Fanfics Brasil - Capitulo 11 (PARTE 2) A probabilidade estatística do amor à primeira vista(adaptada)

Fanfic: A probabilidade estatística do amor à primeira vista(adaptada) | Tema: Vondy


Capítulo: Capitulo 11 (PARTE 2)

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Observa os anúncios nas paredes enquanto escuta a variedade de sotaques das pessoas ao redor. Não há apenas o sotaque britânico, mas também francês e italiano, e outros que nem reconhece. Ela vê um policial com chapéu meio antiquado, e um homem brinca com uma bola de futebol nas mãos. Uma menina começa a chorar e sua mãe se abaixa para falar com ela numa língua estranha, gutural e dura. A menina volta a chorar.


Ninguém repara em Dulce, ninguém, mas, mesmo assim, nunca se sentiu tão visível: muito pequena, muito americana e obviamente muito sozinha e insegura.


Não quer pensar no pai e no casamento que deixou, nem mesmo em Christopher e no que talvez descubra quando encontrá-lo. O trem ainda vai demorar quatro minutos e sua cabeça dói. O tecido sedoso do vestido está grudando e a mulher a seu lado está muito próxima. Dulce faz uma careta por causa do cheiro úmido, velho e acre, como uma fruta podre num lugar muito pequeno.


Ela fecha os olhos e pensa no conselho que o pai deu no elevador em Aspen, quando as paredes a estavam sufocando como um castelo de cartas, e imagina o céu acima do teto arqueado do metrô, acima das calçadas, além dos prédios estreitos. Esse pensamento vem sempre na mesma forma, como um sonho repetido noite após noite, sempre a mesma imagem: algumas nuvens esparsas como um toque de tinta numa tela azul. Porém, agora tem uma figura nova no quadro, aparecendo lentamente, uma coisa que corta o céu azul de sua imaginação: um avião.


Abre os olhos de novo ao ouvir o trem saindo do túnel rapidamente.


Dulce nunca tem certeza se as coisas são tão pequenas quanto parecem ou se é apenas o pânico que as encolhe. Sempre se lembra de estádios como sendo um pouco maiores que meros ginásios; casarões viram apartamentos em sua mente, por causa do número de pessoas lá dentro.


Fica difícil dizer se o metrô é mesmo menor que os de sua cidade, nos quais sempre andou, tentando manter a calma, ou se é o nó em seu peito que faz com que pareça uma caixa de fósforos.


Para seu alívio, consegue sentar na ponta de uma fileira de assentos e imediatamente fecha os olhos de novo. Não está funcionando. Quando o trem sai da estação, lembra-se do livro em sua mochila e o pega de novo para se distrair. Passa o dedo nas letras da capa antes de abri-lo.


Quando era pequena, costumava entrar escondida no escritório do pai em casa. Havia prateleiras que iam do chão até o teto, todas cobertas com livros de capas simples gastas e de capas duras rachadas. Tinha apenas 6 anos quando se sentou na poltrona com o elefantinho de pelúcia e uma edição de Um conto de natal nas mãos. Leu com a atenção de quem procura material para uma dissertação.


— O que você está lendo? — perguntou o pai, encostado na porta e tirando os óculos.


— Uma história.


— Uma história? — perguntou, tentando ficar sério. — Que história?


— De uma menina e do elefante dela — informou Dulce.


— É mesmo?


— É — disse ela. — E eles viajam juntos de bicicleta e aí o elefante foge, e ela chora tanto que uma pessoa traz uma florzinha.


O pai atravessou a sala e a levantou da poltrona — Hadley segurou o livro desesperadamente. Como num passe de mágica, ela foi parar no colo dele.


— E o que acontece depois? — perguntou.


— O elefante encontra a menina de novo.


— E depois?


— Ele ganha um bolinho. E eles vivem felizes para sempre.


— Que história linda.


Dulce abraçou seu elefante de pelúcia.


— É mesmo.


— Quer que eu leia outra história para você? — perguntou o pai e pegou o livro com calma, virando as páginas até a primeira. — É sobre o Natal.


Ela se encostou no tecido macio da camisa e ele começou a ler.


Não era nem a história que ela amava tanto; não entendia nem metade das palavras e se sentia perdida no meio das frases. Era o som rouco da voz do pai, as vozes engraçadas que fazia para cada personagem, o fato de deixá-la virar as páginas. Toda noite depois do jantar, eles liam sozinhos no ambiente silencioso do escritório. Às vezes, a mãe ficava parada à porta, com o pano de prato na mão e um sorriso no rosto, e ouvia um pouco, mas geralmente eram só os dois.


Mesmo quando já conseguia ler sozinha, ainda percorriam os clássicos juntos, desde Anna Karenina até Orgulho e preconceito e As vinhas da ira, como se viajassem pelo globo terrestre, deixando buracos nas prateleiras que mais pareciam dentes que tivessem caído.


Mais tarde, quando ficou claro que ela gostava mais dos treinos de futebol e do telefone que de Jane Austen e Walt Whitman, quando as horas começaram a passar mais rápido e cada noite virou apenas mais uma, não fazia mais diferença. As histórias já eram parte dela; já estavam correndo em suas veias, cresceram dentro dela como um jardim. Eram tão profundas e significativas como qualquer outra característica que o pai tinha deixado: os olhos azuis, o cabelo claro como o trigo, as sardas no nariz.


De vez em quando, ele voltava para casa com um livro para ela, presente de Natal ou de aniversário, ou sem motivo algum. Alguns deles eram edições antigas com letras douradas, outros de capa de papel, comprados a um ou dois dólares numa vendinha qualquer na rua. A mãe sempre ficava preocupada, ainda mais quando era um livro que já existia na casa.


— Esta casa está a dois dicionários de afundar no chão — dizia —, e você ainda compra livro repetido?


Mas Dulce compreendia. Não era para ler tudo. Leria no futuro, mas naquele momento o importante era o gesto. Estava dando para a filha a coisa mais importante que podia dar, a única que conhecia. Era um professor, um amante das histórias, e estava construindo uma biblioteca para a filha, da mesma forma que outros pais construíam casas.



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Autor(a): leticialsvondy

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Sendo assim, quando ele lhe deu o Nosso amigo comum aquele dia em Aspen, depois de tudo o que havia acontecido, o gesto foi extremamente familiar. Ela estava chateada com a partida do pai, e o livro só piorou as coisas. Dulce fez o que mais sabia fazer; ignorou o presente. Agora, dentro do trem que caminha pela cidade como uma serpente, ela se sente surpreendentement ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 12



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  • minhavidavondy Postado em 07/05/2016 - 23:19:33

    Ameiiiiiiiiiiiiiiiiii

  • stellabarcelos Postado em 28/12/2015 - 21:17:51

    Amei

  • kathleen_ Postado em 07/10/2014 - 21:13:21

    nossa já acabou? UAU não sei o que falar

  • wermelinnger_ Postado em 06/10/2014 - 23:52:20

    ai amoooooo essa weeeeeeeb *-* ... posta maaais

  • kathleen_ Postado em 05/10/2014 - 21:35:27

    posta maisss

  • kathleen_ Postado em 05/10/2014 - 21:35:11

    PELO AMOR DE DEUS CONTINUAAAAAAA

  • kathleen_ Postado em 03/10/2014 - 06:48:58

    leitora nova continuaaa to amando essa fic

  • leticialsvondy Postado em 27/09/2014 - 16:49:13

    nyb eu não sabia que tinha sido posta aqui no site, só li o livro e gostei, e resolvi adaptar para vondy, pois é meu csal preferido.

  • nyb Postado em 27/09/2014 - 16:35:52

    Olá essa fic. Foi postada anteriormente por uma amg minha na versao ponny acharia pelo menos justo ter pedido a ela pra adptar vondy ou credita-la ja q o livro nn é mto conhecido.. Apenas minha opnião

  • milah_cruz Postado em 27/09/2014 - 15:02:33

    leitora nova continuaaa.... to amando


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