Fanfics Brasil - 2 Aguas Turvas (Alfonso & Christopher)

Fanfic: Aguas Turvas (Alfonso & Christopher) | Tema: Aguas Turvas


Capítulo: 2

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Aos trinta e dois anos, apesar de uma vida solitária, era a primeira vez que Alfonso estava,
de fato, só. Filho único de um pequeno sitiante agricultor e uma mãe devotada, crescera na
zona rural de uma cidadela da região serrana do estado do Rio de Janeiro. Suas grandes
aventuras pueris aconteciam pelos trilhos que os bois deixam no pasto, subindo serras
intermináveis girando nas mãos um galho retorcido como se fosse um volante. Desejava ter um
Jeep prateado e conversava com um companheiro imaginário. Às vezes acelerava para fugir
de alguma temperamental vaca parida, ou estacionava à sombra de alguma árvore frondosa
que lhe servia de abrigo, fosse para um descompromissado sono de dez minutos ou para
ocultar, atrás dos troncos, suas primeiras experiências sexuais solitárias. Os melhores beijos
sempre foram dados nas pedras lisas que colhia nas margens arenosas do riacho de águas
turvas que cortava o sítio de sua família. Essas sinuosas pedras de branco perolado eram tão
lisas que pouca saliva era suficiente para fazer seus lábios deslizarem no movimento daquilo
que lhe parecia o maior dos erotismos.


Crescer foi tão difícil quanto convencer seus pais de que queria ser médico e não mais
amarrar a peia nas pernas de bezerros e tirar o leite das vacas. Queria cuidar das pessoas,
salvar vidas, e não ficar aguando a pequena horta de alface, repolho e temperos verdes.


Queria conhecer o mundo e não mais ficar refém dos esteios e arames farpados que cercavam
a pequena propriedade, estabelecendo as fronteiras de seus sonhos. Seus desejos o chamavam
para além de tudo aquilo.


Só conseguiu sair de casa às vésperas de completar vinte e cinco anos, quando embarcou na
extensa e exaustiva jornada acadêmica que a medicina impõe a seus aprendizes. Após a
rejeição inicial, seus pais começaram a sentir orgulho do futuro doutor. Enquanto isso, Gabriel
aprendia suas lições sobre a anatomia humana e a anatomia da sociedade. Continuava sem
saber se era melhor ter companheiros imaginários que nunca respondiam suas perguntas ou ter
amigos reais que, com frequência, lhe apresentavam questões para as quais não tinha
respostas.


Quantas assustadoras semelhanças havia entre a solidão do asfalto e a quietude dos trilhos
de boi? Muitas. Mas as diferenças ele experimentou ao perceber que as pedras do riacho
deslizavam mais que os verdadeiros lábios molhados, e estes provocam reações mais rápidas
e perigosas, na maioria das vezes sem troncos de árvores frondosas para esconder-lhe o ato.
Por isso mesmo, todos os beijos reais lhe queimavam o rosto e evidenciavam as maçãs
avermelhadas naquela pele tão alva quanto as pedras lisas que colhia e colecionava quando
criança.


Durante os seis anos de estudo na Faculdade de Medicina de Petrópolis, dividiu um
pequeno apartamento no Centro Histórico da cidade imperial brasileira com dois colegas de
classe. Um mineiro da longínqua Unaí e um paulista da próspera São José dos Campos. Pelos
dois nutriu todas as variáveis platônicas. Durante todo o curso, com o primeiro não realizou
nenhuma de suas fantasias, apesar das similaridades de origem e criação que os aproximavam.


Já com o segundo, sentia-se como num daqueles romances de Jane Austen que o encantaram na
adolescência, onde o confronto romântico dos sentimentos é adornado por uma espécie de
sermão dramático, permeado de preconceitos e orgulhos tolos, mas que sempre colocam em
duelo o racional e o passional de cada personagem. Por isso mesmo, passou os seis anos sem
trocar o colchão de seu beliche que, menor que a cama, permitia-lhe passar madrugadas
vislumbrando, através das madeiras do estrado, a silhueta bem desenhada do paulista que
ocupava a cama de baixo. Em noites de sorte, a claridade da lua que atravessava a fresta da
cortina fazia seus olhos brilharem ao ver algo ereto apontar pelas pernas curtas de uma cueca
boxer de algodão branco, nas constantes poluções noturnas de seu colega de quarto.



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Autor(a): rannyelle

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 12



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  • Charlotte Uckerrera Postado em 27/05/2015 - 12:20:59

    Hey, se você abandonar essa fanfic, um homicídio vai acontecer. Rum!! Poste logo, estou asiosamente aguardando ù_ú

  • Elis Herrera ❤ Postado em 18/05/2015 - 11:02:33

    Postaaa

  • jaahvondy Postado em 02/01/2015 - 22:56:27

    continuaaaaaaa

  • elis_herrera Postado em 19/11/2014 - 19:24:09

    Continua...

  • dafiniaskim Postado em 17/11/2014 - 17:21:40

    posta mais. Aaron chato... kk tadinha da Any

  • jaahvondy Postado em 17/11/2014 - 13:54:28

    continuaa, gostei diferente sua fic :)

  • elis_herrera Postado em 17/11/2014 - 10:15:39

    Posta mais... :)

  • elis_herrera Postado em 07/11/2014 - 18:52:00

    Continua... :(

  • dafiniaskim Postado em 06/11/2014 - 17:25:27

    Não vai postar mais.. Estava gostando tanto da web

  • elis_herrera Postado em 20/10/2014 - 22:04:09

    Olá, continua... Gostei da fic!


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