Fanfic: Love is Here | Tema: Cavaleiros do Zodíaco
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Quarta, 6h56 da Manhã.
A luz quente do sol nascente já lhe tocava o rosto de forma sutil e tímida; enquanto sua pele era aquecida levemente pelos raios alaranjados que daquela estrela emanavam...
A pele de sua bochecha, encostava no vidro que já estava começando a se aquecer, e após finalmente sentir o calor incomodar naquela área sensível, o castanho abriu seus olhos, revelando o brilho lacrimoso de suas íris verdes diante da forte luz branca que adentrava o local e iluminava fortemente seu leito improvisado.
Era quase cegante aquele brilho; e ao sentir a intensidade da luz agredir seus olhos tão rapidamente quanto o calor a sua pele, ele ergueu-se do local aonde estava praticamente jogado de qualquer jeito e sentou-se melhor no banco, colocando o braço em frente ao rosto, tentando evitar àquela claridade matinal.
Passado alguns segundos, ele enfim tentou focar a sua visão em algo, apesar de que tudo o que via a sua frente era seu braço e aquela claridade insuportável.
Olhou então ao redor, tentando reconhecer aonde estava, e tão logo seus olhos começaram a ganhar foco, pode ver um homem sentado naquele mesmo banco ao seu lado, meio esparramado, como se estivesse dormindo. Sobre seu rosto um chapéu velho havia sido posto, o que deveria ser a causa da sua permanência no estado inconsciente em que estava. O Chapéu evitava que a forte claridade lhe viesse a incomodar. A sua frente, havia uma espécie de Câmbio, ou talvez uma manivela, e a frente do rapaz que dormia ao seu lado naquele banco havia uma direção de carro.
Aioros prontamente começou a focar mais e mais a sua visão, e logo a claridade parou de ser um problema, quando o Sol finalmente mostrou-se ser apenas uma bola de fogo emergente ao longe. Conseguiu então abaixar o braço e ver por completo o local aonde estava. Um painel preto com um porta-copos e um porta-luvas, um vidro grande, aonde alguns limpadores de para-brisas estavam; e é claro, a paisagem típica de deserto que havia além do vidro do veículo. Uma grande estrada asfaltada, que se alongava por quilômetros e mais quilômetros a se perder de vista; e em suas margens, altas e grandes montanhas ao longe, precedidas de uma planície desértica e árida que também se estendia por quilômetros a fio; dos dois lados. O Caminhão aonde estavam havia sido estacionado fora da estrada, ao lado da grande pista, de forma que não atrapalhasse o tráfego de carros por ela; não que houvesse algum, pois a pista estava tão vazia quanto o deserto ao seu redor, mas se caso houvesse, a iniciativa de Sorento facilitaria as coisas.
O castanho suspirou; estava finalmente começando a raciocinar e colocar as ideias em dia. Havia aceitado no dia anterior sair com Sorento, o dono da hospedaria aonde estava em uma viagem; onde poderia então tentar esquecer um pouco a dor que lhe dominava; a dor de perder seu irmão e único amor verdadeiro de sua vida.
Passou então a se tocar dentro do carro, procurando nos bolsos da bermuda por sua carteira e por uma pequena caixa aberta de chicletes. Por sorte, encontrou os dois.
Pegou um dos chicletes de menta da minúscula caixa e o levou à boca. Queria poder fazer a sua higiene bucal matinal, mas naquele lugar não haveria como. Olhou então novamente para o homem a sua esquerda, que ainda dormia de forma totalmente alheia ao ambiente ao redor. Aioros pensava se seria uma boa acordar o colega agora, afinal de contas, ele não sabia por quanto tempo o loiro virginiano havia dirigido durante a noite, pois ele mesmo havia pegado no sono primeiro que o outro, e sem dúvida se o seu trabalho fosse ser uma distração para manter o outro atento e dirigindo, ele não o havia feito de forma boa.
Sem saber ao certo se Sorento dirigiu ou não na madrugada a dentro, ou mesmo parou para descansar pouco depois que ele, Aioros tinha em si um receio grande de acordá-lo. Ele não queria ficar ali, naquele lugar, em meio ao nada; com o forte Sol da manhã lhe cegando os olhos e esquentando seu rosto a ponto de fazê-lo queimar, mas também não queria acordar Sorento, pois ele talvez precisasse e merecesse o sono que estava tendo. Dirigir por dias nunca era uma tarefa fácil. O Sagitariano sabia disso, pois por diversas vezes precisou dirigir com Aioria por longas distâncias pelo país. Viagens que duravam horas a fio, ou mesmo dias. Ele sabia bem que era cansativo.
Suspirou; recostando-se melhor no acento. Preferiu esperar mais um pouco antes de tomar a iniciativa de acordar o colega. Afinal, não queria bancar o tipo `Chato` na viagem, pois o mesmo era o convidado, e isso não seria algo justo. Aioros sempre teve um senso de justiça muito próprio para com tudo; e talvez fosse por causa disso que havia se posto nessa situação tão complicada. Seu senso de Justiça lhe disse para proteger Aioria de si mesmo, e foi ele, para começo de história, que o fez tomar a decisão que estava ocasionando todo o seu sofrimento. Era angustiante.
Bocejou um pouco naquele momento, sentindo um calafrio bom de preguiça lhe percorrer por cada músculo, e uma nova onda de sono começar a lhe fazer pesar os olhos. Mas antes de fechá-los novamente, sentiu movimento ao seu lado; e ao olhar para a sua esquerda aonde Sorento estava, pode ver o loiro se mover lentamente, se ajeitando melhor no banco e retirando o chapéu de seu rosto.
Sorento finalmente acordara naquela manhã, e espreguiçou-se de forma à expulsar todo o sono que ainda tomava conta de si. Remexeu levemente os ombros de braços, como se fosse um tipo de alongamento. E tão logo terminou, mirou o Castanho ao seu lado, sorrindo levemente ao vislumbrar seus esverdeados olhos claros. Aioros havia acompanhado cada movimento feito pelo Virginiano naqueles segundos, e sua feição era inexpressiva. Sorento apenas acenou com a cabeça para ele e o cumprimentou...
– Bom Dia, Aioros, dormiu bem?! - perguntou... Dando mais um bocejo e já ligando o caminhão.
– Sim... - respondeu somente o castanho, se ajeitando novamente no banco e focando seu olhar mais uma vez na estrada. - E você?! - perguntou; Sorento estava sendo bastante compreensivo com ele, e é claro, com sua dor. Estava respeitando o seu espaço como poucos já haviam feito, mas mesmo assim, o Sagitariano ainda mantinha-se na defensiva, sempre calado e muitas vezes frio com o outro. Atitudes essas que o loiro não merecia; logo, tentou ser mais cordial naquela manhã. Aioros sabia que não estava sendo um bom acompanhante de viagem.
– Na verdade, não... - o outro sorriu levemente. - É muito ruim dormir em caminhão, principalmente quando se dirige por horas a fio. - disse.
– Você dirigiu até que horas?! - perguntou Aioros, olhando de relance para o motorista.
– Rapaz, acho que até umas duas ou três da manhã... - bocejou ao fim da frase.
– Nossa... - Aioros surpreendeu-se. - E você só dormiu três ou quatro horas... Cara, você deve estar bem cansado. - comentou.
– Sim, estou, mas poderei descansar mais um pouco assim que chegarmos ao Motel. Lá haverá Café da manhã e poderei descansar um pouco mais... Não se preocupe. - comentou sorrindo, mas ainda sem encarar o maior.
– E eu nem pra te fazer companhia... - Comentou o castanho, desviando o olhar e deixando que uma conotação de culpa lhe entorpecesse o timbre de voz. Nessa hora, Aioros sentira-se bem por não ter acordado Sorento, pois seria realmente muito egoísmo seu. Além de não fazer companhia para ele, como ele mesmo achava que tinha a Obrigação, ainda pensara em acordá-lo após o mesmo ter dormido tão pouco. Fora o tempo que Sorento passou dirigindo estrada a fora por aquele deserto. Foram horas e mais horas sem ninguém para conversar, cujo a única companhia era o corpo de um `estranho` totalmente inconsciente ao seu lado. O Senso de Justiça tão típico dos Sagitarianos voltava a atacar, a Aioros sentia-se estranho com isso. Sentia que precisava compensar Sorento por suas faltas, afinal, o outro estava sendo gentil e amável consigo o tempo todo. Precisava remediar isso, e seria uma boa para começar se ele se tornasse uma pessoa mais comunicativa com o loiro.
Naturalmente, sempre fora muito de falar; principalmente com pessoas boas e legais, à exemplo do homem que Sorento vinha se mostrando ser, mas desde a briga com Aioria e do surgimento desse problema, havia tornado-se uma pessoa diferente; alguém que nem mesmo ele conhecia. Alguém que ele poderia chegar a detestar se conhecesse de outra forma.
– Não tem problemas. - O Virginiano sorriu. - Você estava muito cansado ontem, deu pra notar... Não ia te fazer ficar acordado me ouvindo falar e falar mais, sabendo que você precisava dormir. - continuou, mas ainda mantendo-se concentrado na estrada.
Aioros sorriu e assentiu. Sorento era também bastante compreensivo, e isso era bom. Como ele mesmo já havia notado, o Virginiano estava respeitando até demais o seu espaço, tentando deixá-lo o mais a vontade possível. Aioros deveria fazer algo com relação a isso. Talvez voltar a ser mais falante, e quem sabe sorrir mais. O menor não tinha culpa de seus problemas, e ficar pensando neles e deixando que sua mente se sufoque com isso era pra começo de conversa o principal fator causador de seu comportamento tão atípico. Ele não tinha certeza de nada, mas sabia que Sorento o estava tentando ajudar de alguma forma, tentando alcançar o verdadeiro Aioros que nele havia, e que de fato não era aquele homem que estava ali presente.
E o que ele podia fazer para mudar isso?! Simples, aceitar a ajuda. Tentar voltar a ser a pessoa sociável e sorridente que todos diziam que ele era, e que ele sabia que era. Desse jeito, talvez o pesar em seu peito não doesse tanto.
O Sagitariano fitou o loiro novamente naquele momento. Sentia vontade de conversar alguma coisa com ele, nem que fosse besteira ou a mais insignificante das amenidades, mas ainda assim, queria conversar. Não por ele, mas por Sorento, que merecia ter um colega descente o acompanhando. Aioros realmente queria isso, mas palavra nenhuma, ou mesmo assunto nenhum lhe viam a boca e mente. E isso o deixava ainda mais frustrado.
Preferiu então ficar em silêncio. Se Sorento falasse algo, aí sim ele responderia e puxaria assunto, mas por hora, apenas a presença do outro lhe bastava.
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Sorento dirigiu por pouco tempo naquele começo de manhã, pois apenas com meia hora de viagem, eles chegaram à um Motel no meio da estrada. O local era um tanto estranho a princípio, pois era a única construção vista por eles ao decorrer de quilômetros intermináveis de estrada e paisagens desérticas. Ao lado do local, havia um pequeno posto de Gasolina, com alguns carros e caminhões estacionados. Estrategicamente posto para abrigar e reabastecer viajantes que por ali passavam.
O loiro virginiano prontamente estacionou seu grande veículo próximo aos demais, e sem mais delongas, saiu com Aioros do estacionamento rumo a entrada do prédio.
O Silêncio ainda reinava entre os dois, pois Aioros esperava que Sorento novamente lhe viesse dirigir a palavra; coisa que não aconteceu. E mesmo tendo em mente que queria e precisava aumentar o nível de comunicação entre eles, o castanho simplesmente não conseguia gerar essa interação por conta própria, o que tornava tudo um tanto mais incômodo.
Passaram pela porta da frente, e logo dirigiram-se à recepção, aonde uma gentil moça os observava se aproximarem.
– Bom Dia! - disse ela, olhando de Sorento para Aioros e vice-versa.
– Bom Dia Senhorita, gostaríamos de saber se podemos usar a lanchonete do lugar?! - Sorento perguntou, esbanjando um sorriso simpático e atraente.
– Claro que podem... Estariam interessados em um Quarto também?! Estamos com uma excelente promoção para casais. - comentou a garota.
– O quê?! Casal?! Não, nós não somos um casal... - Aioros finalmente se pronunciou, um tanto desconcertado com o comentário.
Sorento o encarou e riu da expressão do Sagitariano, além do claro rubor que tomava conta de seu rosto.
– Não minha cara, não formamos um casal, somos apenas dois colegas viajando juntos. Eu já tenho meu companheiro, e o meu colega o dele... Então receio que foi um equívoco. - novamente tomou a palavra o rapaz de fios loiros.
– Ah, sinto muito, pensei que fossem um casal. Geralmente os viajantes que passam por aqui estão sozinhos ou com seus respectivos companheiros e companheiras, por isso eu deduzi. Lamento. - se desculpou a atendente. - Mas de qualquer forma, a nossa lanchonete é sim aberta ao público, e temos um menu especial hoje. - continuou a mulher, recompondo-se de seu desfeito. - Venham, vou mostrar-lhes. - disse ela os chamando.
Sorento encarou Aioros e sorriu, gesticulando com a cabeça para que ele o seguisse. O Castanho apenas retribui com um mesmo sorriso e os seguiu.
Todavia, a mente de Aioros estava um tanto receosa à respeito das palavras que Sorento havia dito. "Eu já tenho meu companheiro, e o meu colega o dele". Essa frase ressoava como um eco na mente do Castanho. Sorento realmente tinha alguém... Shun. Mas o Sagitariano não tinha ninguém, e não havia falado para o Virginiano em momento algum sobre ter alguém... Então... De onde Sorento havia tirado aquilo?! O que ele sabia?! Ou achava que sabia?!
O Semblante do maior começou a ficar mais sério ao encarar a imagem do loiro a sua frente; àquela viagem estava começando a lhe trazer a tona alguma coisa que até então ele não havia percebido, mas o quê ao certo, ele ainda não descobrira.
Sentaram-se então em uma mesa no restaurante do Motel. O local era amplo, e possuía algumas janelas panorâmicas que davam vista para o pequeno posto de Gasolina lá fora, e posteriormente para o estacionamento.
O lugar lembrava muito a lanchonete da pousada em que Sorento era dono; tendo como única visível diferença o espaço, que era maior, e a vista do ambiente externo; totalmente diferente da de lá.
Prontamente um Garçom veio atendê-los e após fazerem o pedido, o mesmo retirou-se.
O Silêncio então voltou a pairar no ar, pois o Virginiano olhava por sobre seus ombro a paisagem estática lá fora, enquanto que Aioros apenas observava o outro, buscando mentalmente uma maneira de tentar iniciar uma conversa com ele. O Sagitariano sentia que precisava conversar com Sorento; sobre o quê, exatamente... Ele não fazia ideia, mas seria uma boa começar perguntando sobre os motivos que levaram seu colega de viajem a dizer àquela frase para a recepcionista.
– Sorento... - chamou o castanho, tendo logo a visão dos olhos azuis do outro sobre si.
Aioros estava um tanto tenso. Havia um forte receio transparecendo em suas íris esverdeadas, apesar do mesmo não ter consciência disso. Iniciar àquela conversa poderia leva-lo a ter que falar de coisas que o mesmo não estava disposto a comentar; já que seu real objetivo era tentar esquecer... Todavia, havia um forte instinto dentro de si que queria perguntar aquilo, como uma curiosidade insaciável, tão típica dos descendentes do signo do Centauro Arqueiro.
– Sim?! - Um sorriso meio de lado se desenhou nos lábios do loiro, enquanto uma sobrancelha foi arqueada.
Aioros suspirou. E apertou forte as suas próprias mãos mantendo seus punhos fechados.
– O que quis dizer quando falou para aquela menina que eu tinha um companheiro?! - questionou. E o medo de ouvir a resposta lhe corria o interior. Será que havia sido uma boa ideia perguntar àquele homem sobre o porquê ele achava isso. Não sabia, mas agora as palavras já haviam saído de sua boca, e Sorento estava pronto para respondê-las.
– Ora, é porque você tem... - respondeu somente. Sorrindo. E logo voltando a encarar a paisagem atrás de si.
– Não, eu não tenho não... - Aioros revidou. De onde ele havia tirado isso!?
O Loiro o encarou novamente, um tanto mais sério que das demais vezes, mas sem deixar que o sorriso leve que tinha nos lábios se desfizesse. - Aioros, só porque você não quer ou não aceita, não quer dizer que você não tenha um Companheiro... - ditou o loiro, fazendo o maior arquear uma sobrancelha. - Ninguém sofre da maneira que você está sofrendo se não for por seu verdadeiro amor. Talvez você não quisesse ter um companheiro, ou talvez não quisesse que fosse a pessoa que é; mas que você tem alguém, isso você tem... E o fato de estar sofrendo e fugindo disso, negando até para si mesmo a sua escolha e a escolha de seu coração, só mostra o quanto você realmente ama essa pessoa. - comentou o loiro, fazendo o Sagitariano o encarar de forma assustada e totalmente abalado pelo que escutara. - Desculpe novamente por estar sendo intrometido, mas já ouviu aquele ditado... "Fugir é Se Entregar". Pois é meu amigo. - continuou, sorrindo de forma singela, mas mantendo certa seriedade.
Sorento sabia que ouvir a verdade, mesmo já a conhecendo era difícil, principalmente quando as pessoas se negavam a aceitar ou acreditar em tal verdade. Mas uma coisa estava certa, a verdade não deixaria de ser verdade apenas por não ser aceita, e isso era algo que o loiro sabia de que Aioros tinha conhecimento.
– Eu... - O Castanho tentava processar a informação; tentava avaliar de todas as formas possíveis o que o outro havia lhe dito. Não era fácil admitir, e talvez, toda essa viajem, toda essa necessidade de fugir fosse exatamente isso. Negação. Mas Sorento não sabia da missa, nem o padre, pois não era apenas um simples caso de amor comum... Era algo que estava além disso, muito além.
Não se tratava nem mesmo do fato de estar amando outro homem, pois o namorado de Sorento era um homem, se tratava do fato de estar amando a seu próprio irmão... Sangue do seu Sangue, Carne da sua Carne, que nasceu e foi concebido do mesmo ventre que ele. Era algo que estava além de um simples "Amor Covarde".
O Garçom regressou prontamente em seguida; arrumou a mesa colocando copos, pratos e talheres e logo em seguida os serviu-lhes com a refeição e drinks solicitados. Ao sair, Sorento ainda poderia ver a expressão estática e desolada que havia tomado conta do rosto de Aioros. Talvez o Virginiano tenha novamente errado ao tocar no assunto.
– Não é tão simples... - Aioros comentou com uma voz um tanto embargada, parecia novamente que o choro e a dor estavam querendo lhe tomar conta.
Sorento percebeu, e tentou da melhor maneira possível evitar que o colega sofresse novamente. Era bem verdade que ele não sabia da história, e talvez se Aioros estivesse disposto a lhe falar o que havia ocorrido exatamente, e o que realmente sentia, talvez, só talvez ele pudesse ter uma visão melhor da situação e então usar uma abordagem mais eficiente. Mas às cegas, sem saber aonde pisava, era realmente algo muito difícil de prever.
– Eu não deveria amar da maneira que amo. Não desse jeito... É quase um pecado... - A Voz chorosa se fez presente novamente, e o castanho abaixou a cabeça. Deixando que a franja farta cor de mel lhe cobrisse os olhos marejados pela dor que sentia. Uma lágrima escorreu por sua bochecha bronzeada; e foi ali que Sorento percebeu que o problema do Sagitariano era mais grave do que havia suposto.
Com o garfo que estava em seu prato, o Virginiano levou lentamente uma porção de comida a sua boca, provando do sabor que por ela adentrava, sem deixar de olhar seriamente o outro a sua frente.
Tomou em seguida um gole da bebida que pedira e voltou-se novamente ao maior.
– Quer falar de amor proibido Aioros?! Bem, vamos falar de Amor proibido. - disse o loiro, focando-se ainda mais no rosto caído do outro; que lentamente foi erguendo o semblante e deixando que os olhos azuis de seu acompanhante pudessem então ver os lacrimosos e brilhantes olhos verdes seus. - Há alguns anos, quando eu conheci Shun na faculdade... Quando eu conheci o grande amor da minha vida... - suspirou... - Ele estava noivo. A Família de Shun sempre fora muito conservadora e moralista. Logo, um relacionamento entre dois homens, ou pessoas do mesmo Sexo na visão deles era algo abominável e surreal. Shun estava prestes a se casar com uma garota encantadora e maravilhosa chamada June. Uma linda moça, gentil, educada, de longos cabelos loiros. Uma mulher que qualquer homem desejaria, menos Shun... - Calou-se.
Aioros o fitava com atenção, e apesar de seus olhos marejados, ele já não mais chorava. Ele podia ver nos olhos de Sorento que tocar em tal assunto para ele era extremamente desconfortável, mas o Virginiano parecia não querer parar. Logo, o Sagitariano deixou que ele prosseguisse.
– Shun sempre se sentiu diferente dos outros meninos. Sempre foi mais sensível, calmo, menos energético e principalmente muito menos estereotipado que os tipos "Machões" que a família desenvolvera. Um exemplo disso era seu irmão mais velho, Ikki. Um homem com `H` maiúsculo visto por todos. Ele namorava uma garota chamada Esmeralda na época em que conheci Shun. - continuava Sorento, de forma calma e lenta, como se seus olhos penetrassem nas visões e lembranças de outrora enquanto as palavras saíam automáticas de sua boca. - Logo nos tornamos amigos, eu e Shun. Ikki não gostava de mim, dizia que eu tinha jeito de `veado`, e que não era algo bom para Shun, que muitas vezes já foi acusado da mesma coisa, ser visto por aí andando comigo. - sorriu levemente.
Aioros mantinha-se concentrado, algo naquela história lhe chamava a atenção.
– Ikki sempre fora muito protetor com Shun, e apesar da sua antipatia comigo, eu admirava isso. Eu e Shun nos apaixonamos, e decidimos viver um amor escondido, um Amor proibido ao olhos de todos. Shun estava noivo, sempre levava June a casa de sua família, a apresentava como sua futura companheira e amante, coisa que não podia fazer comigo por razões óbvias. - dizia o Virginiano ainda sorrindo, mas em seus olhos, a mágoa era visível. - Nos amamos intensamente por aqueles meses que se passaram. Shun finalmente se libertou-se; pelo menos em parte. Quando estava comigo, ele podia tirar a máscara que usava para todos e ser quem ele realmente era. Podia viver o amor da maneira ao qual ele queria e estava compelido a viver. Shun era Gay. Sempre fora, e ele me confessara naquele tempo que sabia disso desde mais novo; mas que tentava ao máximo suprimir isso devido a visão mais conservadora de sua família. Eles nunca o aceitariam como ele era. E jamais o perdoariam. - dizia.
Aioros estava em suspense. Era como se esperasse que daquela história que o outro estava contando, lhe viesse algo que pudesse ajudá-lo em seu problema, mas o quê exatamente ele não sabia. Mas sem dúvida, era uma situação muito difícil. Não tão difícil quanto a que ele estava passando, mas sem dúvida muito difícil. No caso dele, ele e Aioria só tinham um ao outro como Família, mas Shun, pelas palavras de Sorento, tinha muito mais a perder.
– Andávamos sempre juntos. E os boatos começaram a se espalhar pela Universidade. Boatos esses que chegaram rapidamente aos ouvidos do irmão do Shun e de sua noiva. Lembro-me que Shun chorava muito diante deles tentando negar tudo. Mas chegou um momento em que ele não aguentou. Ele se assumiu para a família e para os amigos, terminando assim o noivado com June naquela mesma noite. Falou sobre quem era e o que era, e sobre o que realmente gostava. Ele foi um verdadeiro herói, pois lutou contra tudo e todos pelo que queria. Ele falou de mim, e do que vivíamos, e que era a mim à quem ele realmente amava. - Sorento sorriu melancólico mais vez. Tomando então mais um gole de sua bebida. - Lembro-me que eram três da manhã quando a campainha da minha casa tocou. Eu assustado fui atender e vi Shun chorando desesperadamente na frente de meu portão. Ele havia trazido várias malas, parecia que estava de mudanças. Em seu rosto, além das lágrimas, havia a marca dos dedos da mão de seu Pai, que avermelharam a região de impacto, tamanho a força com que receberá a bofetada. - disse enquanto mexia com o Garfo em seu prato.
Aioros ouvia tudo aquilo de forma atenta, e de certo modo, estava surpreso ao escutar algo daquele tipo... Ele simplesmente não conseguia acreditar.
– Eu o acolhi, lhe dei abrigo e prometi que cuidaria dele com todo o meu amor. Shun havia sido expulso de casa. Deserdado por sua família e até por seu próprio irmão. Ikki chorou pela primeira vez na vida, pelo menos que o próprio Shun pudera se lembrar naquele dia; e até mesmo ele o olhou com escarnio quando seu Pai lhe agrediu e o expulsou. - suspirou. - Três dias depois Ikki me encontrou. E eu levei a maior surra da minha vida de um homem que dava dois ou três de mim mesmo. Ele chorava enquanto me batia, chorava e gritava dizendo que eu havia destruído a família dele, que eu o havia tirado a coisa que ele mais amava. Seu precioso irmão. - parou por alguns segundos, apertando fortemente os talheres em sua mão. - Shun me encontrou no Hospital mais tarde naquele dia. E assim que eu me recuperei. Nós mudamos para o interior. Não tínhamos nada. Dinheiro, certezas, futuro... Nada... Tínhamos apenas um ao outro. E hoje, estamos muito bem... - disse ele, voltando a provar de sua comida.
O Castanho estava estático; mais ainda do que anteriormente. Era algo realmente surpreendente de se ouvir, tendo em vista a situação pelo qual estava passando.
– Queria ouvir sobre um amor proibido, aí está um... - continuou Sorento de cabeça baixa, sem encarar o colega. - Shun e eu lutamos contra o mundo. Contra tudo e contra todos para vivermos aquilo que muitos viam como errado, como uma heresia, como um pecado somente. E assim, descobrimos o que era o Amor, e esse nosso sentimento, independente da forma como ele havia se mostrado para nós dois, foi o que nós deu forças para lutarmos e vencermos. - dizia o loiro, com os olhos levemente lacrimados. - Ikki, com o tempo, descobriu aonde estávamos, mas não nos procurou. Ele se limitou a mandar cartas para Shun. Cartas que até hoje eles trocam. Ele nunca mais foi o mesmo com Shun, mas o amor que sentia pelo irmão ainda sim era mais forte que a raiva, a vergonha e o desgosto que sentia. - Aioros permanecia a ouvir calado as confissões. Sorento havia tomado um ar mais firme e forte ao falar sobre isso, algo que mudara seu aspecto mais sereno. - Hoje, ele está casado com Esmeralda. Tem dois filhos com ela. Os netos que seus pais sempre quiseram que os filhos lhes descem. Shun foi esquecido. A Família não toca mais em seu nome, e para eles, é como se nem existisse. Ikki ainda se lembra, mas finge na frente de todos que também esqueceu. Eu e meu amado lutamos contra tudo isso, e hoje somos livres e felizes. Em resumo... Amar não é pecado Aioros, independente do tipo de Amor. Se você ama a pessoa por quem você sofre, mas acha isso errado, meu único conselho é... Não ache! Amar não é errado, não importa de que jeito, ou à quem seja, amar não é errado. E se você ama realmente essa pessoa, se esse sentimento não é apenas um capricho supervalorizado, eu te digo... Volte para ela, e ame-a. Pois se é amor, você vencerá o mundo. - completou Sorento, sorrindo.
As lágrimas voltaram a correr pelo rosto do outro. Aioros estava emocionado demais para dizer qualquer coisa. A História de Sorento e Shun era realmente uma história de lutas e perseverança incrível, porém, para ele, apesar de fazer todo o sentido, nem todas àquelas regras eram aplicáveis. Não no seu caso.
O Castanho se debruçou em lágrimas na frente o Sorento, o que despertou certa compreensão e compaixão no outro. Ele chorava de forma intensa, sem se importar se as demais pessoas o estavam vendo ou não. O loiro apenas estendeu a sua mão e tocou levemente o ombro do Grego. Aioros estava de cabeça baixa, com a mesma escondida entre seus braços, caídos por sobre a mesa.
– Aioros... Fale comigo... - chamou o outro. O Austríaco não conseguia entender o quão grande era fardo que o outro carregava; pois que amor tão errado era esse a ponto de causar tanto remorso.
– Eu estou apaixonado pelo meu próprio Irmão. - disse Aioros em pranto; ainda com a cabeça abaixada e escondida.
Sorento ergueu a mão que o confortava e o encarou surpreso. Seus olhos se arregalaram diante daquela confissão, e seus lábios se entreabriram levemente. As palavras de Aioros lhe atingiram de uma forma inesperada.
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Aioria estava sentado no banco da frente de seu trailer. As olheiras, agora já bem destacadas em seu olhos indicavam as noites mal dormidas que vinha tendo nos últimos dias. Era Quarta-Feita, e já faziam 3 dias que Aioros havia partido, motivado pela falta de controle e aceitação que tinha em relação aos seus sentimentos. O Leonino queria acreditar que era algo passageiro, que ele regressaria em poucas horas após ter esfriado a cabeça, mas depois de terem se passado tantos dias, Aioria já começara a acreditar que Aioros não regressaria. Que sua decisão havia sido definitiva e imutável. E toda vez que tal suposição lhe vinha a mente, seu coração apertava, como se tentasse se sufocar de dor pela falta do outro.
Aioros não merecia isso... Sua preocupação, sua dor, seu sofrimento, e acima de tudo... Seu Amor. Ele não merecia mesmo, pois tudo de ruim que estava sentindo agora era de fato culpa do Irmão. Entretanto, odiar Aioros, mesmo tento fortes motivos para tal era algo que ele não se permitia. Se já sofria da maneira que sofria por amá-lo, sofreria em dobro por odiá-lo sabendo que o ama.
Era realmente torturante. Ergueu com certa preguiça a garrafa de uísque que tinha em mãos e provou mais uma vez de seu sabor ardente e adocicado. O ardor desceu forte por sua garganta, queimando... Mas ao mesmo tempo, o lembrando que ele ainda estava vivo. Seu olhar, agora num tom de verde mais escuro mirava a paisagem vazia a sua frente através do vidro do carro. Aquele deserto era uma boa representação de sua alma naquele momento. Seca e Árida.
Sua barriga roncou... Também na mesma quantidade de dias que o outro se fora, ele não havia se alimentado bem... Se Aioros pudesse vê-lo, diria que ele até perdeu alguns quilos em meio a isso tudo e que estava bem mais magro. Mas a culpa de sua decadência era inteiramente dele, unicamente do covarde de seu irmão, que preferiu deixá-lo ao relento que entregar-se ao sentimento que ambos sentiam.
Levantou-se da cadeira e foi em direção a geladeira que tinham no trailer. Abriu-a. Vasculhou com o olhar por ela à procura de algo para comer... Estava difícil. O Estoque de comida estava escasso, e o leonino se perguntava o porquê de ainda não ter ligado aquele trailer, engatado a primeira e partido daquele lugar rumo à cidade. Seu irmão, definitivamente o abandonara... Ele estava sozinho agora, e tinha a plena consciência de que se continuasse ali, logo seus recursos iriam se acabar por completo, e aí sim iria definhar até morrer...
Queria muito partir, iniciar desde já uma vida nova sem Aioros; sem as lembranças de toda uma vida com aquele homem ao seu lado. Mas isso era impossível. Impossível de todas as maneiras que podia imaginar...
Pegou então um pote de sorvete de creme que já estava derretendo à alguns dias ali dentro e fechou a geladeira. Abriu em seguida uma pequena gaveta perto da pia de lavar louça e de lá retirou uma colher...
Dirigiu-se então novamente ao banco do motorista e sentou-se. Uísque e Sorvete. Seus dois novos melhores amigos e consoladores para aqueles dias de agonia. O Sol já começava a cair lentamente no horizonte distante... Perdendo seu imponente tom esbranquiçado e ganhando um alaranjado típico de fim de tarde. Mais um dia estava chegando ao fim, e mais um dia Aioros não retornara. O Coração de Aioria se estilhaçava a cada novo dia, a cada nova hora, e a cada minuto que se passava sem a presença de seu amado Irmão. E mesmo relutante; mesmo dizendo que não se permitiria mais sofrer daquele modo; as lágrimas que estavam sendo contidas com toda a força por ele venceram enfim a sua resistência... Correndo de forma desenfreada por seu rosto melancólico.
–---- X -----
A Noite finalmente havia caído, e assim como os céus acima deles haviam se escurecido, a mente de Sorento de igual maneira se tornara um breu pela declaração de Aioros em seu `Café de Manhã` improvisado. O Sagitariano voltara a se refugiar em seu silêncio sofrego, e mais nenhuma outra palavra lhe saiu dos lábios pelo resto daquele decorrente dia.
A Confissão de Aioros deu a Sorento uma real visão do tamanho do problema pelo qual o outro passara. Era realmente mais complicado do que se podia imaginar... Amar um homem, na sociedade em que viviam, sendo você também um homem já era algo difícil de se lidar... Todavia, tal situação ganhava um peso e uma proporção ainda maior quando esse mesmo homem à quem se amava também era seu irmão. Incesto era sem dúvida um `tabu` mais complicado do que a `homossexualidade` em si. Era de certa forma, mais aceito quando a situação envolvia pessoas `heterossexuais` e quando o parentesco era um tanto mais distante, como primos, ou mesmo primos de segundo grau. Mas entre irmãos, era de fato complicado.
Ao ouvir tal declaração do maior naquele mesmo dia mais cedo, Sorento tentou não julgá-lo. Não se podia controlar o que vinha do coração, e muito a vontade dele. Ser Julgado era tudo o que Aioros não precisava ser, e Sorento prontamente não o fez. Lembrava-se do choro desesperado que o outro emanava de cabisbaixo na mesa em que estavam... Lembrava-se dos olhares desconfiados e um tanto críticos das pessoas ao redor, que observavam tudo de forma despretensiosa, como se imaginasse o porquê daquele homem estar em prantos.
Lembrava-se que apenas depois de algum tempo foi que Aioros finalmente conseguiu ergue-se, e então encará-lo. Os olhos verdes novamente tomados por uma vermelhidão que evidenciava o inflamado de sua alma. O Peso que ele carregava era muito forte. Sorento lembrava-se também que sorriu para ele naquele instante, e que lhe tocou a mão com certa intimidade e acariciou-a, tentando passar ao outro compreensão e aceitação.
O loiro apenas assentiu para o castanho, que enxugou as lágrimas enfim, e somente após alguns longos minutos, foi que conseguiu, ainda de forma difícil, se alimentar.
Saíram do local logo em seguida, pagando a conta e descansando um pouco no caminhão. Aioros ficou calado então, não conseguindo encarar o jovem loiro ao seu lado. Talvez por medo de ser julgado, talvez por vergonha ou insegurança; Sorento realmente não sabia, mas não iria insistir em uma conversa, tendo em vista que agora sabia bem o que o outro passava.
Após mais alguns minutos de descanso, eles retomaram a estrada. Calados, tendo apenas o silêncio como suas reais companhias. O Dia passara rápido, a medida que Sorento dirigia por quilômetros e mais quilômetros por aquele vasto deserto. Logo veio o entardecer, e a escuridão então tomou o dia, a tornando noite. As luzes do caminhão iluminavam apenas alguns poucos metros a frente. Deixando Sorento particularmente cego. Dirigindo de forma cautelosa e extremamente receosa por aquelas rotas.
Aioros ainda estava acordado, e novamente seu rosto estava encostado no vidro da janela do caminhão. Seus pensamentos vagavam por tudo o que havia passado até dado momento. Uma jornada árdua de sofrimento e desespero, iniciada num Domingo passado. Era difícil demais... A essa altura, a dor em seu peito já beirava o insuportável, e o Sagitariano não conseguia imaginar como seria a sua vida daqui pra frente; sua vida sem Aioria.
Uma vida inteira sem o calor do corpo daquele à quem ele tanto desejava, mas que sabia que não poderia ter... Suspirou, um afago demorado e profundo. Seu olhar lacrimejou então, novamente... Sabendo assim que ele estava condenado à conviver para sempre com as consequências de suas escolhas e de seus pecados; que seria atormentado para sempre com as lembranças de toda uma vida ao lado dele... Vida essa que ele abandonou, que jogou fora... Que desistiu dela sem pestanejar, apenas por sua própria fraqueza e covardia. Esse... Seria seu verdadeiro pago.
O passar constante do caminhão pelo asfalto, aliado ao barulho rouco do motor o faziam entrar em um quase transe. Seus olhos pesavam naquele momento, e logo a escuridão total se fez presente diante dele.
Continua...
Autor(a): archer_beafowl
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... Quinta; 7h32 da Manhã. Os olhos verdes resplandeceram em seu brilho com o raiar de mais um novo dia. Aioros acordara finalmente para o pesadelo que havia se tornado a sua vida; pois mesmo dormindo, em estado inconsciente, ele sentia-se mais vivo e melhor do que propriamente acordado e presenciando a realidade. A Realidade não era boa para consigo. Ergueu ...
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