Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 42? Capítulo

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16


 


 


Quando as duas mulheres saíram da elegante missa das onze na Igreja de São Francisco, num domingo lavado de junho, manhã luminosa e fresca, e, em passo decidido, atravessaram o Terreiro de Jesus em direção ao labirinto das estreitas ruas antigas do Pelourinho, moleques cantavam um samba-de-roda batendo o ritmo em latas vazias de goiabada Voltou-se dona Maite para a companheira, a resmungar:


 


- Esses fedelhos, por que não vão mexer com a traseira da mãe deles? ...


 


Talvez não passasse de simples coincidência, não houvessem os moleques em suas farturas se inspirado; mesmo assim dona Maite, por via das dúvidas, lançou terrível olhar em direção aos ousados. Olhar que de imediato se adoçou, ao descobrir um pequenino de seus três anos, vestido de farrapos, o rosto imundo de remela e ranho, a sambar no meio da roda:


 


- Repare que gracinha, Any, que coisa mais linda aquele satanasinho que está dançando ...


 


Dona Any considerou a malta de crianças andrajosas. Muitas outras disseminavam-se pela praça de intensa vida popular, misturando-se aos fotógrafos de lambe-lambe, tentando roubar frutas nos cestos de laranjas, limas, tangerinas, umbus e sapotis. Aplaudiam um camelô a mercar milagrosos produtos farmacêuticos, uma cobra enrolada ao pescoço, repelente gravata. Pediam esmolas nas portas das cinco Igrejas do Largo, quase assaltando os fiéis ricos. Trocavam deboches com sonolentas rameiras, em geral muito jovens, em ronda pelo jardim na expectativa de um apressado freguês matinal. Multidão de meninos rotos e atrevidos, os filhos das mulheres da zona, sem pai e sem lar. Viviam no abandono, soltos nos becos, em breve seriam capitães da areia, conheceriam os corredores da polícia.


 


Dona Any estremeceu. Viera para levar uma daquelas crianças, uma recém-nascida, para assim garantir-se contra ela e sua mãe. Mas, vendo os meninos soltos na Praça do Terreiro, seu coração se encheu de piedade, de um sentimento nobre e puro; naquela hora, se pudesse, adotaria todos eles, não apenas o filho de Poncho. Aliás, o filho de Poncho não necessitava dela para escapar àquela vida. Poncho não o abandonaria jamais, não era de sua natureza largar uma criança ao desamparo, quanto mais rebento seu, nascido de seu sangue. Em vez de negar a paternidade, ele a proclamaria, dela fazendo praça, encantado e


orgulhoso. Sempre o soubera dona Any, de ciência certa, de um saber sem dúvidas, apesar dos silêncios e das reticências do marido: um filho para Poncho seria o maior dos acontecimentos, a verdadeira sorte grande, a parada sem exemplo, o estouro da banca. Por isso ela tanto se afligira com a notícia trazida por dona Dinorá. Era o perigo maior, a temida ameaça. Afinal, Poncho já lhe pertencia tão pouco. dominado pelo jôgo e pela boemia, que sobras lhe restariam se um filho se erguesse entre eles, a chamá-lo de um beco esconso, de um canto de rua, do leito de uma vagabunda? Esse filho que ela não lhe dera.


 


Ao ter a notícia, ficou desesperada, num padecimento tão grande a ponto da própria dona Maite perder a cabeça. De ordinário tão executiva, encontrando solução para todos os inúmeros problemas que lhe propunham a cada momento, ela também não atinava com saída nem acêrto, confusa e aflita.


 


- E se tu dissesse a ele que está grávida? - nada de melhor lhe ocorrera senão essa pobre mentira.


 


- De que adianta? Vai terminar descobrindo, é pior ...


 


Foi dona Dulce quem encontrou decifração para a charada, recurso não só honroso como prático, proposta capaz de resolver tudo e muito mais, quem sabe? A gringa era uma retada nesses assuntos de psicologia e outras metafísicas, até o professor Epaminondas Souza Pinto tirava-lhe o chapéu, "mulher de muita erudição", e o professor Epaminondas Souza Pinto não era um qualquer, jamais errara na colocação de um só pronome e ditava (gratuitamente) regras gramaticais no semanário de Paulo Nacife, fôlha de pouca circulação mas próspera em anúncios.


 


Quando puseram dona Dulce a par dos acontecimentos - dona Any emagonia, dona Maite perdida -, ela logo os destrinchou e instruiu as amigas em seu português arrevesado. Se Poncho tanto desejava um filho, a ponto de ir faze-lo na rua, em mulher-dama, pois era dona Any estéril, não podendo conceber; se esse filho nascido de outra podia levar Poncho embora para sempre - então só cabia a dona Any um recurso para garantir o marido e o lar: trazer para casa esse filho bastardo de Poncho e fazer-se mãe dele, criando-o como se o houvesse parido.


 


E por que não? Por que gritava assim dona Any, praguejando igual a uma norte-americana milionária - a comparação era de dona Dulce, espantada ante a reação da vizinha - jurando que isso jamais, jamais o filho da outra, da cachorra, da puta sem-vergonha? Por que esse escândalo, se uma das coisas mais admiráveis do Brasil era, segundo a opinião da gringa, a capacidade de compreender e conviver? Tão comum mulheres casadas criarem filhos espúrios dos maridos, ela mesma conhecia alguns casos tanto entre gente pobre como entre gente rica. Ali junto, na rua, dona Abigail não criava a filha do espôso com uma sujeita e não o fazia com o mesmo terno amor reservado aos quatros filhos de seu ventre? Uma beleza, e que beleza!, por essas coisas dona Dulce gostava do Brasil e se naturalizara brasileira.



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Autor(a): Bela

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  Que culpa tinha o menino que pecado cometera? Por que deixar pobre criança, sangue de Poncho, seu marido, exposta a uma vida de privações, subalimentada, crescendo na fome e no vicio, rato dos esgotos do Pelourinho, sem direito à educação e aos bens da vida? E, ao demais, não temia dona Any - e com razão - ficas ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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