Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 2? Capítulo

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2


FOI UM REBOLIÇO NO BLOCO E NA RUA, UM CORRE-CORRE PELAS REDONDEZAS, um deus-nos-acuda a sacudir os carnavalescos – e ainda por cima a escandalosa Anete, professorinha romântica e histérica aproveitou a boa oportunidade para um chilique, com pequenos gritos agudos e ameaças de desmaio. Toda aquela representação em honra do dengoso Carlinhos Mascarenhas, por quem suspira a melindrosa de faniquito fácil – dizendo-se ela própria ultra-sensível, arrepiando-se como uma gata quando ele dedilhava o cavaquinho. Cavaquinho agora silencioso, pendendo inútil das mãos do artista, como se Poncho houvesse levado consigo para outro mundo seus derradeiros acordes.


Veio gente correndo de todos os lados, logo a noticia circulou pelas imediações, chegou a São Pedro, à Avenida Sete, ao Campo Grande, arrebanhando curiosos. Em torno ao cadáver reunia-se uma pequena multidão a acotovelar-se em comentários. Um médico residente no Sodré foi requisitado e um guarda-de-trânsito sacou de um apito e nele soprava sem parar como a advertir a cidade inteira, a todo o Carnaval, do fim de Poncho.


Pois se é Poncho, coitadinho dele! Constatou um careta, com sua máscara de meia, perdida a animação. Todos reconheciam o morto era largamente popular, com sua alegria esfuziante, seu bigodinho recortado, sua altivez de malandro, benquisto sobretudo nos lugares onde se bebia, jogava,e farreava, e ali, tão perto de sua residência, não havia quem não o identificasse.


Outro mascarado, este vestido de aniagem e coberto com uma cabeçorra de urso, vararam o cerrado grupo, conseguiu aproximar-se e ver. Arrancou a máscara deixando exposta sua cara aflita, de bigodes caídos e crânio careca e murmurou:


-Poncho, meu irmãozinho, que foi que te fizeram?


Que foi que deu nele, de que morreu? Perguntavam-se uns aos outros, e havia quem respondesse: foi cachaça, numa explicação por demais fácil para tão inesperada morte. Uma velha curvada parou também, deu sua olhadela, constatou:


-Tão moderno ainda, por que morrer tão moço?


Perguntas e respostas cruzavam-se, enquanto o médico colocava o ouvido sobre o peito de Poncho, numa constatação final e inútil.


Estava sambando, numa animação retada, e sem avisar nada a ninguém caiu de lado já todo ceio de morte - explicou um dos quatro amigos, curado por completo da cachaça, de súbito sóbrio e comovido, meio sem jeito nas roupas femininas de baiana, as faces vermelhas de carmim, fundas olheiras negras, traçadas com cortiça queimada, sob os olhos,


O fato de estarem fantasiados de baiana não deve levar a maliciar-se sobre cinco rapazes, todos eles de macheza comprovada. Vestiam-se de baiana pra melhor brincar, por farsa e molecagem, e não por tendência ao efeminado, a suspeitas esquisitices. Não havia xibungo entre eles, benza Deus. Poncho, inclusive, amarrara, sob a anágua branca e engomada, enorme raiz de mandioca e, a cada passo,  suspendia as saias e exibia o troféu descomunal e pornográfico, fazendo as mulheres esconderem nas mãos o rosto e o riso, com maliciosa vergonha. Agora a raiz pendia abandonada sobre a coxa descoberta e não fazia ninguém rir. Um dos amigos veio e a desatou da cintura de Poncho. Mas nem assim o defunto ficou decente e recatado, era um morto de Carnaval e não exibia sequer sangue de bala ou facada a escorre-lhe o peito, capaz de resgatar seu ar de mascarado.


Dona Any, precedia, é claro, por dona Maite a dar ordens e a abrir caminho, chegou quase ao mesmo tempo em que a polícia. Quando despontou na esquina, apoiada nos braços solidário das comadres, todos adivinhavam a viúva, pois vinha suspirando e gemendo, sem tentar controlar os soluços, num pranto desfeito. Ao demais, trajava o robe caseiro e bastante usado com que cuidava do asseio do lar, calçava chinelas cara-de-gato e ainda estava despenteada. Mesmo assim era bonita, agradável de ver-se: pequena e rechonchuda, de uma gordura sem banhas, a cor clara de cabo-verde, os lisos cabelos castanhos, olhos de requebro e lábios grossos um tanto abertos sobre os dentes alvos. Apetitosa, como, costumava classificá-la o próprio Poncho em seus dias de ternura, raros talvez mais, porém inesquecíveis. Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Poncho dizia-lhe meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda, e tais comparações gastronômicas davam justa idéia de certo encanto sensual e caseiro de dona Any a esconder-se sob uma natureza tranqüila e dócil.  Poncho conhecia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama. Quando Poncho estava de veia, não existia ninguém mais encantador e nenhuma mulher sabia resistir-lhe. Dona Any jamais conseguira recusar-se a seu fascínio nem mesmo se a tanto se dispunha cheia de indignação e de raiva recentes. Pois, em repetidas ocasiões, chegara a odiá-lo e há arrenegar o dia que unira sua sorte à do boêmio.


Mas andando agoniada, ao encontro da intempestiva morte de Poncho, dona Any ia zonza, vazia de pensamentos, de nada se recordava, nem dos momentos de densa ternura, menos ainda dias cruéis, de angustia e solidão, como se ao expirar ficasse o marido despojado de todos os defeitos ou como se não os houvesse possuído em sua breve passagem por este vale de lagrimas.


Foi breve sua passagem por esse vale de lagrimas, pronunciou o respeitável professor Epaminondas Souza Pinto afetado e afobado, tentando cumprimentar a viúva, dar-lhe os pêsames, antes mesmo dela chegar junto ao corpo do marido. Dona Dulce, também professora e ate certo ponto também respeitável, conteve o açodamento do colega e conteve o riso. Se  em verdade fora breve a passagem de Poncho pela vida – vinha de completar trinta e um anos-, para ele, dona Dulce bem o sabia, não fora o mundo vale de lagrimas e, sim, palco de farsas, engodos, embuste e pecados. Alguns deles aflitos e confusos, sem duvida, submetendo seu coração a árduas provas, a agonias e sobressaltos: dividas a pagar,promissórias a descontar, avalistas a convencer, compromissos assumidos, prazos improrrogáveis, protestos e cartórios, bancos e agiotas, caras amarradas, amigos esquivando-se, sem falar nos sofrimentos físicos e morais de dona Any. Porque, considerava dona Dulce em seu português arrevesado -era vagamente norte-americana, naturalizara-se e se aentia brasileira mas o diabo da língua, ah! Não conseguia dominá-la -, se houvera lagrimas na breve passagem de Poncho pela vida, elas tinham sido choradas por dona Any e foram muitas, davam de sobra para o casal.



 



 



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Autor(a): Bela

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Diante de tão súbita morte, dona Dulce não pensava em Poncho senão com saudade: era-lhe simpático, apesar de tudo; possuía um lado gentil e cativante. Nem por isso, no entanto, nem por ele encontrar ali, no Lardo Dois de Julho, morto, estendido na rua, vestido de baiana, iria ela de repente santificá-lo, torcer a realidad ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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