Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 83? Capítulo

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Para mais além do Pálace, com sua categoria "estritamente familiar", como diziam os anúncios, com suas luzes e suas sombrasuni abajur sôbre cada mesa -, os lustres de cristal, a orquestra de primeira, as senhoras da alta sociedade, as raparigas de luxo, as teúdas e manteúdas e as escoteiras, os coronéis do cacau, do gado, do açúcar, os ricaços da cidade, os moços boêmios e os vigaristas, para mais além do Pálace, nas encruzilhadas da noite pobre e despida de ouropéis,estendia-se o mistério de Poncho, sua última verdade. Num trânsito rápido dona Any auscultou essa louca geografia, oceano de suas lágrimas, vales e montanhas de sua dura espera, de seu sofrido amor. Dona Dulce ao contrário: vagarosa, fascinada pelos rostos dos jogadores, por seus gestos. Um dêles falava sozinho, evidentemente furioso consigo mesmo. Fôsse por seu gôsto, a professôra nao iria mais embora. Mas o garçom, numa deferência a Poncho, seu liga, vinha lhe avisar estar servida a ceia e próxima a hora das atrações.


Voltaram à sala de dança e deram com Mirandào, recém-chegado. Que milagre era aquêle, sua comadre no Pálace, viera disposta a estourar a banca? Seu aniversário? Meu Deus do céu, como pudera esquecer? Nu dia seguinte mandaria Âpatro com o afilhado e uma lembrança. "Basta com a comadre e o menino", disse dona Any, para desobrigá-lo do compromisso e porque já ganhara naquele aniversário o seu presente, não queria mais nenhum: ali estava com Poncho, não queria mais nada.


A comida não era lá essas coisas, arroz sem sal, carne sem gôsto, mas que delicado Poncho a servi-la, a lhe dar na bôca os melhores pedaços de seu frango! Dona Any já não sentia medo nem acanhamento. As luzes se apagaram por completo para imediatamente de nôvo se acenderem, e então Júlio Moreno, o cabaretiê, anunciou as atrações.


Primeiro as Irmâs Catunda, uma lástima de voz, sábia exibição de seios e ancas: "Vão dançar a noite inteira, Rancheira ... Rancheira ... " A petulante era a mais bem feita e mimosa das três, dona Any não podia desconhecer, negar aquela verdade quase nua. Mas Poncho nem ligava para as mulatas, mais interessado em saborear a sobremesa. Agora era dona Any quem olhava com desdém; tomou da mão de seu marido, ficaram os dois conversando e sorrindo, enquanto as gentis irmãs se desdobravam por entre o jôgo de luzes, seios em azul, ancas em vermelho. Vieram depois The Honolulu`s Sisters com um canto poderoso e triste, gemido de negros em correntes, reza de escravos, dor e revolta de homens humilhados. Até o sexo era triste, até os corpos tão belos, pensou dona Any. As mulatinhas Catunda, desafinadas e modestas, pareciam um soar de guizos, um trinado de pássaros, um raio de sol, corpos de viço e saúde em comparação a Jo e Mô com seu lamento sem esperança. As Catundas dançavam em preceito aos orixás, aos alegres e íntimos deuses negros, vindos da Africa e na Bahia cada vez mais vivos. As negras americanas dirigiam sua súplica aos austeros e distantes deuses brancos dos senhores, impostos aos escravos no lanho das chibatas. Umas eram o riso salto, as outras o pranto desolado.


- Reparem nelas ... São amantes ... - informou Poncho. Dona Any já ouvira falar na existência de mulheres assim mas não acreditara; e ainda ali pensa ser burla de Poncho, invenções absurdas, molecagem.


- Não há homem chibungo, meu bem? Pois há mulher que só gosta de mulher ...


- Uma pena - disse Mirandão. - Dois peixões dêsses e não querem saber de conversa com homem ...


Dona Dulce confirmava: "tais casos eram até bastante comuns nos países mais civilizados". "Vai ver e são sómente môças sérias ..." ainda defendeu dona Any. Queria ouvir o canto puro e doloroso, sem misturar à sua grandeza a tara das mulheres, sua doentia condição, sua sina. Música de sangue derramado, látego de fogo.


- Meu bem, vou ali e volto já, é um minuto ...


Poncho  atravessou rápido para a sala de jôgo, deixando dona Any sozinha com o dilacerante canto dos escravos.



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Autor(a): Bela

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As luzes se acenderam, soaram aplausos, dona Any viu quando Mô deu a mão a Jô e juntas se retiraram para seu amor de maldição. O paulista voltou a dançar, Zequito Mirabeau reunira-se aos jogadores. Bem gostaria Mirandão de acompanhar Poncho e Mirabeau: mas o compadre o deixara ali, fazendo companhia às senhoras, nã ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



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  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


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