Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 19? Capítulo

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AO PARTIR DESTA PARA MELHOR, O RELEMBRADO GIL, O TAL MOLENGAS SEM vontade, deixou a família em sérias aperturas, em precéria situação. No seu caso não se tratava apenas de uma frase feita – partiu desta para melhor -, de um lugar-comum; e, sim, da expressão da verdade. Fosse o que fosse a esperá-lo nos mistérios do além – paraíso de luz, de musica e anjos luminosos; tenebroso inferno com caldeirões a ferver. O úmido limbo; as peregrinações pelos círculos siderais; ou nada, o não ser apenas -, qualquer coisa seria melhor se comparada à vida em comum com dona Marichelo.


Magro e silencioso, cada dia mais magro e mais silencioso, seu Gil sustentava sua tribo com modestas representações comerciais, produtos de reduzida aceitação, parco lucro apenas suficiente para as despesas: a gororoba diária, o aluguel do primeiro andar na Ladeira do Alvo, as roupas dos meninos, os arrotos de burguesia de dona Marichelo com seus caprichos de grandeza, a ambição de conviver com famílias importantes, de penetrar nos círculos de gente apacatada. Embirrava dona Marichelo com a maioria dos vizinhos, desprotegidos da sorte – balconistas de lojas e armazéns, empregados do escritório, caixeiros e costureiras. Desprezava essa gentalha incapaz de esconder sua pobreza; dava-se ares, carregada de bazófia, atenciosa apenas com alguns habitantes da Ladeira, as famílias de representação como repetia irada ao finado Gil quando o pegava em flagrante chupitando uma cervejinha na pouco recomendável companhia de Cazuza Funil, bicheiro e facadista, metido a filosofo, um dos mais discutíveis locatórios do Alvo. Funil não era nome de família, será necessário explicar? Apenas significativo apodo, caracterizando-lhe a goela sempre aberta, a sede insaciável.


Por que Gil não freqüentava o dr. Carlos Passos, medico de clientela, o engenheiro Vale, mandachuva na Secretaria de Viação, o telegrafista Peixoto, senhor de idade,às vésperas da aposentadoria, tendo alcançado o cume da carreira postal, o jornalista Nacife, ainda moço mas arrecadando um dinheirinho apreciável com O Lojista Moderno, publicação dedicada, acreditar-se em seu expediente, á intransigente defesa do comercio baiano, todos eles igualmente vizinhos na Ladeira, os de representação? O parvo do marido não sabia sequer escolher suas amizades; quando não estava com Funil no Ponto Fino, na Baixa dos Sapateiros, metia-se na casa de Antenor Lima, a jogar gamão ou damas, talvez a única alegria verdadeira de sua vida. Antenor Lima, comerciante estabelecido no Taboão e um dos mais destacados fregueses de Gil, mereceria classificar-se na lista dos vizinhos representativos, não fosse sua publica e notória mancebia com a negra Juventina, inicialmente sua cozinheira. Instalada agora na janela da casa própria do lojista, com empregada pra varrer e arrumar, insolente e respondona, seus bate-bocas com dona Marichelo fizeram época na Ladeira do Alvo. Pois bem: no passeio desse rebotalho sentava-se Gil, todo cheio de salamaleques, tratando à ordinária como se ela fosse senhora casada no padre e no juiz.


De nada adiantavam os esforços de dona Marichelo na direção das amizades influentes: a família Costa, descendente de velho político, dona de imensa roça no Matatu – o político virara até nome de rua e o neto Nilson era banqueiro e industrial; os Marinho Falcão, de feira de Sant’Ana, em cujo armazém Gil fizera seu aprendizado quando jovem – fora seu João Marinho quem lhe emprestara dinheiro para iniciar-se na capital; Dr. Luís Henrique Dias Tavares, diretor de repartição, um cabeça de ouro, assinava artigos nos jornais, nome sonoro a rolar em sua boca com um gosto de parentesco: é meu compadre, batizou o meu Heitor.


Ao citar tais relações de categoria, espinafrando as de Gil, interrogava dramática os interlocutores, a vizinhança, a ladeira, a cidade e o mundo: que mal fizera ela  a Deus para merecer o castigo daquele esposo, incapaz de dar-lhe padrão de vida condigno, à altura de sua linhagem e de seu meio? Tudo quanto era representante comercial prosperava, ampliando freguesia e escritório, vendo crescer o montante mensal das vendas, conseguindo novas e valiosas corretagens. Muitos compravam casa própria, quando nada terreno onde mais tarde construir. Alguns davam-se até ao luxo do automóvel, como um conhecido deles, Rosalvo Medeiros, alagoano arribado de Maceió há poucos anos, as mãos uma na frente, outra atrás, ambas agora na direção de um Studebaker. Tão lorde ficara esse Rosalvo a ponto de, certo dia, indo pela rua Chile, não reconhecer dona Marichelo e quase a atropelar, quando ela, pedestre e amável, atirou-se na frente do carro na ânsia de cumprimentar o próspero colega do marido. Não só o sujeito lhe metera um susto medonho com o ruído da buzina desatada como ainda a xingara, gritando-lhe desaforos:


- Quer morrer, piolho-de-cobra?



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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