Fanfic: Love is Here | Tema: Cavaleiros do Zodíaco
Segunda; 7h36 da manhã
As nuvens densas e cinzentas da noite que passara ainda se demoravam a deixar os céus naquele começo de manhã. Mesmo que o Sol já houvesse nascido à algum tempo, eram poucos os raios alaranjados que brilhavam através do manto negro que encobria a vastidão azul infinita naquele dia.
Ele abriu os olhos lentamente, deixando que as íris verdes mescladas com um tom vermelho intenso se fixassem na xícara de café que tinha sobre a mesa. O líquido negro fumegava levando seu aromático e quente cheiro para as narinas dele. Aioros suspirou. Estava cansado, fraco, triste, era como se tudo na sua vida houvesse perdido o sentido.
O tom vermelho que se mesclava as suas belas íris esverdeadas se devia ao choro incessante que o tomou na noite passada.; aonde caiu em meio aos lençóis daquela cama desconhecida e daquele quarto tão incomum e se permitiu chorar e chorar apenas, até que as longas horas da noite que passara o vencessem pelo cansaço e o fizessem se entregar ao sono.
Dirigiu por horas a fio, para o mais longe possível de Aioria naquele dia que passou. Era Segunda-Feira agora, e o Domingo mais triste de sua vida já havia se passado, apesar de que, as memórias ainda estavam frescas em sua mente.
Havia chegado em meio à uma forte tempestade numa pequena cidade as margens daquela longa estrada. Cidade esta que era mais como um ponto de abastecimento e descanso para viajantes como ele. Com o pouco dinheiro que tinha, hospedou-se em uma quitanda que estava para alugar, administrada por dois homens muito gentis que rapidamente lhe concederam um quarto, e para sua sorte, não lhe questionaram o motivo de seu choro ou mesmo da visível tristeza e desolação que lhe acudia.
Apenas guiaram-no ao quarto e lhe desejaram "Boa Noite". Noite que para ele não fora tão boa assim...
Se ontem havia sido o Domingo mais triste e sofrido de sua vida, hoje seria a Segunda mais triste e sofrida também. Após finalmente ter tomado a decisão correta, uma decisão que visava apenas proteger seu irmão, Aioros agora se tocava de que para isso, teria que sofrer de uma ressaca emocional muito forte; onde sua razão lhe dizia em voz baixa que ele precisava aguentar, que tudo o que estava fazendo era correto para remediar os seus erros, e ao mesmo tempo, ouvia seu coração gritar mais alto que tudo, clamando por Aioria, por sua voz, por seu corpo, seus toques e beijos, por sua pura e simples presença em si.
Era algo que tornava o pensar do Sagitariano lento, e fazia o pesar em seu coração voltar a doer com constância. Ele queria ficar longe de Aioria, ou melhor, precisava, porque querer realmente ele não queria, mas sabia que isso não seria fácil, sabia bem que a dor em seu peito o faria desejar um remédio, e este era seu irmão. Sabia também da dor que infligira a Aioria, pois para curar esse erro, era necessário que outro fosse cometido, isso pelo menos em sua visão. Tinha plena consciência de tudo o que estava fazendo, e talvez isso fosse apenas mais uma coisa que seu coração usasse para lhe fazer sentir dor e arrependimento.
Ele queria voltar, e essa vontade ficava mais forte a cada segundo em que permanecia estático ali, parado, a observar o vapor do café subir e vislumbrar seu reflexo sombrio e acabado na escuridão daquele líquido. Ele realmente queria voltar, mas não podia. Não se tratava apenas dele, se tratava também de Aioria, da maneira como o deixou, e de que possivelmente todo o amor que ele sentira por ele agora havia se transformado em ódio. Em parte, isso fazia parte do processo de cura ao qual ele queria infligir a si mesmo e ao caçula, mas por outro lado, tal pensamento o perturbava em profundidade.
Sua face foi se estreitando, uma dor forte lhe atacava o peito naquele momento. O pesar dentro de si era quase insuportável, e ele queria poder gritar naquele momento; gritar ao vento, aos céus, ao vazio do deserto em chamas; e apenas para amenizar a culpa que o corroía. Logo via no reflexo de si mesmo no café uma careta feia e deformada. As lágrimas novamente caíam de seus olhos e uma delas pingou dentro da xícara. Era indescritível para ele sentir e saber de tudo aquilo. Não havia outra maneira, mas interiormente ele rezava aos deuses para que houvesse.
Fechou os punhos sobre a mesa e os apertou forte, tentando sentir o seu próprio toque em sua carne, mas parecia que quanto mais o fazia, mais dormente ele parecia estar. Aioros estava em um buraco; um escuro e profundo buraco ao qual ele mesmo havia cavado. E diferente dos demais buracos, onde sempre podíamos olhar para cima e ver a luz, nesse havia apenas escuridão e trevas, sofrimento e desolação; tristeza e culpa; nada de bom, nem mesmo uma única faísca de algum sentimento de bom grado ele conseguia sentir naquele momento.
E até mesmo as lembranças de Aioria, das mais antigas, deles crescendo juntos, até as mais recentes, as de quando se entregaram um ao outro por `amor`; até mesmo essas lembranças lhe eram dolorosas. Lhe viam a mente como uma faca afiada, que adentrava sua carne com lentidão, causando o máximo possível de dor. Seu peito estava em chamas, ardia interiormente e ele sentia que seu coração poderia explodir.
Estava sozinho naquele lugar, deixando-se cair em prantos novamente por tudo o que estava fazendo e o que já fizera. Deixava-se de bom grado ser consumido por todo aquele desespero pois para ele era um castigo leve comparado ao que fez ao próprio irmão.
Em que momento ele havia se deixado levar a ponto de desenvolver esse sentimento pelo seu próprio irmão? Em que momento ele parou de observar o desenvolvimento do sentimento de Aioria por si, daquele mais simples, comum e natural, como uma admiração ou idolatria pelo irmão mais velho para este, tão mais intenso, forte, dominador a ponto de ser chamado de "Amor". Não sabia; mas condenava-se mentalmente por isso, pois se caso soubesse, ou mesmo tivesse notado, poderia ter evitado isso em Aioria, e posteriormente em si mesmo.
Perdido como estava em seus pensamentos ele não percebeu o aproximar de uma rapaz de longos cabelos castanhos. Cabelos estes bem maiores que os seus e que desciam até um pouco depois dos ombros. Este aproximava-se receoso de sua mesa, pois já havia notado há algum tempo que o outro não estava bem, isso desde a noite passada, quando se hospedou em uma de suas quitandas.
– Com licença, aceita mais café? - a voz soou doce e gentil; mas Aioros não tinha se quer ânimo para responder corretamente.
– Não, Obrigado. - disse ele ainda sem encarar o jovem. mantinha-se cabisbaixo encarando a xícara ainda cheia.
– Ah, perdão, não vi o quanto cheia estava a sua xícara. - respondeu ele sorrindo, mas não recebeu resposta do outro. - Está tudo bem com o Senhor?! - perguntou com preocupação. O jovem rapaz podia sentir a tristeza dele.
– Não! - Aioros respondeu com voz de choro.
O outro apenas o encarou de forma gentil e compreensiva, deixando-o sozinho logo em seguida. Naquele mesmo momento, um rapaz de curtos cabelos loiros aproximou-se deles. Cumprimentou o jovem com um beijo leve em seus lábios, evidenciando a relação que tinha com ele, e em seguida dirigiu-se a mesa aonde estava o castanho.
– Bom Dia! Dormiu bem ontem a noite? - questionou sentando-se, não perguntando para Aioros se poderia ou não.
– Não! - ele respondeu somente, não encarando o rapaz loiro também.
– Bem, realmente eu estou vendo que não está nada bem, só espero que não seja por causa do quarto ou das acomodações. - ele tentou ser simpático, ou mesmo distraí-lo de sua atual melancolia.
– O quarto estava ótimo... - Aioros respondeu erguendo seu olhar, enxugando um pouco as lágrimas.
– Sabe, essa cidade é um `Stop Point` de caminhoneiros e motoqueiros, e mesmo que tenha chegado aqui dirigindo uma moto você não me parece ser desse tipo... Sei que não é da minha conta, afinal não o conheço e não sei a sua história, mas realmente me deixa intrigado ver uma pessoa num estado de tristeza tão profunda como o seu... Se me permitir, e não considerar abusivo de minha parte... Eu gostaria de perguntar se está tudo bem com você?! - ele foi novamente educado, apesar de saber que era uma jogada arriscada tentar ser tão direto e querer logo saber de cara da vida dos outros.
– Não, não estou bem... - respondeu o castanho. - Mas espero algum dia ficar... - disse por fim... Levando sua mão à xícara de Café e logo em seguida provando finalmente de seu sabor. Estava quente e amargo, e ele havia pedido assim justamente para que aquele sabor forte juntamente ao calor da bebida pudessem fazer alguma limpeza em si por dentro, pois sabia que nada mais poderia ser feito.
– Você diz que espera que um dia fique... Fala como se a dor que sentisse fosse algo que irá demorar muito tempo para passar, ou que talvez nunca passe... Deixe-me adivinhar... Tem algo haver com algum "Amor"? - o loiro voltou a questiona-lo, sorrindo levemente e o encarando de forma intrigada.
Aioros levantou o olhar novamente e mirou aqueles olhos inquisidores. Algo naquele loiro era diferente. Havia uma certa doçura e gentileza em sua voz e gestos, mas também uma atmosfera de mistério ao seu redor. Algo muito estranho.
– É, o amor, aquilo que fode com a vida de todo mundo. - Aioros respondeu sorrindo enfim, mas um sorriso cheio de amargura e ironia.
O outro sorriu... Era evidente que aquele homem estava doente de amor... E o amor sem dúvida deixava marcas e cicatrizes profundas e dolorosas se caso não fosse correspondido ou vivido como se esperava.
– Bem, parece-me um problema sério... De qualquer forma, dizem que o tempo cura todas as feridas, não é?! - o loiro perguntou.
– Assim espero... - Aioros rebateu.
– Sabe, não quero alarmá-lo, mas pelo que estou vendo o tempo não irá curar as suas... - ele falou com convicção, chamando a atenção do Sagitariano, que o encarou com perplexidade. - Desculpe lhe dizer isso, foi apenas uma percepção que me veio, eu sou sempre assim... Vivo falando tolices, perdoe-me... - disse ele levantando-se da mesa, ainda sob o olhar perplexo de Aioros. - Se precisar de algo, me procure, eu sou o dono da hospedaria; meu nome é Sorento. - ele disse por fim, e logo se retirou da presença do maior.
Aioros voltou a sua atenção novamente ao Café, pensando nas palavras que lhe foram ditas. Então era assim, seu sofrimento era tão evidente que até os desconhecidos se compadeciam dele e notavam isso; mais até do que isso, davam pitacos sobre coisas que não entendiam... Mas independente disso, as palavras de Sorento o haviam cravado uma nova faca no peito. E se nunca passasse? E se a dor nunca fosse embora? E se algo acontecesse a Aioria por sua causa? Ele nunca mais veria seu irmão? Ele estava mesmo fazendo o correto? Sempre que chegava perto de uma conclusão, ou mesmo de uma resposta qualquer, diversas outras perguntas surgiam em sua mente, e a dúvida era uma das aliadas da dor.
Agora, mais essa... E se o tempo nunca o fizesse esquecer? E se ele nunca sarasse dessa sandice de amar o próprio irmão mais do que deveria? E se entregar-se de vez a esse sentimento fosse a única saída?! Ele nunca soube muito sobre o Amor, ou mesmo o que ele causava, mas a única coisa que sabia era que uma vez pego, não havia como escapar; pois nunca conheceu ninguém que tivesse driblado ou escapado disso...
Aquele seria o primeiro dia de sua vida sem Aioria, o primeiro em que acordou, viu o céu nublado e cinzento e não o encontrou ao seu lado. Aquele seria o primeiro dia em que pagaria por todos os seus pecados. E ele já não estava aguentando.
–----- X ------
Os raios de sol entravam lentamente pelas frestas da janela, que estava coberta por uma escura cortina até onde dava, sendo o vidro bem maior que o tecido, a luz passava por algumas pequenas fendas.
Aioria estava deitado em sua cama a pensar... Já sabia da hora adiantada, pois já passava do meio dia naquele momento, e ele sabia disso pela intensidade e força com que a luz adentrava o ambiente pelas frestas da janela. Seu olhar era vago e sem vida.
Aioros havia ido embora, o havia deixado sozinho, e desde aquele momento sua vida havia acabado; pois para ele não havia motivos para continuar vivendo, não sem seu irmão ao seu lado, não sem o amor que ele lhe dera em outrora.
Quando o mais velho partiu na manhã do dia anterior, Aioria chorou e chorou apenas, por horas e horas a fio, a dor que sentia era grande demais, e só conseguiu raciocinar quando a chuva forte começou a cair sobre seu corpo e aquela terra árida.
Chuva no Deserto; um fenômeno raro de acontecer; mas que pelo menos o trouxe de volta a realidade. Ele não soube quanto tempo ao certo esteve caído em prantos à rolar por aquela areia grossa, mas soube que foram horas ao contemplar o céu e ver que a noite já havia chegado.
Aioros era a sua única preocupação, era a única coisa que existia em sua mente, e mesmo que quisesse, não conseguia parar de pensar nele um só minuto. As nuvens negras que vagavam pelo céu não deixavam ele ver as estrelas da noite, e isso o deixava com uma sensação de vazio ainda mais profundo.
As gotas de água caíam sobre seu corpo, sobre seu rosto; e se misturavam com as sofregas lágrimas que de seus olhos saiam, correndo por sua face como um rio a seguir seu curso. A areia abaixo de si já começava a ganhar a textura de lama, com o constante irrigar das brumas. Ele não soube exatamente de onde retirou forças, mas levantou-se. E mesmo sem ânimo, vida ou mesmo vontade, dirigiu-se para dentro de seu trailer velho, a única coisa no mundo que ele conseguiria chamar de "lar". Entrou no carro-casa com as pernas e o dorso totalmente sujos de lama, e o corpo inteiro praticamente todo molhado. Entrou no banheiro, ligou o chuveiro e despiu-se, banhado-se daquela água ainda quente, aquecida do forte sol da tarde. Sentiu seus músculos contraírem, e alguns locais de sua pele arderem por causa de leves arranhões causados pelo roçar na areia quente. Chorou novamente, e nem acreditava que conseguiu arrancar mais alguma lágrima de seus olhos... Ficou um bom tempo lá, chorando e chorando, e ao sair do banho, dirigiu-se para a cama, onde caiu com seu corpo de uma única vez por cima daqueles lençóis ainda bagunçados.
Dormiu quase que instantaneamente, com o barulho da chuva forte que caia lá fora e o cheiro de Aioros ainda presente nos tecidos. Ele rezava para que fosse apenas um pesadelo, um sonho ruim que contaria a Aioros no dia seguinte e que ele diria que era "apenas um sonho", mas ao acordar pela manhã, e constatar a falta do irmão, sentiu a dor lhe voltar ao peito como uma facada rápida e certeira. Não fora um sonho, mas sim um pesadelo; um pesadelo real que agora ele estava vivenciando, e o pior... Sozinho...
Acordou cedo naquele dia, com o raiar dos primeiros raios do Sol no horizonte e com o iluminar de seu rosto pelo calor dos mesmos. Todavia, ele preferia bem mais que ainda estivesse dormindo, pois somente assim fugiria daquela dor insuportável que não parava, que não cessava, que apenas continuava a afligir seu coração.
O tempo continuava a passar, e seu corpo a reclamar. Sua barriga roncava de fome, pois ainda não havia comido nada em praticamente um dia e meio, e sentia-se péssimo com isso. Mas não tinha forças ou mesmo vontade para se levantar; na verdade, seria bem mais fácil ao seu ver que ele morresse logo, pois pelo menos assim não se sentiria tão mal. A morte lhe parecia atrativa naquele momento. Talvez um pequeno corte no pulso, um breve momento de dor e logo tudo estaria acabado. Aioros poderia encontrar seu corpo algum dia, totalmente em estado de putrefação e assim sentiria a dor que ele estava sentindo agora. A dor que lhe consumia mais rápido que a própria morte à que ele agora desejava. Assim Aioros saberia o quanto dói.
Mirou o olhar por um breve instante para a parede próxima da cama, onde viu algumas fotos deles dois juntos quando mais novos. Fotos essas que tentavam formar recordações em sua mente, mas que ele se controlava para não permitir... Olhou então para um calendário que estava sobre as mesmas fotos, pendurado na parede... Observou com certa atenção aqueles números, não sabendo ao certo o porquê, mas logo seus olhos esverdeados se arregalaram ao constatar a data marcada naquele dia que se passava.
16 de Agosto. Aioria não aguentou... Seus olhos arderam em profundidade e ele os fechou... As lágrimas caíram novamente por seu rosto; pois a dor agora aumentava e muito. Era seu aniversário; talvez um dos dias mais importantes do ano para ele... Aniversário esse onde ele estava vivenciando um pesadelo. Aioros não estava com ele; talvez nunca mais o visse... Na pior das hipóteses ele estava sozinho; sozinho naquele mundo escuro e cheio de dor, e naquele dia tão especial, ou pelo menos que ele julgava ser especial até dado momento, ele estava vivendo a pior Segunda-Feira da sua vida... Uma Segunda pós o dia de perda do Grande Amor de sua vida, e também da única família que tinha... Não havia sofrimento maior...
–--- FLASHBACK -----
– Parabéns Aioria... Feliz Aniversário! - O Castanho disse sorridente, ao por em cima da mesa um lindo bolo de morangos confeitado com glacê.
O garoto menor de cabelos dourados arregalou os olhos e sorriu animadamente; era como se estivesse na frente da melhor coisa do mundo.
– Dez anos, nossa, como você cresceu rápido. - Aioros disse fazendo um cafuné na cabeça do menor. Aioria apenas riu.
– Nossa, Aioros, um bolo, você deve ter trabalhado dobrado pra comprar... - comentou o pequeno, ficando encabulado e baixando um pouco a cabeça.
– Não importa, o que importa é que você fique feliz, principalmente nesse dia especial. - disse o rapaz mais velho de cabelos escuros, levantando a franja do menor e dando-lhe um beijo na testa.
O Abraço veio logo em seguida. Aioria sempre se sentia bem ao ser abraçado por seu irmão. Era quente e reconfortante estar envolto por Aioros.
O maior então dirigiu-se a outra cadeira no lado oposto da mesa em que estavam... Olharam para os lados, e viram que todo o refeitório estava vazio. Logo, não precisariam dividir com ninguém, e estariam bem a vontade para comemorarem aquela data especial
– Olha só, consegui que a cozinheira fizesse um suco especial só pra gente... - disse o maior enchendo o copo do outro com o líquido alaranjado na jarra próxima a eles.
– Bolo com suco... Um dos meus melhores aniversários. - comentou Aioria animado.
– Sei que não é muito, mas um dia eu prometo que eu vou te dar o melhor aniversário de todos; com uma grande festa e vários convidados. - dizia Aioros de forma contente, vendo a empolgação do menor.
– Eu sei que vai Aioros, você é o melhor irmão do mundo... - rebateu o pequeno leonino com os olhos brilhando.
Aioros não sabia bem ao certo o que era, mas havia algo naquele brilho tão doce e puro no olhar de Aioria que fazia qualquer coisa na vida valer a pena, e se dependesse dele, faria de tudo para preservar esse mesmo brilho para sempre...
–--- FIM DO FLASHBACK ----
A lua ainda aparecia tímida no céu nublado. As densas nuvens escondiam novamente as estrelas cintilantes do anoitecer, e posteriormente a própria lua. O brilho do luar escapava por poucas vezes entre as fendas abertas de uma nuvem para outra. E aquilo que deveria ser uma noite bela e totalmente iluminava, tornava-se escura e totalmente sombria. E assim também estava a sua alma naquele momento.
Aioros mirava o céu escuro e vazio como por várias vezes naquele mesmo dia olhou fundo para dentro de si. Estava na guarita de seu quarto, trajando apenas uma bermuda jeans velha e preferindo não usar uma camisa, apesar do vento frio que soprava calmamente naquela hora.
Seu olhar era tão vago quanto o próprio céu que contemplava. O brilho esmeraldino que outrora nele resplandecia em suas íris, agora deixava por completo aquele olhar, tornando-o frio e seco, profundo e escuro.
Estava tentando não pensar em nada. Não pensar em Aioria, e em como possivelmente estaria seu irmão naquele momento. Se estaria bem, ou mesmo se já havia partido do local aonde estavam com o Trailer. Será que o veria de novo? Será que tudo isso teria solução, volta ou mesmo perdão?! O Sagitariano alimentou sua dor com essas e muitas outras perguntas durante todo o dia, mas agora, ele estava quieto, apenas a observar a vastidão escura do manto noturno; tentando amenizar seu sofrimento e não mais pensar em Aioria ou qualquer coisa que remetesse a ele.
Nesse mesmo horário, passando por baixo da guarita estava o jovem de cabelos castanhos ao qual Aioros havia conhecido mais cedo. Ele não havia notado ainda a presença do rapaz, mas o mesmo havia percebido a sua.
– Boa Noite... - cumprimentou educadamente, com um sorriso singelo em seus lábios; recebendo um olhar vazio e triste do outro como resposta.
– Boa Noite. - disse somente o castanho mais velho.
– Não existem muitas estrelas para se ver hoje, não é mesmo?! - questionou o rapaz, vendo Aioros arquear a sobrancelha.
– Me diz, todos aqui nessa cidade são tão incomodados ou intrometidos com a vida dos outros?! - Aioros foi arrisco. Primeiro o tal de Sorento mais cedo, e agora aquele garoto. Era realmente chato não poder ficar a sós com suas dores sem receber aquela preocupação dos outros. Preocupação essa que ele via apenas como "pena". E odiava que qualquer um sentisse pena de si, por qualquer motivo que fosse, pois ninguém ali o conhecia ou mesmo a sua história para julgá-lo como bom ou mal.
– Me desculpe, eu realmente fui muito imprudente e abusado por ter comentado. Sinto muito, não queria ofendê-lo ou mesmo interrompê-lo, em seja lá o que estivesse fazendo ou pensando. - comentou o rapaz com a voz um tanto mais acanhada, e logo baixando a cabeça. - Apenas o vi aí, tão triste, e quis puxar assunto, mas eu realmente sinto se o perturbei; estou apenas passando para deixar essa carta na caixa de correios aqui da pousada; hoje é aniversário do meu irmão, e quero pelo menos lhe dar os parabéns, nem que seja atrasado, pois não sei quanto tempo a carta demorara pra chegar. - continuou o rapaz, não sabendo exatamente o porquê havia exposto para aquele cara o que estava a fazer, mas apenas foi falando e falando e o assunto surgiu...
– Humm... - Aioros gemeu em resposta. Realmente ele não havia perguntado nada, mas sentiu-se estranho ao ver aquele rapaz compartilhar algo pessoal seu a troco de nada, principalmente após ele ter sido um tanto rude. - Olha, me desculpe também... Eu exagerei, acontece que... - tentou dizer, mas as palavras lhe faltaram a boca.
– Não precisa se desculpar... - disse o menino sorrindo. - Meu namorado me disse que você não estava bem; eu é que fui inconveniente ao perguntar... - comentou o moreno acastanhado.
– Namorado?! - Aioros arqueou uma sobrancelha, ainda a encarar o pequeno rapaz de sua varanda.
– Sim, Sorento. - ele respondeu sorrindo, ficando rubro logo em seguida. - Ele e eu comandamos isso aqui, somos sócios e amantes. - ele disse por fim; fazendo Aioros arregalar levemente os olhos com aquela revelação.
– Que bom... - comentou Aioros somente, já não tendo ideia de como levar aquela conversa adiante, ou talvez como encerrá-la de vez. - Que bom que deu certo entre vocês dois... - ele disse por fim; já fazendo menção em se retirar.
– Vai dar certo pra você também; eu sei que vai... - o rapaz disse, sorrindo levemente, enquanto seus olhos brilhavam com uma faísca incomum.
Aioros que já ia se retirando voltou e encarou seriamente aquele rapaz, se prendendo ao olhar cheio de vida e sentimento que ele lhe lançava.
– Sorento que me disse para não incomodá-lo; porque você estava sofrendo de `Amor`, e quando se é `Amor` verdadeiro, que eu sei que é esse o seu caso; não tem como não funcionar ou não dar certo. E como eu sei disso, você deve se perguntar... - estava falando, até fazer uma breve pausa e baixar levemente a cabeça. - Ninguém estaria sofrendo desse jeito se não fosse amor verdadeiro. - comentou voltando a encarar o mais velho, que estava perplexo ao ouvir aquelas palavras. Os olhos dele já ardiam novamente, evidenciando o choro que viria em breve; mas nada conseguiu dizer em resposta ao comentário daquele homem. - Bem, foi um prazer falar com você, e me desculpe novamente... Aproposito; me chamo Shun. Eu acho que você merece ou precisa saber, não quero que fique achando que eu sou um esquisito intrometido, e agora você já sabe... Bem, vou indo, a carta pro meu irmão não vai se entregar sozinha. Boa Noite e até mais... - disse ele por fim... Acenando em cumprimento e indo em direção a saída do pátio, onde ficava uma grande porta que dava na estrada.
Aioros ficou lá parado, à observar o jovem rapaz ir embora. Shun, não era?! Bem, não importava agora, não muito. Pois o que mais havia chamado a atenção de Aioros foram aquelas palavras... Palavras essas que tiveram um impacto forte em si. E se antes ele fizera de tudo para não lembrar do Irmão, agora tudo voltara novamente e com ainda mais intensidade, pois seu coração doía ao lembrar das palavras de Shun em meio as imagens de Aioria.
Virou-se para entrar, já com os olhos lacrimejados, e ao adentrar o quarto, olhou para um ponto fixo na parede, onde um calendário estava pendurado. Olhou aquele calendário como se não houvesse importância alguma naquele ato, mas seus olhos arregalaram-se em surpresa ao passar com eles por sobre a data marcada como a daquele dia. 16 de Agosto. O Dia do Aniversário de Aioria.
Não se segurou; e uma nova lágrima escorreu por seu rosto.
Continua...
Autor(a): archer_beafowl
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... Terça, 9h32 da manhã. Foi o barulho de uma buzina forte de caminhão que o tirou da escuridão reconfortante de seus sonhos. Não que ele tivesse sonhado naquela noite, ou mesmo que se lembrasse de alguma coisa; pois até poucos segundos atrás, o breu escuro do nada era a única coisa que via diante de seus olhos. E a ...
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