Fanfic: Love is Here | Tema: Cavaleiros do Zodíaco
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Quinta; 7h32 da Manhã.
Os olhos verdes resplandeceram em seu brilho com o raiar de mais um novo dia. Aioros acordara finalmente para o pesadelo que havia se tornado a sua vida; pois mesmo dormindo, em estado inconsciente, ele sentia-se mais vivo e melhor do que propriamente acordado e presenciando a realidade. A Realidade não era boa para consigo.
Ergueu-se um tanto preguiçosamente e ajeitou-se melhor no banco do caminhão aonde estava jogado de forma esparramada. Coçou a cabeça próximo da nuca e apalpou o tufo de cabelo desgrenhado que ali havia. Havia dormido novamente de qualquer jeito dentro do veículo, e assim, assanhado ainda mais os fartos cabelos marrons. Olhou ao redor naquele começo de manhã e curiosamente não encontrou Sorento ao seu lado. A porta do caminhão ao lado do motorista estava aberta, e aparentemente, o virginiano havia saído para algum lugar. Aioros então olhou por entre o vidro do carro, e pode finalmente contemplar o local aonde estava.
Era uma pequena cidade, não muito maior do que a que Sorento residia com Shun, mas sem dúvida mais movimentada. Pessoas iam e viam o tempo todo por aquela única avenida que pelo meio daquele local passava, e ao longe, além de algumas casas e lojas de negócios, era possível ver vários Galpões de Armazenagem e também um posto de Gasolina de grande porte.
Aioros então abriu a porta do Caminhão ao seu lado e desceu do veículo. Olhou ao redor e todos que por ali passavam lhe eram desconhecidos. Procurava atentamente por Sorento, que parecia ter sumido do mapa àquela altura.
Atrás do Caminhão aonde estava, vários homens descarregavam a mercadoria que Sorento havia pedido para seus próprios trabalhadores lá em sua Hospedaria carregarem. Aioros não sabia do que se tratava aqueles enormes caixotes, e sinceramente, naquele momento, essa era uma de sua menores preocupações. Continuou a olhar então ao redor, na tentativa de encontrar seu colega de viagem, e tão logo começou a perder a paciência após longos minutos de espera, ele avistou Sorento aproximar-se com alguns pacotes de papel que pareciam estar recheados com algo e dois copos com canudos.
O Castanho sorriu, um tanto mais aliviado por rever o colega.
– Bom Dia... - Disse Sorento ao chegar, e logo mais, entregou ao maior um dos sacos que trazia, juntamente também com um dos copos. - Eu não sabia de qual você gostava, então pedi com leite. - comentou o austríaco.
Aioros sorriu, recebendo de bom grado a comida e o copo com líquido quente, que logo ao perfurá-lo com canudo e provar de seu sabor, pode constatar que era Café.
– Obrigado, e Bom Dia. - respondeu um tanto mais alegre.
– Dormiu bem? - perguntou Sorento, recostando-se na lateral do caminhão.
– Não muito, eu tenho a mania de dormir esparramado pelo banco do seu caminhão. - comentou com mais descontração o maior.
– Não sabia que o banco de couro duro do caminhão lhe era tão chegado. - desdenhou com simpatia o outro; arrancando um sorriso mais aberto do Sagitariano. - Então é assim? - questionou Sorento, enquanto Aioros o encarou. - É assim que é te ver sorrir... Realmente... É um sorriso lindo e contagiante... Você deveria sorrir mais, fica bem melhor... - Comentou por fim o Virginiano.
Aioros apenas sorriu sem jeito, um tanto mais melancólico dessa vez. Realmente, fazia alguns dias que ele não sorria com vontade... Mas era justo; ele não tinha muitos motivos para tal.
Sorento abriu seu saco de comida e logo pois-se e comer as pequenas panquecas que nele havia; e ao notar isso, o Castanho se tocou que também tinha um `Cafe da Manhã` para degustar em mãos;
Abriu o saco e logo também começou a comer, enquanto juntou-se a Sorento encostado no caminhão.
– O que tem nas caixas?! - Aioros perguntou, após alguns poucos minutos de silêncio, enquanto mirava o descarregar da mercadoria.
– Uma encomenda. - Sorento disse somente; não muito interessado em responder.
– Encomenda?! - Estranhou o Castanho. - Achei que trabalhasse com Hospedagem de fracassados como eu... - Riu.
– Você não é fracassado Aioros. É um vitorioso! Apenas ainda não se tocou disso... - respondeu o loiro, encarando as íris verdes com as suas azuladas.
O maior apenas deu os ombros, voltando a provar de sua comida. E novamente, algo que Sorento lhe disse trouxe a sua mente as lembranças de seu irmão. Como ele poderia ser um vitorioso sem nem ao menos tinha coragem de assumir e se entregar aos seus reais sentimentos?! Como poderia ter vencido algo se desistiu antes mesmo de tentar?! As vezes, para não dizer quase sempre, as frases de Sorento não lhe faziam muito sentido. Pelo menos não totalmente.
– Aonde foi?! Pensei que tinha me abandonado aqui no Caminhão e fugido. - comentou descontraído, tentando amenizar a atmosfera tensa que havia se formado naqueles poucos segundos.
– O quê?! Você achou que eu tinha te abandonado?! Não meu colega, jamais faria isso... - disse o loiro sorrindo. - Eu simplesmente resolvi dirigir a noite toda para chegar mais rápido ao nosso Destino, e assim, resolver de vez esse problema da Carga. Quando cheguei ainda era muito cedo. 5h da manhã; o Sol ainda estava nascendo ao longe. Você dormia o sono dos justos, então preferi não acordá-lo. - comentou Sorento.
O Maior apenas assentiu, e voltou a provar de sua comida.
– Depois que terminarmos aqui, vou te levar para conhecer uma pessoa, e depois vamos descansar um pouco antes de tomar a viagem de volta. - disse Sorento.
Aioros apenas ouviu o que ele dizia. Não sabia ao certo o porquê de Sorento lhe querer apresentar alguém... Mas de qualquer forma... Ele era convidado, e estava longe demais de casa para negar alguma coisa ao seu anfitrião; não que no dado momento, ele tivesse uma casa.
Continuaram então em silêncio, a desjejuarem naquela singela manhã de uma quinta-feira, onde o sol já começava a se erguer alto no céu.
–------ X -------
Eram mais ou menos 8h40 da manhã quando Aioria fixou seu olhar na Motocicleta à sua frente. Havia acordado de mau humor naquele manhã, afinal, estava se traindo com constância naqueles dias cruéis que se passavam. Na noite passada, mais uma vez ele chorou incessantemente pela falta de seu amado; e somente conseguiu parar após ser vencido pelo cansaço e pelo sono.
Acordou cedo naquele mesmo dia, um pouco antes do próprio Sol de Quinta raiar no horizonte. Tomou um banho, comeu algo e fez sua higiene matinal. Agora, pela primeira vez em quase dois dias, ele saia para fora de seu trailer. O Sol no Deserto ainda não estava alto, mas a terra já começava a se aquecer como se fosse uma chapa quente, pronta para assar a sola de seus pés cansados.
O Olhar verde escurecido, das lágrimas que teimavam em vir sempre que se lembrava do mais velho, miravam o veículo à sua frente. Aioros havia levado a outra; mas como ambos praticavam `Motocross`, haviam duas motos, compradas ao custo de suor e muita economia dos dois. O Leonino sentia-se fraco, indisposto, mas também não estava afim de passar mais um dia se martirizando entre os lençóis ainda sujos de sua cama, e o pior, tecidos esses que ainda continham o odor de seu irmão.
Ele ainda não tinha coragem de partir, não porquê acreditasse que Aioros regressaria, pois a essa altura, ele sabia que estava sozinho, mas sim porque algo o prendia ali, naquele local; algo que fazia questão de fazê-lo desistir todas as vezes em que ele cogitou dar a ignição no trailer e partir. E antes de tudo, o loiro precisava criar forças para superar isso, para superar essa dor, essa falta que o outro lhe fazia. Daí então lhe ocorreu a ideia... Para que enfim pudesse se libertar, ele precisava sentir o que era liberdade novamente. Sentir o vento soprando forte no rosto, o sol queimando de forma intensa a pele; o ronco do potente motor que o entorpecia para os sons ambientes. Ele precisava sentir isso novamente; foi aí que pensou na moto.
Não iria muito longe, até porque, a moto não tinha Gasolina o suficiente para ir para muito longe. Iria somente dar umas voltas por perto do trailer e regressar depressa. Somente para ver se destravava o seu interior e finalmente tomava alguma iniciativa.
Suspirou, posicionou-se melhor na frente do veículo, e usando da pouca força que lhe restava, ele suspendeu a moto pesada do alicerce que a prendia à traseira do carro e a pós no chão. Sentiu certa dificuldade em fazer isso, e aquela moto nunca lhe pareceu ser tão pesada.
Talvez fosse a fraqueza emocional que estivesse interferindo em sua força física, ou o fato de não estar se alimentando direito nos últimos dias; ele não sabia. Mas a moto já estava no chão e era isso que importava.
Ele subiu no veículo do jeito que estava... Apenas usando uma bermuda surrada jeans e sem camisa. Nem mesmo algum calçado ele fazia questão de usar. Deu ignição no motor sentindo ele urrar como um Leão ao ser ligado. O leve tremor que tomou conta do veículo passou por todo o seu corpo como uma vibração boa; algo que o relaxava afinal; que o fazia lembrar das competições de `Motocross` no qual ele e o mais velho entravam por vezes e ganhavam quase sempre... O Fazia lembrar da Adrenalina que sentia e que tomava seu corpo ao estar em cima daquele posante motor. Era muito bom, e agora, iria reviver essa sensação.
Suspirou mais uma vez, girando os pulsos no guidom da moto, fazendo-a gritar ainda mais alto com seu motor. Mirou a estrada à sua frente e o vasto deserto que havia logo em seguida, e sem mais pensar em nada... Ele arrancou...
A areia subiu alto próximo à traseira do trailer e o leonino quase que voou com o salto dado... A Moto acelerou mais e mais conforme ele girava seu pulso no acelerador; e tão logo percebeu, a estrada à frente havia sido transpassada em segundos. Segundos esses que ele não viu passar. O Vento soprava forte em seu rosto, fazendo levitar suas fartas madeiras loiras; seus músculos expostos sentiam o tocar quente da luz solar e ao olhar por sobre os ombros para traz, o trailer em que estava parecia ficar cada vez mais longe, até parecer um minúsculo pontinho no meio do nada.
Voltou então a focar no caminho à sua frente. Desviando sempre que possível de arbustos e grandes pedras que se entrepunham entre ele e o distante horizonte. Atrás de si, um rastro de areia seca levitava no ar conforme o passar da moto; deixando ali a única prova de sua passagem... As marcas dos pneus no solo.
Ele virou então em 180° com a `magrela`, como carinhosamente apelidava o veículo e voltou em direção ao seu trailer. A Sensação que lhe tomava era boa, apesar de que as memórias de outrora ao lado do Sagitariano ainda teimavam em lhe querer atormentar. Lembrava-se a cada vez que fechava os olhos devido a pressão do vento contra si da forma como Aioros lhe ensinou a andar de Bicicleta e posteriormente de Moto. Lembrava-se de como ele era atencioso e meigo para consigo, e lembrava-se também da primeira vez que ele mesmo superava o irmão e ganhara um dos ralis em que participavam. O olhar resplandecente e orgulhoso que o outro lhe lançou foi uma das cenas mais memoráveis que conseguia se lembrar; e mesmo querendo evitar isso, sua mente teimava em se voltar para esses momentos passados; momentos que o faziam lembrar de como ele era Feliz em ter o irmão por perto.
As lágrimas, de novo, voltaram a escorrer de seus olhos, sendo levadas logo em seguida pelo vento que as tomava de seu rosto e as carregava para o horizonte. Sua visão ficou totalmente nublada e tudo perdeu seu foco, tendo apenas uma molhada aquarela de cores repetidas à sua frente. Tendo em vista a sua visibilidade zero naquele momento, ele tentou reduzir a velocidade da moto, mas em seu momento de agonia, com a imagem do irmão ainda fresca na mente, acabou por usar o freio com o veículo em alta velocidade...
Não deu outra. Aioria freou tão bruscamente que o parar da moto lançou seu corpo há alguns metros de distância, antes mesmo da própria moto capotar algumas vezes na areia seca próxima à pista.
O corpo do rapaz caiu com grande impacto no chão, e o mesmo rolou por alguns metros. A Dores começaram então de imediato a povoar com intensidade os locais aonde o impacto foi mais forte... Coxas, pernas, abdômen, ombros, braços e cabeça, tudo doía. A Cabeça dele girava um tanto zonza naquele momento, e ele já conseguia notar a dor fina e pontiaguda em algumas partes do corpo, o que evidenciava possíveis arranhões.
Após alguns segundos respirando fundo e reunindo forças, o loiro ergueu-se um tanto devagar, trincando os dentes pelo esforço que fazia e ainda à sentir seu corpo reclamar em dor aguda pelas escoriações.
Caminhou um tanto cambaleante, ainda com os olhos marejados em direção a moto caída ao longe. Ao chegar, ainda com esforço e um pouco de dor, suspendeu o veículo e o usou com apoio para si mesmo; retomando seu caminho rumo ao trailer. Por sorte, a sua `casa` estava apenas à 100 metros de onde ele estava, e tudo o que precisava era apenas cruzar a avenida.
Andou lentamente, procurando não se esforçar demais. Sentia seu tórax inteiro se retrair em dor a cada respirar. Será que havia fraturado alguma costela?! Ele não sabia. Além das claras marcas avermelhadas e dos machucados nos joelhos, coxas e braços, o leonino também não conseguia colocar o pé direito totalmente no chão; o que poderia significar um descolamento ou torção.
Seus olhos ainda refletiam o brilho lacrimoso das lágrimas que soltara. - `Tudo Culpa sua!` - reclamou Mentalmente, ao ter sua mente voltada novamente para a lembrança de Aioros.
– Será Que Você Já não me fodeu o bastante seu desgraçado?! - Gritou aos berros no meio do nada. Gritou alto, muito alto. Ninguém o ouviu. Apenas o vento que soprava constante por aquelas terras é que se fez presente diante de seu manifesto, sendo então a única testemunha de sua aflição.
Cruzou a estrada deixando-se cair em prantos por mais uma vez. Seu trailer, e a escuridão de seu interior lhe pareciam bem convidativas naquele instante. Se Aioros estivesse ali, ele teria ido prontamente ao seu encontro, ao seu socorro... Mas ele não estava. E teria que aprender a se virar sozinho. Já era um Homem, um Adulto. Viver sozinho não poderia ser tão ruim; mas apesar de atribuir toda a culpa por tudo à Aioros, àquele foi um dos momentos em que mais desejou que ele estivesse ali.
–---- X -----
Aioros entrou com Sorento naquele recinto, que mais parecia um escritório improvisado em meio à todas àquelas pequenas lojas e depósitos daquela igualmente improvisada cidade no meio do nada. Sobre eles, logo caiu o olhar da recepcionista que estava de plantão naquele dia.
– Bom Dia. - disse a Mulher com seriedade, vendo os dois homens se aproximarem. Aioros arqueou uma Sobrancelha e Sorento apenas sorriu. - Em que posso ajudá-los? - perguntou.
– Bom Dia, Senhorita. Eu me chamo Sorento, e este é meu colega, Aioros... - disse o loiro, apontando discretamente para o Castanho. - Viemos ver o Deba; temos horário marcado. - disse por fim o menor.
– Claro, deixe-me checar... - ela respondeu, enquanto abria um caderno de contabilidade e procurava nele alguma informação. - Sim, Sorento, achei... Vou informar ao patrão que está aqui. - Ela disse, após dois minutos de procura silenciosa por aquelas páginas, e tão logo fechou o tal caderno, tomou o telefone em mãos e discou. - Senhor Aldebaran, o Senhor Sorento está aqui. - Comunicou, esperando na linha pela resposta vinda em seguida.
A Mulher apenas desligou o telefone e apontou para porta ao lado, que estava aberta e dava em uma escada que subia para o próximo andar. - Ele já está os esperando. podem subir. É a última sala no fim do corredor. - ela comentou por fim.
– Claro, muito Obrigado. - O loiro agradeceu, indo em seguida rumo ao caminho indicado. Aioros logo o seguiu. O Castanho não fazia ideia de onde estavam, nem qual seria o assunto que Sorento iria tratar com esse homem, ou muito menos do porquê dele precisar ir e conhecê-lo, mas não era o tipo de pessoa que fazia muitas perguntas. Nunca fora curioso, e sempre teve o senso de que sobre certas coisas, era melhor nem se ter conhecimento, e esse mesmo instinto lhe alertava fortemente naquele momento.
Subiram as escadas e andaram pelo corredor no andar superior. Portas e mais portas podiam ser vistas de todos os lados daquele vão, mas o destino deles era a última; a que ficava no fim daquele estreito.
Chegando lá, Sorento bateu levemente na porta umas duas vezes, e girou a maçaneta em seguida, revelando o ambiente interno daquela sala quase que no mesmo instante.
Novamente, um par de olhos focou sua atenção neles dois, e este era ainda mais intrigante, intimidador e curioso que o anterior.
O Ventilador de teto e o tão peculiar som que ele emitia fora o único barulho que ouviram naquela sala pelos segundos que sucederam. À Frente deles, havia uma escrivania com pastas e documentos espalhados por todos os lados, do lado direito nessa mesma escrivania, um Computador um tanto antigo e uma impressora estavam postos, e posterior a isso tudo, um enorme homem de pele morena, olhar firme, corpo gigante e mal encarado os observava um tanto estático. Em sua boca, um charuto estava posto, e pela abertura em seus lábios, um pouco de fumaça saía decorrente do fumo aspirado.
Sorento sorriu; conhecia muito bem aquele ``Homem-Armário" que estava à sua frente, e não era de hoje.
– Deba, há quanto tempo meu velho amigo. - aproximou-se; ainda mantendo o sorriso simpático em seu rosto.
– Sorento... - suspirou o nome do recém-chegado; enquanto retirou o charuto da boca e soprou para fora uma quantidade ainda maior de fumaça. - Muito tempo mesmo, não é!? - Um despojado e enorme sorriso brotou em seus lábios, desfazendo assim a expressão dura e intimidadora do maior.
– Sim, muito mesmo... - comentou o loiro, coçando um pouco atrás da cabeça.
– Olhe só pra você, continua magrinho, não está comendo Sorento?! - disse o grandalhão musculoso, dando a volta na mesa e ficando cara a cara com o menor. Perto daquele homem, Sorento parecia uma Criança, e sua cabeça somente chegava a encostar no peitoral dele. - Venha Cá, me dê um Abraço. - disse Aldebaran, abraçando logo em seguida o Austríaco e o erguendo do chão com seu aperto saudoso.
Aioros observava tudo calado, e um tanto receoso; ele não sabia ao certo o porquê de estar ali, nem quem era aquele brutamontes, ou mesmo a relação que Sorento tinha com ele. Tudo o que sabia é que apesar de curiosa, e um tanto engraçada, a cena a sua frente sem dúvida era bem bizarra.
O maior logo desceu o loiro de seus braços o pondo novamente no chão, e somente então voltou a sua atenção ao rapaz moreno ainda não cumprimentado.
– E quem é esse?! - Perguntou encarando Aioros com certa seriedade, mas mantendo um ar descontraído.
– Esse é o Aioros, um amigo que está me acompanhando na viagem e que eu estou tentando ajudar com um probleminha. - Sorento apenas piscou para o Castanho, que ergueu uma das sobrancelhas.
– Bem, qualquer amigo do Sorento é meu amigo. Como vai rapaz?! - disse Aldebaran, já esboçando um enorme sorriso em seu rosto e indo em direção ao rapaz com o braço estendido.
– Vou muito bem, Senhor, Obrigado. - respondeu normalmente o Sagitariano, apertando a mão do gigante que envolveu por completo a sua e seu punho. Aioros realmente estava um tanto incomodado e receoso com àquele homem. Algo naquela situação toda lhe era extremamente estranho.
– Venha, não seja tímido, sente-se conosco, bebe algo?! - perguntou o Taurino, trazendo Aioros consigo e dando-lhe um leve tapa nas costas antes de rodear novamente a mesa e sentar-se.
Para o maior fora apenas um leve tapa, mas para Aioros foi como sentir um forte golpe nas costas. O rapaz então sentou-se na cadeira ao lado de Sorento e apenas assentiu negando sobre a bebida.
– Então rapaz... Está com um Problema, é?! De que tipo?! Eu particularmente não gosto de problemas, já tenho muitos... - Gargalhou alto. - Mas estou sempre disposto a ajudar um colega. - disse o maior, voltando a pegar no Charuto que havia posto em um cinzeiro sobre a mesa, antes de ir ter com Sorento. Tragou novamente do fumo; aconchegou-se melhor na poltrona e vislumbrou Aioros mais diretamente. O Homem era realmente muito lindo.
– Ora, não amole Deba, são problemas pessoais dele, nada demais... - Comentou Sorento; interpondo-se entre a conversa. O Loiro sabia que Aioros não era muito receptivo à pessoas que ficavam curiosas com sua vida; pois o mesmo já havia provado disso. Logo, queria evitar algum possível problema entre os demais.
– Ora Sosô, estou apenas querendo conhecer o garoto, deixe de coisa... - comentou o Taurino gigante de forma despojada e risonha.
Naquele momento, ouviram batidas vindas da porta do recinto, e em seguida o grito alto de Aldebaran ordenando a entrada fez a porta se abrir.
Por ela, um rapaz de longos cabelos cor de Violeta entrou com um sorriso simples estampado no rosto e uma expressão de doçura e gentileza que lhe tomava não somente o semblante, mas toda a sua visão como um todo.
Aioros e Sorento viraram-se para poder contemplar o rapaz, e ambos sorriram diante de tamanha graça que era o indivíduo.
– Oi Amor, vim lhe trazer os relatórios que pediu. - A voz dele era suave e meiga, como um toque sutil de uma brisa primaveril.
Os olhos de Aldebaran ganharam um brilho especial ao visualizar o homem à sua frente. O maior levantou-se de supetão de sua poltrona e logo estava frente à frente com àquele jovem rapaz.
– Que bom que trouxe meu Amor. - Lhe deu um selinho leve nos lábios, lhe acariciando a face com sua enorme mão, que quase podia cobri-la por completo. - E como passou a manhã?! Acordou faz muito tempo?! - perguntou de forma atenciosa o maior, arrancando um sorriso encantador dos lábios daquele peculiar rapaz de cabelos lilases.
Aioros apenas observava a cena com certa ternura. Ele não sabia que o amigo de Sorento tinha alguém, e muito menos que iria descobrir isso nessa visita.
– Esse é o Mu, o companheiro do Deba. - sussurrou Sorento, chamando a atenção de Aioros para si. - Eles estão juntos à quase tanto tempo quanto eu e Shun. - continuou. - Eles não formam um casal lindo?! - questionou Sorento em voz baixa.
Aioros voltou a mirar o casal presente. Eram sem dúvida um casal diferente. O Maior tinha quase o dobro do tamanho do outro rapaz, e também o dobro da largura. A pele de Aldebaran era de um moreno escuro, quase chocolate, enquanto a de Mu era branca como leite. Era um paradoxo interessante de se observar. Duas pessoas totalmente diferentes, tanto fisicamente, quanto em personalidade, mas ainda assim, se amavam intensamente, e isso era mais que notável pelo brilho que se formou nos escuros olhos do maior, e nos esmeraldinos do menor.
– Como você mesmo pode ver, o Mu e o Aldebaran não são exatamente um casal comum... Mas eles se amam do mesmo jeito, e bem mais que muitos outros por aí... - comentou ainda em sussurros o virginiano... Aioros somente o encarava com um olhar um tanto triste. - O que quero dizer... É que independente de qualquer coisa, quando se ama alguém de verdade, não importam as diferenças, os "poréns", ou mesmo as dúvidas, o que importa é o próprio Amor em si, e o quanto ele é forte. - continuou, vendo a expressão do outro se fechar um tanto mais. - Não importa a forma que tome Aioros, quando se ama de verdade, você pode transpassar todas as muralhas, todas as barreiras, todos os laços. Mesmos os mais densos, como os de Sangue. - comentou em um sussurro final. Vendo o Maior finalmente voltar-se novamente para eles.
– Sorento, lembra do Mu?! - O Taurino indagou feliz; mostrando seu companheiro aos presentes.
– Claro que lembro, como não lembrar?! - Levantou-se Sorento e foi em direção ao rapaz abraça-lo.
Aioros apenas observou a cena, não dando muita importância a ela em si, pois as palavras de Sorento, novamente ecoavam em sua mente. E desta vez, acompanhadas pelos gritos sôfregos do irmão no dia em que ele o deixou sozinho no meio do nada. Seu Coração ardia em dor e desespero mais uma vez.
–---- X -----
Aioros e Sorento passaram aquele resto de manhã e começo de tarde ao lado de Aldebaran e Mu. O Sagitariano, no entanto, estava sendo o mais peculiar dos participantes daquele Grupo. Ele estava fazendo um esforço descomunal para tentar ocultar a tristeza e a vontade de se derramar em lágrimas ali mesmo, na frente dos demais.
Aioros conversava, comentava os assuntos, mas sempre de uma maneira mais séria e limitada. Sorento, que já o conhecia um pouco melhor que seus colegas, sabia que havia algo errado, mas para Aldebaran e Mu, aquele jeito reservado, quieto, pouco falante e até um tanto disperso e triste faziam parte da personalidade do castanho. Era assim que eles o conheceram, e era essa a imagem que teriam dele para sempre. Nunca conheceriam o verdadeiro Aioros, aquele sorridente, prestativo, que gostava de tagarelar aos montes e que sempre fora simpático com todos. Todavia, antes a imagem de um tipo `Caladão` do que a de um cara Fraco, que se deixa abater demais por seus dramas e problemas à ponto de desabar na frente de desconhecidos. Essa definitivamente não era a impressão que o rapaz queria deixar, até porque, ele estava apenas de `passagem`, de `visita`, e jamais permitiria se tornar um fardo para seus anfitriões.
O Dia passou rápido, e como num piscar de olhos de devaneios e lembranças, o céu novamente começava a perder seus tons mais azulados e ganhava intensas nuances alaranjadas. O Sol já começava a querer descer para o horizonte, e lá distante, olhando para a imensa estrela de fogo poente ao longe, com a mão levemente erguida por sobre os olhos, evitando assim que os mesmos ardessem com aquele brilho dourado, Aioros enchia um galão com Gasolina à pedido de Sorento.
Eles estavam agora no posto de Gasolina daquela pequena cidade, e o loiro Virginiano havia pedido esse favor ao colega, enquanto foi comprar algumas coisas na loja de conveniência que ali havia.
Ao longe, o Caminhão de Sorento podia ser visto sendo abastecido novamente com grandes caixotes, que até então, Aioros jamais havia procurado saber sobre seu conteúdo, e sinceramente, não era algo que lhe interessava. Haviam trazido algo para Aldebaran, e agora estavam à levar algo de volta. E por mais que os negócios de Sorento com seus colegas remetessem àqueles estranhos filmes de gangsteres e a atividades ilegais; o castanho sabia que não se tratava disso, pois o austríaco havia se mostrado ser uma pessoa totalmente diferente dos tipos comuns que lidam com tais coisas. Apesar de que, nunca se poderia saber, e esse seria um mistério que ele não descobriria.
O loiro então logo regressou, trazendo consigo um saco de batatas fritas e dois refrigerantes de latinha; cujo entregou um deles ao colega.
Aioros finalmente desligou a válvula da gasolina e em seguida abaixou-se, para fechar o galão recheado do líquido escuro e de odor tão conhecido.
– Precisa de ajuda, aí?! - questionou Sorento.
– Não, eu posso levar sozinho, não se preocupe. - disse o maior, batendo de leve em seus próprios braços, fazendo menção aos músculos bem construídos que tinha.
Sorento apenas sorriu.
Eles permaneceram ali, à observar o Sol se pôr lentamente, tomando refrigerante e comendo salgadinhos, isso pelo menos até o menor tocar num assunto que era sempre difícil para o outro.
– E então, Aioros... - começou, fazendo o castanho lhe encarar de relance. - Já decidiu o que fazer?! Já percebeu que seu lugar é ao lado de seu irmão?! Nos Braços dele, e não vagando como um peregrino por esse mundo?! - indagou sério, novamente devolvendo ao maior a expressão estática que lhe tomava o rosto sempre que esse assunto vinha à tona.
Suspirou. Aioros não sabia o que responder; e novamente sentiu as lágrimas quererem vir aos seus olhos.
– Eu ainda não sei... Não é que eu não queira, é que eu não pos... - tentou dizer, mas Sorento o interrompeu.
– Chega! - disse firme, fazendo o outro lhe encarar surpreso. - Chega disso... Você não pode? Quem disse?! Já te disse Aioros, quem complica o mundo somos nós mesmos. E não se atreva a chorar na minha frente novamente. Um homem do seu porte chorando é uma cena um tanto chocante. - comentou o outro, sorrindo bem levemente.
Aioros apenas abaixou a cabeça, agora a vontade de chorar era ainda maior.
– Já disse, não chore... Você já chorou demais por suas dúvidas, agora se tiver de chorar novamente, chore por quem realmente importa... Seu irmão... Que eu sei que ainda está te esperando, e sofrendo igualmente à você por tudo isso. Se for chorar de novo... Chore na frente dele... Se for falar algo... Fale na frente dele. Somente ele que importa, e ninguém mais. Lute Aioros, lute por quem você ama e quer... - disse firmemente, mas ainda em tom ameno.
O Maior o encarou, deixando que seus olhos lacrimosos pudessem ser vistos por ele... Sorento viu a dor ali, novamente pode contempla-la em toda a sua intensidade. Mas não iria recuar; iria pontear aquela ferida aberta, nem que tivesse que ouvir os berros de dor do amigo durante todo o processo.
– Lute contra essa hipocrisia, lute por quem você ama... Liberte-se disso e corra até ele... Diga que o ama, diga que o quer... Se for preciso, ajoelhe-se aos pés dele implorando seu perdão, mas faça acontecer a sua felicidade, meu amigo. - dizia o loiro, já vendo as lágrimas escorrerem dos olhos do colega. - Enxugue as lágrimas Aioros, não quero vê-las. Mostre-as apenas para seu irmão, para o homem da sua vida. Não para mim. Já disse, se quiser chorar, chore na frente dele, pois ele merece ver que você o ama. - declarou.
As palavras de Sorento eram fortes, precisas, e acertavam o peito de Aioros como fechas rápidas e perfurantes. Era doloroso ouvir aquelas verdades, mas era preciso. A doença dentro de si precisava de cura, e essa cura era amarga. Somente o gosto dos doces lábios de sua recompensa é que poderiam amenizar tal sofrimento, que por hora, ele precisava sentir.
– E se ele não me perdoar?! - perguntou o castanho, com a voz embargada em choro contido.
– Você se perdoou? - perguntou Sorento. - Se perdoou por ter tomado uma decisão impensada baseada apenas nas suas vontades? Se perdoou por ter negado o amor da forma mais linda ao qual ele lhe foi apresentado? Se perdoou por ter abandonado seu irmão por medo e covardia? Se perdoou por precisar de tudo isso para finalmente perceber que o amava? Se a resposta for sim para todas. Sem dúvida que ele vai te perdoar. - sorriu.
Aioros passou o ante-braço por sobre os olhos e enxugou as lágrimas teimosas. Olhou novamente para o Horizonte e sorriu pela primeira vez.
– Eu vou voltar Sorento, vou voltar para ele e fazê-lo meu... Porque eu o amo... - comentou ele, e logo mais focou no colega.
– Você o quê?! Eu não ouvi... - brincou o loiro.
Aioros apenas sorriu mais abertamente. Um brilho novo e jovial havia regressado à ele naquele momento. - Eu o amo. - falou alto.
– Ainda não ouvi. - sorriu mais debochado.
– Eu O Amo! - Gritou. - Eu Amo O Meu Irmão, O Meu Aioria. - berrou alto, lançando seu eco aos céus. As poucas pessoas que passavam por perto olharam-no um tanto desconfiadas, mas não deram muita atenção.
Sorento apenas sorriu, e Aioros sorria de volta para si, carregado de uma determinação inédita; pelo menos ao ver do Virginiano.
– Muito Obrigado. Eu te agradeço por ter me feito ver isso... - Comentou sorrindo.
– Eu não fiz nada. A resposta estava dentro de você o tempo todo, só precisava de uma luz para ver em meio a tanta escuridão que havia se tornado o seu interior. - volveu o outro.
O Castanho assentiu, voltando a mirar o Horizonte em chamas pelas cores quentes do Sol poente.
– Vamos, temos que tomar a estrada, o quanto antes voltarmos, melhor será para você encontrar seu irmão, não é?! - questionou sorrindo, dando as costas ao colega e o olhando por sobre os ombros.
Aioros assentiu, tomou o galão de combustível em mãos e logo acompanhou Sorento em direção ao caminhão.
Continua...
Autor(a): archer_beafowl
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... Sexta, 0h34. Aioros aproximou-se de forma cautelosa do homem ao seu lado. Sorento dormia profundamente no banco do Motorista de seu caminhão, e naquele momento, ambos estavam parados às margens da estrada. Sorento havia partido com o colega da Cidade aonde estavam pouco depois de escurecer. Aioros estava animado e ansioso; já que finalmente havia p ...
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