Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada
Pode-se inclusive marcar o inicio do sucesso da elegia e da polemica por ela suscitada a partir da alegre noite no castelo de Carla, a gorda Carla, competente profissional aportada da Itália, cuja cultura extra limitava do metier (no qual, aliás, excelia, segundo Nestor Duarte, cidadão de renomada inteligência e viajado, um conhecedor), lida em D’Anunzzio, doida por umas rimas. Romântica como uma vaca, assim a classificava o bigodudo Cravo, com quem ela andara metida uns tempos. Carla não podia passar sem uma paixão dramática e navegava de boêmio em boêmio, suspirando e gemendo, dilacerada de ciúmes, com seus tremendos olhos azuis, seios de prima-dona, as coxas espantosas. Poncho, igualmente, lhe merecera as boas graças e uns trocados, se bem ela preferisse os poetas, versejando ela própria na doce língua de Dante com muito estro e inspiração, como adulava Robato.
Todas as quintas-feiras à noite, Carla reunia uma espécie de salão literário em seus amplos aposentos. Compareciam poetas e artistas, boêmios, algumas figuras gradas, como o desembargador Airosa, e as raparigas do castelo prontas a aplaudir os versos e a rir das anedotas. Serviam bebidas e docinhos.
Carla presidia a soirée, reclinada num divã repleto de coxins e almofadas, vestindo túnica grega ou pedrarias, ateniense de figurino ou egípcia de Hollywood, recém-saida de uma ópera. Os poetas declamavam, trocavam frases de espírito, epigramas, cruzavam-se trocadilhos, o desembargador sentenciava um axioma preparado durante a semana, num duro labor. O momento culminante da tertúlia acontecia quando a dona da casa, a grande Carla, alçava-se por entre os travesseiros, toda aquela tonelada de carne branca recoberta de pedraria falsa, e, num fio de voz, extravagante em mulher tão monumental, declamava, em açucarados versos italianos, seu amor pelo ultimo eleito. Enquanto isto, o artista Cravo e outros materialistas grosseiros aproveitavam da semi-obscuridade reinante na sala – a luz velada para assim, na meia sombra, melhor ouvir e sentir-se a poesia – e, sem respeitar ambiente de tão alta espiritualidade, de tão excelsos sentimentos, bolinavam descarados as raparigas, tratando de obter-lhe favores gratuitos, lesando a caixa do castelo, uns calhordas.
Os saraus terminavam sempre decaindo da poesia para a anedota pornográfica, no fim da noite. Brilhavam então Poncho, Giovanni, Mirandão, Carlinhos Mascarenhas, e, sobretudo, Lev, arquiteto em começo de carreira, filho de imigrantes, um galalau comprido como uma girafa, dono de inesgotável repertorio, bom narrador. Carregava um sobrenome russo impronunciável, as raparigas haviam-no apelidado Lev Limgua de Prata, devido talvez às anedotas. Talvez.
Num desses elegantes encontros da inteligência e da sensibilidade, declamou Robato, com sua voz tremula, a elegia à morte de Poncho, introduzindo-a com algumas palavras comovidas sobre o desaparecido, amigo de todos os freqüentadores daquele delicioso antro de amor e da poesia. Referiu-se de passagem ao fato de ter o autor preferido as nevoas do anonimato ao sol da publicidade e gloria. Ele. Robato recebera copia do poema das mãos de um oficial da policia militar, capitão Crisóstomo, também fraterno amigo de Poncho. Não soubera, no entanto, o militar dar-lhe informação precisa sobre a identidade do poeta.
Muitos atribuíram os versos ao próprio Robato, mas, ante sua recusa sistemática em aceita-los, andaram apontando como autor quanto poeta versejava na cidade, especialmente aquels de condição noturna e de boemia conhecida. Houve, porém, quem jamais acreditasse nas negativas de Robato, levando-as à conta de modéstia, e persistam no seu nome. Ainda hoje há quem pense serem de sua lavra as estrofes da elegia.
O debate azedou-se a ponto de, em certa ocasião, romper os limites da literatura e da civilidade e descambar num conflito e bofetões, quando o poeta Clóvis Amorim,língua viperina solta numa boca de epigramas, a mamar permanente e fedorento charuto do Mercado Modelo, negou ao bardo Hermes Clímaco qualquer possibilidade de ser autor dos debatidos versos, faltando-lhe para tanto gênio e gramática.
- de Clímaco? Não diga besteira... Aquele, com muito esforço, obra uma quadrinha em sete silabas. Um poeta endefluxado...
Por cúmulo do azar, o poeta Clímaco surgia na porta do botequim, com seu eterno traje negro, a capa de borracha e o guarda-chuva, também eternos. Levantou o guarda-chuva e arremeteu, em cólera:
- Endefluxado é a puta que o pariu...
Atracaram-se, entre xingos e sopapos, com vantagens evidente para o Amorim, melhor versejador e atleta mais robusto.
Curioso também digno de relato o sucedido com um fulano, autor de dois magros cadernos de versos, a quem algumas pessoas menos avisadas conferiram a autoria do poema. Primeiro ele negou com firmeza; depois, como perseverassem, foi menos pertinaz em sua negativas e, por fim, reagia de maneira tão confusa e tímida que a negativa parecia acanhada afirmação.
É dele, não há dúvida, diziam, ao vê-lo esfregar as mãos, baixando os olhos, a sorrir num murmúrio:
- Que parecem versos meus, isso parecem. Mas, não são...
Negou sempre, mas, ao mesmo tempo, não admitiu jamais atribuíssem a outrem as discutidas estrofes. Se o faziam, desdobrava-se a provar a impossibilidade de tal hipótese. E se algum obstinado persistisse a argumentar, resmungava definitivo e misterioso:
- Ora, quer dizer a mim?... Tenho razões para saber...
E, quando a ouvia declamar, acompanhava atentamente o recitativo, corrigindo-o se alguma palavra era trocada, ciumento do poema, zeloso como de obra sua. Só mais tarde, com a revelação do nome do verdadeiro autor, veio ele despir-se da gloria indevida. Passou então e imediatamente, a dizer horrores da elegia, negando-lhe qualquer mérito ou beleza – poesia prostibular e estercorária.
Autor(a): Bela
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Em meio a tanta discussão, a elegia fez sua carreira, lida e decorada, dita nas mesas dos bares pela madrugada, quando a cachaça desatava os sentimentos mais nobres. Os declamadores mudavam-lhe adjetivos e verbos, por vezes baralhavam ou engoliam estrofes. Mas, correta ou deturpada, molhada de cachaça, caída no chão dos cabarés, l&aa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21
Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
comentem por favor sim....
bjinhoss -
anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01
oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
Ah! Adorei sua web!
Obg!
Bjooo -
millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27
ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....
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marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41
2 leitorr
kkk -
bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13
eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs
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millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25
1 leitora... ja gostei.. posta logo!