Fanfic: Entre o Agora e o Nunca - Vondy [ Finalizada ] | Tema: RomanVondy

— Quanto tempo você vai ficar? — Christian pergunta.

— Não muito.

— Por que isso não me surpreende? — Ele dá uma mordida no seu hambúrguer.

— Não começa com essa merda, Christian, não tô a fim disso, e aqui não é a hora nem o lugar, por/ra.

— Você que sabe — Christian diz, balançando a cabeça e mastigando a comida. Ele mergulha algumas batatas fritas num montinho de ketchup que Maite fez num guardanapo no meio da mesa. — Faz o que você quiser, mas esteja aqui pro enterro.

Não há emoção no seu rosto. Ele simplesmente continua a comer. Eu fico completamente paralisado.

— Por/ra, Christian — Tomas diz atrás de mim. — Dá um tempo, cara! Fala sério, mano, o Christopher tem razão.

Tomas sempre foi o mediador entre mim e Christian. Sempre foi o mais equilibrado. Eu e Christian pensamos melhor com os punhos. Meu irmão mais velho sempre ganhou de mim quando éramos mais novos, mas mal sabia ele que sempre que me enchia de por/rada estava me treinando.

Agora estamos no mesmo nível. Evitamos as vias de fato a todo custo, mas sou o primeiro a admitir que não sei segurar minha onda tão bem quanto ele. E Christian sabe disso. Por isso está ficando na dele, agora, e usando Maite como uma distração. Ele limpa um pouco de ketchup da boca da esposa. Ela dá uma risadinha.

O olhar de Dulce cruza o meu; provavelmente ela está tentando chamar minha atenção há alguns minutos, e por um momento penso que quer me avisar que é hora de ir embora, mas ela só balança a cabeça, pedindo que eu me acalme.

Obedeço na hora.

— Então — Tomas diz, para aliviar a tensão no ambiente —, há quanto tempo vocês estão saindo? — Ele se apoia na parede perto do aparelho de TV, cruzando os braços no peito.

Somos quase idênticos, com o mesmo cabelo castanho e as por/ras das covinhas. Christian é o esquisito do trio; seu cabelo é bem mais escuro, e em vez de covinhas, ele tem uma pinta na bochecha esquerda.

— Oh, não, somos só amigos — digo.

Acho que Dulce ficou vermelha, mas não tenho certeza.

— Deve ser uma boa amiga, pra vir até o Wy oming com você — Christian diz. Por sorte, ele não está sendo babaca. Se decidisse descontar nela a raiva que sente de mim, eu ia ter que quebrar a cara dele.

— Pois é — Dulce diz, e sou instantaneamente absorvido pela doçura da sua voz —, eu moro perto de Galveston; achei que alguém devia viajar com o Christopher, já que ele vinha de ônibus.

Fico surpreso por ela lembrar a cidade onde falei que morava. Christian faz que sim com a cabeça para ela com simpatia; suas bochechas se movem enquanto ele mastiga.

— Maior gata, mano — ouço Tomas cochichar atrás de mim. Eu me viro e o silencio com o olhar. Ele sorri, mas cala a boca.

O velho se mexe quase imperceptivelmente e Tomas se aproxima do lado da cama. Ele dá um soquinho amigável no nariz de papai.

— Acorda. A gente trouxe hambúrguer.

Christian levanta seu sanduíche como se nosso pai pudesse vê-lo.

— Tá bem gostoso. Melhor acordar logo, senão a gente come tudo.

Papai continua imóvel.

Ele treinou muito bem os três filhos. A gente jamais pensaria em ficar em volta da cama dele, deprimidos e essas merdas todas. E, quando ele morrer, Christian e Tomas provavelmente vão pedir uma pizza e uma caixa de cerveja e ficar falando merda até amanhecer. Eu não estarei aqui para participar disso. Aliás, quanto mais tempo eu ficar, maior a chance de ele morrer antes que eu vá embora.

Falo com meus irmãos e com Maite mais alguns minutos, e então me aproximo de Dulce.

— Você tá pronta?

Ela pega minha mão e fica de pé.

— Já vão embora? — Christian diz.

Dulce fala antes de mim, dizendo com um sorriso: — Ele volta; a gente só vai comer alguma coisa.

Ela está tentando desarmar a discussão antes que comece. Olha para mim e eu, concordando em fazer o mesmo, viro para Tomas e digo: — Me liga se alguma coisa mudar.

Tomas concorda com a cabeça, mas não diz mais nada.

— Tchau, Christopher — Maite diz. — Foi bom te ver de novo.

— Você também.