Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 33? Capítulo

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No lar e no carinho de tia Lita e de seu marido Thales Pôrto, no Rio Vermelho, procurou e obteve abrigo a perseguida Any, quando fugiu de casa para desposar Poncho. Pôrto ainda vacilara: não queria encrencas com dona Marichelo, mulher de cabelo na venta e ousada; era homem de bom viver. Tranqüilo em seu canto, corri seu pequeno emprego e sua mania de pintura. A cunhada já o acusara, e a dona Lita, de se oporem os dois ao namoro da sobrinha, isso quando, nas férias, ela enxergava em Poncho um poço de virtudes, um deus-me-acuda, um jesus-menino, só lhe faltando, para santo de igreja, o resplendor. Uma tôla metida a sabichona, enganjenta, cheia de birras e calundus: eis, dona Marichelo;


 


Pôrto não queria embelêco com mulher tão confusa e petulante. Mas, que fazer, se Any aparecera descabelada e em prantos, trazendo de escolta um Poncho sério e solene, muito cônscio de suas responsabilidades? Vinham confessar o irremediável; ele tinha lhe tirado os tampos, comido o cabaço, necessitavam casar. Quisesse ou não dona Marichelo, com ou sem maioridade, tinham de casar, Any deixara de ser moça donzela e só o matrimônio lhe restituiria a honra agora no bucho de Poncho. Any, num pranto deslavado, pedia perdão aos tios. Se a tanto chegara, desprezando os rígidos princípios familiares, rompendo o medo e


o pudor, entregando sua virgindade ao pertinaz fiscal de jardins, a única culpada verdadeira era dona Marichelo, com suas artimanhas, sua intransigência, a proibir-lhe qualquer contacto com o namorado, aferrolhando-a dentro de casa, como se ela, mulher feita, quase de maior pouco faltava, fosse uma criança. Até bater lhe batera, quem suportaria tanto carrancismo? Afinal Poncho não era nenhum celerado, nenhum facínora, foragido da justiça ou cangaceiro do grupo de Lampião; nem ela Any, tinha quinze anos, inocente de tudo, sem nada saber da vida. E as despesas da casa.não era Any quem as assegurava, pagando aluguel e comida? A mãe pouco contribuía, sem Rosália o atelier de costura se reduzira a uma ou outra encomenda.  Em compensação, desenvolvera-se escola de culinária dela viviam mãe e filha. Por que então se arrogava dona Marichelo o direito de resolver sozinha, de condenar sem apelação?


 


Recusando-se a ouvir pessoas sensatas como tia Lita, seu Antenor Lima e o próprio doutor Luis Henrique, padrinho de Heitor, cuja opinião sempre acatara antes. Dessa vez repelira seus conselhos com veemência. Thales Pôrto sacudia a cabeça: a parenta perdera de todo a tramontana. Nem Any nem Poncho podiam suportar tal situação. Para o rapaz o


 caso se transformara em definitiva e emocionante parada. Como na roleta ou nos dados, de frente para o azar. Um desejo de Any o possuía por completo, da cabeça aos pés, turvando-lhe o juízo, como se não existisse outra mulher no mundo, como se ela - com seu corpo rechonchudo e suas bochechas redondas - fosse a mais bela e apetecível fêmea da Bahia, única capaz de saciar sua fome e sua sede, de conter sua solidão. "Não, nunca, jamais, enquanto eu tiver vida", repetia dona Marichelo repelindo as renovadas propostas de casamento de Poncho, transmitidas por parentes e amigos. A própria tia Lita tinha intervindo dias antes, como lembrava Any. A outra saíra com quatro pedras nas mãos e uma ladainha de pragas:


 


- Enquanto Deus me der vida e saúde esse canalha não casa com minha filha. Não que ela mereça esse cuidado, é uma sonsa, uma ingrata, nasceu para sujeitinha. Mas eu não consinto, enquanto estiver na minha dependência. Prefiro ver ela morta do que casada com êsse vagabundo . . .


 


Lita quisera argumentar, convencer a irmã, romper aquela parede de ódio: o amor fazia milagres, por que não admitir a regeneração de Poncho? Dona Marichelo rosnava acusadora:


 


- Basta o desgôsto que você deu á família, quando casou com Pôrto. Depois ele consertou, mas se não consertasse? Se continuasse na descaração a vida toda? - pronunciava "descaração" com todas as letras, tornando a palavra ainda mais pesada de vício e de culpa.


 


Referia-se ao passádo de Pôrto, cuja mocidade decorrera no Rio de Janeiro, no meio teatral, com excursões pelo interior do país, varando cidades, cenarista e coreógrafo de mambembes, tendo sido também, por força das circunstâncias, ator e ponto, diretor e figurinista. Depois do casamento, assentara a cabeça, obtivera colocação na Bahia. De sua vida na ribalta restaram apenas um álbum de recortes e um punhado de anedotas. Não perdia ocasião de exibir o álbum e de contar as anedotas.


 


- E não deu certo? - reagia dona Lita, no fundo orgulhosa do passado boêmio do marido. - Você sabe de casamento mais feliz? Ademais não tenho nenhuma vergonha do trabalho dele no teatro. Não estava roubando ninguém, nem enganando, nem deflorando donzelas . . .


 


- E como havia de deflorar, se era tudo umas meretrizes, tudo de fiofó arrombado. Onde ele ia arranjar donzelice pra comer? Vontade não havia de lhe faltar, boa bisca ele não era . . .


 


Amigueira e bondosa, sob certos aspectos o contrário da irmã, dona Lita não suportava, no entanto, insultos ao esposo e, se a esporeavam, subia-lhe o sangue às narinas:


 


- A senhora faça o favor de meter sua língua no rabo e não falar mal de meu marido, não vim aqui para ouvir desafôro seu . . .


 


Dona Marichelo, obediente, enfiava a língua no rabo, a resmungar desculpas. Dona Lita era a única pessoa no mundo por quem nutria estima e respeito, com ela jamais brigava.


 


- Vim aqui porque quero bem a Any, como se ela fosse minha filha . . . Por que diabo você não deixa a menina casar, ela gosta do rapaz e ele está caído por ela. Por que ele não é um todo-poderoso como você se meteu na cabeça?


 


- Não meti nada na cabeça, você está cansada de saber, eles abusaram de mim, os miseráveis. - A lembrança do monstruoso debique a enfurecia. - E sabe de uma coisa? É melhor a gente dar essa conversa por finda. Com aquele traste ela não casa enquanto estiver sob minha guarda. Depois dos vinte-e-um anos, se ainda quiser, pode ir embora e se desgraçar. Antes, eu não deixo e acabou-se.


 


- Tu tá procurando sarna pra se coçar . . . Tu vai ver . . .


 


E assim era, pois, ante o fracasso dessa derradeira embaixatriz, Any resolveu atender à voz da razão. Ou seja: aos cochichados argumentos de Poncho a tentar convencê-la da única solução prática, viável, possível, e, ao mesmo tempo, deliciosa, terna e doce prova de amor e confiança. Convencida, precipitou-se a atender: abriu as coxas e deixou qüe ele a comesse como há muito lhe pedia e suplicava. Para referir toda a verdade, sem escamotear detalhes (nem mesmo escamoteando-os na simpática intenção de manter íntegros aos olhos do público a inocência e o recato de nossa heroína, fazendo-a ingênua vítima de irresistível don-juan), deve-se dizer que Any estava doidinha para dar, para dar e dar-se, entregar-se por inteira, um fogo a queimar-lhe as entranhas e o pudor, desatinada labareda.


 


Um amigo endinheirado, Mário Portugal, solteiro e estróina naquele tempo, emprestou a Poncho oculta casinhola para os lados de Itapoã. A viração desatava os cabelos lisos e negros de Any, punhalhe o sol azulados reflexos. No marulho das ondas e no embalo do vento, Poncho arrancou-lhe a roupa, peça a peça, beijo a beijo. A lhe dizer, rindo enquanto a despia e dela se apoderava:


 


- Não sei vadiar nem coberto de lençol quanto mais vestido com roupa. Tu tein vergonha de quê, meu bem? A gente não vai se casar, não é para isso mesmo? E mesmo que não fosse, a vadiação é coisa de Deus, foi ele quem mandou que se vadiasse. "Vão vadiar por aí, meus filhos, vão fazer neném" que ele disse e foi das coisas mais direitas que ele fêz.


 


- Tesconjuro, Poncho, não seja herege . . . - Any enrolava-se numa colcha vermelha.


 


Tudo naquele quarto éra excitante; quadros de mulheres nuas nas paredes, reproduções de desenhos onde faunos perseguiam e violentavam ninfas, um espelho imenso em frente ao leito, o tal Mário era um lorde, criara uma atmosfera pecaminosa, perfumes na penteadeira, bebidas no gêlo. Any sentia um frio no ventre.


 


- Se ele quisesse que a gente não vadiasse, fazia logo o povo todo capado e os meninos nasciam órfãos de pai e mãe . . . Não seja tola, deixa essa coberta . . . Suspendeu o trapo vermelho, Any desabrochou na brancura do lençol, Poncho teve uma exclamação de alegre surprêsa:


 


- Mas tu é pelada, meu bem, quase pelada . . . Que coisa doida e mais linda . . .


 


- Poncho . . .


 


Com o seu corpo cobriu-lhe o pudor, ela cerrou os olhos. Rompeu a aleluia sôbre o mar de Itapoâ, a brisa veio pelos ais de amor, e, num silêncio de peixes e sereias, a voz estrangulada de Any em aleluia; no mar e na terra aleluia, no céu e no inferno aleluia!


 


Na manhã daquele dia Any saíra a ajudar dona Magá Paternostro, aquela ricaça sua antiga aluna, num almoço de aniversário, regabofe para mais de cinqüenta pessoas e ainda mesas de doces e salgados pela tarde. Dali partiu para encontrar-se com Poncho e aconteceu o que tinha de acontecer. Dona Marichelo a fazia no fogão de dona Magá, ela estava empernada com Poncho em Itapoã. Daquele dia em diante a vida de Any foi inventar pretextos para voltar com Poncho à casinhola da praia. Recorria a amigas e a alunas: "Se mamãe perguntar se eu saí com você, diga que sim". Diziam, todas lhe tinham afeição e muitas simpatizavam ativamente com sua causa. Após a aula, uma delas anunciava:


 


- Vou levar Any comigo à matinê, a pobre precisa esquecer...


 


Parecia estar esquecendo, rejubilava-se dona Marichelo. Nos últimos dias Any já não mantinha a cara tão amarrada, desistira de ficar metida no quarto à espera de vê-lo surgir na rua - ao cafajeste para então assumir ostensiva a janela, em franca provocação. O não-sei-que-diga demorava-se a tirar prosa no passeio da negra Juventina. Aquela peste e outras descaradas da vizinhança serviam de espoleta para o namôro, de leva-e-traz, dona Marichelo as tinha de olho, um dia lhe pagariam com juros. Any atirava bilhetes a Poncho, beijos com a ponta dos dedos. Até dona Marichelo perder a cabeça e explodir em desaforos contra a filha e o tratante, o patife a rir na esquina.


 


Nos últimos dias, no entanto, dona Marichelo sentira prenúncios de mudanças. A atitude de Any já não era a mesma, já não cantava modinhas tristes, não tinha na boca o tempo todo o asqueroso apelido do namorado, e ele deixara de mostrar-se na rua. Reaparecera o sorriso de Any, voltara a dar bom dia e boa tarde, a responder quando dona Marichelo lhe dirigia a palavra. Na Baixa dos Sapateiros a eventual amiga recomendava despedindo-se:


 


- Juízo, hein! - e ria cúmplice.


 


Riam-se também Any e Poncho, enfiavam-se num táxi - sempre o mesmo, pertencia ao Cigano, chofer de praça e velho companheiro de Poncho -, a toda velocidade no rumo de Itapoã, as mãos agarradas, roubando-se beijos pelo caminho. Cigano ia buscá-los de volta ao crepúsculo, vinham sem pressa, a cabeça de Any repousando no ombro de Poncho, os negros cabelos ao sabor da brisa, e uma lassidão, uma ternura - o desejo de continuarem juntos, por que se despediam?


 


Poncho, numa exigência crescente reclamava, passar uma noite inteira com ela, não mais lhe bastando tê-la a seu lado e possuí-la; queria adormecer em sua respiração, dormir em seu sono. Também Any desejava essa noite completa, essa posse mais além dos limites do relógio, da hora contada e cada vez menor para seu anseio.


 


- Mas . . . - disse-lhe uma tarde quando ele novamente reclamou - . . . se eu passar a noite fora não posso mais voltar para casa...


 


- E para que voltar? A gente se amarra e acabou-se. Tu é que não quis ainda botar tudo em pratos limpos . . . Não sei por quê.


 


- E onde vou ficar até o casamento?


 


Fixaram-se em tia Lita e tio Pôrto, a casa do Rio Vermelho era um segundo lar para Any. Tendo assim resolvido, ela, no dia seguinte, após a aula, trancou-se no quarto e arrumou seus teréns, encheu duas malas e um baú. Depois fechou a porta, pôs a chave na bôlsa e saiu dizendo que ia até o Mercado de Yansã, na Baixa dos Sapateiros. Ali, Poncho a esperava com o táxi, mais uma vez Cigano os conduziu mas, dessa vez, só na manhã seguinte retornou a buscá-los. A uma conhecida, vinda por novidades e costuras, dona Marichelo contou:


 


- Any saiu para fazer compras, volta já. Felizmente não fala mais do tipo, anda menos assanhada . . .


 


- Acaba esquecendo . . . É sempre assim . . .


 


- Tem de esquecer, queira ou não queira . . .


 


A visita demorou-se, a conversar, dona Marichelo contando coisas de uma família recente na ladeira, uma gente de Amargosa.


 


- Bem, Any está tardando, vou embora. Lembranças para ela.


 


Sózinha, dona Marichelo á espera. Primeiro levemente em dúvida, logo inquieta, pela noite sabendo de certeza absoluta que Any perdera o juízo e fugira de casa. Forçou com um canivete a fechadura do quarto, viu as malas feitas, o baú repleto. A fingida estivera a enganá-la, comportando-se como se houvesse rompido com o canalha, para poder sair desatinada a desgraçar-se. Dona Marichelo ficou de luz acesa a noite tôda, a taca ao alcance da mão. Ah! se ela tivesse a audácia de voltar . . .


 


Quando, no outro dia, antes do almoço, a irmã e o cunhado apareceram, Porto todo cheio de dedos, ela fez uma cena daquelas, arrancando os cabelos, fora de si:


 


- Não quero saber de nada . . . Aqui não entra mulher-dama, lugar de puta é em castelo . . .


 


Dona Lita subiu nos azeites:


 


- Faça o favor de me respeitar. Any está em minha casa e minha casa não é castelo. Se você não se importa com a felicidade de sua filha, isso é com você. Eu e Thales se importamos e muito. Vim aqui para lhe dizer que Any vai se casar. Se você quiser, o casamento sai daqui, tudo direito e em ordem como deve ser. Se você não quiser, sai de minha casa e com muito gôsto.


 


- Rapariga não casa, se ajunta . . .


 


- Escuta, mulher . . .


 


De nada adiantaram a dialética de tia Lita e a silenciosa presença de tio Pôrto. Não assistiria nem daria seu acordo ao casamento, conseguissem autorização com o juiz, se quisessem, revelando toda a bandalheira, exibindo a desonra da ingrata. Não contassem com ela para encobrir a patifaria, para tapar o rombo da descarada.


 


No dia seguinte viajou para Nazareth, onde o filho a recebeu sem entusiasmo. Ele próprio, Heitor, pensava em casar-se e só não o fizera ainda por não lhe permitir o ordenado. Disposto a fazê-lo, no entanto, apenas fosse promovido e pudesse economizar alguns mil-réis. Já tinha noiva em vista: uma ex-aluna de Any, aquela de olhos molhados, que atendia por Celeste.



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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