Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 41? Capítulo

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Gostar de meninos, ah! como ele gostava ... E a garotada o preferia a qualquer brinquedo, proclamando-lhe o nome, correndo para ele. Junto às crianças, Poncho era seu igual como se tivesse a sua mesma idade e infinita paciência. Mirandão lhes dera de afilhado, a ele e a dona Any, o mais môço de seus quatro moleques, o qual, desde pequenino, era louco pelo padrinho: apenas o via e escancarava a bôca enorme, de sapo, acenando com as mâos, a arrancar-se dos braços da mãe para os de Poncho. Brincavam os dois durante horas, Poncho a imitar urros de animais ferozes, a saltar feito um canguru, a rir feliz. Como não havia de desejar um filho quem era assim doido por crianças? Não o confessava jamais, no entanto; talvez para não obrigá-la ao sacrificio incerto da intervenção cirúrgica.


 


Dona Any, no leito de viúva, sente uma incômoda picada de remorso. Afinal podia ter tentado a operação apesar do visível pessimismo do casal de médicos. Deixara-se influenciar, quem sabe?, pela opinião de dona Dulce, compartilhada por outros vizinhos e até pelos tios, uma dona Dulce muito culta a lhe expor teorias sôbre hereditariedade para a consolar quando ela se acusava de estéril e inútil. A própria tia Lita, tão bondosa, sempre cheia de desculpas para as andanças de Poncho, lhe dissera por mais de uma vez:


 


- Há males que vêm para bem, minha filha. E se tu botasse no mundo um menino que saísse a Poncho, assim sem consêrto? Tu já pensou? Deus sabe o que faz ..


 


Thales Pôrto vinha em apoio da espôsa:


 


- É isso mesmo, Lita tem razão. Pra viver feliz não é preciso ter filho. Veja a gente ... Nunca tivemos menino ...


 


Realmente viviam felizes, dedicados um ao outro, Pôrto com seus quadros domingueiros, dona Lita com as flôres de seu jardim e com seu gato curuzu, velho e gordo, rosnando em mimos e dengos de filho único. Tanta gente a cercá-la com o mesmo propósito confortador, nesses pareceres dona Any cultivava seu mêdo, seu mêdo e - por que não dizê-lo? - seu egoísmo.


 


No leito de ferro, entre a ácida voz de dona Marichelo e a doce música da serenata, a viúva dá-se conta de que, em verdade, não existira somente o mêdo da operação. Se o desejo de um filho fôsse nela tão forte como em Poncho, certamente teria encontrado coragem para enfrentar médico e hospital. Ela, porém, dona Any, não vivia na ânsia de um filho, de criança a encher a casa de bulício e riso. Vivia a pensar em Poncho, isso sim, era a sua criança, a ele queria em casa seu marido  seu filho, seu "menino grande".


 


Na porta da rua, assevera dona Maite sentenciosa e amiga:


 


- Ela precisa esquecer, é tudo que ela precisa. E ainda tão môça, pode refazer sua vida ...


 


- Casou com êsse miserável porque quis ... - a voz de dona Marichelo.


 


- Se Poncho não prestava, mais um motivo para não falar nêle, para que viver bolindo no caixão do finado? A gente precisa é distrair a pobre, não deixar tempo para recordação, tem a escola mas não chega, ela precisa sair, se divertir, precisa esquecer ... - Sôbre os resmungos de dona Marichelo, a bondade de dona Maite: - Se ela tivesse um filho, pelo menos ...


 


A frase chega aos ouvidos de dona Any, "se ela tivesse um filho, pelo menos ...". Sim, seria bem mais fácil ... Não estaria tão só, tão vazia, tão sem razão de viver. Na rua, nas vizinhanças, na missa e na bênção, no mercado e na feira, sob a batuta de dona Marichelo, entre as amigas e as conhecidas, elevava-se o côro de maldições à memória de Poncho, um nem-sei-que-diga de tão ruim. Dona Any tranca os ouvidos para não ouvir senão a antiga serenata. No leito de ferro, sozinha com a ausência para nunca mais de seu marido. Sem um filho para a consolar.


 


Em meio a tudo quanto sucedera naqueles sete anos, nada tanto a assustara como a notícia de ser filho de Poncho o menino parido por Dionísia, mulata estabelecida nas proximidades do Terreiro. Sempre temera a notícia de um filho dele, nascido de outra, capaz de levá-lo embora.


 


Quando chegava a seu conhecimento um caso de Poncho, xodó com visos de ligação duradoura, aventura mais além das noites dormidas nos castelos, seu coração se apertava no temor de uma gravidez, de uma criança a nascer, os braços estendidos para Poncho. Das mulheres não tinha mêdo, apenas ciúmes: "tudo xixica para passar o tempo", que ele lhe dizia não para se desculpar mas para dona Any compreender e não temer.


 


Mas, se surgisse um menino? Contra um filho seria impossível lutar, impossível qualquer esperança. Ficava como louca, inquieta e perdida, quando dona Dinorá era quase sempre dona Dinorá, como conseguia ela ser tão informada? - lhe trazia, entre rodeios e lamentações, o nome da cuja e os detalhes, alguns até íntimos e salafrários. Tremia no pavor de uma criança, de um menino, dêsse filho que ela não lhe dera por não poder e também, ah! também, por não querer. Imagine-se sua agitação, o impacto recebido quando um dia dona


Dinorá se acercou para contar-lhe a "última de Poncho". Dele, segundo a intrigante, houvera filho uma tal de Dionísia, mulata com fama de grande boniteza, ora modêlo de pintores (pousara para um trocatintas modernista, um nomeado Carybé que, com desplante e acinte à sociedade, a retratara vestida de rainha), ora capital e adôrno do democrático e afreguesado castelo de Luciana Paca, na zona de maior movimento.


 


Dona Dinorá vinha contar de pura bondade, não por espírito de intriga ou de fuxico, não era dessas. Cumpria pesarosa sua obrigação de amiga, para que a pobrezinha da dona Any, tão boa e tão distinta, não ficasse na ignorância, os demais rindo dela pelas costas ...


 


- Foi arranjar filho logo com uma mundana ...


 


Dizia "mundana" para não servir-se de substantivo mais forte. Dona Dinorá era a delicadeza em pessoa e tinha horror a magoar, a ferir quem quer que fôsse, mesmo a mulher perdida e sem-vergonha, prenha de homem casado, pegando barriga com marido de outra. "Não sou dessas que adoram fuxicar, não faço mal a ninguém", afirmava dona Dinorá e havia quem acreditasse.


 


 


Na cama de viúva, emudecidos os últimos acordes da serenata, perdidas a voz dos cantores e a rosa negra, dona Any estremece ao recordar aqueles dias de tamanho susto e dura decisão. De que nào era capaz para não perder Ponccho, para conservá-lo a seu lado, para tê-lo mesmo assim, jogador e mulherengo, com rapariga de casa posta, fazendo filho por aí, na rua, ao deus-dará. Do que seria capaz, ela o mostrou então.



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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