Fanfics Brasil - Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada

Fanfic: Dona Any e Seus Dois Maridos - Adaptada


Capítulo: 98? Capítulo

19 visualizações Denunciar


Marilda dava corda ao suspirante ou o desprêzo lhe dava? Chegara a preciosa à idade do namôro; com mais dois anos concluiria o curso pedagógico, apta para noivado e casamento. Já se dera conta, aliás, do interêsse do indivíduo, mas atribuindo a responsabilidade a outra qualquer; á escabreada Maria, ás bonitas filhas do doutor Ives, à


professorinha Balbina quem sabe? Mas, se nenhuma delas vivia em frente ao poste, não se avistando dali suas janelas e, sim, as da sala de visitas de dona Any, onde só Marilda se demorava a ouvir rádio e a ler romances da "Coleção Menina-e-Moça", havia de ser por ela a vigília e a melancólica postura do mané-teimoso.


Pela fresta da janela, brecharam o camarada: "é lindo", suspirou Marilda, inconstante coração já disposto a sacrificar o namorico com Mecenas, colega do pedagógico, frangote de sua mesma idade. Concordava dona Any: "uma galanteza de rapaz", bem jovem ainda, não teria mais de vinte e três ou vinte e quatro anos, na medida exata para a futura mestra. Era preciso tomar informações, saber se exercia profissão liberal e rendosa, ou se possuía bom emprêgo em Banco ou escritório. Talvez fôsse rico, e assim o demonstrava, pois não tinha horário para exibir-se na rua, escorando o poste defronte à casa de dona Any.


Gastou Marilda inútilmente seus sorrisos, não foi correspondida. Saía porta a fora em direção ao Largo ou bem para sentar-se cismarenta na balaustrada do pátio da Igreja de Santa Tereza- sítio tão ideal para declaração e juras de amor jamais existiu nem existirá, assim idilico; com o céu tão próximo e azul, o mar lá embaixo verde escuro, as paredes seculares do templo e ainda, com certeza, a compreensiva benção de dom Clemente para qualquer esquivo beijo herético.


Não a seguira no entanto o Príncipe, nem para o tumulto do Largo, nem para a paz e o silêncio do mirante sôbre as águas. Não abandonava o poste, como se estivesse a êle acorrentado, os olhos fixos nas venezianas da Escola. Ora, se tampouco era Marilda o alvo de seus suspiros a quem atribuí-los senão à própria dona Any?


Assim concluíram comadres e amigas e até Marilda, apesar de sua pouca idade e experiência:


- Eu acho que êle está de ôlho é em você, Any.


- Em mim? Tu está doida? ...


Dias depois, indo ela de compras com dona Maite pelas lojas da rua Chile, êle as acompanhara, tomando o mesmo bonde, a fumar cigarro sôbre cigarro e a sorrir tão terno e precisado de carinho. Dona Maite até quase se zanga ao dar-se conta, imaginando dona Any com segredos para ela.


- Muito bonito ... A senhora de pretendente e não me disse nada...


- Nem sei quem é ... Vive plantado faz uns dias em frente lá de casa, nunca vi mais gordo antes, pensei que fôsse com alguma aluna, mas vi que não. E com Marilda, que eu disse e parecia, mas também não era. Até a pobrezinha ficou triste. Não sei que diga ...


Na maior das excitações, dona Maite examinou o janota erquer longos e ostensivos olhares, que ela pensava discretíssimas miradas de relance:


- Bonito pra burro ... Só que parece um tanto moderno demais ... – e após novos olhares, retificando: - Não é tão moderno como aparenta e, para dizer a verdade, é bonito demais para meu gôsto ...


- Bonito ou feio, não me interessa ...


Saltaram do bonde, o tipo atrás. Num átimo, dona Maite traçara complicado itinerário capaz de pôr a limpo se o desmilingüido vinha ou não no rastro delas. Logo ficou patente e claro. Sem tentar aproximar-se nem lhes dirigir a palavra mantendo-se a prudente distância com seu sorriso coquete e o olhar súplice, não as perdera de vista um só instante. Se entravam numa loja, êle na porta punha-se à espera; se dobravam uma esquina, êle as seguia; se paravam ante uma vitrine, da vitrine imediata êle as observava. Como duvidar ainda?


As comadres vinham sozinhas ou em grupo espiá-lo ao pé do poste. Como era lindo e parecia infeliz, suplicando ternura a graça de um olhar, de um sorriso, de uma esperança, formavam tôdas de seu lado, a seu favor, tentando inclusive adaptá-lo à visão do noivo revelada na bola de cristal. Não era êle moreno e distinto, talvez doutor e com dinheiro? Quanto à idade e outros atributos físicos, talvez o desencontro se devesse à miopia de dona Dinorá, enxergando maturidade onde devera ver juventude, forte tronco onde existia peito fraco, saúde de ferro em lugar de pálida languidez. O melhor, na opinião de tôdas as comadres, era a vidente consultar de nôvo o cristal e os baralhos, pondo fim àquelas obscuras contradições.


Assim o fez dona Dinorá ante a expectativa do bairro em polvorosa, uma onda crescente de simpatia e solidariedade a cercar Eduardo, o Príncipe das Viúvas, ancorado ao poste de eletricidade, fitando o lar de dona Any, sua próxima escala, pôrto de aguada e a abastecimento. Aconteceu, porém, ter-se repetido na bola de cristal e na leitura dos baralhos o perfil enérgico do quarentão soberbo com seu anel de grau e sua rosa côr de vinho. Estando a visão envôlta em fumaça, - como sucede sempre no mistério das revelações -, não podia dona Dinorá precisar a qualidade da pedra no anel de doutor, esclarecendo-lhe de vez a profissão. Mas podia, com absoluta certeza e alguma pena do môço pálido a suspirar na esquina, garantir nada ter de comum com êle o verdadeiro pretendente, o futuro noivo ainda a aparecer. Por mais se esforçasse ela, curvada sôbre o límpido cristal ou sôbre os vistosos naipes, concentrando-se nos eflúvios hindus do Ganges, nas secretas legendas dos templos do Tibet, nada obteve: as fôrças ocultas da magia oriental persistiam na firme decisão de negar passagem ao Príncipe Eduardo (de Tal). Também nos ebós dos candomblés, em sacrifícios de conquéns e pombos, de galos e de um bode negro, despachos encomendados por Dionísia de Oxóssi para defender sua comadre dona Any dos malefícios e dos malvados, Exu fechava seus caminhos, trancava suas encruzilhadas para o galante sedutor, especialista sem rival em consolar viúvas, roubando-lhes os solitários corações e, de passagem, haveres e economias, cobres e pratas, anéis e jóias.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Bela

Este autor(a) escreve mais 37 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

  4     Aquêles oito meses de viuvez transcorridos após o primeiro tão aflito, dona Any os atravessara num redemoinho de que-fazeres e de inocentes passatempos. Até aliviar o luto pouco saíra - visitas aos tios no Rio Vermelho, a algumas amigas mais intimas-, enchendo o tempo em casa, com a Escola, as encomendas, a vizinha ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 6



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • bela Postado em 08/09/2009 - 11:57:21

    Postei em Dona Any e Seus Dois Maridos ....
    comentem por favor sim....
    bjinhoss

  • anacarolinaa Postado em 30/08/2009 - 20:53:01

    oii! será que você pode conferir minha mini web De Repente ?
    Ah! Adorei sua web!
    Obg!
    Bjooo

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 20:26:27

    ADOREIIIIIIIIIIIIII... POSTA MAIS...., PLIS....

  • marcos00 Postado em 26/08/2009 - 20:24:41

    2 leitorr

    kkk

  • bela Postado em 26/08/2009 - 19:54:13

    eba !!!! primera leitora... q bom q gostou ... espere q goste do resto...rsrsrs

  • millarbd Postado em 26/08/2009 - 17:00:25

    1 leitora... ja gostei.. posta logo!


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais