Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada
Seu Vivaldo da funerária, segundo ela, num desrespeito às lápides, e aos esquifes, reunia, nas tardes dos sábados, por detrás das cortinas roxas com enfeites côr de prata, um grupo de hereges em arrenegado pôquer de apostas altas e vasto dispêndio de conhaque e genebra:
- Uma falta de respeito, o senhor não acha? Podia arranjar outro lugar para o vício . . . - ligeira pausa: - O senhor não pensa, seu Christian, que o jôgo é o pior dos vícios? Christian não pensava nada nem queria pensar, queria apenas um pouco de sossêgo mas dona Dinorá disparara de tramela sôlta: seu Vivaldo, sem dúvida honesto contribuinte, espôso excelente, ótimo pai de família, punha tudo isso em perigo, pois jogador mais dia menos dia
perde o contrôle e aposta até mulher e filhos. E, quando não os aposta, deixa-os ao deus-dará, ao abandono, em cruel desprêzo. Que melhor exemplo senão dona Any? Enquanto vivo o mísero marido, escravo da jogatina, curtira as penas do inferno; maltratada, ao léu, sofrendo horrores . . . Vejam, hoje, a diferença: enfim liberta, pode gozar da vida sem sobressaltos, sem agonias. Falando em dona Any, que acha o senhor, seu Christian, e você, Maizinha, meu bem, o que é que acha? Assim moderna e bonitona, não era uma injustiça continuar viúva, e de defunto tão pouco recomendável? Não era mesmo? Por que Maizinha, amiga do peito, não lhe dava uns conselhos?
Enquanto isso, ela, dona Dinorá, estudaria o caso na conjunção dos astros, com a bola de cristal e com os naipes de seus baralhos de cartomante amadora. Amadora só por não cobrar dinheiro, lendo o futuro de graça e por camaradagem, para atender pedidos, pois raras profissionais possuíam competência de adivinha igual à sua. Pelo menos para descobrir
salafrarices de qualquer espécie tinha uma intuição, um sexto sentido, um faro único. Um dom divinatório, atingindo o requinte da profecia. Não foi ela quem prognosticou, com mais de um ano de antecipação, o escândalo medonho da família Leite, gente de muito dinheiro e maior orgulho, trancada atrás dos muros de nobre mansão sôbre o mar, na Ladeira da Preguiça? Lera nos sebosos baralhos, olhara na bola de falso cristal, ou tão-sómente seu sádico instinto a advertira? Apenas a angelical Astrud, com o ar cândido de interna do Sacrê-Coeur, chegou do Rio para habitar com a irmã, e logo dona Dinorá, sem nenhuma razão aparente, previu o drama:
- Isso vai acabar mal ...
Assim profetizara ao ver a moça no automóvel com o cunhado, doutor Francolino Leite, - o "sátiro Franco", pará seu restrito círculo de íntimos - advogado de grandes firmas nacionais e estrangeiras, bebedor de uísque, fazendeiro no sertão e membro de Conselhos Diretores de prósperas emprêsas, senhor da maior fidalguia e arrogância. No volante do grande carro esporte americano, de piteira e cachecol, o causídico nem enxergava o bulício da gente simples do Sodré, do Areal, da rua da Fôrca, do Cabeça, do Largo Dois de Julho. Mas dona Dinorá o enxergava, ao advogado, não o perdia de vista: a par dos menores detalhes da vida na mansão senhorial, íntima de cozinheiras, copeiras, babás, do jardineiro e do chofer, brechando cunhado e cunhada com olhos de pressentimento:
- Vai acabar mal, ora se vai ... Pólvora perto de fogo ... Sem se comover com a postura inocente da estudante:
- Môça de ôlho baixo é descarada esperando ocasião . . . Tão injusta e absurda parecia, a ponto de ter sido destratada, com palavras ásperas e gestos de repulsa, por um rapaz vizinho, Carlos Bastos, pouco amigo de disse-que-disse e talvez um tanto seduzido pela doce Astrud:
- Não conspurque a pureza da môça com a baba da calúnia . . .
Quando o escândalo explodiu, quase dois anos depois-Astrud, com seu ar ingênuo e a barriga prenha de cinco meses, sendo expulsa do teto familiar pela irmã em fúria, o sátiro Franco de bucho farto, - prato suculento servido a tôda a cidade, dona Dinorá vingou-se do romântico Carlos Bastos (talvez ainda enamorado):
- Viu, bobalhão? A mim, ninguém me engana . . . Baba de calúnia não faz filho em môça, o que faz menino é descaração . . .
Autor(a): Bela
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Tinha olhos de ver e de prever, um faro de perdigueiro, ninguém escapava aos seus sentidos vigilantes. Aliás, os próprios vizinhos vinham lhe contar seus particulares mais íntimos, para lhe pedir consultas aos naipes de adivinha, à cristalina bola de evidências. Para ela, passado, presente e futuro eram cartas abertas, de leitura f&aa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 6
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bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21
Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
comentem por favor sim....
bjinhoss -
anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01
oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
Ah! Adorei sua web!
Obg!
Bjooo -
millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27
ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....
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marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41
2 leitorr
kkk -
bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13
eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs
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millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25
1 leitora... ja gostei.. posta logo!