Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 46? Capítulo

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Desembocaram num corredor; ao fundo, a porta do quarto da rapariga. João Alves bateu com o nó dos dedos.


 


- Quem é? - perguntou uma voz morna e descansada.


 


- É de paz, Dió ... Sou eu, João Alves, e tem duas excelências comigo querendo falar com você. Uma eu conheço é minha comadre Maite, gente de bem, merecedora ...


 


- Pois vão entrando e desculpando o desarranjo, ainda nem tive tempo de arrumar o quarto ...


 


Entraram atrás do negro. Na peça estreita, uma cama de casal, um armário capenga, um lavatório de ferro com bacia e balde de esmalte, um urinol ao pé do leito, tudo muito asseado. Na parede, um espelho partido e uma estampa do Senhor do Bonfim com fitas bentas penduradas. Uma janela abrindo sobre os fundos do sobrado, por ela penetravam a


claridade e a modinha triste. Reclinada nos travesseiros, meio coberta com um lençol, vestida com uma bata de rendas cujo decote lhe exibia os seios pejados, a mulata Dionísia de Oxóssi sorria cordial para as surpreendentes visitas. Na curva de seu braço, no calor de seu peito, o filho adormecido. Uma criança graúda, de um moreno carregado. Sob uma cadeira, um defumador queimava alfazema, perfumando peças de roupas do recém-nascido colocadas sobre a palhinha do assento. Além da cadeira, dois caixões de querosene cobertos com papel de sêda faziam a vez de tamboretes. No ângulo da parede ao fundo, o peji com as armas de Oxóssi, o arco e a flexa, o erukerê, uma estampa de São Jorge a matar o dragão, uma pedra verde,


fetiche talvez de Yemanjá, e um colar de contas, azul-turquesa.


 


- Seu João - ordenou a mulata com sua voz descansada -, faça o favor, tire essas roupinhas da cadeira, ponha no armário, é pro neném mudar depois do banho. Dê a cadeira a essa môça ... apontava dona Maite, voltando-se depois para dona Any, a explicar-lhe num sorriso: - a senhora, que é mais moderna, vai desculpando, tem mesmo de sentar no


caixão.


 


Da cama, reclinada, presidia ela os arranjos no quarto, a movimentação do engraxate a arrastar a cadeira e os caixões, tranqüila e sorridente, nem sequer curiosa do motivo daquelas intempestivas visitas. Quem a visse assim, tão calma a ordenar, compreenderia por que o pintor Carybé a retratara vestida de rainha, num trono de afoxê. Dona Maite, na dianteira do negro, arrebanhou camisola e fralda, pôs tudo no armário e, ao fazê-lo, dera balanço completo nos vestidos, nas blusas, nos sapatos e sandálias da mulata.


 


- Puxe um caixão para vosmicê também, seu João, e tome assento.


 


- Fico mesmo de pé, Dió, assim estou bem.


 


- Maneira certa de se conversar é na maciota e sentado, seu João, de pé e com pressa não ajuda o entendimento.


 


O negro, porém, preferiu encostar-se à janela, voltado para a manhã cada vez mais luminosa. Um resto de canção entrava quarto adentro, vinha morrer plangente na cama de Dionísia. "Nas cadeias de teu amor, escravizoda serva, meu senhor!" Sentadas dona Maite  e dona Any, fêz-se um breve silêncio mas logo Dionísia o encheu com sua voz macia. Desenvolveu-se para o lado do dia tão bonito, queixando-se de ainda não poder sair rua a fora:


 


- Não sei ficar em casa quando a chuva lava a cara do dia e ele reluz novo em folha, todo faceiro ...


 


Dona Maite também não; e assim foram as duas falando do sol e da chuva e das noites de luar em Itapoã, ou no Cabula, e nem se sabe como desembarcaram em Recife, onde habitava uma irmã de dona Maite, casada com um engenheiro pernambucano, e onde Dió residira alguns meses:


 


- Para mais de sete meses, fui atrás de um clandestino, um que me alumbrou a vista, um desatinado. Me largou por lá ...


 


Onde não chegariam as duas, a que distantes portos, nesse diálogo sem compromisso nem conseqüência - a conversa pelo prazer da conversa -, se dona Any, ouvindo o carrilhão de uma igreja do Terreiro anunciar a hora do meio dia, não se alarmasse, interrompendo a amável prática:



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Autor(a): Bela

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- Mayzinha, assim a gente vai demorar muito ...   - Por mim não me atrapalha, é um prazer ... - disse Dionísia.   - Noutra ocasião a gente vem com mais tempo - prometeu dona Maite. - Hoje a gente veio com um propósito ...   - Estou ouvindo ...   - Essa minha amiga, dona Any, não tem filho nem pode ter. E c ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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