Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 34? Capítulo

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Indo correr no Sodré uma casa anunciada para alugar, Any deparou com outra ex-aluna sua, dama de realce, esposa de comerciante da Cidade Baixa, dona Maite Chavéz, pessoa muito alegre e novidadeira, bonitona, de cuja bondade natural e generoso coração já se deu notícia anterior. Residia ela nas vizinhanças.


 


A casa estava na medida das necessidades de Any, para morada e escola, sendo, ao demais, de aluguel relativamente barato. Pois então se considerasse desde logo inquilina, garantiu-lhe dona Maite; o proprietário do imóvel era seu conhecido, dar-lhe-ia a preferência, com certeza. Deixasse a seu cuidado, não precisava preocupar-se. Foi dona Maite de muito confôrto e consôlo em todo aquele transe. Apoderou-se dos diversos problemas da moça e concorreu para a solução de todos eles, a todos deu jeito. Para começar, levantou-lhe a moral abatida. De quanto se passara Any lhe fêz minucioso relato. Dona Maite saboreava os detalhes, não lhe viessem com história contada às carreiras, pulando pedaços. Any sofria com a impressão que o mundo inteiro tivera conhecimento de seu mau passo ("mau passo" era a expressão usada por tia Lita, delicadamente), como se ela trouxesse o estigma da mentira estampado no rosto: mulher sem-vergonha, conhecedora de homem e a bancar moça solteira.


 


- Ora, menina, deixe de ser tôla . . . Quem é que sabe que você deu? Quatro ou cinco pessoas, meia dúzia, se muito e acabou-se . . . Se você quiser, pode até casar de véu e grinalda e quem é que vai reclamar? Sua mãe viajou: ela, sim, era capaz de vir fazer escândalo na porta da igreja . . .


 


Any não podia ocultar a vergonha, agira mal, mas não tivera outro jeito. Para Dona Maite  todo aquele horror reduzia-se a nada:


 


- Isso de dar um pouquinho antes de casar sucede a três por dois e com gente muito boa, minha cara . . . Desfiava vasto e curioso noticiário, consoladores exemplos. A filha do doutor Fulano, aquele da Faculdade, não dera a um amigo do noivo às vesperas do casamento, rompendo o compromisso, fugindo com o outro, casando com ele às pressas. E atualmente não era a nata da sociedade, com o nome nos jornais: "Dona Fulana recebeu os amigos . . . etcetera e tal . . .". E aquela outra fulaninha, filha do Desembargador, não foi pegada dando ao noivo-essa pelo menos dava ao próprio noivo - por detrás do Farol da Barra? O guarda os surpreendeu em flagrante, só não levou os dois para a delegacia porque o diligente cavalheiro soltara gorjeta alta. Mas exibira a meio mundo a calcinha da sapeca, aliás uma lindeza de rendas negras. Nem por isso, com todo esse desfile de roupa íntima,


ela deixou de casar de véu e grinalda, um vestido por sinal belíssimo, a fulana tinha gosto e dinheiro. E aquela outra sicrana - o pai um mata-mouros que nem dona Marichelo, trazendo as filhas num cortado, esbregues medonhos, presas em casa - surpreendida em Ondina, nos matos, a dar a um homem casado, a um compadre de seus pais? Casara depois com um pobre diabo e agora dava quanto podia, "quanto mais melhor" era seu lema; dava a solteiros e casados, a conhecidos e indiferentes, a ricos e pobres. "Muita gente, minha filha, só não dá antes de casar porque não sabe que é tão bom ou porque o noivo não pede. Afinal, antes ou depois, que diferença faz me diga?"


 


Não apenas minimisou sua falta, devolvendo-lhe o ânimo, como a assistiu e dirigiu nas compras indispensáveis para tornar a casa habitável, móveis e utensílios. Inclusive a cama de ferro, com as cabeceiras e os pés trabalhados, adquirida em segunda mão a Jorge Tarrapp, leiloeiro com loja de antiguidades e velharias à rua Ruy Barbosa e, como não podia deixar de ser, amigo de dona Maite. Um bom sujeito, esse Jorge, sírio alto e vermelho, quase apoplético; ao saber do próximo casamento de Any, ofereceu-lhe de quebra e presente meia dúzia de cálices para licor. Dona Maite concorreu com um par de toalhas de banho e de rosto, toalhas alagoanas, de primeira. E lhe cedeu, pelo preço antigo de custo ou seja quase de graça, sensacional colcha de cetim azul-hortênsia com ramos de glicínias, estampados em lilás, um monumento de chique. Dona Maite a levara em seu pomposo enxoval peça de resistência, presentão de uns tios residentes no Rio. Pois bem; o maníaco do Christian tomara birra da colcha, segundo ele o lindo azul-hortênsia era um roxo funéreo e aquele trapo só servia para cobrir esquifes. Por causa da maldita colcha quase brigam na própria noite do


casamento. Não fosse dona Maite estar morta de curiosidade pelo que se iria passar, e teria reagido aos resmungos e às má-criações de Christian. Não se conformara ele enquanto a coberta não foi guardada e para sempre. Nunca mais teve uso, nova em folha, na Rua Chile custava um dinheirão.


 


 


Por falar em colcha, a contribuição única de Poncho para o enxoval constou de colorida colcha de retalhos. Obra coletiva das raparigas do castelo de Inácia, todas elas admiradoras do noivo, a começar pela nobre Inácia, mulata de cara picada de bexiga, a mais jovem casteleira da Bahia, nem por isso menos experiente. De quando em quando Poncho aportava em seu leito, nele em xodô se demorando dias e semanas. Não lhe cabia culpa de comparecer com tão pequena quota no total desses intermináveis gastos onde as economias de Any, economias de anos de trabalho, se consumiam rápidas.


 


 Muito desejara Poncho arcar com todas as despesas ou com a maior parte, para tanto muito esforço despendera. Nunca os amigos o haviam visto assim nervoso e persistente nas mesas de roleta, mas o dezessete seu número - andava escasso, era como se houvesse sido retirado da numeração. Tentou igualmente no grande e no pequeno, na ronda e no bacará; a sorte estava arredia contra ele, urucubaca das miúdas. Esforçou-se a ponto de já não ter a quem morder e esfaquear, a quem pedir empréstimo, obrigado a recorrer à própria noiva, afanando-lhe uma pelega de cem.


 


- Não é possível que o azar continue hoje, meu bem. Vou amanhecer aqui com uma carroça de dinheiro, tu compra meia Bahia sem esquecer uma dúzia de champanha para o dia do casório.


 


Não trouxe nem dinheiro nem champanha, estava mesmo azarado, até quando iria durar a má-sorte? Assim, só houve champanha no casamento civil, realizado em casa dos tios. Thales Pôrto abriu uma garrafa e o juiz brindou com os nubentes e a família. Também o ato religioso foi simples e rápido, compareceram apenas algúmas amigas íntimas de Any e seu Antenor Lima, além de tia Lita e tio Porto (e dona Maite, é claro). Dona Magá Paternostro, a milionária, não pôde vir mas mandou pela manhã uma bateria de cozinha,


esse sim, um presente útil. De parte de Poncho, apenas o Diretor do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura - a quem o relapso funcionário, aproveitando o matrimônio como pretexto, esfaqueara, assim como aos colegas -, Mirandão e esposa, senhora magra e loira, avelhantada, e Chimbo. A presença do Delegado Auxiliar levou Thales Porto a comentar para dona Lita: nem tudo era balela na história tramada pelos capadócios para debicar de dona Marichelo.


 


O parentesco de Poncho com o importante Herrera, isso pelo menos não era invenção. Celebrou a cerimônia religiosa dom Clemente, capelão de Santa Tereza, graças a um pedido de dona Maite. Poncho exibia sua vistosa elegância de cabaré, Any toda em azul e em sorrisos, os olhos baixos. Dona Maite não conseguira convencê-la a ir de branco, com véu e


grinalda, a boba não tivera coragem. As alianças foram as de Mirandão, emprestadas na hora. Na véspera, no Tabaris, haviam feito uma coleta e juntado o dinheiro necessário para Poncho pagar as alianças já escolhidas na joalheria de Renot. Meia hora mais tarde Poncho perdeu até o último tostão em casa de Três Duques. Ainda assim poderia tê-las


obtido fiado, se as tivesse ido buscar. O joalheiro, se bem com fama de esperto, não conseguia resistir à lábia de Poncho, por mais de uma vez lhe emprestara dinheiro.


 


Tresnoitado, porém, o noivo dormira toda a manhã, saindo às carreiras para o Rio Vermelho no táxi do Cigano. Quando já deixavam a igreja, surgiu o banqueiro Celestino empunhando um ramalhete de violetas. Foi apresentado a Any - dona Any, a partir de agora, como compete a uma senhora casada. Beijou-lhe a mão, desculpou-se pelo atraso, acabara de saber, nem tivera tempo de comprar uma lembrança. Passou discreto uma cédula a Poncho, os convidados, a começar por Chimbo e dom Clemente, vinham pressurosos cumprimentar o mandachuva português.



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Autor(a): Bela

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Os recém-casados despediram-se no pátio do convento, apenas dona Maite os acompanhou até a nova residência em cuja fachada já fora suspensa a tabuleta da Escola de Culinária Sabor e Arte. Na porta de casa, dona Any  convidou a vizinha:   - Entre prá conversar um pouquinho . . . Dona Maite riu, maliciosa:   - ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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