Fanfic: Êxtase Adp. *AyA*Ponny*

Foi quando ouviu o som de saltos altos no assoalho e sentiu o aroma de um perfume adocicado lhe atraindo o olhar em direção à porta.

Uma loura alta e estonteante deu uma olhada da porta e foi em direção ao bar, deixando entrar com ela um vento intenso. Ele conhecia aquele tipo de mulher, pois as via diariamente pelas ruas de Nova York, dominando as calçadas com sua determinação inquebrantável. Duronas. Voltadas para o sucesso. Autocentradas. Ele as via e sentia pena delas.

Elas não tinham concatenação, não tinham conexão nenhuma com nada que realmente fizesse sentido. Tudo nelas cheirava a dinheiro, status e imagem.

Ela parecia ter seus vinte e tantos anos, talvez uns dois anos a menos que os vinte e nove anos de idade dele. Usava maquiagem perfeita e um vestido discreto — mas visivelmente caro — de seda azul, mangas longas e corte clássico bem ao gosto das executivas que queriam parecer profissionais sem perder a feminilidade. Debaixo de um dos braços ela trazia uma pasta fina de couro preto e no outro carregava uma pequena bolsa azul combinando com o vestido.

Mas a única coisa que a entregava mesmo eram os sapatos ultra-sofisticados. De salto alto em tons de azul e prata, totalmente impróprios para andar pelo French Quarter, mas perfeitos para exibir belas panturrilhas.

Suas feições eram mais cativantes do que belas. Não era nenhuma anoréxica, o que o agradava muito. Belos seios que não eram grandes demais nem muito pequenos, bem proporcionais à sua cintura fina.

Seus cabelos tinham um corte chique e bem feito e ele reparou que ela usava uma franja rala para disfarçar a testa alta. Seus olhos eram um pouquinho pequenos, mas ele sempre teve uma queda por mulheres com olhos castanhos e profundos que se apertavam quando elas sorriam. Alfonso sentiu que queria ver os olhos dela se apertarem e brilhar. E queria tocá-la.

Não, queria era um termo muito brando para o que ele estava sentindo. Ele estava louco para tocá-la. Para descobrir exatamente como era sentir aquela pele. Sua delicadeza e maciez. De repente, ele sentiu seus dedos queimarem de vontade.

Só de olhar para ela, Alfonso começou a ter pensamentos eróticos, no meio da noite, em lençóis de cetim, e ao amanhecer.

Se ele a beijasse, será que sentiria o gosto de fantasias proibidas e de um pecado sensual?

Seu corpo inteiro começou a reagir ao inesperado desejo. Ele estava começando a sentir sua virilidade pulsar entre as pernas. Era um caso de luxúria à primeira vista.

Obviamente, fazia muito tempo sim que ele não ia para a cama com ninguém.

Remy se levantou da mesa e foi para detrás do balcão, deixando Alfonso observar a recém-chegada por debaixo de seu boné de brim. A mulher foi em direção ao bar como quem sabe exatamente o que quer.

Com certeza não era nenhuma turista. Aquela mulher tinha uma missão a cumprir.

Alfonso inclinou a cabeça e esperou com interesse para ver o que ela iria pedir.

Um martini? Um Manhattan? Um Cosmopolitan. Com certeza não pediria cerveja. Cerveja, nunca. Uma simples mistura de cevada e lúpulo não conferia o prestígio necessário.

— Bonjour, mademoiselle — Remy a saudou, propositalmente injetando uma forte camada do charmoso sotaque francês cajun que os turistas tanto adoravam.

Alfonso invejava o sotaque do irmão. Durante suas viagens pelo mundo, e por insistência de Francesca, ele teve aulas de pronúncia para erradicar qualquer traço daquilo que ela chamava de "sotaque lerdo de Louisiana", de modo que não tinha como evitar o tom suave, neutro e urbano de sua voz, por mais que tentasse.

— Boa tarde. — A mulher sorriu para Remy.

— O que deseja, chèrél

— Perrier. — Ela abriu a carteira e tirou uma nota de dez dólares. — E umas informações.

— Informações? — Remy levantou a sobrancelha de um modo estranho enquanto abria a garrafa e servia a água em um copo. O som borbulhante preencheu o silêncio.

Enquanto Alfonso observava a mulher, percebeu que ele talvez tivesse sido um pouco cruel em seu primeiro julgamento. Por debaixo de seu passo indomável, seus ombros aprumados e seus olhar franco e direto, ele sentiu uma certa vulnerabilidade que nenhuma vida profissional agitada ou um grande sucesso seriam capazes de disfarçar. Ele percebeu pelo jeito que ela hesitou por uma fração de segundo e brevemente cravou os dentes no lábio inferior. Estaria querendo ganhar coragem?

Talvez ela nem fosse tão autoconfiante quanto parecia, mas sabia esconder bem suas inseguranças.

Aquele doce traço de contradição causou algo estranho nele.

Bum! Seu coração começou a chutar dentro do peito e sua boca ficou seca inexplicavelmente.

Ela prendeu uma mecha de cabelos detrás da orelha em um gesto resoluto, sentou-se em um banco do bar e apoiou os saltos altos no degrau de madeira.

— Estou à procura de Alfonso Herrera. Tem ideia de onde eu possa encontrá-lo?

Êpa! Ela estava procurando por ele. Isto não era bom sinal. O tradicional enjôo que sentia sempre que seu passado vinha à tona já estava lhe revirando o estômago.

Percorreu com os olhos o corpo dela de novo, desta vez ignorando suas curvas exuberantes enquanto se perguntava qual seria seu trabalho. Estava bem vestida demais para ser detetive particular. Não era subserviente a ponto de ser uma das criadas de Francesca. Se não fosse pelos sapatos sensuais, ele diria que ela era advogada.

Talvez fosse mesmo advogada, apesar dos sapatos provocantes. Depois de dois anos ele ainda estava se esquivando dos reflexos do desastre com o projeto de Migosaki. Santo Deus, mas será que isto não acabava nunca? Será que não podiam deixá-lo em paz?

Bem, Remy conseguiu o que queria. Agora Alfonso tinha algo com que ocupar a mente.

Remy deu uma olhada rápida em direção a Alfonso. Quer que eu revele seu esconderijo ou não?

Seu impulso preliminar foi de fazer que não com a cabeça, correr em direção à porta e sumir por entre a multidão. Mas ele já havia aprendido, e da maneira mais dura, que não podia simplesmente fugir de seus problemas.

Além do que, este problema em particular o atraía de modo intrigante.

Mas do fundo de sua mente uma voz dizia: você sabe que não é o tipo de cara que gosta de sexo casual.

Isso era verdade. Ele jamais gostou de tratar sexo como algo casual, como a maioria dos homens fazia. Além de Angeline, só teve uma parceira sexual, uma namorada da época de escola.

Dizia que sua lealdade sexual se devia à enorme necessidade de conexão que tinha. Por ter crescido em um lar partido, sem um lugar fixo para chamar de seu, pulando de um continente a outro, de uma família postiça para outra, Alfonso queria mais que tudo uma mulher estável com quem pudesse construir uma vida. Por isso, ele teve tanta dificuldade em terminar o relacionamento com Angeline, mesmo quando já estava suficientemente claro que os valores básicos dos dois eram bem distintos.

Mas ele não era mais nenhuma criança cuja mãe estava muito ocupada com suas crises histéricas para lhe dar um mínimo de atenção. Será que não estava na hora de superar aquele seu impulso irritante de equiparar sexo a amor?

Não que ele estivesse tirando conclusões precipitadas sobre a srta. Nova York. Mas seu desejo inesperado por ela despertou certas questões.

— Alfonso Herrera? — repetiu ela para Remy. - Pelo que sei ele é um dos proprietários deste bar.

Alfonso levantou a aba do boné com um dedo e apoiou no chão a cadeira na qual se equilibrava.

— Eu sou Alfonso Herrera.