Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 6? Capítulo

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O CORPO DE PONCHO FOI DEPOSITADO NO CAIXÃO, LEVADO PARA SALA DE visitas onde haviam improvisado um estrado com cadeiras. Seu Vivaldo trouxera flores, contribuição gratuita da funerária. Dona Dulce arrumou uma saudade rosa entre os dedos cruzados de Poncho. Seu Vivaldo considerou para si mesmo o absurdo do gesto: devia colocar entre os dedos do morto uma ficha de jogo, isso sim. Uma ficha em vez de saudade roxa, e se em lugar da música e dos risos do carnaval e elevassem por ali perto ruído das mesas da roleta, a voz rouquenha do crupiê, o soar das fichas, as nervosas exclamações dos jogadores, era bem possível ver-se Poncho levantar do caixão, sacudir dos ombros sua morte, como sacudia, num gesto característico, as complicações a perseguirem-no, e encaminhar-se para depositar sua ficha no numero 17, seu numero predileto. Que poderia ele fazer com uma saudade roxa? Logo estaria murcha e fanada, nenhuma roleta a aceitaria.


Seu Vivaldo não se demorou; carnavalesco obstinado, só abrira a funerária naquele domingo de  para atender a um amigo como Poncho. Fosse outro defunto, e se arranjasse como pudesse, não iria ele, Vivaldo, perturbar seu carnaval.


Muitos perturbaram seus projetos de carnaval. Foi um desfilar de gente noite adentro, na sentinela do boêmio. Alguns vieram por ser Poncho descendente de ramo pobre e bastardo de uma família importante, os Herrera. Um de seus avoengos fora senador estadual e mandachuva na política. Um tio seu, de apelido Chimbo, ocupara o posto de Delegado Auxiliar durante uns poucos meses. Esse tio, um dos raros Herrera a reconhecer Poncho como parente legitimo, foi quem lhe arranjou o emprego na Prefeitura: fiscal de jardins, lugar dos mais modestos, ordenado misero, não dava para uma noite gorda no Tabaris. Não é necessário ressaltar a completa negligencia do jovem funcionário municipal: jamais fiscalizara jardim de nenhuma espécie, só aparecia na repartição para receber os magros caraminguás mensais. Ou para tentar o  aval impossível do chefe, para morder os colegas em vinte ou cinqüenta mil-réis. Os jardins não lhe interessavam, não tinha tempo a perder com plantas e flores podiam desaparecer todos os jardins da cidade, não lhe fariam falta, ave noturna, seus canteiros eram as mesas de jogo, e sua flores, como bem considerara seu Vivaldo, as fichas e os baralhos.


Os que vieram por influência do nome dos Herrera podiam-se contar nos dedos, vagos e apressado parentes. Todos os demais, aquele desfilar sem conta, vinham para despedir de Poncho, para fitar mais uma vez sua face, sorrir para ele numa recordação agradável, dizer-lh adeus porque gostavam dele, desculpavam-lh as loucuras, valorizavam seu lado bom.


Um dos primeiros a chegar á noite, vestido a rigor, pois iria mais tare levar as filhas, três moças de truz, ao baile de um grande clube, foi o comendador Celestino, português de nascimento, banqueiro explorador. Não  passara às Carreras, como quem cumpre fastidiosa obrigação. Demorara-se na sala, a conversar, recordando sucessos de Poncho, após ter abraçado dona Any e ter-lhe oferecido seus préstimos. De onde vinha sua estima pelo pequeno funcionário da Prefeitura, pelo boêmio dos cabarés de segunda, pelo jogador sempre encalacrado?


Poncho tinha lábia, que lábia! Certa vez arrancara a assinatura do prospero lusitano numa promissória de alguns contos de réis. Não esqueceu de pagar, pois jamais esquecia as datas de vencimento dos diversos títulos por ele firmados e espalhados em bancos e em mão de agiotas. Não pode pagar o que era diferente. Em geral nunca podia pagar, e não pagava; no entanto a cada dia o numero dos títulos aumentava, aumentava o numero dos avalistas. Como ele conseguia?


Celestino não voltara a avalizar, não caia duas vezes no mesmo conto. Soltava-lhe, no entanto, pelegas de cem, duzentos e ate quinhentos mil-réis, quando Poncho lhe aparecia desesperado, sem tostão e com a certeza de ser aquele o seu dia de estourar a banca.  Outros, porém, avalizavam duas e três vezes, como se fosse Poncho o pagador mais correto, o de melhor cadastro bancário. Todos vencidos por suas manhas, sua conversa dramática e convincente.


O próprio Christian, marido de dona Maite, estabelecido com loja de sapatos na Cidade Baixa, sujeito de conversa rara, casmurrão, pouco dado a visitas, as relações e intimidades com os vizinhos, o oposto da esposa, ele próprio fora enrolado por Poncho algumas vezes e, apesar disso, não lhe retirara nem o credito da loja.


Nem mesmo  quando descobriu a inacreditável sujeira: Poncho, certa manhã,  comprara fiado em seu estabelecimento vários pares de sapatos, dos mais finos e caros, e imediatamente os revendera, quase sob as vistas horrorizadas dos empregados de Christian, e por preço ínfimo, a uma loja rival recém-instalada nas imediações. A dinheiro batido – tratava-se de um Poncho necessitado de urgente numerário para jogar no bicho.


 O comerciante levou certamente em conta, ao pesar as responsabilidades do trapaceiro, determinadas atenuantes capazes de explicar e desculpar o deslize.



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Autor(a): Bela

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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