Fanfic: Êxtase Adp. *AyA*Ponny*

CAPÍTULO TRÊS

Alfonso estava perambulando em direção à garagem de dois andares em uma construção à parte, sempre seguido de perto por Anna. Ele assoviava baixinho, determinado a ignorar a agitação interna. Era para isso que servia gente agitada: para perturbar o resto do mundo com sua pressão, sua pressa, enlouquecendo a todos.

Bem, mas ele não deixaria que ela o enlouquecesse. Então Anahí haveria aparecido de surpresa. Ele estava calmo. Tranqüilo. Impassível. Pensaria em um modo criativo e sereno para se livrar dela.

Era assim que a tartaruga acabava vencendo a lebre.

Sorrindo ao pensar na ideia maldosa que estava surgindo em sua mente, abriu a porta da garagem e acendeu as luzes fluorescentes. Passou pelo pequeno Honda Civic vermelho de Anahí, estacionado perto demais do trator aparador de grama e dos demais equipamentos de jardinagem, e foi direto até as escadas.

No segundo andar ele encontrou o que procurava. Os tesouros dos tempos de garoto que o pai deixara para ele e que Francesca jamais permitira que ele levasse para casa.

Enquanto Anna farejava tudo, Alfonso ficou relembrando o passado. Descobriu um trenzinho elétrico que seu pai construíra com madeira compensada. Achou pernas de pau. Um skate. Duas bicicletas. Uma bola de futebol murcha. Uma luva de beisebol gasta. Aviões. Soldados de plástico. Uma caixa de giz de cera quebrados. Jogos de tabuleiro.

Em um canto estava sua bateria. Quando criança, sempre que se aborrecia com a vida corria para ela e descarregava as tensões. Sentou-se no banquinho detrás da bateria e soprou o pó de sobre os pratos. Pegou as baquetas. Começou a levar um ritmo e Anna caiu fora.

Bang, crash, bang.

Uma conhecida serenidade o envolveu, e ele chegou a sentir a tensão se desfazendo de seus ombros. Enquanto tocava, ele maquinava.

Hummm, o que levaria uma mulher agitada como Anahí a perder a calma para valer?

Qualquer coisa lenta e arrastada.

Qualquer coisa que ela considere trivial ou frívola.

Qualquer coisa que a faça parar para pensar sobre a razão de estar em constante atividade para se sentir mais viva.

O que ele precisava era de uma idéia que incorporasse estes três elementos. Algo vagaroso, leve e provocante. Algo que a fizesse voltar para Manhattan e deixá-lo em paz.

A verdade era que ele gostava de sua rotina. Era tão confortável quanto a pele gasta do bumbo no qual batia com o pedal despreocupadamente.

Bang, bang, crash, tum.

Ficou tocando o bumbo. Tum, tum, tum. Gostava do som distante e vazio que se fazia.

Como resolver um problema como Anahí?

Como?

 Alfonso só conseguia imaginar uma coisa que incorporava estes três elementos que confrontariam aquela mente obstinada e voltada para o sucesso profissional. Só havia uma solução para fazer com que Anahí voltasse rápidamente para a terra de edifícios altíssimos e gente sedenta de poder.

Algo do tipo bem safadinho e doce, sem pressa.

Ele começou a respirar mais rápido, acompanhado pelo ritmo das batidas.

Bang, clash, clash. Bang, bang.

Alfonso pisava vigorosamente no pedal, animado pelo rumo de seus pensamentos maldosos.

Tum. Tum. Tum. Tum.

De repente, ele soube exatamente o que fazer.

Ia dizer a ela que aceitava o trabalho se ela concordasse em ficar com ele durante o tempo necessário para criar o software. Coisa de seis semanas, ou até mais.

Mas e se ela topasse?

Boa pergunta. Bem, se ela aceitar suas condições estará provando seu grau de comprometimento com o trabalho, além de mostrar como estava profundamente perdida e precisando de algum tipo de intervenção. Se ele tivesse de se sacrificar para salvá-la, tudo bem.

Realizar seu plano seria uma jogada calculada, e ele sabia muito bem disso. Mas mesmo que não desse certo, ele acabaria ganhando alguma coisa. De uma vez por todas, aprenderia a separar sexo e amor.

Tum, tum, tum... bumpt

A força de seus golpes no pedal rasgaram a pele velha da bateria. O ponto já gasto se rompeu.

O mesmo ponto na pele que antes se adequava perfeitamente à batida, agora se transformara em um buraco rasgado.