Fanfic: Love is Here | Tema: Cavaleiros do Zodíaco
Desgosto...
Este era o sentimento predominante no olhar de Aioria ao fitar a expressão fechada de seu irmão. Ele recusava-se a acreditar que Aioros, tão maduro e bem resolvido como era, ou mesmo aparentava ser estava encarando aquela situação de uma maneira tão infantil.
Estavam os dois frente à frente, e o olhar de raiva e indignação do mais velho sobre si deixava o loiro menor ainda mais desgostoso de tudo aquilo...
– Não posso acreditar que esteja fazendo isso, não consigo acreditar que esteja levando as coisas para esse lado... - a voz do leonino saiu um tanto chorosa, mas mantendo a sua firmeza habitual.
O mais velho passou a mão pelos seus curtos e macios cabelos castanhos e virou-se de costas para o outro. Era sufocante pensar em tudo aquilo. Esmurrou então a porta fechada da geladeira à sua frente, evidenciando a raiva e a frustração que lhe tomava o interior naquele momento.
Aioria apenas observava as reações impulsivas do irmão a cada instante, e se perguntava mentalmente o porquê de tudo aquilo...
–---- FLASHBACK -----
Os olhos se encararam na escuridão daquele recinto... As íris esverdeadas de ambos brilhavam com intensidade ao mirarem na profundidade um da outra... Era um sentimento mútuo.
Os corpos já despidos demonstravam de forma evidente o desejo que um sentia pelo outro, e antes que qualquer outra coisa fosse dita, os lábios se tocaram... Deixando que um beijo de desejo e Amor confirmasse o sentimento que sentiam... E agora, consumavam...
O Corpo de Aioria deitou-se por sobre a capa, tendo o de seu irmão caído por sobre ele logo em seguida... O beijo se intensificava, as mãos ávidas passeavam pelas peles bronzeadas e macias; e o prazer se mostrava de uma forma que eles jamais imaginariam viver...
–---- FIM DO FLASHBACK -----
Aioros respirava de forma intensa e alta, enquanto encarava com um olhar sofrego o seu punho fechado contra o amassado que fizera na Geladeira.
Aioria cruzou os braços e desviou o olhar... Como ele poderia estar fazendo isso?! À poucas horas atrás, trocaram juras de Amor, de compromisso, de fidelidade... Viveram um momento único e se entregaram por completo um ao outro... E assim como a noite se vai com o raiar do Dia, aquele mesmo e belo sentimento que partilhavam pareceu desaparecer como por mágica com o resplandecer daquele Domingo.
O mais velho virou-se então para seu irmão, que preferia olhar para qualquer outro lugar naquele recinto que para ele... Os olhos verdes do leonino estavam lacrimejando naquele momento... Sentia-se mal, perplexo e ao mesmo tempo desolado. Não conseguia acreditar de nenhuma maneira em como o seu amado irmão o estava impondo à uma situação daquelas... Era torturante demais....
– Me perdoe; eu falhei com você... E eu me odeio por isso... - começou a comentar Aioros, com uma voz trancada, firme, e também quase chorosa... O olhar dele evidenciava uma dor que Aioria não conseguia entender... - Eu não acredito que deixei isso chegar tão longe, não acredito a que ponto eu permite que as coisas acontecessem; Aioria, eu.... - tentou dizer algo, enquanto encarava a face rubra de seu irmão; rubra do choro que já caía de seus olhos. - Me perdoe por te forçar a isso, e por levar as coisas para esse lado... - as lágrimas já caíam do rosto do Castanho. Ele estava sufocado; sentia-se mal, péssimo na verdade, e principalmente... Culpado...
–---- FLASHBACK ------
A Fogueira iluminava aquela pouca área em que estavam na planície daquele deserto vasto. Atrás dele, estava o trailer velho e surrado que usavam para viajar pelo país como espíritos livres que eram...
Sem o uso de camiseta, Aioria esquentava seu peitoral e abdômen fortes e definidos no calor daquelas brandas chamas... Seu olhar se encantava com o dançar sensual do fogo a sua frente... Um sorriso leve, e meio que inexplicável surgiu em seus lábios... Ele se sentiu bem ali... Estava quente e aconchegante, e a noite estava estralada... Podia contemplar o vasto manto negro do céu com suas inúmeras estrelas cintilantes... E até mesmo o frio vento da noite no deserto tornava-se quente ao tocar sua fase e fazer levitar seus curtos cabelos cor de mel.
Logo, ouviu a porta do trailer se abrir, e então mirou o homem que de lá saiu... Aioros estava como ele; sem a parte de cima de suas vestes, e usara apenas uma bermuda Jeans velha e surrada... Caminhou então em direção a fogueira aonde seu irmão estava, sem é claro de deixar ser seguido pelo atento olhar do outro.
Sentou então ao seu lado, num tronco velho e oco que encontraram por acaso naquelas redondezas, e ali ficaram a se esquentar naquele fogo. Aioria o encarava constantemente de rabo de olho, como se quisesse dizer algo para ele, algo que ele vinha ocultando do mesmo a muito tempo...
Desde que se lembrava, desde que se entendia por gente, a única pessoa que sempre esteve consigo, ao seu lado, para ser chamado por ele de "Família" era seu irmão Aioros, e quando se convive com alguém tanto tempo, e com tanta exclusividade e atenção, é claro que o Amor seria o caminho mais lógico e inevitável. Entretanto, o leonino estava confuso em relação à seus sentimentos; pois desde algum tempo, duvidava que o amor que sentia por Aioros era puramente fraternal. Tentava se convencer a todo custo de que sim, mas não acredita totalmente nisso; pois muitas vezes se pegou a imaginar como seria ter Aioros para si, e não somente como irmão, mas como algo mais...
Se pegava a imaginar como seria o toque de sua pele; como seria o calor de seus braços; como seria o gosto de seus lábios, e tais pensamentos se tornavam tão incontroláveis em sua mente que não percebeu quando parou com sua descrição e passou a olhar diretamente para o irmão.
Aioros percebeu o olhar insistente do outro sobre si, e o encarou, esbanjando um sorriso doce em seus lábios... O mais velho sempre fora uma pessoa de uma doçura e carisma notáveis, mas agora, aquele simples, porém verdadeiro sorriso vindo do castanho deixara o menor um tanto desconcertado, a ponto do mesmo desviar o olhar e mirar novamente a luz alaranjada à sua frente...
– O que foi irmãozinho, está querendo me falar algo? - perguntou o maior sorrindo... Levando a sua mão de encontro a do outro, tocando-a e a tomando para si...
Aioria o encarou, enquanto os dedos do irmão massageavam suavemente a sua mão; o olhar deles novamente se encontraram, e tudo que o menor conseguiu foi sorrir levemente. - Sabe Aioros... - começou o loiro... - Eu te Amo... - disse sorrindo, perguntando a si mesmo em qual intensidade havia expressado aquela frase.
– Eu também te amo, Aioria... - o maior volveu, sorrindo com profundidade e olhando com ainda mais intensidade para o leonino.
–----- FIM DO FLASHBACK -----
A Frase do Sagitariano teve com resposta um movimento brusco do irmão; sem nem mesmo esperar, Aioros fora acertado em cheio no rosto com um soco vindo do menor. Ele cambaleou, sentindo suas costas esbarrarem com força na porta da Geladeira que socara a pouco, e logo ele caiu no chão.
– Como você é hipócrita Aioros, na noite passada você disse que me amava, que queria apenas a mim, que eu era o único pra você... Nós fizemos Amor, nos entregamos de corpo e alma um para o outro, nos comemos com voracidade e loucura, e antes de você, nunca isso jamais havia passado pela minha cabeça, jamais havia pensado em ir pra cama com outro homem, aí agora você me vem com essa, com esse discurso hipócrita e falso?! Quer saber, vai se ferrar... Quem deveria me arrepender de alguma coisa aqui era Eu... Eu que me deixei iludir pelas merdas que você falou... - esbravejou em Fúria, chorando continuamente enquanto gritava aquilo para o irmão caído a sua frente...
O mais velho encarava o menor, também com o rosto em prantos, totalmente assustado e magoado com as palavras que o mesmo estava dizendo.
Aioros não conseguia acreditar... Aioria nunca agira assim antes, e esse comportamento só o fazia imaginar o quão certo estava, e em como aquela relação em que se encontravam havia ultrapassado os limites do aceitável...
– Ah, que se dane... - comentou por fim o menor, chorando ainda mais intensamente e saindo em direção a cama que ficava a poucos metros de onde estavam.
O Trailer em que viviam não era muito grande, havia o voltante para a direção, os dois bancos, o do passageiro e do piloto; a cozinha improvisada com geladeira e pia de um lado, balcões e prataria do outro; um pequeno recinto no meio do local onde estavam um chuveiro improvisado e um vaso, e logo depois uma cama grande, de casal, já no final do Trailer.
Aioria jogou-se por cima da cama, que ainda tinha os lençóis bagunçados da noite passada, onde viveram um sonho; e que agora, transformava-se em pesadelo. Ali, em meio aqueles panos, deixou-se cair em desespero e choro profundo, devido a dor que tomava conta de todo o seu ser... Bem ali, aonde se amaram intensamente na noite passada, o loiro leonino chorava e chorava mais, sentindo o cheiro do irmão empreguinado em todo aquele local.
Aioros também deixava que a dor que lhe destruía por dentro saísse em forma de lágrimas, e a sua dor emocional era bem maior que a física que sentia, devido ao soco do irmão e sua queda brusca. Sentado à chorar no chão daquele trailer, ainda encostado na geladeira; o Sagitariano pensava em quanto mal ele havia infringido ao irmão. Tomou consciência do sentimento de Aioria já fazia algum tempo, e mesmo tentando evitar, se permitiu viver aquilo; mesmo que sua mente gritasse inutilmente para que ele parasse, para que ele visse o quão errado era aquele desejo; mas mesmo assim o fez...
E agora, as vozes em sua cabeça lhe cobravam satisfação de seus atos; vozes essas que ele simplesmente não conseguia ignorar; vozes que gritavam descontroladamente e o acusavam de ter cometido o maior dos pecados; vozes essas que tomaram controle de sua razão, e o impulsionaram na direção que estava seguindo agora...
Seu coração estava estilhaçado, assim como seu espírito devido a dor que estava fazendo Aioria sentir, mas somente agora se dera conta do erro incorrigível que cometera, e não havia mais nada a ser feito, nada que não seguir em frente com aquilo, e matar de vez por todas aquele mal em forma de sentimentos.
Ergueu-se com certa dificuldade, não devido a dor física, mas sim pela sensação agoniante que não o deixava locomover-se direito; caminhou ainda cambaleante e fraco em direção ao corpo do irmão deitado na cama... O Choro de Aioria não cessava, ele gritava e abafava os sons e os gemidos de desespero em meio aos tecidos brancos, mas o mais velho o ouvia bem, e a cada sofrego passo dado em direção aquela dor que causara, mais seu coração ardia em chamas de sofrimento.
Não teve coragem... Simplesmente não conseguiu se aproximar mais... Nada que dissesse mudaria o que já havia dito, nada que falasse adiantaria para trazer o irmão ao seu estado normal. Havia o amado com todo o seu ser, e agora, o estava destruindo com a mesma dedicação.
Talvez o problema fosse ele mesmo... Medo de aceitar... Medo de ver que certos tipos de amores existem, e podem ser consumados; mas de fato, não estava disposto a descobrir isso... Nunca tivera pais ou família, o mundo o criou, e pelo que aprendeu dele, aquela relação não era a mais aceita e concreta que se poderia ter com alguém de seu próprio sangue. Não havia muito o que fazer, ou muito menos o que pensar.
Ficar ali, só faria Aioria sofrer mais ainda, assim como a si próprio. Não conseguiriam mais conviver com a presença um do outro, e nada mais seria igual. A decisão que Aioros levou apenas poucos segundos para tomar, talvez o fizesse se arrepender amargamente em pouco tempo, e talvez, mudasse a sua vida para sempre, de uma maneira que ele mesmo era incapaz de imaginar.
Com os olhos ainda cheios de lágrimas, ele dirigiu-se à um pequeno guarda-roupas que havia ali próximo; e dele pegou uma mochila velha e surrada.
Não muito depois, começou a enchê-la com roupas de todos os tipos... Foi para a cozinha aonde pegou algumas coisas na geladeira e também colocou dentro dela. Virou-se para o irmão, ainda de bruços sobre a cama à chorar. Sentiu-se ainda pior pelo que estava disposto a fazer naquele momento, mas seus olhos já não tinham mais lágrimas para serem derramadas. Enxugou as últimas que caíram rolando por seu rosto e olhou para um recanto qualquer naquele espaço limitado; onde viu um porta retrato que tinha com o irmão de quando ele era mais jovem, e Aioria apenas um garoto. Pegou a fotografia e ficou a encará-la em silêncio; seus pensamentos então se voltaram para a época em que àquela fotografia foi tirada...
–---- FLASHBACK -----
– Eu quero sorvete, Aioros... - o garoto pequeno pediu ao irmão com um sorriso esperançoso no rosto sujo de terra, enquanto recebia do outro um olhar doce e gentil.
Estavam finalmente voltando para o orfanato aonde viviam, pois passaram o dia trabalhando no lixão da cidade, catando latas e materiais recicláveis para vender na feira e assim ganharem alguns míseros trocados.
Aioros apenas assentiu, vendo o sorriso do garoto de assanhados cabelos dourados se expandir, no mesmo instante em que ele pulou no mais velho, o abraçando de forma agoniada.
O Castanho apenas sorria diante daquele ato; pegou-o então em seus braços, o levando à altura dos ombros, onde o fez sentar por sobre eles e assim o carregou em direção à uma pequena barraca de sorvete que por ali havia.
– Você quer de quê, Aioria? - perguntou o mais velho, sem conseguir encarar o irmão que estava distraído ao ser lavado nos ombros do outro.
– De Morango. - respondeu somente enquanto observava o ir e vir das pessoas naquele local. A rua por onde passavam era a principal daquela enorme feira; e por ali, pessoas e mais pessoas caminhavam a todo momento, iam e viam de todos os lugares; as vozes se misturavam em meio a multidão; algumas com anúncios de ofertas e coisas para vender, e outras com conversas amenas sobre qualquer coisa.
Aioria sentia-se o rei do mundo, e seus olhos tão claros como o céu azul brilhavam por ter em seu campo de visão aquela vastidão de gente. Ele estava praticamente da mesma altura de um homem adulto, tendo como impulso o corpo do irmão maior que o levava, e aquilo para ele era realmente fascinante, pois uma forte emoção lhe invadia o peito. O Sonho de um pequeno menino de crescer e ficar alto; um sonho de uma criança de virar adulto. Apesar de saber que não era bem assim, o pequeno sentia-se assim, e abaixo de si, esbanjando um sorriso de felicidade sem igual, seu irmão mais velho continuava a caminhar em direção à barraca.
Chegou lá e pediu o sabor que o irmão queria... O Sorveteiro o encarou um tanto curioso, afinal, aqueles meninos pareciam de rua, estavam muito mal vestidos, usando mais trapos do que propriamente roupas, e também estavam extremamente sujos, de uma maneira que até mesmo ele, um homem velho e de idade se sentiria enojado ao vê-los tocar em qualquer comida.
Todavia, pobres ou ricos, eles eram clientes, e como havia sido solicitado, pegou o sorvete do sabor Morango que o rapaz pedira. Aioros enfiou a mão nos bolsos, buscando algumas poucas moedas que ganhara após um dia inteiro catando latas no Lixo, e logo pagou o homem, entregando assim o desejado alimento frio ao menor.
– Mas e você, não vai pedir um? - perguntou Aioria, quando eles começaram a andar novamente.
– Não, não tenho dinheiro pra isso, e o importante é que você esteja bem... - falou ele somente, enquanto o irmão provava seu sorvete em cima de seus ombros...
Passado algum tempo, o pequeno já havia terminado, e também já descera de seu ombro. Logo mais, passaram frente a uma barraca de fotos, onde um homem tentava vender várias máquinas fotográficas.
Aioros, por curiosidade parou ali, e Aioria em sua personalidade impulsiva, já começou a tocar e mexer em tudo.
– Ei Aioria, assim não... - disse ele, tentando coordenar o menor, antes que quebrasse algo; até porque não tinham dinheiro para pagar...
O rapaz que vendia na barraca apenas os encarou sorrindo, e então se pronunciou-se:
– Vocês são irmãos? São muito parecidos... - disse ele.
– Sim, nós somos sim... - respondeu o mais velho sorrindo leve.
– Que tal uma foto? De Graça! - perguntou o outro, enquanto Aioros pensava nas palavras ditas...
– Sim, vamos irmão... - pediu Aioria com um sorriso deslumbrante no rosto. E ali, Aioros não pode dizer não.
A Foto foi tirada e dada ao rapaz em segundos, que passou à observá-la com atenção, logo a entregando ao pequeno que adorou tê-la.
Despediram-se do rapaz, a ao contemplar do entardecer ao longe, regressaram ao orfanato. Desta vez, com um relíquia que eles levariam com eles para todo vida.
–------ FIM DO FLASHBACK ------
Olhou mais alguns instantes para aquela fotografia, lembrando-se da época onde todo o Amor que nutria pelo outro era algo inocente e puro; algo totalmente aceitável e até admirável ao ver de muitos. Mas agora... Nada disso fazia mais sentido.
Pegou o porta-retrato e o colocou na bolsa também; não sabia se deveria fazer isso ao certo, mas a decisão já estava tomada, e pelo menos alguma lembrança do sentimento original, do sentimento que ele tinha certeza que deveria ser o único a existir entre eles; ele levaria consigo.
Aioria ainda chorava de forma estartalada em cima da cama, não conseguia pensar em nada a não ser na dor que seu irmão o estava causando... Como o Amor poderia causar dessas? Não fazia sentido; a poucas horas ele o amava como se nada mais importasse, e agora o detestava, assim como a si mesmo pelo ato que consumaram... Não sabia ao certo se decepção era a palavra correta a se usar, mas naquele momento, não se importava muito com nada.
Ouviu os barulhos estranhos causados pelo movimentar de seu irmão dentro do trailer, e mesmo que ainda não tivesse forças ou mesmo vontade para encará-lo, ainda assim, ergueu um pouco o seu olhar marejado por sobre os ombros, e pode então ver o que ocorria.
O mais velho colocava algumas roupas e coisas íntimas numa mochila qualquer, e fazia isso com pressa...
Aioria arregalou seus olhos surpreso e assustado, enquanto levantava-se lentamente da cama, ficando sentado nela.
Aioros estava alheio a seus movimentos; estava concentrado no que fazia, pois estava decidido que não faria mais seu irmão sofrer, por nada, e esse era o sacrifício final que poderia fazer por ele depois de fazê-lo cometer um erro tão grave.
Terminou por fim de arrumar suas coisas, ou pelo menos o pouco que achou necessário naquele mochila, e ao terminar de fechar o zíper, encarou seu irmão, que o olhava assustado com o olhar ainda lacrimejado das lágrimas de segundos atrás.
Aioria olhava da bolsa para o irmão, e do irmão para a bolsa, como se tentasse entender o que aquilo significava... O olhar esverdeado do maior começou a lacrimejar novamente, e a sua boca coçava para dizer alguma coisa diante da clara visão de perplexidade vinda do outro, mas ele não teve forças; as lágrimas já escorriam novamente por sua fase morena, e o maior não teve muito mais a fazer que não abrir a porta do trailer e sair.
Aioria viu aquilo e novamente as lágrimas caíram... Ele estava assustado, perplexo, desnorteado, mas sinceramente, não entendia ao certo o que estava havendo agora, e muito menos qual era a pretensão de Aioros com tudo aquilo.
–---- X -----
Os passos ao caminhar pela areia seca eram firmes e diretos; por todo lado aonde olhava, nada além de vastos quilômetros de uma paisagem desértica e morta. Cactos, areia clara, poeira e mais um monte de plantas secas e quase mortas... Uma vegetação rasteira típica de onde eles estavam...
Ao longe, grandes montanhas rochosas criavam pináculos de pedra imensos, que ajudavam a moldar aquela paisagem do Deserto Grego. Aioros caminhou, ainda enxugando os olhos das lágrimas teimosas em direção à traseira do trailer. Lá, havia duas motos antigas que ele e Aioria vez ou outra usavam para praticar MotoCross.
Desamarrou a corda que prendia uma delas ao trailer e jeitosamente começou a remover o veículo, para que então pudesse pô-lo ao chão!
Aioria saiu desesperado do Trailer naquele momento, chamando a atenção do mais velho que concentrava-se no que fazia.
O loiro olhou para todos os lados, e seu semblante era de desespero absoluto. Rodou ao redor de si mesmo, procurando pelo irmão em todos os lugares, até finalmente achá-lo perto da moto.
Andou rápido em direção à ele, que apenas baixou a cabeça com a aproximação do mais novo. O loiro chegou aonde estava e com o mesmo olhar de curiosidade e incredulidade de antes lhe perguntou...
– Aioros, o que está fazendo?! - a voz dele saiu chorosa, ainda do recente choro que o acudiu.
O Mais velho não respondeu, apenas mordeu o lábio inferior e subiu na moto, deixando que sua franja castanha lhe cobrissem os olhos marejados.
– Aioros... - A voz do loiro se fez presente novamente, ainda mais sofrega que antes. Aioria segurou firme o guidom da moto, se pondo entre o irmão e a estrada à sua frente. - O que pretende fazer? - As lágrimas já corriam novamente pelo rosto dele...
O maior ergueu o olhar, fitando com dificuldade a dor que se instalava no rosto do seu caçula, e para ele, aquela sensação era a pior de todas... Olhar para Aioria frente à frente e ver a dor que estava causando.
– Não dá mais... - ele disse desviando o olhar e mirando a areia. O Choro novamente queria lhe vir aos olhos. - Eu te machuquei, eu disse que te amava, mas isso não é amor... Como eu posso dizer que amo alguém e fazer isso à essa pessoa?! Fazê-la cometer tais atos por minha causa? - a voz saia baixa, quase como um sussurro, mas o Leonino ouvia tudo claramente.
– Aioros, você não me forçou a nada, eu quis fazer; e eu aceito fazer isso, eu aceito ser assim e cometer esses atos, contanto que seja com você, e sabe porque? Porque eu te amo, e o amor é isso, faz a gente fazer de tudo por aquilo que presamos. Não importa se somos homens, ou mesmo irmãos, eu te amo e te quero comigo sempre... - tentava frear aquela evidente tentativa de partida do maior; Aioria estava jogando fora todo o seu orgulho, toda a sua dignidade e auto estima, e se fosse necessário, jogaria-se com prazer aos pés daquele homem para que ele não partisse, e sim ficasse consigo.
– Não é tão simples... Meu corpo e meu coração querem uma coisa, mas a minha razão grita o quão nojento e errado isso é... Sabe o que seria pra mim olhar pra você todos os dias e lembrar de quando eramos pequenos? Das vezes em que te protegi, em que te dei banho, em que trouxe você para perto de mim, para o calor de meus braços quando você estava assustado a noite com as tempestades... Sabe o que seria para mim te olhar agora, lembrar disso, e saber que estamos transando um com o outro todos os dias e chamando essa relação nojenta e errada de "Amor"? - esbravejou o outro, já com as lágrimas escorrendo por sua fase...
Aioria estava totalmente desacreditado; as íris, tão verdes que eram, agora estava manchadas de um vermelho profundo, um vermelho que se misturava com o verde, tamanho era a vontade de chorar que lhe vinha naquele momento...
Afastou-se da moto, virando-se de costas e caminhando em direção a algum lugar próximo ao trailer... Estava atordoado com o que ouvira... Como pudera se enganar tanto? Como pudera se entregar a ele daquela forma tão única e agora receber isso como pago de seus erros. Caiu de joelhos no chão, deixando que a pele de suas pernas sentissem a sensação áspera do solo árido daquele local... Chorou então, chorou novamente em prantos, apertando em suas mãos um pouco daquela areia tão branca.
– Não posso mais ficar aqui, com você, te olhar todos os dias e pensar nisso... Se eu ficar aqui, errarei de novo, e te farei errar junto; ou mesmo se eu ficar, e nada acontecer, nós dois sofreremos por queremos isso e isso acabara conosco, por favor, entenda... Esse é meu último ato de amor por você Aioria... - disse o maior, dando partida na moto, ao mesmo tempo que viu o outro levantar...
– Vai pro Inferno Aioros... - Esbravejou furioso o leonino, que enxugando o seu rosto das lágrimas que caíam com as mãos sujas de terra caminhava em sua direção; - Quem é você pra falar de Amor? Você acha que me abandonar, que ir embora vai resolver isso?! Pare de ser hipócrita consigo mesmo e aceite que me ama mais do que como irmão, mas do que como você quer, aceite que me ama como homem e amante... Pare com isso... - gritava em desespero o menor.
O Castanho engoliu a seco, mas não teve palavras para rebater aquilo de imediato; apenas conduziu a moto para longe do trailer lentamente, rumo a estrada de asfalto que ficara a poucos metros de onde tinham estacionado.
– Não faça isso Aioros, não ouse fazer isso, se você fizer isso eu nunca mais vou te perdoar e vou te odiar pra sempre... - disse o leonino novamente em prantos e caindo de novo ao chão, ajoelhando-se diante da visão do irmão em partida.
– Me desculpe... Por tudo isso... Tudo isso mesmo... - Aioros chorava ao pronunciar essas palavras... Acelerou a moto fortemente naquele instante e então partiu; partiu pela estrada a fora não olhando para trás. Estava envergonhado, com o coração e a alma estilhaçados, e com o choro que caía incontrolável por seu rosto nublando a sua visão. Ele não tinha certeza de mais nada; apenas de que naquela madrugada de Sábado para Domingo, havia destruído a vida do irmão e a dele mesmo para sempre, e que agora, naquela quente e ensolarada manhã de um Domingo qualquer, ele partira deixando seu caçula a quem tanto amava para trás e sozinho, na esperança de que aquilo lhe service como um pedido de perdão por tê-lo submetido a tal coisa.
E no horizonte revelado por aquela longínqua estrada vazia no deserto, a figura do Sagitariano desapareceu.
Aioria estava mudo, os gritos e o choro não podia ser mais ouvidos por ninguém... Pela primeira vez na vida ele estava só... Sozinho no mundo. Seu irmão o deixara por nutrir por ele um amor proibido que o mesmo recusava-se a aceitar, mesmo após ter sido consumado, e agora, o loiro sofria ardentemente pelo Amor que nutria.
Seu mundo acabara, seu tudo desapareceu; sua vida não fazia mais sentido, pois sem Aioros, nada mais lhe era importante... E com as lágrimas incessantes lhe nublando a visão; todo o laranja que lhe invadia os olhos do Sol e do vasto deserto se tornou cinza, pois as cores e a vida não eram mais vistas da mesma maneira por ele; não a partir daquele momento.
Caiu no chão a chorar inconsolável na areia quente; enquanto os grãos da terra grudavam em sua pele levemente suada... Naquela manhã de um Domingo qualquer, a vida tornava-se cinza para ele; pois perderá o seu único e verdadeiro Amor: Seu Irmão!
Continua...
Autor(a): archer_beafowl
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+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Segunda; 7h36 da manhã As nuvens densas e cinzentas da noite que passara ainda se demoravam a deixar os céus naquele começo de manhã. Mesmo que o Sol já houvesse nascido à algum tempo, eram poucos os raios alaranjados que brilhavam através do manto negro que encobria a vastidão azul infinita naquele dia. Ele abriu os ...
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