustrada e clichê de suavizar a ansiedade que há tanto me acompanhava.
O espelho. Tão fascinante como um simples objeto, inútil aos olhos daqueles que não querem enxergar, reflete a realidade fria e seca. Às vezes eu imagino se tem alguém do outro lado, me assistindo. Não um fantasma ou um monstro, alguém, simplesmente alguém. Acariciei meus cabelos, finos e quebradiços, coloridos em um tom ruivo forte nas pontas, que conforme chegava até a raiz, ia clareando até se tornar um loiro suavemente alaranjado. Fitei meu rosto, observando minha pele esbranquiçada e o contorno suave das bochechas, que conferia-me uma aparência singular e marcante. Eu não me reconhecia. Aquele reflexo parecia ser de outra pessoa.
-Nynive! Vem logo! – exclamou minha mãe, abandonando qualquer traço de sensatez e educação ao escancarar a porta.
-Não faz isso, eu odeio quando me assusta – sussurrei, cerrando os dentes e virando-me em direção a ela.
- Desculpa – disse ela, franzindo a testa em uma feição preocupada– Vem logo, antes que alguém tome nosso lugar.
Agarrei minha mochila e saí apressadamente em direção ao consultório, esbarrando no vaso que se encontrava ao lado da saída. Encarei rapidamente a recepcionista e logo deixei a minúscula e elegante sala de espera, seguindo por um estreito e curto corredor até chegar ao meu destino. Abri a porta, observando de relance mamãe acomodar-se no sofá que havia do lado de fora antes de fechá-la. Sentei-me e fitei Heinrich, moço jovem, de feições maduras e belíssimos olhos verde-limão que sintonizavam harmonicamente com seus cabelos loiros e despenteados. Eu estava habituada a sua aura de calma e tranquilidade. Era o psiquiatra dos sonhos de qualquer um, doce e compreensivo, difícil de se encontrar. Eu realmente gostava dele, mas não me dava ao luxo de demonstrar isso.
- Oi, raposa, eu tenho uma notícia pra te dar – disse ele animadamente, enquanto preenchia o que me pareceu ser o formulário de um contrato.
- É, tanto faz – respondi secamente, tentando não demonstrar a curiosidade. A verdade é que eu rasparia meu cabelo por uma novidade interessante que me tirasse da monotonia em que me encontrava.
- Para de se fazer de difícil, moça, eu te conheço bem, sei que tá morrendo de vontade de saber o que é – gargalhou ele, aproximando-se do balcão– Eu quero te perguntar se você aceita fazer parte de um teste.
- Doutor Heinrich – chamou a secretária, abrindo a porta subitamente e parecendo hesitar ao perceber que estávamos durante uma consulta – Desculpe interrompê-lo, mas pode vir aqui por um segundo?
- Claro – respondeu ele, levantando-se rapidamente e dirigindo-me uma leve piscadela antes de deixar a sala.
Pisquei de volta e suspirei, observando o local em que me encontrava. Era como um pequeno escritório, cuja tonalidade clara das paredes faziam parecê-lo mais amplo. Havia uma grande estante ao fundo, cheia de livros, que despertavam os meus instintos de leitora e um balcão feito de mogno, com duas cadeiras giratórias. A varanda, minha parte preferida, proporcionava uma visão privilegiada das luzes noturnas que colorem a cidade. Peguei impulso no balcão e girei a cadeira, deixando uma marca de sujeira da sola do meu all-star na madeira recém-polida. Gargalhei e torci para que ninguém percebesse aquilo. Cerrei as pálpebras e minha mente foi inundada por pensamentos invasivos e aleatórios.
- Voltei – disse Heinrich, interrompendo meus devaneios. Perguntava-me como não o havia visto chegar ali, já que ele havia passado por mim e já estava sentado em sua cadeira – Ei, você não quer me falar sobre aquilo? Eu não posso te ajudar se você não me disser o que está sentindo.
- Não, eu não quero – respondi firmemente – Você jamais iria acreditar em mim.
- Iria sim – respondeu ele, tentando parecer compreensivo, mas não obteve êxito.
-Não, não iria – reafirmei, demonstrando irritação – Iria me diagnosticar com comorbidade esquizofrênica ou algo do tipo. Eu não quero falar sobre isso.
- Ok... – concordou ele, parecendo desapontado – Como vão os remédios? Algum efeito colateral?
- Nada além do normal- respondi, tentando parecer relaxada – O de sempre. Risperidon me deixa com sono e Prozac me dá queimação no estômago.
- Ok, então deixa eu te explicar o que vai acontecer. Pra começo de conversa, eu vou te contar algo bem bizarro, pode ser?
- Pode – respondi, mordiscando o lábio inferior.
- Sua mãe já me autorizou a utilizá-la como paciente-teste. Eu queria saber se você aceita fazer parte da pesquisa- disse ele, prolongando o diálogo desnecessariamente e sorrindo em seguida, o que me levou a acreditar que ele pretendia deixar-me ansiosa
- Deixa de enrolação e fala logo – retruquei bruscamente.
- Certo... Eu e uma equipe de neurologistas conseguimos criar um aparelho capaz de converter os impulsos cerebrais de alguém em informações que possam ser processadas pelo cérebro de outro ser humano.
- O que!? – interrompi, perplexa – Você só pode estar brincando, isso é impossível! Quer dizer, tipo, alguém pode ser capaz de ver meus pensamentos?
- Mais ou menos isso, se fizermos tudo direitinho. O Governo nos deu uma autorização para começarmos um teste em pacientes cuja cognição é atípica, desde que mantenhamos o processo em sigilo.
- Heinrich, você não faz ideia da magnitude disso, as grandes indústrias vão te perseguir, roubar seu invento e depois apagar você do mapa – interrompi, considerando que havia uma real possibilidade de que aquilo acontecesse.
- Não, ninguém vai me matar- respondeu ele seriamente, sustentando um contato visual profundo, quase assustador- Ninguém vai me matar porque você não vai falar isso pra ninguém, certo? Eu preciso que você mantenha sigilo total sobre esse assunto.
- Ou – comecei sarcasticamente, mas hesitei antes de continuar, ponderando sobre a seriedade da situação – O que vai acontecer?
- Nada, se você não contar a ninguém – respondeu ele, sorrindo maliciosamente em seguida.
– Mas o que você quer? Que eu me voluntarie para ser um rato de laboratório? Deixar que alguém leia meus pensamentos? Se vocês soubessem as coisas que eu penso, eu já estaria em um hospício há muito tempo- retruquei receosamente.
- Tudo bem, mas pense nas outras pessoas que são como você. Esse estudo vai ajudar-nos a desvendar como funciona sua mente e, então, poderemos buscar um tratamento mais eficaz para a situação – tranquilizou ele, enquanto arrancava lascas de madeira do balcão – Você é a paciente perfeita para isso. Além do mais, essa é uma pesquisa imparcial. Não demonstraremos quaisquer opiniões ou conclusões precipitadas sobre seus pensamentos e também não podemos puni-la por eles. O processo é sigiloso e ninguém ficará sabendo.
- Certo...Mas há algum perigo? – indaguei, mesmo sem me importar com a resposta – Tipo de eu me machucar ou morrer?
- Não – respondeu ele, com um toque suave de sisudez- O processo é indolor e não há riscos. Tudo que você precisa fazer é assinar este contrato.
Ele empurrou alguns papéis em minha direção e tocou-os suavemente com a caneta, indicando-me o local onde eu deveria assinar. Uma onda de calor percorreu o meu corpo, adormecendo minhas pernas. Senti a secura inundar minha boca e o suor em minhas mãos era um incômodo persistente. Todas as minhas dúvidas restantes quanto à veracidade do experimento foram eliminadas à medida que eu percorria as linhas do documento, que demonstravam uma enorme elaboração. Não era o tipo de coisa que aparentava ser mentira. Com as mãos trêmulas, assinei impulsivamente, sem nem mesmo me dar conta do que estava fazendo. Uma espécie de agonia inundou-me e senti um misto de arrependimento e excitação. O ambiente parecia oprimir-me. Levantei-me bruscamente e deixei o local, sem me despedir de Heinrich, que pareceu pronunciar algumas sílabas que não pude entender. Eu nem sequer havia pegado a receita dos remédios, porém, felizmente, eu tinha um estoque em casa que daria pra mais uma semana.
- Filha, como foi a consulta?- indagou mamãe, remexendo-se no sofá ao visualizar-me deixando o consultório.
- Foi tudo bem – tranquilizei-a, fazendo um sinal para que ela se levantasse.
Ela levantou-se e seguimos rapidamente em direção ao estacionamento. Entramos no carro e deitei-me no banco traseiro, refletindo sobre o acontecido. Decidi que me manteria em silêncio. Eu não iria arriscar a vida de Heinrich ou mesmo a minha. O Governo estava envolvido, assim como a reputação de meu psiquiatra. Digamos que a Rússia não é algo com o que se deva mexer. Em alguns poucos minutos, estávamos no quarteirão de minha casa. Desci do carro e empurrei o portão branco de alumínio, jogando minha mochila ao lado da piscina e subindo as escadas apressadamente. Desabotoei minha camisa de maneira agressiva, deixando dois ou três botões arrebentarem e pude ouvir os seus tilintares ao caírem no chão. Entrei no quarto e joguei-me na cama, sentindo o impacto da minha cabeça contra o colchão. Desde quando minha rotina havia se tornado tão sufocante?
- Olá, Firefox– sussurrei acariciando meu bichinho de estimação, que apareceu repentinamente ao meu lado. Ele é um tanto quanto exótico, não é todo mundo que tem uma raposa em casa.
Bem, para mim, isso não importava, eu a amo do jeitinho que ela é e a mesma rendeu-me um apelido de infância, que me levava a gostar ainda mais dos fios ruivos que temos em comum. Ambas éramos “as raposas”. Cutuquei-a e ela respondeu-me com uma carinhosa lambida no rosto. Virei-me para o lado e puxei-a para perto de mim, afagando-a em um abraço. Ela gemeu e rapidamente se soltou, descendo da cama. Levantei-me e recostei-me na cabeceira, percebendo a tranquilidade do meu quarto. Era como uma espécie de prisão, isolada do mundo, a prova de decepções e acontecimentos ruins, a prisão perfeita que eu mesma havia construído. Era o único lugar onde eu me sentia segura, ao alvorecer, perdida entre as ondas de meus lençóis, eu dava as costas para tudo o que me diziam e entre a maré vazia, deixava-me esconder. Era como bagunçar os cabelos e mesclar o medo ao desejo, o sangue ao vinho. Era um desejo indizível e impossível de se compreender.
- Nynive, vem jantar- pude ouvir mamãe chamando-me ao longe, interrompendo meus poéticos e usuais devaneios. Uma única palavra me define: drama.
- Ok- respondi, percorrendo um último olhar sobre as frases que eu havia escrito há pouco tempo na argamassa que recobria o quarto. Eram palavras desconexas, porém com muito significado.
As paredes eram de um violeta médio, não muito claro, não muito escuro e as bordas e encontros eram cobertas de gesso branco, do qual às vezes caíam pedaços gigantes no chão, que costumavam me acordar de noite. Os livros cuidadosamente organizados na estante e as roupas largadas em qualquer lugar eram um traço da minha personalidade contraditória, que refletia-se em tudo ao meu redor. Enrolei-me em um edredom e desci vagarosamente da cama, o lençol cegando-me. Apalpei o chão com os pés, buscando minha pantufa. Desvencilhei-me do abraço aconchegante do cobertor e vesti uma camiseta casual, seguindo em direção à sala de jantar.
Sentei-me a mesa. Toda aquela comida me deixava enjoada, mas esta era uma sensação sobre a qual eu havia ganho controle, então simplesmente empurrei goela abaixo uma refeição rica em carne e proteínas e levantei-me rapidamente, descendo as escadas, buscando chegar até a piscina. Sentei-me na borda, acariciando levemente a água, obviamente gelada, devido ao frio de Moscou.
- Zahri!- exclamou Russell, aparecendo de súbito no portão da garagem. Ele parece desconhecer o meu primeiro nome.
- Russell, meu Deus, você quase me mata do coração – afirmei, engasgando-me com minha própria saliva- Como você entrou aqui?
- Vocês deixaram a porta aberta, raposa.
Russell era meu vizinho e estudava comigo na Escola Militar de Moscou. Era espontâneo e divertido, embora fosse bastante depressivo. Não era exatamente bonito, mas a sua personalidade era apaixonante. Possuía cabelos encaracolados, praticamente raspados, devido ao regime severo em nosso colégio. Seus ombros eram largos e seus olhos eram castanho-dourado. Andava de um jeito particular, como se estivesse desfilando em um filme de ação e era o tipo de pessoa na qual você confiaria sua vida.
- Hey, tem algum dever de casa pra amanhã? – indaguei, abraçando-o fortemente.
- Não, eu acho que não – disse ele, desvencilhando-se do abraço e deitando na borda da piscina.
- Eu não vejo a hora de sair do colégio, eu to tão cansada- comentei, deitando-me ao seu lado e calando-me em seguida, observando a luz esbranquiçada que as estrelas derramavam sobre o céu noturno.
- Amanhã é nossa última prova, certo?- indagou ele, enquanto bebia um refrigerante de cola.
- Sim, o último dia de sofrimento antes das férias- respondi, gargalhando e levantando-me em seguida- Vamos lá no terraço, eu arranjei um jeito de a gente subir.
- Ok- concordou, jogando a latinha de refri no cesto- Só me diz aonde ir.
Havia um terraço gigantesco em minha casa, a uma altura considerável do chão. Localizava-se exatamente no limite entre meu edifício e a rua, porém não possuía ligação com os outros andares, motivo pelo qual eu não pudera levar Russell até lá antes. Meu pai não gostava que eu subisse pela escada antiga de madeira podre, então eu só subia quando ele não estava por perto, mas como ele havia reformado o muro que rodeava a lateral do local, cobrindo-o com filetes de pedra cariri que dispunham-se de maneira esquisita, com algumas delas sobressaindo, eu as utilizava como degraus para escalar até o teto.
Chegamos até lá rapidamente e sentei o mais perto possível da borda, um deslize e eu cairia lá embaixo. Doce sabor da adrenalina.
- Russell – chamei, virando-me em direção a ele- Eu tenho algo pra lhe contar.
Era decepcionante. Eu jurara a mim mesma que permaneceria calada, mas eu raramente conseguia manter segredos.
- O que foi? – indagou ele, parecendo desinteressado.
- Eu fui... – comecei, mas logo fui interrompida.
Uma mão coberta por uma luva preta bloqueava minha boca firmemente. Os olhos de Russell pareciam saltar para fora de suas órbitas, tamanha era a surpresa. Inspirei profundamente. Ótimo, eu estava prestes a morrer. Sequer podia virar-me para trás e observar o ser que me dominava. Tudo que eu podia sentir era sua respiração ofegante em meu ouvido.
- Você vem comigo mocinha- disse uma voz que me pareceu masculina, em um tom atraente.
- O que você vai fazer com ela?!- indagou meu amigo, aproximando-se, mas parecia inibido por alguma coisa que o adversário portava.
- Não se preocupe – respondeu ele – Ela vai ficar bem.
Ele me abraçou fortemente e puxou-me para o limite da beira do terraço. Não podia ser... Ele queria que nós dois nos suicidássemos?
Tentei desvencilhar-me do abraço, debatendo-me desesperadamente. Procurei arranhar seus braços, mas ele estava utilizando uma jaqueta de couro. Quanto mais eu tentava fugir, mais ele me agarrava e foi então que senti que não poderia lutar contra quem quer ele fosse. Um gosto amargo inundou minha boca e eu podia ouvir cada batida do meu coração.
De repente, ele soltou-me, mas quando eu estava prestes a fugir, fui puxada bruscamente em sua direção, desta vez, virada para o seu rosto, coberto por uma balaclava, que deixava a mostra somente seus lábios e seus olhos azuis. O misterioso homem agarrou-me novamente e beijou minha bochecha. Cerrei as pálpebras e atiramo-nos em direção a uma queda que pareceu infinita.
- Antes que você me pergunte, você não morreu.
Abri os olhos e concluí que estávamos a poucos centímetros do chão. Eu não havia percebido, mas havia um elástico preso por uma das extremidades no muro enquanto a outra se ligava ao cinto do rapaz. Ele cortou o elástico vagarosamente com um canivete que havia em seu bolso. Eis a razão pela qual Russell estava assustado. Apoiamo-nos na parede, firmando os pés no cimento da calçada.
- Quem é você? – indaguei. Por algum motivo, eu não queria mais fugir.
- Você vai saber quem eu sou.
No momento em que ganhei estabilidade, pude observar mais detalhadamente sua aparência. Era razoavelmente alto e magro, vestia uma calça jeans preta e uma blusa regata da mesma cor, por baixo da jaqueta de couro. Levava nas costas uma mochila bastante equipada e parecia ser musculoso por baixo de todas aquelas roupas. Seus lábios eram quase transparentes de tão finos e os olhos eram de um azul cristalino.
- Então- comecei, hesitando antes de continuar- O que você quer comigo?
- Eu preciso que você faça sua inscrição para o teste- disse ele, encarando-me com um olhar inquiridor- O teste para o qual você foi chamada hoje.
- Por que diabos eu tenho que fazer a inscrição agora? – questionei impacientemente – Que coisa mais sem sentido.
- Vem comigo – ignorou ele, puxando-me delicadamente pelo braço e apontando para um veículo preto que estava a nossa esquerda – Vamos entrar naquele carro ali.
Adentramos no interior do automóvel, ele no banco do motorista, eu no assento ao seu lado. Ficamos em silêncio por alguns minutos até que ele resolveu quebrar o gelo:
- Você não deveria ter feito aquilo, é muito arriscado.
- Aquilo o que? – indaguei, virando-me em direção a ele.
- Falar sobre o teste. Se você não sabe, já existem agentes do governo na sua cola, garota. Sorte sua que eu a impedi de dizer alguma coisa.
- Minha mãe deve estar preocupada e meu amigo acha que fui sequestrada- comentei, refletindo sobre o que acabara de dizer, engolindo em seco em seguida – Você não me sequestrou não, né?
- Não precisa se preocupar.
- Mas daqui a pouco vai ter um monte de policiais atrás da gente, o Russell já deve ter ligado pra alguém.
- Como eu disse, não se preocupe, sou precavido, Nynive. Eu pus uma coisinha no refrigerante do seu amigo, ele já deve estar dormindo. Voltaremos antes que ele acorde. E quanto a sua mãe, bom, ela estava no décimo terceiro sono quando fui checá-la.
- Como sabe meu nome? E por que veio me buscar assim? – indaguei surpresa.
- Eu vi sua ficha na ala psiquiátrica – respondeu – E eu vim te buscar porque gostei de você.
Senti minhas bochechas corarem e eu sabia o quanto isso era perigoso, eu podia me apaixonar a qualquer momento. Por um momento, odiei quem eu era, mas o sentimento de atração por ele era mais forte. Não havia mais escapatória, estávamos conectados até que eu dissesse o contrário, eu sequer me importava mais com sua identidade. Um pseudo-caso de Síndrome de Estocolmo.
- Chegamos – disse o rapaz, descendo do veículo e convidando-me a fazer o mesmo – Aqui é uma Central.
Estávamos em frente a um prédio gigantesco que não possuía janelas, apenas uma porta de metal que o ligava ao ambiente exterior. Não havia placas ou anúncios, nada que pudesse identificar que lugar era aquele, apenas paredes brancas e limpas, cobertas de mármore.
Entramos e pude observar o que parecia ser uma recepção, mas não havia nenhum recepcionista por perto, apenas um holograma digital no formato de uma mão embutido numa bancada de madeira. A sala possuía algumas fileiras de cadeiras estofadas e lembrava bastante um hospital.
De repente, um senhor idoso apareceu, vindo de uma portinhola que havia por detrás da recepção. Ele era extremamente baixo, estava vestido com um jaleco e carregava consigo um binóculo pendurado no pescoço.
-Diga seu nome completo em voz alta e depois ponha sua mão aí- disse ele, apontando para a bancada.
- Nynive Yeva Zahri Vainstok – disse eu, tocando o holograma, que mudou de verde para azul em poucos segundos.
- Registrada – disse o senhor – Paciente-teste número 004. Você deve voltar aqui semana que vem. Adeus.
Virei-me para trás e pude perceber que o rapaz que me trouxera até ali não estava mais atrás de mim, então percorri a sala com o olhar e localizei-o sentado em uma das cadeiras da primeira fileira. Andei em sua direção e indaguei:
- A propósito, qual é seu nome?
- Viktor – respondeu ele levantando-se – Viktor Herrmann.
Autor(a): rosenrot
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