Fanfics Brasil - PARENTESIS COM CHIMBO E COM RITA DE CHIMBO Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: PARENTESIS COM CHIMBO E COM RITA DE CHIMBO

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NAQUELE DIA, AO FIM DA TARDE, QUANDO MAIOR O MORMAÇO, uma atmosfera espêssa, de cimento armado, estando Poncho e Mirandão em São Pedro, no Bar Alamêda, a tomar as primeiras cachaças do dia, discutindo planos para a noite de festa no Rio Vermelho, eis que na porta do botequim viram surgir a afogueada face de Chimbo, aquele parente importante de Poncho, na ocasião comissionado como Delegado Auxiliar, ou seja, a segunda pessoa da polícia.


Escrivão de casamentos e filho de prestigioso político governista, sem respeito pela tradicional austeridade do pai, sem ligar para as conveniencias, esse distante primo de Poncho, Herrera dos legítimos e ricos, era um estróina, folgazão inveterado, bom no trago, nos dados e nas putas - para tudo dizer: um porra-louca. Ultimamente um pouco retraído, forçando sua natureza espontãnea, em atenção ao cargo. Cargo no qual, por isso mesmo, pouco duraria, preferindo sua liberdade às posições, não a trocava pela mercê mais alta, por título algum. Já anteriormente desistira do Govêrno de Belmonte, cidade de seu nascimento, onde fora empossado intendente pelo Pai, senador e feudal, após um simulacro de eleição. Abandonou posto e título, deveres e vantagens, era demasiado o preço a pagar. Não se contentavam os belmontenses com suas reais qualidades administrativas, exigiam de seu governador ilibados costumes, em intolerável abuso. Fora um zunzunzum dos diabos, um escândalo sem medida, só porque ele, audaz e progressista, importara da Bahia algumas amenas raparigas, no desejo de romper a motonia da pequena cidade e sua solidão. Fizera


vir Rita de Chimbo prestigiosa animadora da noite no Tabaris. De Chimbo apelidada devido a antigo e persistente rabicho a uni-los, xodó cantado em prosa e verso pelos boêmios. Brigavam, xingavam-se, separavam-se, para sempre e dias depois faziam as pazes, permaneciam em seu idílio, enrabichados. Por isso juntara Rita a seu nome o apelido de seu amor, assim como a noiva adota o sobrenome do noivo no ato do matrimônio. Ao sabê-lo intendente, senhor de baraço e cutelo a exercer direito de vida e morte sobre indefesa população, exigiu, em mensagem telegráfica, compartir de sua autoridade. Que prazer no mundo se pode comparar ao do mando, ao do poder? Queria saboreá-lo a voluptuosa Rita. Chimbo solitário nas noites de Belmonte, longas de nada por fazer, vazias de um tudo, escutou a súplica ardente, mandou buscar a rapariga. Chimbo intendente, rei em sua cidade, Rita de Chimbo não podia nesse império desembarcar como uma qualquer, era a favorita, a concubina real. Eis por que convidou para seu cortejo três beldades, diversas entre si mas excelentes as três: Zuleika Marron, mulata de capricho e deboche, suas ancas de saracoteio fechavam as ruas, atropelavam os pedestres. Amália Fúentes, enigmática peruana de voz macia, com tendências místicas, e Zizi Culhudinha, uma espiga de milho, frágil e doirada, sapeca como ela só. Essa restrita e formosa caravana, pesa dizê-lo!, não teve em Belmonte a entusiástica acolhida a que fazia jus; ao contrário, foi alvo de aberta hostilidade por parte das senhoras e mesmo de cavalheiros. Se excetuarmos certos grupos sociais - os imberbes estudantes, os escassos noctivagos, os cachaceiros em geral - e alguns indivíduos, cabe afirmar ter-se mantido a população arredia e suspeitosa.


Depois, Rita de Chimbo foi vista ã meia noite, na sacada da Intendência, bêbada de cair, a saudar a cidade com sua inesgotável coleção de nomes sujos. Circulavam notícías espantosas: o velho Abraão, comerciante e avô, arrastava-se ridículo aos pés de Zuleika Marron, dilapidando o patrimônio dos netos em bacanais com a barregã. Bereco, rapaz até então direito e casto, funcionário dos Correios, presidente das Obras Pias, apaixonara-se por Amália Fúentes, descobrira suas raízes de pureza e religiosidade, oferecia-lhe aliança de noivado, levando sua preconceituosa família ao desespêro. Culminou o escândalo quando a Culhudinha fez-se a bem amada de todos os colegiais, seu sonho e sua rainha, sua bandeira de luta e seu pulcro ideal. Lá ia ela toda loira nas noites de Belmonte, cercada de meninos e o poeta Sosígenes Costa dedicava-lhe sonetos.


Oh! Ignomínia! Até o chibungo do vigário, padre arrogante de fala esganiçada, pregara contra Chimbo, catilinária veemente contra sua escandalosa incontinencia. Classificara as diletas raparigas de "lixo do meretrício metropolitano", de "asseclas do demônio", coitadinhas das meninas! Sermão incendiário, a igreja repleta na missa dominical, e o reverendo a acusar Chimbo de estar transformando a pacata Belmonte em Sodoma e Gomorra, os lares arruinados, desfeitas as famílias, urbe infeliz à qual acontecera a desgraça de tão depravado Intendente, esse "Nero em ceroulas". Chimbo possuía senso de humor e riu da virulencia do padre. Choraram as raparigas, Rita de Chimbo clamou vingança, e Miguel Turco, árabe exaltado e secretário da Intendência, incondicional dos Herrera e chaleira notório, propos-se executá-la: mandariam dois cabras de confiança ensinar boas maneiras ao subversivo vigário, chegando-lhe a batina ao corpo.


Chimbo enxugou as lágrimas de Rita, agradeceu a dedicação do sírio, gratificou os dois capangas, dois criminosos de morte, foragidos de Ilhéus. Sob aparente nonchalança, era Chimbo homem prudente e hábil, não lhe faltava treita política. Imagine-se a reação do velho Senador se ele entrasse em guerra com a Igreja, surrando-lhe um cura para desagravar mulheres-damas! Ao demais, o padre tinha suas razões para tamanha birra. Ao tratá-lo de "Nero em ceroulas", queria referir-se à noite em que, trajando apenas listradas cuecas, tivera o ilustre Intendente de assim atravessar a cidade pois o vigário vinha de surpreendê-lo em avançado idílio com a cândida Maricota, estimável doméstica a assegurar os serviços de cama e mesa do sacerdote, sua ovelha favorita. Não restou a Chimbo outro caminho senão reunir as ofendidas hóspedes, dar o braço a Rita de Chimbo, e embarcar com elas num navio da Bahiana. Renunciou assim do cargo, às honrarias, e à polpuda comissão do jogo do bicho. Então ficou Belmonte de sua capacidade administrativa e da Ilhaneza das beldades da capital. Da eficiente administração de Chimbo davam testemunho a restaurada ponte de desembarque, a ampliação do Grupo Escolar e os consertos no muro do cemitério; das raparigas, a fugidia visão continuou por muito tempo a perturbar o sono de Belmonte. Recolheu-se Chimbo ao anonimato do rendoso lugar de serventuário da justiça, onde ninguém lhe vigiava os passos. Reintegrou-se na vida noturna, do Tabaris (onde Rita de Chimbo voltara a reinar) ao Pálace, do Abaixadinho à casa de Três Duques, do castelo de Carla ao de Helena Beija Flor. Da festa da noite e do cargo polpudo e anódino - escrivão de casamentos, juramentado - retirava-o de quando em quando o pai Senador para usá-lo em suas manobras políticas, entregando-lhe posições e honrarias por outros ambicionados, não por ele, Chimbo, desejoso apenas de viver livre, a la vontê.


Chimbo estimava Poncho, não só pelo distante e espúrio parentesco, como também devido ás qualidades do jovem companheiro de roletas e cabarés. Assim, ouvindo certa ocasião alguém tachar Poncho de vagabundo, sem ofício nem meio de vida, arranjou-lhe modesto emprego de fiscal de jardins da Prefeitura, pois "um Herrera deve ter posição definida na sociedade".


 


- Nenhum Herrera é um vagabundo . . .


 


Contradições desse simpático Chimbo, tão pouco preso a convenções e protocolos e, ao mesmo tempo, com profundo sentimento de família, zeloso da poderosa clã dos Herrera. Pois, naquela tarde, Poncho e Mirandão encontraram Chimbo em São Pedro, quando o Delegado Auxiliar dirigia-se à Chefatura de Polícia. Um Chimbo aporrinhado da vida, metido em roupa escura e quente, de cerimônia, roupa de entêrro ou matrimônio - colarinho de ponta virada, plastrão, colête, polainas, bengala de castão de ouro - um Chimbo a rigor naquele dia escaldante de fevereiro, o mormaço a asfixiar, canícula mortal, as bocas ávidas por uma cerveja bem gelada.


 


- Só uma bramota polar pode nos salvar a vida . . . – disse Poncho, abraçando o parente e protetor.


Chimbo arrenegou da sorte, em plástica e forte língua, dando nomes, num azedume: "merda de vida mais escrota aquela, emprego mais filho-da-puta aquele, obrigado a acompanhar o Governador a todos os cantos, a todas as cerimônias, a todas essas merdolências e porcarias


. . ." Não o viam assim fantasiado de comendador português? Naquela noite tinha de comparecer, por força do cargo, á instalação solene de um congresso científico - Congresso Nacional de Obstetrícia -, na Faculdade de Medicina, com discursos e teses, debates e pareceres sobre partos e abortos, paulificação monumental. Chimbo emborcava rápido seu copo de cerveja, tentando aplacar calor e raiva, seu pai com aquela eterna mania de utilizá-lo na política . . .E ainda por cima - imaginassem eles a urucubaca! - o tal Congresso decidia instalar-se logo na noite da festa do Major Pergentino, o Major Tiririca, do Rio Vermelho, certamente eles sabiam de quem se tratava. Fizera um favor ao militar, soltara um desordeiro a seu pedido, e agora o Major não o largava, querendo a todo custo obsequiá-lo, preparando-lhe grossa homenagem. A festa de Tiririca, segundo diziam, era de arromba, valia a pena, nela comia-se e bebia-se à farta. E ele, Chimbo, convidado de honra, imaginem a pagodeira !


 


- Em vez disso vou ter é de ouvir médico falando em parto . . . Meu pai me arranja cada prebenda . . .


 


Como convencer o Senador a deixá-lo em paz, em seu canto, se o velho era um sátrapa ante o qual até o Governador tremia? Brilharam os olhos de Poncho, sorriu Mirandão,. Chimbo acabava de abrir-lhes as portas da glória e da casa do Major.



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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