Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 37? Capítulo

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Quando por acaso vinha jantar, era para sair logo depois, antes das nove, sempre apressado. Frustrando as esperanças de dona Any de vê-lo chegar da rua como os maridos das demais chegavam do trabalho; indo pôr-se à vontade, vestir o pijama, ler os jornais, comentar os fatos, convidá-la talvez para uma visita ou para um cinema. Quanto tempo ela


passava sem ir ao cinema? Era preciso que dona Maite a arrastasse à matinê, pois com Poncho era tão raroraro e inesperado -, decorriam meses sem saírem juntos. Nunca deixou de lhe perguntar, no entanto, ao vê-lo despir o paletó e afrouxar o nó da gravata:


 


- Hoje tu não sai mais, não é? Poncho sorria antes de responder:


 


- Saio mas volto logo, meu bem. Não demora nada, tenho um compromisso mas é rápido . . . - resposta também invariável.


 


Certas vezes chegava antes do jantar mas com outro objetivo. Nos dias de total derrota: quando, ao cair da tarde, nada havia obtido, fracasso absoluto em todas as tentativas; falho o palpite do bicho, insensível os gerentes dos Bancos, sumidos os avalistas, ninguém para morder. Nesses dias de caiporismo sem jeito vinha para casa azucrinado. Ele, sempre tão glutão, amando saborear os quitutes de dona Any, suas receitas sem igual,nessas tardes comia em silêncio, inquieto, e comia pouco, às carreiras, sem ligar à comida. Lançava olhares sorrateiros à esposa como a medir-lhe o humor, sua receptividade. Porque vinha para lhe pedir dinheiro, sempre emprestado, é claro, com formais promessas de pagamentos, todas até hoje por cumprir. E ela terminava entregando-lhe algum, por bem ou por mal; em certas ocasiões em doloroso e mesmo sórdido constrangimento. Eram os dias do pior Poncho, quando ele se vestia de bruta irritação, quando seu encanto e graça davam lugar a uma cruel estupidez.


 


Dona Any sabia, antes mesmo dele pronunciar uma só palavra, de suas intenções malsãs. Ele chegava molesto do fracasso na rua, um surdo enfado a marcar-lhe o rosto. Naqueles anos ela aprendera a conhecê-lo nos mínimos detalhes, desde o pêso e a cadência de seu passo até o brilho matreiro de seus olhos quando os punha numa fêmea qualquer, nas rumorosas alunas, no decote de dona Dulce, ou, indo com dona Any pela rua, em quantas encontrava, a despi-las mas ou .menos conforme mais ou menos elas o merecessem por bonitas ou feias.


 


Distribuía-se Poncho no correr da tarde em busca de fundos para as apostas, vinha ou não jantar, carinhoso ou brusco, e, com a noitê, novamente rumava para seu tôrvo destino. Torvo? Não se aplicavam à natureza de Poncho nem cabiam em sua realidade adjetivos assim tão solenes e lúgubres. Destino noturno, sim, mas tôrvo não. Em Poncho não assentavam as sombras e os negrumes, as angústias e os dramas tão ao sabor das virtuosas campanhas contra o jogo. Não lhe tremiam as mãos ao depositar as fichas nem uivava de remorso pela madrugada.


 


Uma agonia, sem dúvida, quando a bola girava na roleta, o coração apertado em ansiedade, mas uma agonia gostosa. Jamais lhe ocorreu o vislumbre sequer de uma idéia suicida; nunca o nobre remordimento a devorar-lhe o peito; nunca a voz trágica da consciência a acusá-lo; imune a tôda essa espantosa série de horrores a infelicitar a vida dos desgraçados que se deixam jugular ao vício da batota. E uma lástima, porém, que fazer, se era assim? Impossível apresentar Poncho sob tão simpática luz: como jogador acorrentado à sina irrevogável odiando-se a si mesmo, querendo libertar-se e sem poder, a remir-se com um tiro nas têmporas à saída do cassino.


 


Era um destino tenso e rude, um destino de macho, isso certamente. Nenhum frouxo aguentaria aquela batalha a cada noite e a cada instante da noite, mas nunca Poncho fizera do emocionante embate uma catástrofe de crimes e remorsos, infortúnio sinistro é irremediável. Sinistro? Era variado e divertido seu destino. Irremediável? Sempre havia alguém para lhe emprestar dinheiro; incrível como tanta gente se decidia a fazê-lo. Quem sabe, faziam-no para assim arriscar-se no jôgo sem ir aos cassinos proibidos, às espeluncas mal-afamadas? Destino de fundas e exaltantes emoções.Como naquela noite de agosto de início tão ruim: ele tentando afanar o dinheiro de dona Any, ela resistindo, era o dinheiro das despesas, e a discussão, os desaforos, as queixas, os gritos e os insultos. Soltara finalmente trinta míseros mil-réis e com eles Poncho iniciou a gloriosa marcha.


 


No Abaixadinho os dados rolavam na "lebre francesa". Poncho colocou dez mil-réis no grande - só apostava no grande - e o churrilho teve comêço. Deu grande, acredite-se ou não, quatorze vêzes seguidas e Poncho  mantendo as apostas, rodeado por uma nervosa aglomeração de jogadores e meretrizes, disposto a sustentar o grande até o fim dos séculos. Ao saber, Mirandão veio correndo como um doido da outra sala onde jogava ronda, e gritou-lhe:


 


- Paré pelo amor de seus filhos, que a sorte vai virar.- Poncho não tinha filhos e não ia parar, mas Mirandão que os tinha, metera as mãos nas fichas e as retirara ele próprio, empurrando Poncho, levando-o dali. Com razão, pois deu o pequeno e depois deu gata, novamente o pequeno e gata outra vez, enquanto Poncho saía a contragosto e opulento.


 


Naquela noite, os bolsos abarrotados, recordando dona Any a lhe dizer, em prantos, "você não presta mesmo, não vale nada e não gosta nem um pingo de mim", ele desejou chegar em casa ainda cedo e com um presente, mas um presente de arromba, não uma pinóia qualquer. Um colar, um anel, uma pulseira, uma jóia de valor. Onde, porém, adquiri-la, se o comércio estava fechado? Quem sabe, opinou Mirandão, conseguiria ele um troço vistoso com uma quenga da zona? Mulheres-damas por vezes recebem valiosas dádivas; quando enxodosadas com um coronel do cacau ou fazendeiro do sertão aproveitam-se para encher seu pé-de-meia, algumas até deixam de fazer a vida, estabelecendo-se com salões de beleza ou armarinhos. Mirandão conhecia duas que terminaram por se casar e deram em senhoras honestíssimas.


 


Saíram a procurar, correram ceca e meca, de cabaré em cabaré, de castelo em castelo, de pensão em pensão, e onde chegavam iam baixando cerveja, vermute e conhaque para quem quisesse beber, as despesas por conta do Poncho. Expuseram e revolveram os pobres enfeites de dezenas de raparigas, não encontravam senão quinquilharias, metal cromado, vidro colorido, latão - e a noite a avançar. "Quero chegar cedo, fazer uma surpresa completa", Poncho com pressa, vexado, antegozando a cara de dona Any ao vê-lo antes da meia noite, de presente na mão. Só faltava encontrar mimo de valia, de encher o olho, não aquelas bugigangas de mascate.


 


Foram encontrá-lo finalmente na Ladeira de São Miguel, no buduar - como dizia pernóstico Mirandão - de Madame Claudette, acabada cortesã sobrevivendo à custa de mínima clientela de colegiais, que a freqüentavam devido à sua nacionalidade francesa e a propalados requintes, tudo muito parisiense e a baixo preço. Colar de turquesas de um azul realmente tão formoso a ponto de Poncho e Mirandão sentirem o impacto dessa beleza ilustre e seu fascínio. Todo em ouro trabalhado; a velha marafona o apertava entre os dedos como a defendê-lo. Era uma jóia de família, segredava, ela a trouxera da Europa, fôra usada por sua mãe e por sua avó, tinha um duplo valor. Só mesmo muito dinheiro podia levá-la a desfazer-se daquela preciosidade, recordação de um mundo perdido na Lorraine e na infância. Só por muito, muito dinheiro; "le petit Pocho, le pauvre" nunca tocara quantia tão grande e, se um dia a obtivesse, não a iria gastar em adorno de mulher.


 


Quando fizera Poncho caso de dinheiro, Madame? Mesmo limpo, no misere, a nenhum, sem tostão furado, nem assim dava valor ao dinheiro, e se o buscava em insensato ãfã era para jôgá-lo fora na roleta. Arrancava num ímpeto as cédulas dos bolsos cheios. Quase ficam vazios: os olhinhos de Madame Claudette se acendiarr de cobiça atràs da máscara de pó de arroz e creme, aquela múmia fremia à vista das notas de cem e de duzentos.


 


O táxi do Cigano o deixou na porta de casa às onze e quarenta, antes da meia noite, como ele queria. Dona Any apenas teve tempo de fechar os olhos e ressonar de leve e já Poncho estava no quarto, arrancando o lençol a esconder o corpo da espôsa, pondo-lhe fulenrações de turquesas entre os seios túmidos, a rir numa gaitada:


 


- E tu que não queria me emprestar dinheiro, sinhá tôla ... - esparzia as cédulas pela cama, ainda lhe sobrara para mais de dois contos de réis.



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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