Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 91? Capítulo

244 visualizações Denunciar


2


 


Nas ruas em tôrno sobravam as mexeriqueiras, velhas e jovens, pois para exercer tal oficio não se exige documento de idade. Dona Dinorá era a primeira dessas xerêtas; em sua atividade tamanhos sucessos obteve a ponto de ser-lhe atribuída fama de vidente. Já foi nesta crônica dona Dinorá vista em ação, em lamúrias, em denúncias, em enredos, sem que, no entanto, dela própria se tratasse mais longamente, permanecendo até agora quase anônima, como se fôsse tão só uma intrigante comum na roda das beatas. Talvez porque a insólita presença de dona Marichelo, por fim e felizmente em exílio no Recôncavo, não desse vez ás concorrentes. Mas sempre é tempo de corrigir um êrro, de reparar uma injustiça.


Para muitos, passava dona Dinorá por viúva do comendador Pedro Ortega, rico comerciante espanhol desencarnado uns dez anos antes. Em verdade, nunca fôra casada, e donzela o fôra pouco tempo; apenas púbere, arribara de casa para dar início a movida e de


certa maneira brilhante existência, crônica picante. No entanto benza Deus! - ninguém mais moralista e ciosa dos bons costumes desde o feliz encontro com o galego, quando, tendo passado dos quarenta e cinco, dona Dinorá olhava o futuro com apreensão: um mêdo pânico da pobreza e o hábito do confôrto.


Sem ter sido jamais realmente bonita, certa graça femenina, responsável por seu sucesso junto aos homens, diluía-se com os anos e as rugas. Dera então a incrível sorte do comendador, "bilhete premiado com o prêmio gordo", como dona Dinorá confidenciara ás amigas, na época. O espanhol oferecera-lhe respeitabilidade e garantias, sem falar na casinha das vizinhanças do Largo Dois de Julho onde a instalou. Quem sabe devido ao medo de ver-se velha e pobre, à ameaça da prostituição de porta aberta, dona Dinorá, ao amparo do comerciante, converteu-se rápida no oposto do que havia sido: em respeitável matrona, em guardiã da moral. Tendencia a acentuar-se após a morte de Pedro Ortega e cada vez mais. Quando ele partiu, entre discursos e coroas mortuárias, a antiga mundana passava dos cinqüenta anos - cinqüenta e três para ser exato - e, nos oito de amancebamento, criara apêgo à virtude e á vida familiar.


O probo baluarte das classes conservadoras, grato á amante pela fidelidade e pela revelação de um mundo de ignorados prazeres (que bêsta fôra!, perdera os melhores anos de sua vida ao balcão da pastelaria e no corpo chôcho e ignorante da santa e agre espôsa), deixou-lhe em testamento - além da casa própria, ninho dos pecaminosos amores – ações e obrigações do Estado, renda módica, bastante, porém, para assegurar-lhe velhice sem sustos, por inteiro a serviço da difamação e da intriga.


Eis dona Dinorá já além dos sessenta: voz estridente, enervante gargalhada, constante agitação. Em aparência, a mais solidária e compreensiva velhota; em verdade, "um frasco de veneno, cascavel enfeitada com penas de pássaros", na frase quase poética de Mirandão, eterna vítima dessa categoria de comadres. Frase dita ao jornalista Giovanni Guimarães, ao ver a sessentona passar, muito viúva e sustentáculo da moral, por ocasião do almoço em casa de dona Any, quando da visita de Sílvio Caldas. Completara, filósofo moralista:


- Quanto mais puta em jovem mais séria na velhice. Ficou donzela e bucho ...


- Aquêle estrepe? Quem é?


- Não é de nosso tempo, mas já teve nome e apelido. Quem fala muito nela é Anacreon, andou bebendo nessa moringa. Você já ouviu falar, na certa. Atendia por Dinorá Sublime Cu. Quase mudo, Giovanni, em espanto e assombro:


- Isso aí? O Sublime Cu tão recordado? Meu Deus!


Prova da vaidade das coisas terrenas, consideraram humildemente os dois, ante tal exibição de virtude e o triste físico da leva-etraz: atarracada, tronco forte, pernas curtas, oveiro baixo, cabeçorra, champruda. Vestida de luto, como viúva verdadeira, medalhâo ao pescoço com a fotografia do comendador, de quem falava como se houvesse sido realmente sua espôsa e êle o único homem de sua casta vida.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Bela

Este autor(a) escreve mais 37 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Tipos como Anacreon, vergonha do gênero humano, era como se nem existissem; ela os desconhecia, simplesmente. Ladina, não ia direta aos assuntos, em acusações frontais; ao contrário, infernava os demais na maciota, parecendo tudo compreender e desculpar, elogiando uns e lastimando outros. Daí sua fama de bondosa e simpática, os ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais