Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 39? Capítulo

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Agora, estendida no leito de ferro, dona Any buscava não ouvir o matraquear de dona Marichelo na porta da rua, em animada palestra com dona Maite, para melhor recolher na memória perdida, na distância do tempo, as vozes dos cantores, o ritmo dos instrumentos, aquela emocionante serenata da Ladeira do Alvo; para encher suas horas e conter seu coração


nessas noites não mais de espera pois ele morrera, seu marido. Contava agora tão-somente com um mundo de lembranças, nele recolhida, refugiada em recordações, cinzas com que apagar a brasa do desejo vivo. Como se houvesse erguido um muro de clausuta, a separá-la do cochicho e do mexerico, das conversas e dos comentários, de quanto perturbasse sua viuvez recente, aquela nova realidade de ausência. Nos tempos iniciais do nojo, movia-se apenas na dor e na ânsia, na necessidade e na impossibilidade de tê-lo ali, a seu lado. Impossível para sempre e nunca mais.


 


Abafando, sob a música e o canto recordados, a voz e o escárnio de dona Marichelo, abrigava-se, dona Any nas lembranças do passado: naquela noite chegara á janela com os primeiros acordes. Doía-lhe o corpo, o couro cru fizera-lhe um lanho no pescoço, ela era um trapo, um trapo batido e aviltado. Poncho subia a ladeira a cantar, os braços erguidos para o alto. Reconheceu os demais: a voz inconfundível e inigualável de Caymmi, Jenner Augusto mais pálido ainda sob a lua, e, a acompanhá-lo nos instrumentos e no côro, Carlinhos Mascarenhas, Edgard Cocô, doutor Walter da Silveira e Mirandão. Fôra buscar correndo aquela rosa escura e rara, colhida na véspera no jardim de tia Lita. Tudo andava revolto em sua vida, numa barafunda, em completo descontrôle, ela própria submetida à férrea autoridade de dona Marichelo. A música lhe dera fôrças e coragem. De repente se sentiu satisfeita por não passar Poncho de reles serventuário municipal, lotado em mísero emprêgo, e não lhe importava fôsse ele irrecuperável jogador.Com a lembrança de noites assim, de luar e ternura, dona Any, insone, tenta aplacar a dor e o desespêro de saber que nunca mais Poncho virá tocar e acender as brasas de seu corpo. Na noite longa de espera, não voltará a ouvir na rua a sua voz desafinada, em outras serenatas.


 


Acontecia quando Ponvho, tendo excedido todos os limites noites seguidas sem dormir em casa ou como naquela vez em que, ainda recém-casados, jogara o dinheiro do aluguel e nada lhe dissera, fazendo-a passar por caloteira -, queria fazer as pazes, pois dona Any, nessas ocasiões, deixava de se dirigir a ele, desconhecendo sua presença, como se não tivesse marido. Inquieto, Poncho rondava suas saias, com palavras aduladoras, convites e provocações para excitá-la e conduzi-la a vadiar. Nas trincheiras da mágoa e do vexame, resistia dona Any. Poncho apelava para as grandes cartadas: ir com ela ao cinema, acompanhá-la a pagar visita há tanto tempo devida a dona Magá ou aopadrinho de Heitor, doutor Luís Henrique. Ou bem organizava uma serenata, vinha acalentar seu sono, deslumbrando a rua. Não mais trazia, no entanto, a Dorival Caymmi com o mistério de sua voz nem ao doutor Walter da Silveira. Caymmi emigrara para o Rio, fazia programas na rádio carioca e gravava discos, cantores de renome lançavam seus sambas, suas modinhas praieiras. Doutor Walter, nem falar: juiz no interior, a flauta encantada ninando apenas o sono dos filhos pequenos, uma coorte de meninos e meninas, um por ano quando não dois numa única barriga. Não era fácil, nesses levianos tempos de irreflexão e desatino, encontrar quem cumprisse seus deveres - todos os seus deveres sem exceção – com tamanho senso de responsabilidade quanto o zeloso e culto magistrado.


 


Agora também já não viria, e nunca mais, ai nunca mais!, Poncho. Nem sua voz, nem seu riso de deboche, nem sua mão corrida, sua mata de pelos morenos, seu atrevido bigode, nem seu sono de fichas e paradas. Dona Any já não tinha sequer a espera dolorosa. O que não se dispunha a pagar para novamente caber-lhe o direito ao sofrimento de aguardá-lo, à agonia de escutar o silêncio noturno da ruá pacata, de sentir o passo do marido, incerto no pêso da cachaça! De nada adiantava rogasse dona Maite a dona Marichelo, na porta da frente, apelando para sua compreensão:


 



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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