Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada
Tipos como Anacreon, vergonha do gênero humano, era como se nem existissem; ela os desconhecia, simplesmente. Ladina, não ia direta aos assuntos, em acusações frontais; ao contrário, infernava os demais na maciota, parecendo tudo compreender e desculpar, elogiando uns e lastimando outros. Daí sua fama de bondosa e simpática, os louvores semeados em seu caminho de mexericos: "Criatura boa vai ali ..." Quando, por um azar,pegada em flagrante de intriga, dava-se por vítima: quisera fazer um benefício, em paga recebia a negra ingratidão.
Seu Christian, homem pacato, cedo na cama com seus imaginários achaques, as gazetas do dia e revistas velhas (adorava ler revistas velhas e almanaques antigos), ao ouvir o vozeirão de dona Dinorá, punha as mãos sôbre os ouvidos, em pânico, dizendo a dona Maite, com voz vencida mas não resignada, de quem já não tinha jeito a dar nas aporrinhações:
- Essa mulher é uma filha-da-puta, a maior filha-da-puta que tem por aqui ...
- Assim também é má-vontade demais ... Ela até que é boazinha... Por aí se vê quão hábil dona Dinorá: conseguira superar aquela história do filho de Dionísia, quando seu prestígio caíra a zero, voltando a obter o favor de dona Maite. Não, porém o de seu Christian:
- Boa filha-da-puta ... Veja se consegue, por favor, que ela não meta o nariz aqui, no quarto. Diga que estou dormindo, estou descansando ... Diga que eu morri ...
Quem era dona Maite para impedir Dona Dinorá de enfiar o nariz onde quisesse? Ia entrando, íntima da casa, de tôdas as casas de gente de consideração e dinheiro - para os pobres, bondosa, mas de uma bondade altiva e distante, muito protetora dos desprotegidos, mantendo-os, entretanto, no lugar (inferior) que lhes competia, sem lhes dar asa. Ia enfiando pelo corredor, pelo quarto:
- Dá licença, seu Christian? – Christian odiava aquela cabeçorra oxigenada, "cabeça de elefante, a maior da Bahia", a dentadura de cavalo, a voz e os cuidados: - Sempre doentinho, seu Christian? Eu vivo dizendo: "Seu Christian, com todo aquêle corpo, tem a saúde muito delicada. Qualquer coisinha, e está tremendo na cama, cercado de remédios". Digo e repito: "Se seu Christian não tomar cuidádo, um dia dêsses bate a bota ..."
Impressionável, Christian gostaria de expulsá-la a pontapés:
- Tenho uma saúde de ferro, dona Dinorá ...
- E por que fica assim na cama, seu Christian, por que não vem ilustrar a gente com sua prosa? Homem tão letrado, todo mundo diz que o senhor só não se formou porque ... Bem, o senhor sabe, o povo fala tanta coisa ... Se a gente fôr dar atenção ... Eu não ligo, vão falando, entra por um ouvido, sai por outro ...
Christian sabia onde ela desejava chegar: à sua dissoluta mocidade de filhinho-de-papai dissipador e malandro. O pai, desgostoso, cortou-lhe a mesada e, retirando-o dos estudos, o pôs na loja a trabalhar de caixeiro.
- Deixe o povo falar, dona Dinorá, não se importe ...
- O senhor também acha que a gente não deve se importar com o que falam de nós? Não deve mesmo? - abria os olhos graúdos, de boi, muito atenta, como se Christian fôsse um oráculo dos novos tempos.
- Eu, pelo menos ... - e, enchendo-se de vez: - Quer saber de uma coisa, dona Dinorá? Eu quero é paz, é descanso ... E, para ter um pouquinho de paz, vivo dando razão a quem não tem. E nem assim consigo ... Vêm me aporrinhar até aqui ... Com sua licença ... Tomando do jornal ou da revista, virava as costas à visita "Christian é mais bruto do que uma cavalgadura" - dona Maite sentia-se envergonhada - "e logo com dona Dinorá, tão boazinha..."
Rispidez, ao demais inútil, pois dona Dinorá não se dava por expulsa, persistindo solerte:
- O senhor já soube o que se passou com seu Vivaldo?
Ah! mulher mais diabólica, desgraçada! Pois não é que conseguia lhe despertar o interêsse? Christian largava o jornal, vencido:
- Com Vivaldo? Não sei não, o que foi?
- Pois eu lhe conto . . . Seu Vivaldo, homem direito, bonitão, hein! Parece um gringo, todo rosado . . .
Era sempre assim: após os elogios vinha a intriga, a maledicência, a denúncia de um trago a mais, da escapula de um marido, um nome de mulher, quase sempre de mulher-dama.
Autor(a): Bela
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Seu Vivaldo da funerária, segundo ela, num desrespeito às lápides, e aos esquifes, reunia, nas tardes dos sábados, por detrás das cortinas roxas com enfeites côr de prata, um grupo de hereges em arrenegado pôquer de apostas altas e vasto dispêndio de conhaque e genebra: - Uma falta de respeito, o senhor não acha? P ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21
Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
comentem por favor sim....
bjinhoss -
anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01
oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
Ah! Adorei sua web!
Obg!
Bjooo -
millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27
ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....
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marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41
2 leitorr
kkk -
bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13
eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs
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millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25
1 leitora... ja gostei.. posta logo!